Notas de Matem ´atica B ´asica
Jorge Delgado
Sebasti ˜ao Firmo
Pedro N ´
obrega
Depto. de Matem ´atica Aplicada
Instituto de Matem ´atica - UFF
Conte ´
udo
1 Conjuntos 1
2 Os Inteiros 19
Cap´ıtulo 1
Conjuntos
1.1 Introduc¸ ˜ao
As teorias estudadas em matem ´atica s ˜ao constru´ıdas sempre partindo de alguns fatos con-siderados b ´asicos. Tais fatos s ˜ao chamadosaxiomas. Os axiomas junto com asdefinic¸ ˜oesdos conceitos que a teoria pretende estudar d ˜ao lugar, ap ´os racioc´ınios l ´ogicos, a resultados cha-mados proposic¸ ˜oes. A seq ¨u ˆencia de conclus ˜oes l ´ogicas utilizadas para chegar a um resultado determinado partindo das definic¸ ˜oes, axiomas e outros resultados, ´e chamada demonstrac¸ ˜ao. A palavra teorema ´e reservada a proposic¸ ˜oes de car ´ater relevante na teoria em quest ˜ao, da mesma maneira, umlema ´e uma proposic¸ ˜ao que ser ´a usada como ferramenta fundamental para provar outras proposic¸ ˜oes. Oscorol ´arioss ˜ao proposic¸ ˜oes que se obt ˆem como conseq ¨u ˆencia di-reta de proposic¸ ˜oes e teoremas importantes.
Todo lema, proposic¸ ˜ao, teorema e corol ´ario, tem umenunciado. Todo enunciado se divide em duas partes, as hip ´oteses e as teses. A demonstrac¸ ˜ao do resultado (seja um lema, uma proposic¸ ˜ao, um teorema ou um corol ´ario) pode ser descrita da seguinte maneira: usar os axio-mas, definic¸ ˜oes e resultados pr ´evios da teoria para chegar `as teses partindo das hip ´oteses por meio de um racioc´ınio l ´ogico. Isto se resume dizendo quea hip ´otese implica a tesee escreve-se
Hip ´otese =⇒ Tese
O s´ımbolo =⇒ significa que partindo da parte da esquerda (Hip ´otese) e usando um ra-cioc´ınio l ´ogico baseado nos axiomas, definic¸ ˜oes e resultados anteriores da teoria, se obt ´em como conseq ¨u ˆencia o lado direito (Tese).
Conjuntos 1.2 Conjuntos
Teorema.(Pit ´agoras) SejaT um tri ˆangulo ret ˆangulo cujos catetos medemaebrespectivamente e cuja hipotenusa medec. Ent ˜aoa2+b2 =c2.
A hip ´otese diz que a, b e c s ˜ao respectivamente os catetos e a hipotenusa de um tri ˆangulo ret ˆanguloT, e a tese diz quea2+b2 = c2. Mais tarde no texto veremos uma demonstrac¸ ˜ao do teorema de Pit ´agoras.
Devemos observar tamb ´em a validade das hip ´oteses dos nossos resultados, assim como a veracidade de cada um dos passos l ´ogicos nas demonstrac¸ ˜oes. Veja por exemplo a passagem de B. Russell citada nas primeiras p ´aginas desta apostila, na qual uma hip ´otese falsa d ´a origem a conclus ˜oes absurdas.
Em matem ´atica ´e freq ¨uente o uso de quantificadores. Estes s ˜ao apenas um simbolismo que nos permite descrever a abrang ˆencia de fatos ou propriedades sobre uma determinada colec¸ ˜ao de objetos. Temos dois tipos de quantificadores: oquantificador de exist ˆencia, escrito simbolicamente∃(leia-se “existe...” ou “existem...”), e o quantificador de universalidade, escrito
∀(leia-se “para todo...”). O quantificador de exist ˆencia ´e algumas vezes usado com o ponto de exclamac¸ ˜ao∃!para indicar que certo objeto existe e ´e o ´unicoque possui as propriedades que o determinam.
1.2 Conjuntos
Neste cap´ıtulo introduziremos algumas noc¸ ˜oes b ´asicas da teoria de conjuntos. N ˜ao apre-sentaremos uma exposic¸ ˜ao axiom ´atica e rigorosa da teoria, mas sim uma exposic¸ ˜ao intuitiva e simples, incluindo apenas o material e a terminologia que usaremos mais adiante.
Para n ´os umconjuntoser ´a qualquer colec¸ ˜ao dada de objetos.
Embora esta “definic¸ ˜ao” do termo “conjunto” seja intuitivamente clara, ela n ˜ao ´e formal-mente correta, pois a palavra “colec¸ ˜ao” ´e ainda indefinida. Na verdade, a noc¸ ˜ao de conjunto em matem ´atica ´e uma noc¸ ˜ao indefinida (da mesma maneira que a noc¸ ˜ao de ponto na Geometria Euclidiana) e ´e necess ´aria uma lista de axiomas para trabalhar com conjuntos e suas propri-edades. Na pr ´atica, uma introduc¸ ˜ao heur´ıstica, como a que apresentamos a continuac¸ ˜ao, ´e suficiente.
Conjuntos 1.2 Conjuntos
que n ˜ao pertence ao conjunto A escrevemos a /∈ A e dizemos que a n ˜ao ´e um elemento do conjuntoA. Sea, b∈A, a notac¸ ˜aoa=bsignifica queaebs ˜ao o mesmo elemento deA.
Os conjuntos podem ser descritos de duas maneiras:
A.Escrevendo numa lista os seus elementos, e englobando tal lista entre chaves{. . .}. Por exemplo,
A = {azul, verde, vermelho, laranja, mac¸ ˜a}, B = {banana, morango, mac¸ ˜a, azul}.
Quando representamos um conjunto por extens ˜ao mediante uma lista, as repetic¸ ˜oes e a ordem na qual aparecem os elementos na lista s ˜ao irrelevantes. Por exemplo, o conjunto A
acima ´e tamb ´em representado como
A = {azul,verde, vermelho, laranja, azul, mac¸ ˜a, verde},
ou ainda
A = {vermelho,laranja azul, mac¸ ˜a, verde}.
B.Por meio de uma propriedade que caracteriza dos elementos do conjunto. Por exemplo
C ´e o conjunto que consiste dos nomes das cores do arco-´ıris,
D ´e o conjunto dos nomes das frutas tropicais.
SeP ´e uma propriedade sobre objetos, dizemos que o objetox satisfaz a propriedade P
e escrevemosP(x)se a propriedadeP ´e verdadeira parax.
Designamos por{x; P(x)}o conjunto formado pelos objetosx para os quaisP(x).
Por exemplo, segundo os exemplos acima,
C = {x; x ´e o nome de uma cor do arco-´ıris}
D = {x; x ´e o nome de uma fruta tropical}.
A caracterizac¸ ˜ao (b) ´e principalmente ´util quando o conjunto tem tantos elementos que seria praticamente imposs´ıvel coloc ´a-los numa lista. Consideremos por exemplo:
E={x; x ´e o nome de um assinante do cat ´alogo telef ˆonico do Rio de Janeiro},
ou pior ainda,
F={x; x ´e o nome de um assinante de algum cat ´alogo telef ˆonico de alguma cidade do mundo}.
Conjuntos 1.2 Conjuntos
A6⊂B. Dizemos tamb ´em queAn ˜ao ´e subconjuntodeBou queBn ˜ao cont ´emAe escrevemos
B6⊃A.
Nos nossos exemplos vemos que,
A={azul, verde, vermelho, laranja, mac¸ ˜a}6⊂B={banana, morango, mac¸ ˜a, azul},
e nos conjuntos dos assinantes dos cat ´alogos telef ˆonicosE⊂F.
Dizemos que dois conjuntos s ˜aoiguaisquando cont ˆem exatamente os mesmos elementos. Neste caso escrevemosA=B. Quando os conjuntosAeBn ˜ao s ˜ao iguais escrevemos A6=B.
QuandoA⊂BmasA6=Bdizemos que A ´e umsubconjunto pr ´opriodeB.
A partir das definic¸ ˜oes acima podemos inferir que
i. Qualquer que seja o conjuntoAvaleA⊂A.
ii. SeA⊂BeB⊂C, ent ˜aoA⊂C.
iii. SeAeBs ˜ao conjuntos, (A=B) ⇐⇒ (A⊂BeB⊂A).
Vamos explicar o significado do s´ımbolo ⇐⇒, se p e q s ˜ao proposic¸ ˜oes ou afirmativas. Escreverp ⇐⇒q significa que, tomando como hip ´otesep podemos obter como conseq ¨u ˆencia l ´ogicaq (isto ´e “pimplicaq”, que se escreve p=⇒ q) e similarmente, tomando como hip ´otese
q podemos obter como conseq ¨u ˆencia l ´ogica p (isto ´e q implica p, que se escreve q =⇒ p). Resumindo,p⇐⇒qequivale `as duas afirmativas simult ˆaneasp=⇒qeq=⇒p.
Dado um conjunto A podemos considerar o conjunto {x; x ∈ Aex 6= x}. Tal conjunto ´e chamado osubconjunto vazio deAe se designa por∅A. ´E claro da definic¸ ˜ao que∅A ⊂A.
Vamos apresentar agora a nossa primeira proposic¸ ˜ao. A sua demonstrac¸ ˜ao ser ´a feita pelo m ´etodo do absurdo. Tal m ´etodo consiste em negar a tese e ap ´os uma seq ¨u ˆencia de conclus ˜oes l ´ogicas, obter uma afirmativa que seja claramente falsa ou que entre em contradic¸ ˜ao com as nossas premissas ou conhecimentos anteriores.
Proposic¸ ˜ao 1.2.1. SeAeBs ˜ao conjuntos quaisquer, ent ˜ao ∅A=∅B.
Demonstrac¸ ˜ao. Procedendo pelo absurdo, vamos supor que A e B sejam conjuntos tais que
∅A6=∅B.
Segundo o item iii. acima, ∅A6=∅B significa que∅A6⊂∅B ou que∅B 6⊂∅A.
Caso∅A 6⊂∅B, dever ´a existir um elementox∈∅A tal quex /∈∅B.
Pela definic¸ ˜ao de∅Avemos quexser ´a um elemento deAtal quex 6=x, “o qual ´e absurdo,
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Caso seja∅B 6⊂∅Ase procede da mesma maneira.
