MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Departamento de Oftalmo-Otorrinolaringologia
I
Curitiba, 27 de agosto de 2013. Of. n.' 23/2013 - SDIDOFOT
Prezados,
Informo que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) entregue a seguir, elaborado pela aluna FERNANDA MOREIRA OLIVEIRA como requisito para obtenção do titulo de especialista do curso de Especialização em Oftalmologia da UFPR, intitulado "Correlação do Tempo de Retirada da Córnea e
Recuperação da Transparência do Enxerto no Pós-Operatório de
Transplantes de Córnea", trata-se da versão final e corrigida. O TCC obteve a nota 75.
Estou a disposição para esclarecer quaisquer dúvidas.
Atenciosamente,
Pro!.' Àfla Teleu Moreira . ti de Oftalm,.' '!gIt~-
- FP Matrlcu!J1!852&
prof.a Dr,a Ana Tereza Ramos Moreira
Coordenadora do Curso de Especialização em Oftalmologia Universidade Federal do Paraná
RUA GENERAL CARNEIRO. N.O 181 -50 ANDAR· ANEXO B -CENTRO - CEP: 80060·900 - CURITIBA-PR E-MAIL dofol@hc.ufpr.br-FQNElfAX: (041) 3360-1800 RAMAL 6291
FERNANDA MOREIRA OLIVEIRA
Correlaç'tio do tempo de I'efirru/a da córnea e I'ecuperuç'üo da trul1.\j1lfl'êllcia
do
e/lxerto 110pó
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operatóriod
e trmlsp!aules
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ciÍrllellCuritiba
Trabalho apresentado como Conclusão de Especialização em Oftalmologia da Universidade Federal do Paraná
Universidade Federal do Paraná
FERNANDA MOREIRA OLIVEIRA
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l/e córneaOrientador: Dr. Hamilton Moreira
Curitiba
Trabalho
apresentado
como
Conclusão de Especialização em Olialmologia da UniversidadeFederal do Paraná
Universidade Federal do Paranâ
RESUMO
Objelil'Os: Correlacionar tempo entre óbito do doador e retirada da córnea e a
recuperação da transparência do enxerto no primeiro mês pós operatório em pacielllcs submetidos a transplante de córnea no ano de 2010 I1n Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
Métodos: Estudo retrospectivo de análise de 31 prontuários de pacientes submetidos a transplante de córnea no período de janeiro a dezembro de 20 lO na Hospital ele Clinicas-UFPR. Foram avaliadas nos prontuários as consultas realizadas 110
primeiro c 110 segundo mês de pós operatório de cada paciente. COI11 avaliação do tempo de retirada do bot,10 doador. transparência corncana. pressão inlraocular c presença Oll nào de doenças cardiovascularcs prévias.
Resultados: Foram idclltilicados 83% dos pacientes com transparência corncana
preservada no primeiro mês e 100% dos pacientes 110 segundo mês pós transplante dentre aqueles quc receberam córneas retirad'ls até 6 horas após óbito. A pressão
intraocular aferida loi de até 21mml-lG em 72% dos pacientes no primeiro mês e 82% dos pacicntes no segundo mês pós operatório, sendo que aqueles com PIO superior também mantiveram a transparência do botão. Apenas 14% dos pacientes que apresentava doença cardiovascular apresentou edema de botão superior a +/IV.
Conclusão: O presente estudo mostrou que o tempo de retirada do botão
corneano não está relacionado com a recuperação da transparência no pós operatório.
que a 1>10 não interferiu na transparência do botiio e que não foi prcvalente a prescnça
de doença cardiovascular nem sua correlação com edema do botão.
ABSTRACT
Objcclivcs: To correlatc lhe pcriod fi'om lhe time af death to lhe remova] 01' lhe cornea and lhe recupcntlion of lhe transparcncy 01' lhe graft in lhe first Illonlh post opcration in paticnts Ihalunder"'cnl corneal transplant in 2010 aI Federal Univcrsity
a
r
Paraná.Mcthods: Charls of 31 paticnts Who undcrwent corneal trallsplanl bCI",cen jalluary and dcccmbcr
a
r
2010 at Hospital de Clinicas - Federal Univcrsil)' 01' Paraná. illcluding lhe lime perioel belwccll lhe dcath and lhe removal of lhe corneal graft. lhe InlnSpnrency ar Ihis gran one anel !wo l110nths arter corneal transplant. lhe intraocular prcssurc and prcviolls knowll cardiovascular descnsc.Rcsults: Tllerc \Vere idclltificd 83% 01' lhe pHtients witil prcservcd corneal lransparency in lhe lirst Illonth anel 100% oI' the patients in the second month posl transplanl amongsl Ihose Ihat rccicvcd grafts takcn up to 6 hours frem the time 01' death. The intraocular pressure was lower than 21mml-lg in 72% 01' lhe patients in lhe lirsl 1110nlh and 82% of the palients in Ihc second monlh pOSI operalion. and Ihose with lo r abovc thal lirnil also sustained cornc<ll Iransparency. Only 14% 01' the paticnts 01' lhe
palicllts lhat had knowll previolls cardiovasclllar discase showed corneal cdema abovc +/IV.