O absurdo indica ent ˜ao que a nossa hip ´otese de existirem conjuntosAeBtais que∅A 6=
∅B ´e errada. A conclus ˜ao disto ´e a veracidade da proposic¸ ˜ao. C.Q.D.
O quadrado que temos colocado no extremo direito da ´ultima linha acima indica que a demonstrac¸ ˜ao est ´a terminada. Alguns autores escrevem as letras CQD que significam “Como Queria-se Demonstrar” para indicar o fim de uma demonstrac¸ ˜ao.
Como conseq ¨u ˆencia da proposic¸ ˜ao anterior obtemos o seguinte resultado.
Corol ´ario 1.2.2. Existe um ´unico conjunto ∅, chamado o conjunto vazio, que n ˜ao cont ˆem elementos e est ´a contido em qualquer conjunto.
Demonstrac¸ ˜ao. Para provar este resultado simplesmente consideramos um conjunto qualquer
A e definimos ∅ = ∅A. Pela definic¸ ˜ao de ∅A obtemos que ∅ n ˜ao cont ´em elementos, pela
proposic¸ ˜ao,∅=∅B ⊂Bqualquer que seja o conjunto B. Isto prova que o conjunto∅existe.
Agora provaremos que ele ´e ´unico. Seja∅0 um conjunto com as mesmas propriedades de
∅. Pela proposic¸ ˜ao anterior, ∅ = ∅∅0 ⊂ ∅
0. Como
∅0 possui as mesmas propriedades de ∅,
temos que∅0 ⊂∅. Logo∅0 =∅, e portanto o conjunto ∅existe e ´e ´unico. C.Q.D.
O corol ´ario acima ´e um exemplo de um resultado de “Exist ˆencia” e “Unicidade”. Ele diz que sob certas hip ´oteses, certos objetos “existem” e s ˜ao “ ´unicos”. A demonstrac¸ ˜ao deste tipo de resultados divide-se em duas partes: provar a exist ˆencia do objeto e depois demonstrar que ele ´e ´unico. Existem v ´arios procedimentos para provar a exist ˆencia de um certo objeto, um deles ´e construir ou exemplificar um objeto com as propriedades requeridas. A demonstrac¸ ˜ao da parte da unicidade pode ser feita, por exemplo, das seguintes maneiras
(a) Mostrando que qualquer objeto com as mesmas propriedades do nosso ter ´a ne-cessariamente que ser igual ao nosso (como foi feito na demonstrac¸ ˜ao acima).
(b) Pelo absurdo, isto ´e, sup ˜oe-se a exist ˆencia de outro objeto (“outro” significa dis-tinto) com as mesmas propriedades do objeto em quest ˜ao e chega-se a um absurdo.
1.3 Operac¸ ˜
oes com Conjuntos
Nesta parte vamos introduzir as leis b ´asicas de formac¸ ˜ao e operac¸ ˜ao com conjuntos.
Definic¸ ˜ao. Dados dois conjuntosAeB, definimos auni ˜aoA∪Be aintersec¸ ˜aoA∩Bde
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
A∪B={x; x ∈Aoux ∈B} e A∩B={x; x∈Aex ∈B}.
Dito em palavras, A∪ B ´e o conjunto cujos elementos pertencem ao conjunto A ou ao conjunto B. O conjunto A∩B ´e o conjunto cujos elementos pertencem ao conjunto A e ao conjuntoBsimultaneamente.
Na figura abaixo vemos dois conjuntosAeB, a sua uni ˜aoA∪Be a sua intersec¸ ˜aoA∩B
respectivamente.
Fig. 1 (a).Representac¸ ˜ao deA∪B. Fig. 1 (b).Representac¸ ˜ao deA∩B.
Por exemplo, seAeBs ˜ao os conjuntos dos exemplos da sec¸ ˜ao anterior, tem-se
A∪B = {azul, verde, vermelho, laranja, mac¸ ˜a, banana, morango}, A∩B = {azul, mac¸ ˜a}.
Observe que os elementos repetidos foram eliminados.
Da definic¸ ˜ao acima vemos que A e Bpossuem elementos em comum se, e somente se,
A∩B6=∅.
Dois conjuntosAeBs ˜ao chamadosdisjuntosseA∩B=∅, isto ´e, seAeBn ˜ao possuem elementos em comum.
Outro fato evidente da definic¸ ˜ao ´e que, qualquer que seja o conjuntoAvalem as igualdades
A=A∪∅ ∅=A∩∅.
Tamb ´em da definic¸ ˜ao obt ´em-se diretamente a seguinte proposic¸ ˜ao:
Proposic¸ ˜ao 1.3.1. SejamA, B, C, Dconjuntos quaisquer. Ent ˜ao
(a)A∩B⊂A⊂A∪B.
(b)SeA⊂CeB⊂D, ent ˜aoA∪B⊂C∪DeA∩B⊂C∩D.
Demonstrac¸ ˜ao. Exerc´ıcio.
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Teorema 1.3.2. Para quaisquer conjuntosA, B, C, valem as seguintes propriedades:
(1)Idempot ˆencia: A∪A=A=A∩A.
(2)Associatividade: A∪(B∪C) = (A∪B)∪CeA∩(B∩C) = (A∩B)∩C.
(3)Comutatividade: A∪B=B∪AeA∩B=B∩A.
(4)Distributividade: A∩(B∪C) = (A∩B)∪(A∩C)eA∪(B∩C) = (A∪B)∩(A∪C).
Demonstrac¸ ˜ao. N ˜ao ´e dif´ıcil provar (1)-(3), exerc´ıcio. Vamos provar apenas a primeira das f ´ormulas de distributividade.
Lembramos que dois conjuntos s ˜ao iguais se, e somente se, um est ´a contido no outro. Portanto, provar a f ´ormula em quest ˜ao equivale a provar que o conjunto do lado esquerdo est ´a contido no conjunto do lado direito e que este, por sua vez, est ´a contido no primeiro:
Prova da inclus ˜aoA∩(B∪C)⊂(A∩B)∪(A∩C):
x∈A∩(B∪C) =⇒ (x∈A)e(x∈B∪C)
=⇒ (x∈A)e[(x∈B)ou(x ∈C)]
=⇒ [(x ∈A)e(x∈B)]ou[(x ∈A)e(x ∈C)] =⇒ [(x ∈A∩B)ou(x ∈A∩C)]
=⇒ x∈(A∩B)∪(A∩C).
Prova da inclus ˜aoA∩(B∪C)⊃(A∩B)∪(A∩C):
As implicac¸ ˜oes =⇒ da prova da inclus ˜ao anterior podem ser invertidas a ⇐=(verifique!). Leia ent ˜ao a prova de baixo para cima.C.Q.D.
O seguinte resultado relaciona os s´ımbolos⊂,∪e∩.
Proposic¸ ˜ao 1.3.3. SejamAeBconjuntos quaisquer. As seguintes afirmativas s ˜ao equivalen-tes:
(1) A⊂B.
(2) A=A∩B.
(3) B=A∪B.
Demonstrac¸ ˜ao. Primeiramente vejamos o significado do enunciado: Dizer que duas proposic¸ ˜oes
peqs ˜ao equivalentes significa quep⇐⇒q, isto ´e,p=⇒qeq=⇒p. Temos que provar, ent ˜ao, que(1)⇐⇒(2),(1)⇐⇒(3)e(2)⇐⇒(3). Basta provar(1)⇐⇒(2)e(1)⇐⇒(3).
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Prova de (1) ⇐⇒(3): Se (1) ´e verdadeira, B =B∪B ⊃A∪B⊃ B, isto ´e,B =A∪B. Se (3) ´e verdadeira,B=A∪B⊃A, provando (1).C.Q.D.
Embora as operac¸ ˜oes ∩ e ∪ foram definidas para dois conjuntos, podemos generalizar e reescrever a definic¸ ˜ao para mais de dois conjuntos, mesmo parafam´ılias de conjuntos:
Definic¸ ˜ao. SejaΛum conjunto n ˜ao vazio. Se a cada elementoλ∈Λcorresponde um conjunto
Aλ, dizemos que a colec¸ ˜ao F ={Aλ; λ ∈ Λ} (que tamb ´em se designa porF ={Aλ}λ∈Λ) ´e uma
fam´ılia de conjuntos indexada porΛ. O conjuntoΛ ´e chamado oconjunto de ´ındicesda fam´ılia.
Observamos que qualquer conjunto n ˜ao vazioApode servir como conjunto de ´ındices de uma fam´ılia de conjuntos. Com efeito, para cadaa ∈AsejaAa ={a}e consideremos a fam´ılia F = {Aa}a∈A. Tamb ´em todo conjuntoF, cujos elementos s ˜ao conjuntos, pode ser considerado
como uma fam´ılia de conjuntos indexada porF (i.e. auto-indexada). De fato,F ={AF}F∈F, onde
AF =Fpara todoF∈ F.
Definic¸ ˜ao. Seja X um conjunto dado e F = {Aλ}λ∈Λ uma fam´ılia de subconjuntos de X. Se
define auni ˜aoe aintersec¸ ˜aoda fam´ıliaF como
[
λ∈Λ
Aλ={x∈X; ∃λ∈Λtal quex∈Aλ} e
\
λ∈Λ
Aλ={x∈X; x∈Aλ∀λ∈Λ}
Por exemplo, se X ´e um conjunto qualquer, e para cada x ∈ X escrevemos Ax = {x}
podemos considerar a fam´ılia{Ax}x∈X indexada porX. Resulta que
[
x∈X
Ax =Xe
\
x∈X
Ax=∅.
Observando com cuidado, podemos ver que a uni ˜ao e a intersec¸ ˜ao de uma fam´ılia inde-pende da maneira como est ´a indexada. Isto ´e, seΛ=Γ eF ={Aλ}λ∈Λ ´e uma fam´ılia indexada
porΛ, ent ˜ao
[
λ∈Λ
Aλ=
[
γ∈Γ
Aγ e
\
λ∈Λ
Aλ=
\
γ∈Γ
Aγ.
Pode-se provar com um pouco de esforc¸o, que a uni ˜ao de fam´ılias distribui sobre a intersec¸ ˜ao e que a intersec¸ ˜ao de fam´ılias distribui sobre a uni ˜ao. Para enunciar este fato usaremos a noc¸ ˜ao de produto cartesiano que introduziremos em breve.
Definimos a seguir uma outra operac¸ ˜ao entre conjuntos
Definic¸ ˜ao. Sejam AeBconjuntos. Definimos o conjunto diferenc¸aA−Bcomo sendo o conjunto que consiste dos elementos deAque n ˜ao s ˜ao elementos de B, i.e.
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
´
E importante observar que, seAeBs ˜ao conjuntos,A−BeB−As ˜ao, em geral, conjuntos diferentes. Tamb ´em ´e claro que A−B⊂A.
Fig. 2 (a).Representac¸ ˜ao deA−B. Fig. 2 (b).Representac¸ ˜ao deB−A.
Por exemplo, seAeBs ˜ao os conjuntos dos exemplos anteriores, ent ˜ao
A−B={verde, vermelho, laranja} e B−A={banana, morango}.
Definic¸ ˜ao. Se A, X s ˜ao conjuntos e A ⊂ X, o complementar de A com respeito a X ´e o conjunto{XA=X−A.
Por exemplo, seA={azul, verde, vermelho, laranja, mac¸ ˜a} ´e o conjunto dos nossos exem-plos anteriores eB={azul, verde, vermelho}, ent ˜ao{AB={laranja, mac¸ ˜a}.
A figura abaixo ´e uma representac¸ ˜ao da noc¸ ˜ao de complementar.
Fig.3.O complementar deAem relac¸ ˜ao aX.
Proposic¸ ˜ao 1.3.4. Sejam A, B eC conjuntos quaisquer e X um conjunto que cont ´em A∪B. Ent ˜ao
i. A−∅=Ae A−A=∅.
ii. B⊂C=⇒A−C⊂A−B.
iii. A−B=A− (A∩B).
iv. A−B=A∩{XB.
Demonstrac¸ ˜ao. Prova dei. J ´a que∅n ˜ao cont ´em elementos,
A−∅={x; x∈Aex /∈∅}={x; x∈A}=A.
E observando que nenhum objetox pode ser tal quex ∈Aex /∈A, obtemos queA−A=∅.
Prova deii. Observe que,
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Portanto
(x∈A−C)=⇒(x∈Aex /∈C)=⇒(x ∈Aex /∈B)=⇒x ∈(A−B),
isto ´e, todo elemento deA−C ´e tamb ´em elemento de A−B. LogoA−C⊂A−C.
Prova de iii. A inclus ˜aoA−B ⊂A− (A∩B) ´e conseq ¨u ˆencia deii., poisA∩B⊂ B. Para a outra inclus ˜ao observamos que
(x∈A− (A∩B))=⇒(x ∈Aex /∈A∩B)=⇒(x∈Ae(x /∈Aoux /∈B))=⇒
((x ∈Aex /∈A)ou(x ∈Aex /∈B))=⇒((x∈A−A)ou(x ∈A−B)).
Como, pori.,A−A=∅, obtemos
((x ∈A−A)ou(x∈A−B))=⇒(x ∈A−B),
e portanto A− (A∩B) ⊂ A−B. Observe que as implicac¸ ˜oes =⇒ do argumento podem ser invertidas a⇐=, isto ´e, substitu´ıdas por⇐⇒para provar as duas inclus ˜oes simultaneamente.
Prova deiv. J ´a queA∪B⊂X, isto ´e,(x∈A∪B)=⇒x ∈X, obtemos
A−B = {x; x∈Aex /∈B}={x ∈X; x ∈Aex /∈B}
= {x∈X; x∈A}∩{x ∈X;x /∈B}={x; x∈A}∩{x; x∈Xex /∈B}
= A∩(X−B) =A∩{XB.C.Q.D.
As propriedades b ´asicas do complementar s ˜ao dadas no seguinte resultado:
Proposic¸ ˜ao 1.3.5. SejamAeBconjuntos eXum conjunto que cont ´emA∪B. Ent ˜ao:
(a)A∩{XA=∅,e A∪{XA=X.
(b){X({XA) =A.
(c){X∅=X,e {XX=∅.
(d)A⊂B⇐⇒{XB⊂{XA
(e)(Leis de De Morgan) As relac¸ ˜oes entre as operac¸ ˜oes∪e∩com{Xs ˜ao:
{X(A∪B) = ({XA)∩({XB) e {X(A∩B) = ({XA)∪({XB).
Demonstrac¸ ˜ao. Os itens (a)-(d) s ˜ao simples e os deixaremos como exerc´ıcio para o leitor. Provemos a primeira das leis de De Morgan:
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
⇐⇒ (x ∈Xex /∈A)e(x∈Xex /∈B)
⇐⇒ (x ∈{XA)e(x∈{XB)⇐⇒x∈({XA)∩({XB).
A segunda das f ´ormulas de De Morgan pode ser provada de maneira similar, mas tamb ´em pode ser obtida da primeira com ajuda do item(b). De fato, como
{X({XA∪{XB) ={X({XA)∩{X({XB) =A∩B,
temos que{XA∪{XB={X({X({XA∪{XB)) = {X(A∩B).C.Q.D.
As leis de De Morgan podem ser generalizadas, sem dificuldade, a uni ˜oes e intersecc¸ ˜oes de fam´ılias de conjuntos da seguinte maneira: Se F = {Aλ}λ∈Λ ´e uma fam´ılia de subconjuntos
de um conjuntoX, ent ˜ao
{X
[
λ∈Λ
Aλ
= \
λ∈Λ
({XAλ), e {X
\
λ∈Λ
Aλ
= [
λ∈Λ
({XAλ).
Vamos introduzir outra operac¸ ˜ao entre conjuntos, oproduto cartesiano. O resultado desta nova operac¸ ˜ao ser ´a um conjunto de natureza diferente da natureza dos conjuntos envolvidos. Na definic¸ ˜ao a seguir, a noc¸ ˜ao de par ordenado desempenha papel fundamental. Se a e b
s ˜ao dois objetos quaisquer (n ˜ao necessariamente pertencentes ao mesmo conjunto), podemos considerar o objeto(a, b)no qual os elementosaebser ˜ao denominados aprimeira coordenada e asegunda coordenada do par(a, b), respectivamente.
Dizemos que os pares ordenados(a, b)e(c, d)s ˜aoiguaise escrevemos(a, b) = (c, d)se, e somente se,a=ceb=d, isto ´e, dois pares ordenados s ˜ao iguais se, e somente se, as suas coordenadas correspondentes s ˜ao iguais.
Observemos ent ˜ao que, se(a, b) ´e um par ordenado, ent ˜ao
(a, b) = (b, a)se, e somente se,a=b.
Definic¸ ˜ao. Sejam A e B dois conjuntos quaisquer. Designamos por A×B o conjunto cujos elementos s ˜ao todos os poss´ıveis pares ordenados(a, b)ondea∈Aeb∈B. Isto ´e,
A×B={(a, b) ; a∈Aeb∈B}.
Na Fig.4. mostramos uma representac¸ ˜ao gr ´afica do produto cartesiano, na qual o conjunto
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Fig.4. O produto cartesiano representado graficamente
Por exemplo, sejamA={a, b, c}eB={?,•}. Ent ˜ao
A×B={(a,?), (a,•), (b,?), (b,•), (c,?), (c,•)}.
Observe por exemplo, que os pares ordenados(?, a), (a, a), (•,?)n ˜ao pertencem aA×B.
De maneira similar podemos definir o produto cartesiano de tr ˆes ou mais conjuntos. Se A,
B, eCs ˜ao conjuntos, definimosA×B×Ccomo sendo o conjunto(A×B)×Ce similarmente, se
A1, A2, . . . , An s ˜ao conjuntos, definimosA1×A2×. . .×Ancomo sendo o conjunto(A1×A2×
. . .×An−1)×An. Os elementos deA1×A2×. . .×Ans ˜ao asn- ´uplas ordenadas(a1, a2, . . . , an)
ondea1 ∈ A1, a2 ∈ A2, . . . , an ∈ An, e duasn- ´uplas(a1, a2, . . . , an) e(b1, b2, . . . , bn) de A1×
A2 ×. . .×An s ˜ao consideradas iguais se, e s ´o se, a1 = b1, a2 = b2, . . . , an = bn. Todas as
propriedades que estudaremos sobre o produto cartesiano de dois conjuntos continuam v ´alidas para o produto cartesiano de mais de 2 conjuntos.
A seguinte proposic¸ ˜ao descreve duas propriedades b ´asicas do produto cartesiano.
Proposic¸ ˜ao 1.3.6. SejamA,B,C,Dconjuntos. Ent ˜ao:
(a) A×B=∅⇐⇒(A=∅)ou(B=∅).
(b) SeC×D6=∅, tem-se: (C×D⊂A×B)⇐⇒( (C⊂A)e(D⊂B) ).
Demonstrac¸ ˜ao.
(a)A propriedade do enunciado (a) equivale1a
(A×B6=∅)⇐⇒(A6=∅)e(B6=∅).
SeA×B 6=∅, existe(a, b)∈ A×B, e pela definic¸ ˜ao de A×B,a ∈A eb∈ B. LogoA 6=∅e
B6=∅.
1Sepeqs ˜ao proposic¸ ˜oes l ´ogicas, a proposic¸ ˜ao(p⇐⇒q)⇐⇒ (qp⇐⇒qq) ´e sempre verdadeira
Conjuntos 1.3 Operac¸ ˜oes com Conjuntos
Reciprocamente, seA 6= ∅ e B 6= ∅, existem elementos a ∈ A e b ∈ B. Portanto o par ordenado(a, b)pertence ao produto A×B, i.e.,A×B6=∅.
(b)Suponhamos primeiro queC×D⊂A×B. Como, por hip ´otese,C×D6=∅, pelo item (a),C6=∅eD6=∅. Sejad0 ∈Dum elemento fixo. Pela definic¸ ˜ao do produto cartesiano temos
c∈C=⇒(c, d0)∈C×D⊂A×B=⇒(c, d0)∈A×B=⇒c∈A,
logoC⊂A. Similarmente verifica-se queD⊂B(exerc´ıcio).
Reciprocamente, para todo(c, d)∈ C×D, tem-sec∈ Ced∈ D, e por hip ´otese,c∈ Ae
d∈B. Logo(c, d)∈A×B, provando queC×D⊂A×B.C.Q.D.
No item (b) da proposic¸ ˜ao acima, ´e importante observar que a hip ´otese C× D 6= ∅ ´e fundamental. Por exemplo, sejam A ⊂ C, A 6= C, B qualquer conjunto n ˜ao vazio e D = ∅. Ent ˜aoC×D=∅⊂ A×B, mas ´e falso queC ⊂A. A hip ´otese C×D6=∅ ´e usada apenas na implicac¸ ˜ao=⇒.
O ´ultimo resultado desta sec¸ ˜ao diz que o produto cartesiano verifica apropriedade distri-butivasobre as operac¸ ˜oes ∪,∩e−.
Proposic¸ ˜ao 1.3.7. SeA,B,Cs ˜ao conjuntos, valem as seguintes f ´ormulas de distributividade:
(a) A×(B∪C) = (A×B)∪(A×C).
(b) A×(B∩C) = (A×B)∩(A×C).
(c) A×(B−C) = (A×B) − (A×C).
Demonstrac¸ ˜ao. Prova de(a): Para todo(a, b)tem-se
(a, b)∈A×(B∪C) ⇐⇒ (a∈A)e(b∈B∪C)⇐⇒(a∈A)e(b∈Boub∈C)
⇐⇒ (a∈Aeb∈B)ou(a∈Aeb∈C)
⇐⇒ (a, b)∈A×Bou(a, b)∈A×C
⇐⇒ (a, b)∈(A×B)∪(A×C).
Os itens(b)e(c)podem ser demonstrados de maneira similar.C.Q.D.
Consideremos, de novo, duas fam´ılias de conjuntosF = {Aλ}λ∈Λ e G = {Bγ}γ∈Γ. Pode-se
provar, sem dificuldade, que valem as seguintes propriedades distributivas:
[
λ∈Λ
Aλ
∩ [
γ∈Γ
Bγ
= [
(λ,γ)∈Λ×Γ
(Aλ∩Bγ), e
\
λ∈Λ
Aλ
∪ \
γ∈Γ
Bγ
= \
(λ,γ)∈Λ×Γ
(Aλ∪Bγ),
Conjuntos 1.4 O Conjunto Pot ˆencia
indexada pelo conjuntoΛ×Γ. Mais ainda, ao inv ´es de considerar duas fam´ılias podemos con-siderar uma fam´ılia de fam´ılias e provar propriedades similares, mas este ponto ´e bem mais delicado e o deixaremos para um curso avanc¸ado.
De maneira similar, podemos demonstrar que as uni ˜oes e intersecc¸ ˜oes de fam´ılias se distribuem sobre o produto cartesiano, isto ´e, seF eG s ˜ao as fam´ılias acima, ent ˜ao
[
λ∈Λ
Aλ
× [
γ∈Γ
Bγ
= [
(λ,γ)∈Λ×Γ
(Aλ×Bγ), e
\
λ∈Λ
Aλ
× \
γ∈Γ
Bγ
= \
(λ,γ)∈Λ×Γ
(Aλ×Bγ),
1.4 O Conjunto Pot ˆencia
Finalizamos o nosso primeiro cap´ıtulo com um exemplo muito importante.
Definic¸ ˜ao.SeA ´e um conjunto qualquer, designamos porP(A)ou2Ao conjunto cujos
elemen-tos s ˜aotodos os subconjuntos deA. Tal conjunto ´e chamado oconjunto pot ˆencia de A. Isto ´e, o conjunto pot ˆencia ´e determinado pela propriedadeB⊂A⇐⇒B∈ P(A).
Resumimos alguns fatos b ´asicos sobre o conjunto pot ˆencia de um conjunto dado na se-guinte proposic¸ ˜ao:
Proposic¸ ˜ao 1.4.1. SejamA,BeXconjuntos quaisquer, tais que A⊂X. Ent ˜ao:
(a) a∈A⇐⇒{a}∈ P(A).
(b) ∅, A∈ P(A). Em particularP(A)6=∅.
(c) A⊂B=⇒P(A)⊂ P(B).
(d) P e∩comutam, isto ´e, P(A∩B) = (P(A))∩(P(B)).
(e) P e ∪ N ˜AO comutam. Mais exatamente, vale que P(A∪B) ⊃ (P(A))∪(P(B))
mas a igualdade nem sempre se verifica.
(f) P(A)∩ P({XA) =P(∅) ={∅}.
Demonstrac¸ ˜ao. Os itens (a)-(c) seguem facilmente da definic¸ ˜ao. O item (f) ´e conseq ¨u ˆencia direta de(d)e do fato de queAe{XAs ˜ao conjuntos disjuntos.
Prova de(d): Para todo conjuntoCtem-se que
C∈ P(A∩B) ⇐⇒ (C⊂A∩B)⇐⇒(C⊂AeC⊂B)
Conjuntos Exerc´ıcios
Prova de(e): Observamos que, como A ⊂ A∪B eB ⊂ A∪Btem-se, em virtude de (c), queP(A)⊂ P(A∪B)eP(B)⊂ P(A∪B). Logo,
P(A)∪ P(B)⊂ P(A∪B).
Para mostrar que a igualdade nem sempre ´e verdadeira basta dar um exemplo (isto ´e, um contra-exemplo para a igualdade da afirmativa):
ConsideremosA ={?} eB ={•}, ent ˜ao P(A) = {∅, A},P(B) = {∅, B}, e portanto, P(A)∪ P(B) = {∅, A, B}. Por outro lado, A ∪ B = {?, •} e P(A ∪ B) = {∅, A, B, A ∪ B}. Como
A∪B /∈ P(A)∪ P(B), os conjuntosP(A∪B)eP(A))∪(P(B)s ˜ao distintos.C.Q.D.
´
E interessante observar aqui que(e)e(f)podem ser generalizados a fam´ılias de conjuntos. Isto ´e, seF ={Aλ}λ∈Λ ´e uma fam´ılia de conjuntos, ent ˜ao valem as relac¸ ˜oes:
\
λ∈Λ
P(Aλ) =P \
λ∈Λ
Aλ
!
e [
λ∈Λ
P(Aλ)⊂ P [
λ∈Λ
Aλ
!
.
Exerc´ıcios
1.Prove que a relac¸ ˜ao⊂ ´e uma relac¸ ˜aotransitiva, i.e., seA,BeCs ˜ao conjuntos tais queA⊂B
eB⊂C, ent ˜aoA⊂C. Prove, dando um contra-exemplo, que a relac¸ ˜ao∈n ˜ao ´e transitiva.
2.SejamA,BeCconjuntos. Prove que
(a) SeB⊂A, ent ˜aoB∪C⊂A∪CeB∩C⊂A∩C.
(b) As operac¸ ˜oes ∩e∪s ˜ao comutativas e associativas:
A∩B=B∩A e A∪B=B∪A,
A∩(B∩C) = (A∩B)∩C e A∪(B∪C) = (A∪B)∪C.
3. Sejam A = {?} e B = {?,•}. Diga se as afirmac¸ ˜oes abaixo s ˜ao falsas ou verdadeiras, e justifique sua resposta:
(a)A⊂B (b)A∈B (c)?∈A (d)• ⊂B
4.SejamAeBsubconjuntos de um conjunto X. Prove que:
(a)A∩B=∅⇐⇒A⊂{XB⇐⇒B⊂{XA.
Conjuntos Exerc´ıcios
5.SejamAeBconjuntos quaisquer. Prove que:
(a) Os conjuntos(A∩B)e(A−B)s ˜ao disjuntos eA= (A∩B)∪(A−B).
(b) Os conjuntosAeB−As ˜ao disjuntos eA∪B=A∪(B−A).
6.Prove queA⊂{A}se, e somente se,A=∅.
7.Prove as seguintes relac¸ ˜oes:
(a) (A−C) − (B−C) = (A−B) −C, (b) (A−C)∪(B−C) = (A∪B) −C,
(c) (A−C)∩(B−C) = (A∩B) −C, (d) (A−B) − (A−C) =A∩(C−B),
(e) (A−B)∪(A−C) =A− (B∩C), (f) (A−B)∩(A−C) =A− (B∪C).
8. Sejam A e B conjuntos quaisquer. Prove que existe um ´unico conjunto X que verifica as igualdadesA∪X=A∪BeA∩X=∅simultaneamente.
9.Sejam A={0, 1, 2,{2}, 3} e B={{1}, 1, 4}.
(a) Determine A∪B e A∩B.
(b) Diga se as afirmac¸ ˜oes abaixo s ˜ao falsas ou verdadeiras, e justifique sua resposta:
•2∈A •{2}∈A •{2}⊂A
•{2,{2}}6={{2}, 2} •{2,{2}} ⊂A •2⊂A.
10. Dados dois conjuntos A e B sua diferenc¸a sim ´etrica ´e definida como sendo o conjunto
A∆B= (A−B)∪(B−A). Prove queA∆B= (A∪B) − (A∩B). Interprete a diferenc¸a sim ´etrica por meio de um desenho.
11.SejamAeBconjuntos n ˜ao vazios. Prove que, se(A×B)∪(B×A) =C×C, ent ˜aoA=B=C.
12.SejamA, B⊂XeC, D⊂Y conjuntos. Prove que:
(a)(A×C)∩(B×D) = (A∩B)×(C∩D).
(b)(A×C)∪(B×D)⊂(A∪B)×(C∪D).
(d)(A∪B)×(C∪D) = (A×C)∪(B×D)∪(A×D)∪(B×C).
(e){X×Y(B×D) = (({XB)×Y)∪(X×({YD)).
(e) D ˆe um contra-exemplo para mostrar que a igualdade em (b) nem sempre ´e verdadeira.
13. Designamos por N o conjunto dos n ´umeros naturais N = {0, 1, 2, 3, . . .}. Dizemos que um conjuntoA ´e finito se podemos fazer uma correspond ˆencia entre os elementos deA e os ele-mentos de um subconjunto de N da forma {1, 2, 3, . . . , n} para algumn ∈ N. Convencionamos
Conjuntos Exerc´ıcios
{1, 2, . . . , n}, dizemos queApossuinelementos. O naturaln ´e ocardinaldeAe o designamos por #A. O conjunto vazio tem cardinal 0, isto ´e, #∅ = 0. Os conjuntos com cardinal 1 s ˜ao chamadosconjuntos unit ´arios.
Se A e B s ˜ao conjuntos finitos mostre que
#(A∪B) =#(A) +#(B) −#(A∩B).
14. Sejam A um conjunto com 10 elementos e B um conjunto com 15 elementos. O que se pode dizer do cardinal de A∪B,A∩B e A×B?
Cap´ıtulo 2
Os Inteiros
2.1 Notac¸ ˜ao
Este cap´ıtulo ser ´a dedicado a estudar as propriedades do conjuntoZdosn ´umeros inteiros:
Z={. . . ,−4,−3,−2,−1, 0, 1, 2, 3, 4, . . .}.
Dentre os subconjuntos de Zdestacamos os seguintes:
•O conjunto dosn ´umeros naturaisN={0, 1, 2, 3, . . .}.
•O conjunto dosn ´umeros naturais n ˜ao nulosN∗ =N−{0}={1, 2, 3, . . .}.
Este conjunto tamb ´em ´e chamado o conjunto dos n ´umeros inteiros positivos e se designa por
Z+.
•O conjunto dosn ´umeros inteiros n ˜ao nulosZ∗ =
Z−{0}={. . . ,−3,−2,−1, 1, 2, 3, . . .}.
•O conjunto dosn ´umeros inteiros negativosZ− ={−1,−2,−3, . . .}.
Do acima estabelecido segue que o conjunto dosinteiros n ˜ao positivos ´e o conjunto
{ZZ
+
=Z−Z+ ={0,−1,−2,−3, . . .}.
Analogamente, o conjunto dosinteiros n ˜ao negativos ´e o conjunto
{ZZ
−
=Z−Z− ={0, 1, 2, 3, . . .}.
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
Dados a, b ∈ Z, dizemos que a e b t ˆem o mesmo sinal quando ambos t ˆem sinal positivo ou ambos t ˆem sinal negativo, isto ´e, ambos pertencem a Z+ ou ambos pertencem a
Z−. Diremos
queaebt ˆemsinais contr ´ariosquando um deles ´e positivo e o outro ´e negativo.
2.2 Operac¸ ˜
oes
No cap´ıtulo anterior estudamos algumas operac¸ ˜oes sobre conjuntos. Estas operac¸ ˜oes nos per-mitiram construir, a partir de conjuntos dados, um novo conjunto. Nesta sec¸ ˜ao vamos introduzir a noc¸ ˜ao de operac¸ ˜ao desde um ponto de vista global e depois enfocar a nossa atenc¸ ˜ao em operac¸ ˜oes definidas no conjuntoZdos n ´umeros inteiros.
Definic¸ ˜ao. Seja A um conjunto n ˜ao vazio. Uma operac¸ ˜aosobre A ´e uma lei que a cada par ordenado de elementos de A faz corresponder um elemento de A. Se ? ´e uma operac¸ ˜ao em
A e (a, b) ∈ A×A, escrevemos ?(a, b) ou a?b para designar o elemento de A determinado ao aplicar a operac¸ ˜ao ao par ordenado (a, b). Dizemos que a ?b ´e o resultado de aplicar a operac¸ ˜ao?ao par ordenado(a, b)∈A×A.
Em s´ımbolos escrevemos
?:A×A −→ A
(a, b) 7−→ a?b .
Da definic¸ ˜ao de operac¸ ˜ao obtemos que:dadosa, b ∈A, sea=a0 eb=b0 ent ˜ao,a?b=a0?b0.
Por exemplo, consideremos um conjunto A = {α, β} contendo dois elementos. Definimos uma operac¸ ˜ao?:A×A−→Amediante a seguinte tabela:
? α β
α α β
β β α
Nesta tabela, escrevemos a primeira coordenada dos pares ordenados de A ×A na coluna embaixo de ?, e a segunda coordenada na fila `a direita de ?. A primeira fila da tabuada se lee: α?α =α, α?β =β, e a segunda filaβ?α=βeβ?β=α.
Neste exemplo observamos que, quaisquer que sejam x, y ∈ A tem-se x ?y = y? x. Uma operac¸ ˜ao verificando esta propriedade ´e chamada comutativa. Tamb ´em, quaisquer que sejam
x, y, z∈A, valex?(y?z) = (x?y)?z(verifique este fato!). Uma operac¸ ˜ao com esta propriedade ´e chamadaassociativa. O elementoαdeAtem a propriedade de que α?x=x?α=x, isto ´e,
α ´e um elementoneutropara a operac¸ ˜ao?.
Vejamos outro exemplo. Seja B = {0, 1, 2, 3, 4} e consideremos a operac¸ ˜ao ? : B ×B −→ B
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
? 0 1 2 3 4
0 0 0 0 0 0
1 0 1 2 3 4
2 0 2 4 1 3
3 0 3 1 4 2
4 0 4 3 2 1
Segundo esta tabela vemos que1?x=x?1=xqualquer que seja x ∈ B, isto ´e, 1 ´e um elemento neutro para a operac¸ ˜ao?. Observando com cuidado vemos que a tabu-ada ´e sim ´etrica em relac¸ ˜ao `a diagonal, logo a operac¸ ˜ao? ´e comutativa. Podemos verificar que a operac¸ ˜ao ? ´e as-sociativae que para cadax ∈B−{0}, existey∈Btal que
x?y=1, pois1?1=1,2?3=3?2=1e4?4=1.
Vamos agora enfocar a nossa atenc¸ ˜ao no conjuntoZdos n ´umeros inteiros.
Sobre o conjunto Z dos n ´umeros inteiros podemos definir muitas operac¸ ˜oes. As operac¸ ˜oes
de soma e de multiplicac¸ ˜ao, com as quais j ´a estamos familiarizados, ser ˜ao de fundamental import ˆancia no resto deste cap´ıtulo:
+ :Z×Z−→Z (m, n)7−→m+n (operac¸ ˜ao desomaouadic¸ ˜ao)
· :Z×Z−→Z (m, n)7−→m·n (operac¸ ˜ao de multiplicac¸ ˜aoouproduto)
A multiplicac¸ ˜ao de dois n ´umeros inteiros a e b ser ´a tamb ´em designada pela justaposic¸ ˜ao ab, isto ´e, colocando um n ´umero ap ´os o outro. Esta terminologia dever ´a ser usada com cuidado, por exemplo: 15 ´e o inteiroquinzee n ˜ao1·5. Por outro lado, sea∈Z,2ase entende como2·a.
Da noc¸ ˜ao geral de operac¸ ˜ao, tem-se a seguinte regra que utilizaremos com freq ¨u ˆencia:
Dadosa, b, c∈Ztemos que
• (i)sea=bent ˜aoa+c=b+c,
• (ii)sea=bent ˜aoa·c=b·c.
Mais tarde voltaremos a falar sobre esta regra, ou mais especificamente, sobre a sua rec´ıproca (vide as leis de cancelamento para adic¸ ˜ao e multiplicac¸ ˜ao).
Na pr ´atica fazemos uso das operac¸ ˜oes de soma e multiplicac¸ ˜ao, junto com uma s ´erie de pro-priedades ou regras de manipulac¸ ˜ao, que na maioria dos casos aplicamos de maneira quase autom ´atica sem reparar muito nos detalhes.
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
Propriedades das operac¸ ˜oes de soma e de multiplicac¸ ˜ao emZ:
• (1)Comutatividade:
•a+b=b+apara todoa, b∈Z,
•a·b=b·apara todoa, b∈Z.
• (2)Associatividade:
•(a+b) +c=a+ (b+c)para todoa, b, c∈Z,
•(a·b)·c=a·(b·c)para todoa, b, c∈Z.
• (3)Distributividade:
•a·(b+c) =a·b+a·cpara todoa, b, c∈Z,
•(a+b)·c=a·c+b·cpara todoa, b, c∈Z.
• (4)Exist ˆencia de elementos neutros (0 para a adic¸ ˜ao e 1 para a multiplicac¸ ˜ao):
•0+a=a=a+0para todoa∈Z.
•1·a=a=a·1para todoa∈Z.
• (5)Exist ˆencia de sim ´etricos:
•a+ (−a) =0= (−a) +apara todoa∈Z.
Notac¸ ˜ao. Dadosa, b ∈ Z, escrevemosa−bpara significara+ (−b), isto ´e, a soma dea com o sim ´etrico deb. O n ´umeroa−bse l ˆeamenos b.
Observamos que a propriedade descrita no item (5) diz respeito apenas `a operac¸ ˜ao de soma. Dadoa∈Z, o n ´umero−a∈Z ´e chamado osim ´etricodea.
Como dito anteriormente, podemos definir v ´arias operac¸ ˜oes sobre Z. Uma delas, com a
qual estamos bastante familiarizados ´e a operac¸ ˜aodiferenc¸adada pela notac¸ ˜ao acima:
− :Z×Z −→ Z
(a, b) 7−→ a−b=a+ (−b),
Outro exemplo de operac¸ ˜ao definida sobre o conjuntoZ ´e:
:Z×Z −→ Z
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
Muita atenc¸ ˜ao!!
• Observe que n ´os sabemos somar apenas dois elementos de cada vez. O que significa ent ˜ao uma express ˜ao t ˜ao conhecida como a+b+c onde a, b, c ∈ Z? Melhor dizendo, faz sentido a express ˜ao acima? De fato, mantendo a ordem em que a, b, c aparecem na express ˜ao s ´o podemos oper ´a-los como a+ (b+c) ou (a+b) +c o que d ´a na mesma, segundo a propriedade de associatividade da soma. ´E por esta raz ˜ao quea+b+c faz sentido. Se quisermos alterar a ordem em que a, b, c aparecem na express ˜ao tamb ´em podemos faz ˆe-lo, desta vez, lanc¸ando m ˜ao da propriedade de comutatividade.
Em virtude das propriedades associativa e comutativa da multiplicac¸ ˜ao, as mesmas considerac¸ ˜oes acima podem ser aplicadas ao produto de tr ˆes ou mais inteiros, isto ´e, sea, b, c∈Z, o produtoa·b·cpode ser entendido comoa·(b·c)ou como(a·b)·c, ou ainda comob·(a·c)etc. Outro exemplo, sea, b, c, d, e, f, g∈Z,
a+b+c+d+e+f+g = (a+ (b+ (c+ (d+ (e+f))))) +g
= ((a+b) + (c+d)) + ((e+f) +g) =etc.
a·b·c·d·e·f·g = ((a·b)·(c·(d·(e·f))))·g
= ((a·b)·(c·(d·(e·f))))·g=etc.
• Do item anterior conclu´ımos que nas express ˜oesa+ (b+c)e(a+b) +ccoma, b, c∈Z
podemos ignorar o par ˆenteses, isto ´e, a+ (b+c) = a+b+c = (a+b) + c. Ser ´a que podemos fazer isto na express ˜ao a − (b−c), escrevendo a − (b−c) = a −b− c = (a−b) −c? Se a operac¸ ˜ao diferenc¸a fosse associativa, poder´ıamos faz ˆe-lo mas isto n ˜ao ´e verdade (prove!). Exatamente por esta raz ˜ao tamb ´em n ˜ao podemos ignorar o par ˆenteses na express ˜aoa−(b+c), escrevendoa−(b+c) =a−b+c. De fato,a−(b+c) = (a−b)−c. O que ´e intrigante ´e que apesar da operac¸ ˜ao diferenc¸a n ˜ao ser associativa n ´os bem que entendemos o que significa a− b− c ! Bem, neste caso quando lemos a express ˜ao
a−b−cde fato estamos lendo(a−b) −ce n ˜aoa− (b−c). Isto ´e uma convenc¸ ˜ao que, evidentemente, respeitaremos.
Trabalhando com as operac¸ ˜oes de soma e multiplicac¸ ˜ao sobre Z n ´os utilizaremos com
freq ¨u ˆencia as propriedades de (1) `a (5). Al ´em delas, utilizaremos tamb ´em v ´arias de suas con-sequ ˆencias, listadas abaixo e de f ´acil demonstrac¸ ˜ao.
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
Demonstrac¸ ˜ao. Das propriedades acima descritas temos que0·a = (0+0)·a =0·a+0·a. Agora, somando−(0·a) a cada membro da equac¸ ˜ao 0·a = 0·a+0·a n ´os conclu´ımos que
0·a=0para todoa∈Z. Da´ı segue que0·a=0=a·0para todoa∈Z. C.Q.D.
Conseq ¨u ˆencia 2. (−1)·a= −a , ∀a∈Z.
Demonstrac¸ ˜ao. Temos que (−1) · a +a = (−1) · a + (1) · a = (−1 +1) · a = 0 · a = 0.
Agora, somando−aa cada um dos membros da equac¸ ˜ao(−1)·a+a=0n ´os conclu´ımos que
(−1)·a= −a, ∀a∈Z. C.Q.D.
Destas duas conseq ¨u ˆencias temos: 0= (−1)·0= −0.
Conseq ¨u ˆencia 3. Mais geralmente, repetindo adequadamente os argumentos acima, n ´os conclu´ımos que
a·(−b) = (−a)·b= −a·b , ∀a, b∈Z.
´
E esta propriedade que nos permite garantir que
a·(b−c) =a·b−a·c , ∀a, b, c∈Z.
De fato,
a·(b−c) =a·(b+ (−c)) =a·b+a·(−c) =a·b+ (−a·c) =a·b−a·c.
Conseq ¨u ˆencia 4. a−b=0⇐⇒a=b.
Demonstrac¸ ˜ao. Com efeito,
a−b=0 ⇐⇒ a+ (−b) =0 pela definic¸ ˜ao da diferenc¸aa−b
⇐⇒ (a+ (−b)) +b=0+b somandobem ambos lados da igualdade
⇐⇒ a+ ((−b) +b) =b pela propriedade associativa
⇐⇒ a+0=b pela propriedade dos sim ´etricos
⇐⇒ a=b pela propriedade do elemento neutro aditivo. C.Q.D.
Conseq ¨u ˆencia 5. (−1)(−1) =1e portanto,−(−a) =a, para todoa∈Z.
Demonstrac¸ ˜ao. Com efeito, tem-se
(−1)(−1) −1= (−1)(−1) + (−1) = (−1)(−1) + (−1)·1= (−1)(−1+1) = (−1)·0=0.
e ent ˜ao, pelo item anterior(−1)(−1) =1.
Os Inteiros 2.2 Operac¸ ˜oes
Repare que, se a ∈ Z+ ent ˜ao −a ∈
Z− e reciprocamente, se a ∈ Z− ent ˜ao −a ∈ Z+.
Portanto devemos ter cuidado com o seguinte: ´
E falso que: Sea ´e um inteiro, ent ˜ao−a ´e um inteiro negativo.
Com efeito, observe que
−(−1) = (−1)[(−1)1] = [(−1)(−1)]1=1·1=1
−(−(−3)) = (−1)[(−1){(−1)3}] = (−1)[{(−1)(−1)}3] = (−1)[1·3] = (−1)3= −3
−(−(−(−(−n)))) = −n, para todon∈Z, e assim por diante.
Conseq ¨u ˆencia 6. Lei do cancelamento para a adic¸ ˜ao.
Dadosa, b, c∈Ztemos:
a+c=b+c=⇒a=b
Demonstrac¸ ˜ao. Sejama, b, c∈Ze suponhamos que a+c=b+c. Assim , obtemos:
a+c=b+c=⇒a+c+ (−c) =b+c+ (−c)=⇒a+0=b+0=⇒a=b,
e a demonstrac¸ ˜ao est ´a terminada. C.Q.D.
Para demonstrar a lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao precisamos do seguinte lema.
Lema 2.2.1. Sejama, b∈Z. Sea·b=0ent ˜ao a=0oub=0.
A demonstrac¸ ˜ao deste lema ser ´a feita mais tarde quando introduzirmos o conceito de divisi-bilidade. Vamos agora utiliz ´a-lo para demonstrar a lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao.
Conseq ¨u ˆencia 7. Lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao.
Dadosa, b, c∈Z com c6=0temos:
a·c=b·c=⇒a=b
Demonstrac¸ ˜ao. Sejama, b, c∈Ze suponhamos que a·c=b·c. Assim , obtemos:
a·c=b·c=⇒a·c−b·c=0=⇒(a−b)·c=0=⇒a−b=0 ou c=0.
Comoc6=0por hip ´otese, segue do lema acima quea−b=0, isto ´e,a=be a demonstrac¸ ˜ao est ´a terminada. C.Q.D.
Definic¸ ˜ao. Sejaa∈Z. Ovalor absolutooum ´odulodea, denotado|a|se define por
|a|=
a , sea ´e positivo
0 , sea=0
Os Inteiros Exerc´ıcios
Desta definic¸ ˜ao temos que, sea∈Z∗, ent ˜ao|a| ´e um inteiro positivo. Al ´em disso,
|a|=0⇐⇒a=0.
Por exemplo,|2|=2= −(−2) =|−2|.
´
E importante observar que,|−a|=ase, e somente se,a ´e um inteiro positivo.
Exerc´ıcios
1.Calcule
(a)2−2(3− (−1)) + (−5−3(5−2(−1(2−4)))).
(b)−3+ (−3− (4−2(1−2)2)(2−3(−1+ (−3·2+2))(−2))).
(c)−2−|2(−2+ (5−2(3−|−4|)))|− | −|3−|2| |−1| |.
2. Sejama ∈ Z∗ e b∈
Z. Diga se as afirmac¸ ˜oes abaixo s ˜ao falsas ou verdadeiras e justifique
suas respostas.
(i)−a ´e um inteiro negativo,
(ii)a+b ´e um inteiro positivo,
(iii)2a ´e um inteiro positivo,
(iv)a·a ´e um inteiro positivo,
(v)−100−a ´e um inteiro n ˜ao negativo,
(vi)0e2t ˆem o mesmo sinal,
(vii)1+ (a−b)(a−b) ´e um inteiro positivo,
(viii)|b| ´e n ˜ao negativo,
(ix)|a+3|=a+3,
3.Elimine os par ˆenteses nas express ˜oes abaixo.
(i)a−3(2a− (−a+b) −a(b−2(−a+b))a−b),
(ii)2(−a+1−b(2−2a(1−b)) −3b−2(−4− (a−2))),
(iii)(2−|a|+3(a− (a−1) +|a+1|) −2(1−|a+3|)).
Os Inteiros Exerc´ıcios
5. Considere dois inteiros de soma S, de diferenc¸a D e de produto P. Responda as quest ˜oes seguintes selecionando a resposta correta dentre as propostas.
(a) Adicionamos5a um dos inteiros e3ao outro. O que acontece comS?
(b) Adicionamos4a cada um dos inteiros. O que acontece comS? E comD?
(c) Multiplicamos cada inteiro por2. O que acontece comS? E comD? E comP?
(d) Multiplicamos um dos inteiros por5e o outro por3. O que acontece comP?
Respostas propostas.
(i) N ˜ao varia.
(ii) Aumenta de5.
(iii) Diminui de 8.
(iv) Dobra.
(v) Fica multiplicada por15.
(vi) Triplica.
(vii) Fica multiplicada por4.
(viii) Aumenta de8.
6.Um filho tem11anos e sua m ˜ae35anos. Daqui a quantos anos a idade da m ˜ae ser ´a o triplo da idade do filho.
7.A idade de duas pessoas somam 120 anos. Subtraindo-se 10 anos da idade da mais velha e acrescentando-os `a da mais moc¸a, as idades tornam-se iguais. Qual a idade de cada uma?
8.Um r ´adio e uma televis ˜ao custam juntos R$ 1.500,00. Comprando apenas o r ´adio me sobraria R$ 200,00mas para adquirir a televis ˜ao precisava ter mais R$ 300,00 do que possuo. Quanto custou o r ´adio, a televis ˜ao e quanto possuo?
9.Duas cidades A e B distam 200 km. `As 8 horas, parte de A para B, um trem com velocidade de 30 km por hora e, duas horas depois, parte de B para A um outro trem com velocidade de 40 km por hora. A que dist ˆancia de A, dar-se- ´a o encontro dos trens?
10.Determine o valor de a∈Zna equac¸ ˜ao
2(a− (2−a) + (1−2a)(2−3(5−2))) =3a− (a−2(a−3(a−1))).
Os Inteiros Exerc´ıcios
b=0ouc=0.
12.Determine todas as soluc¸ ˜oes inteiras das equac¸ ˜oes:
(i)(a+2)(2−a)(a−2(a−2)) = 0,
(ii)(a−2)(3+b)ab=0,
(iii)(a−1)(3+b)(a−b) =0,
(iv)ab+3a−2b=6,
(v)|a|=1,
(vi)|a−2|=3,
(vii)|2−a|·|b+3|=0,
(ix)|a|+a=0.
13.Use a lei de cancelamento da multiplicac¸ ˜ao para determinar todas as soluc¸ ˜oes inteiras das equac¸ ˜oes:
(i)2a=2, (ii)2a=a, (iii)ab=b.
14.Mostre que a hip ´otese,a6=0na lei de cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao, ´e essencial.
15. Da associatividade da operac¸ ˜ao soma podemos concluir que (a−b) + c = a− (b+c)? Justifique sua resposta.
16.Mostre que o Lema 2.2.1 usado para demonstrar a lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao ´e de fato equivalente a tal lei, i.e., mostre que a lei implica o lema e que o lema implica a lei. Ali ´as, esta ´ultima parte n ´os j ´a fizemos.
17.Sejama, b ∈Z. Mostre que|a|=|b|se, e somente se,a=boua= −b.
18.Considere dois inteiros iguaisaeb.
Temos ent ˜ao que:
a=b=⇒a2 =ab =⇒a2−b2 =ab−b2 =⇒(a−b)(a+b) = (a−b)b.
Usando a lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao, obtemosa+b=b. agora tomandoa=1=
bconclu´ımos que2=1.
Os Inteiros Exerc´ıcios
2.3 Pot ˆencias Naturais de N ´
umeros Inteiros
Definic¸ ˜ao:
• a0 =1para todoa∈
Z∗
• ak =a·. . .·a
| {z }
k vezes
para todoa∈Zek∈N∗.
Nesse contexto temos: a1 = a , a2 = a·a , a3 = a·a·a = a2 ·a , e assim por diante. Na definic¸ ˜ao acima, n ´os dizemos que an ´e uma pot ˆenciatendo como base o inteiroa e como expoenteo naturaln.
Propriedades das pot ˆencias.
Dadosa, b∈Z∗ em, n ∈
Ntemos:
1. am+n =am·an
2. (a·b)n =an·bn
3. (an)m =an·m
Voc ˆe entendeu o porque da condic¸ ˜ao a, b ∈ Z∗ ao inv ´es da condic¸ ˜aoa, b ∈
Z ? Ela serve
apenas para evitar a pot ˆencia 00 que n ˜ao foi definida. Uma outra forma de enunciar a primeira
regra, poderia ser, por exemplo:
Sejama∈Zem, n∈Ntais queam+n, am e an est ˜ao definidos. Ent ˜aoam+n=am·an.
Exerc´ıcios
1.Sejama, b∈Z. Mostre que:
(i)(a+b)2 =a2+2ab+b2,
(ii)(a−b)2 =a2−2ab+b2,
(iii)(a+b)(a−b) =a2 −b2,
Os Inteiros Exerc´ıcios
2.Use o desenvolvimento de(a+b)3 para concluir que
(a−b)3 =a3−3a2b+3ab2−b3.
3.Diga se ´e falso ou verdadeiro e justifique sua resposta:
(a)2k+1+6=2(3+2k)para todok∈N,
(b)6n+1−6n =2n·3n+1+2n+1·3npara todon∈
N,
(c)2n+10m =2n(1+10m−n·5n)para todom, n ∈
Ncomm ≥n.
4.Sejaa∈Z. Mostre quea2 =1se, e somente sea=1 oua= −1.
Demonstrac¸ ˜ao. Temos que a2 = 1 ⇐⇒ a2 −1 = 0 ⇐⇒ (a−1)(a+1) = 0. Agora, usando o
Lema 2.2.1 obtemos
(a−1)(a+1) =0⇐⇒a+1=0 ou a−1=0⇐⇒a= −1 ou a=1. C.Q.D.
5.Use o Lema 2.2.1 para mostrar que sea2 =0,a∈
Z, ent ˜aoa=0.
6.Use uma das leis de cancelamento para demonstrar que sea2 =0coma∈
Z ent ˜aoa=0.
7.Determine os valores da vari ´avelnpara os quais as express ˜oes abaixo fazem sentido emZ.
(a)2n,
(b)(−5)n−2,
(c)2n−3+ (2+n)n+1,
(d)(2+n)2+n,
(e)2n−1,
(f)32(n−4)·53n−n2
.
8.Determine as soluc¸ ˜oes inteiras das equac¸ ˜oes:
(a)(a−1)2 =0,
(b)(a−2)2 =1,
(c)a2−b2 =0,
(d)a2−a+6=0,
(e)a2(b+1) =a(b+1),
Os Inteiros 2.4 O Bin ˆomio de Newton
(g)a4−16=0.
9.Sejama, b∈Ze coloquemosc=a−b. Temos ent ˜ao quea=b+c. Multiplicando ambos os membros pora−btemos:
(a−b)a= (a−b)(b+c) =⇒ a2−ab=ab+ac−b2−bc =⇒a2−ab−ac=ab−b2−bc
=⇒ a(a−b−c) =b(a−b−c).
Agora, pela lei do cancelamento para a multiplicac¸ ˜ao conclu´ımos quea=b.
E voc ˆe, o que acha disto?
2.4 O Bin ˆ
omio de Newton
Muitas vezes temos necessidade de considerar somas com um grande n ´umero de parcelas, ou somas com um n ´umeronde termos, onden ´e um inteiro positivo qualquer. Por exemplo,
a1+a2+a3+a4+a5+a6 +a7+a8+a9 +a10,
b1+b2+. . .+b7,
b1+. . .+b8+b9,
c1+. . .+cn, onden∈Z+,
a0+a1+. . .+ak, ondek∈N.
Fixaremos agora uma notac¸ ˜ao que facilitar ´a a manipulac¸ ˜ao destas somas.
Sejamn∈Z+ ea
1, a2, . . . , an∈Z. Escrevemos n
X
i=1
ai (l ˆe-sesomat ´oriodeai variandoi de1at ´en)
para indicar a soma a1 +a2+. . .+an.
De forma similar, escrevemos:
n+1
X
i=0
ai = a0+a1+. . .+an+1, onde n∈Z+,
k
X
j=2
bj = b2+. . .+bk, onde k∈{2, 3, 4, . . .},
mX+2
k=−4
Os Inteiros 2.4 O Bin ˆomio de Newton
p
X
n=0
a2n = a0+a2+a4+. . .+a2(p−1)+a2p, onde p∈Z+.
Note que cada uma das quatro ´ultimas somas possui um n ´umero m´ınimo de termos e um n ´umero total (n ˜ao confundir com m ´aximo) de termos: a primeira delas possui no m´ınimo 3
termos e um total den+2termos, a segunda possui um m´ınimo de1termo e um total dek−1
termos, a terceira possui um m´ınimo de 8 termos e um total de ...
Atenc¸ ˜ao! Ainda com relac¸ ˜ao `as ´ultimas quatro somas, ´e importante voc ˆe perceber que, na primeira delas, o resultado da adic¸ ˜ao de suas parcelas depende denmas n ˜ao dei, na segunda o resultado depende dek mas n ˜ao dej, na terceira o resultado depende de mmas n ˜ao dek, e na quarta o resultado depende depe n ˜ao den.
Lema 2.4.1 Para quaisquera, b ∈Z∗ en∈
Z+, vale a seguinte identidade:
an−bn = (a−b) n−1
X
i=0
an−1−i·bi.
Demonstrac¸ ˜ao. Para demonstrar o lema efetuamos as operac¸ ˜oes indicadas no segundo mem-bro da identidade com o objetivo de obter o primeiro memmem-bro.
Temos:
n−1
X
i=0
an−1−i·bi =an−1b0+an−2b1+an−3b2+. . .+a2bn−3 +a1bn−2+a0bn−1.
Multiplicando ambos os membros desta identidade pora−be efetuando as operac¸ ˜oes:
(a−b) n−1
X
i=0
an−1−i·bi = a· n−1
X
i=0
an−1−i·bi
!
−b· n−1
X
i=0
an−1−i·bi
!
= (anb0+an−1b1+an−2b2 +. . .+a3bn−3+a2bn−2+a1bn−1) −(an−1b1+an−2b2 +an−3b3+. . .+a2bn−2+a1bn−1+a0bn) = anb0−a0bn=an−bn,
e a demonstrac¸ ˜ao est ´a terminada.C.Q.D.
Teorema (do bin ˆomio de Newton). Dadosa, b ∈Z∗ en∈
Z+ temos:
(a+b)n= n
X
k=0
n k
Os Inteiros Exerc´ıcios
onde
n k
´e o n ´umero de combinac¸ ˜oes de nelementosk `ak.
Veremos mais tarde uma f ´ormula para a combinac¸ ˜ao denelementosk `akmas, voc ˆe pode concluir com facilidade que:
1. combinar n elementos0 `a 0s ´o podemos faze-lo atrav ´es da colec¸ ˜ao com zero elementos, isto ´e, da colec¸ ˜ao vazia, e ent ˜ao
n 0
=1,
2. podemos combinar nelementos1 `a1denmaneiras diferentes, e ent ˜ao
n 1
=n,
3. podemos combinar nelementosn `ande uma ´unica maneira, e ent ˜ao
n n
=1,
4. podemos combinarnelementosn−1 `an−1denmaneiras diferentes, para isto basta ver que uma combinac¸ ˜ao comn−1elementos ´e constru´ıda retirando um elemento da colec¸ ˜ao comnelementos, e ent ˜ao
n n−1
=n.
Por enquanto, vamos nos contentar com isso.
Exerc´ıcios
1.Quantas parcelas t ˆem as express ˜oes escritas abaixo:
(a)a1+a2+. . .+an, onden∈Z+,
(b)am+am+1+. . .+am+s, ondem∈Zes∈Z+,
(c)
n−1
X
i=0
ai+1, onden−3∈Z+,
(d)am−1+am+. . .+am+s, ondem∈Zes∈Z+.
Os Inteiros Exerc´ıcios
3.Reescreva as express ˜oes abaixo sem usar o s´ımbolo de somat ´orio.
(a)
n
X
j=0
aj+3, onden∈N,
(b)
2n
X
i=0
(−1)i·ai+1, onden∈N,
(c)
n−1
X
k=−4
δk+2, onden∈N.
4. Qual o n ´umero m´ınimo de parcelas que poder ´a ocorrer em cada uma das express ˜oes do exerc´ıcio anterior?
5.Sejamp∈Zen∈Z+. Mostre que:
(a)(a−b)n= n
X
k=0
(−1)n−k
n k
akbn−k,
(b)(1+a)n= n
X
i=0
n i
ai,
(c)
n
X
k=0
ak = n−p
X
i=−p
ai+p,
(d)
n
X
i=0
ai =a0+ n−1
X
i=0
ai+1,
(e)
n
X
i=0
n i
=2n,
(f)
n
X
k=0 (−1)k
n k
=0.
6.Mostre que
(a)
n
X
i=0
(ai+bi) = n
X
i=0
ai+ n
X
i=0
bi,
(b)
n
X
i=0
(c·ai) =c
n
X
i=0
ai,
(c)
n
X
i=1
(ai−ai−1) =an−a0.
Os Inteiros 2.5 A Reta Orientada e os N ´umeros Inteiros
(a)
100
X
n=0
n2 = 100
X
n=1
n2,
(b)
n
X
k=0
(1+k) =1+ n
X
k=0
k, onden∈Z+,
(c)
n
X
i=1
(i+1)4 = n−1
X
i=0
i4, onden∈Z+,
(d)
n
X
k=1
k2 = n−s
X
j=1−s
(j+s)2.
8.Mostre que
n 2
= n−1
X
k=1
(n−k) =n(n−1) − n−1
X
k=1
k,
para todon∈{2, 3, 4, . . .}.
9.Compare n p e n n−p
.
10.SejaAum conjunto comnelementos (n∈N). Mostre que o n ´umero de subconjuntos deA
´e2n. Isto ´e, #P(A) =2n.
11.Qual ´e o coeficiente de a2x2 no desenvolvimento de(2x+a)4?
12.Qual ´e o coeficiente de x4 no desenvolvimento de(x+3)5?
13.Qual ´e o coeficiente de ax3 no desenvolvimento de(a−x+1)4?
Indicac¸ ˜ao: Desenvolva(a−x+1)4como((a−x) +1)4.
2.5 A Reta Orientada e os N ´
umeros Inteiros
Considere uma reta e sobre ela fixemos uma orientac¸ ˜ao, isto ´e, fixemos um sentido de percurso.
Representac¸ ˜oes gr ´aficas:
reta sem orientac¸ ˜ao
sentido de percurso fixado
−−−−−−−−−−→
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−reta anterior com orientac¸ ˜ao fixada→
Os Inteiros 2.5 A Reta Orientada e os N ´umeros Inteiros
Uma reta sobre a qual fixamos uma orientac¸ ˜ao (i.e. um sentido de percurso) ser ´a dita uma reta orientada. Assim, uma reta orientada ´e constitu´ıda de dois ingredientes: da reta e da orientac¸ ˜ao escolhida sobre ela.
Os tr ˆes pontinhos colocados `a direita e `a esquerda nas representac¸ ˜oes gr ´aficas acima ser-vem apenas para indicar que estamos representando graficamente uma parte da reta ou da reta orientada. Daqui para frente vamos propositadamente esquec ˆe-los, n ˜ao esquecendo no entanto que estamos representando graficamente uma parte da reta ou da reta orientada.
Numa reta orientada podemos falar em pontos `a direita (resp. `a esquerda) de um ponto dado, da seguinte maneira.
Seja P um ponto de uma reta orientada. Os pontos `a direita de P s ˜ao aqueles que podem ser atingidos a partir de P, seguindo o sentido de percurso fixado. Os pontos `a esquerda s ˜ao aqueles que podem ser atingidos a partir de P, seguindo o sentido de percurso oposto `aquele fixado.
pontos `a direita de P
◦
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−→
reta orientada P
pontos `a esquerda de P
Pois bem, fixemos em definitivo uma reta orientadar, um ponto arbitr ´arioOsobre ela (cha-mado deorigem) e um segmento de retau (dito,unidade de comprimento).
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−→
O u r
(segmento de reta)
| {z }
unidade de comprimento
Agora, vamos inserir os n ´umeros inteiros na reta orientada, colocando o n ´umero0(zero) na origem, os inteiros positivos `a direita da origem e os inteiros negativos `a esquerda da origem, como mostrado na figura a seguir.
u u u u u u u u
· · · z }| { · · · z }| {z }| {z }| {z }| {z }| {z }| { · · · z }| { · · ·
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−→
−n −n+1 −3 −2 −1 0 1 2 3 (n−1) n r
Isto ´e feito da seguinte maneira:
1e−1s ˜ao colocados `a uma unidade da origem,
2e−2s ˜ao colocados `a2unidades da origem,
3e−3s ˜ao colocados `a3unidades da origem, ..
. ... ...
Os Inteiros 2.5 A Reta Orientada e os N ´umeros Inteiros
Diremos que n e −n foram colocados na reta orientada, simetricamente em relac¸ ˜ao a ori-gem. Tamb ´em diremos que o n ´umero 1 foi obtido da origem por translac¸ ˜ao `a direita de uma unidade, que o n ´umero−1foi obtido da origem por translac¸ ˜ao `a esquerda de uma unidade, que
2 foi obtido da origem por translac¸ ˜ao `a direita de 2unidade (ou de1 por translac¸ ˜ao `a direita de uma unidade), que−2foi obtido da origem por translac¸ ˜ao `a esquerda de2unidade (ou de1por translac¸ ˜ao de 3 unidades), e assim por diante.
De forma mais geral, dadosa∈Zeb∈Z+ diremos que
1. a+b (na reta orientada) foi obtido de a(na reta orientada) pela translac¸ ˜ao `a direita deb
unidades, ou simplesmente,a+bfoi obtido transladandoadeb,
2. a−b(na reta orientada) foi obtido de a(na reta orientada) pela translac¸ ˜ao `a esquerda de
bunidades, ou simplesmente,a−bfoi obtido transladandoade−b.
Assim, dados a, b ∈Z entenderemos quea+b ´e obtido transladandoa deb(translac¸ ˜ao `a direita seb ´e positivo, `a esquerda seb ´e negativo e translac¸ ˜ao nula se b=0).
Uma outra propriedade importante desta forma de inserir os inteiros na reta orientada, ou digamos assim, de mergulhar os inteiros na reta orientada, ´e a seguinte.
Dados dois pontos P,Q da reta orientada, existem no m ´aximo um n ´umero finito de inteiros entre eles.
Em particular,
dado um ponto P da reta orientada, sempre existem inteiros `a direita de P e inteiros `a esquerda deP.
Mais precisamente,
i. dado um pontoPda reta orientada, existen0 ∈Z+ tal quen0 est ´a `a direita deP, P
• ◦
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−→
n0∈Z−
ii. dado um pontoPda reta orientada, existen0 ∈Z− tal quen0 est ´a `a esquerda deP. P
◦ •
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−→
n0∈Z−
Os Inteiros Exerc´ıcios
Agora, seja A um subconjunto de Z. Diremos que A ´e limitado inferiormente (ou, cotado
inferiormente) se existe um ponto P da reta orientada tal que todo elemento deAest ´a `a direita de P. Diremos queA ´elimitado superiormente(ou,cotado superiormente) se existe um ponto Q da reta orientada tal que todo elemento deAest ´a `a esquerda de P.
Exemplos.
a. O conjuntoN ´e limitado inferiormente. Para ver isso, fixe um ponto P da reta, `a esquerda
da origem. Neste caso, todo elemento de N est ´a `a direita de P, o que mostra que N ´e
limitado inferiormente.
b. O conjuntoZ+ n ˜ao ´e limitado superiormente, pois, j ´a vimos que dado um ponto Q das reta orientada sempre existe um inteiro positivo `a sua direita.
c. O conjunto Z− ´e limitado superiormente, pois, todo elemento de Z− est ´a `a esquerda da
origem.
d. O conjuntoZn ˜ao ´e limitado inferiormente nem superiormente. Isto segue do fato que dado um ponto P sempre existem inteiros `a direita e `a esquerda de P.
Na pr ´oxima sec¸ ˜ao falaremos de uma outra propriedade deZenquanto subconjunto da reta
orientada. Esta importante propriedade estar ´a relacionada com o conceito de subconjuntos limitados inferiormente e superiormente.
Exerc´ıcios
1.Diga se ´e falso ou verdadeiro e justifique sua resposta.
(a) O conjunto dos inteiros n ˜ao positivos ´e limitado inferiormente,
(b) O conjunto dos inteiros n ˜ao negativos ´e limitado inferiormente.
2.SejamA, B⊂Z. Mostre que
(a) SeAeBs ˜ao limitados superiormente ent ˜ao,A∪BeA∩Bs ˜ao limitados superiormente.
(b) SeA ´e limitado inferiormente eB ´e limitado superiormente ent ˜ao,A∩B ´e limitado superior-mente e inferiorsuperior-mente.
3.Diga se ´e falso ou verdadeiro e justifique sua resposta.
Os Inteiros 2.6 A Relac¸ ˜ao de Ordem
(b) Dado um ponto P da reta orientada existe um inteiron0 ∈Z+ tal quen0 −5est ´a `a direita de
P,
(c) Dado um ponto P da reta orientada existe um inteiron0 ∈Z+tal quen0+100est ´a `a esquerda
de P.
4. Seja P um ponto da reta orientada eM∈Z. Mostre que existe n0 ∈ Z+ tal que n0−Mest ´a
`a direita de P.
5. Mostre que subconjuntos de conjuntos limitados superiormente (resp. inferiormente) s ˜ao limitados superiormente (resp. inferiormente).
6.Nesta sec¸ ˜ao, n ´os definimos o que significa um subconjunto de Zser limitado superiormente.
Colocamos agora uma nova definic¸ ˜ao: Dizemos que um subconjunto n ˜ao vazioA⊂Z ´elimitado superiormente quando existe um n ´umero inteiroNtal que todo elemento deAest ´a `a esquerda deN.
Mostre que a definic¸ ˜ao antiga e a nova s ˜ao de fato equivalentes, isto ´e, mostre que todo sub-conjunto n ˜ao vazio deZque ´e limitado superiormente em relac¸ ˜ao a uma das definic¸ ˜oes tamb ´em
ser ´a limitado superiormente em relac¸ ˜ao `a outra.
2.6 A Relac¸ ˜ao de Ordem (primeiro contato)
Ap ´os representar o conjunto Z na reta orientada vamos utilizar a orientac¸ ˜ao fixada na reta para introduzir em Zuma ordenac¸ ˜ao.
Definic¸ ˜ao. Sejam a, b ∈ Z. Diremos que a ´e menor que b (notac¸ ˜ao a < b) quando a est ´a `a esquerda de b na reta orientada. Equivalentemente, diremos que a ´e maior que b(notac¸ ˜ao
b > a) quandobest ´a `a direita dea.
Neste contexto, os inteiros positivos s ˜ao aqueles que s ˜ao maiores do que zero e os inteiros negativos s ˜ao aqueles que s ˜ao menores do que zero.
Esta forma de comparac¸ ˜ao entre elementos deZ, introduzida pela definic¸ ˜ao acima, ser ´a dita relac¸ ˜ao de ordem.
Observe que, definida a relac¸ ˜ao “<”ao definir a relac¸ ˜ao “>”n ˜ao introduzimos nada de novo, a n ˜ao ser uma nova notac¸ ˜ao. Dizer que b > a ´e, exatamente, dizer quea < b.