Conclusions: The cllfrenl sludy showcd tha! the time lakcll 10 remove thc graft from lhe donor is 110t corrclated with lhe corneal lransparency recupcration pOSI opcralion. Ihat lhe IOP did nOI interfere with lhe corneal transparency oi" the graft and Ihat cardiovascular discasc was nol prcvalent nor correlated wilh corneal edema.
I. INTRODUÇÃO
A córnea humana é Ullla estrutura (Illica, cuja combinaç<1o de forma e estrutura
proporciona ao olho o principal componente refralivo e protege as estruturas ill
tra-oculares das agressões do ambiente. É um tecido avascular, ricamente incrvado.
o
transplante de córnea vem sofrendo recentes avanços nos últimos anos. Otransplante penetrante de córnea ainda é a forma mais comUlll de transplante no mundo.1 Os procedimentos lamelares anterior e posterior crescem em sua indicação à medida em
que a técnica empregada sofre aprimoramentos. Por outro lado. novas pesquisas
estudam substitutos sintéticos para o alocnxcrto corneanD.
As indicações do transplante podem ser didaticamente divididas em:
a) Ópticas: linalidade de melhora da acuidadc visual. Exemplo: eeratoconc.
(ligum I)
b) Terapêuticas: tratamento cirúrgico de inlecção. Exemplo: úlcera ftlllgica com
perfuração. (ligura 2)
c) Tectônicos: preservação da integridade do globo ocular. Exemplo: trauma
com importante perda de tecido corneano. (rigura 3)
A sobrevida de um InlJ1splantc possui definições diversas. Alguns autores a
delinem como transparência do enxerto. enquanto outros levam em consideração esta
transparência e sua implicação na acuidade visual. A sobrevida é bastantc variúvcl nos
estudos em função destas definições e de outros inúmeros fatores como indicação do
transplante, presença de complicações, entre outros.
No que diz respcito ao succsso cirúrgico, um enxerto não transparente pode scr
considerado bom resultado cm indicações terapêuticas e/oll tectônicas.
Um estudo recém-publicado, com 901 transplantes. apontou o aumento da
pressão inlra-ocular (PIO) como a complicação pós-operatória mais comum. Além disso. demonstrou que a presença de I l~lIor de risco pós-operatório (rejeição. ccratite
infecciosa. recorrência da doença. cirurgia palpcbral) reduziu a sobrevida do transplante
A idade do doador' e a contagem pré-operatória de células cndoteliais corncanas parecem nào exercer !<lnta influencia na sobrcvida do transplante como a contagem de células aos 6 meses pós-operatórios.~
O diagnóstico pré-operatório do receptor (ou seja. a indicação do transplante)
mostrou ser fator de risco para lalência do enxerto. Casos de falência cnclolclial pós
cirurgi'l de catarata parecem oferecer maior risco de falência do enxerto. 56 O tempo de preservação da córnea doadora é outra variável já obscrvHda. c que não mostrou
I ~ ' . . (,
corre açao com o sucesso CI1'Urglco.
Uma pesquisa realizada por Moreira. H e colaboradores no Banco de Tecidos Oculares do Hospital de Clínicas da Universidade Feeleral cio ]>araná avaliou lichas padronizadas de 492 córneas doadas de 2006 a 2008. e concluiu que córneas de doadores mais jovens e provenientes de morte por trauma tendem a possuir melhor
graduação na avaliação ao exame de lâmpada de fcndn.7
Figura 1 - ceratocone (retirado de
http://webeye.ophth.uiowa.edu)
Figura 2 - úlcera fúngica (retirado de
http://www.nature.com)
Figura 3 - pós operatório de transplante tectônico por
afinamento corneano (retirado de
2. OBJETIVOS
Primário
Correlacionar tempo entre óbito do doador e retirada da córnea c a recuperação
da transparência do enxerto no primeiro c segundo mês pós operatório.
Secundário
Correlacionar tempo entre óbito do doador c retirada dn córnea COI11 a avaliação da córnea doada feita pelo exame de ]{impada de fenda (antes do transplante). a pressão intraocular e a presença ou não de doença cmdiovascular prévia.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo retrospectivo de 31 prontuários de pacientes submetidos a transplante de
córnea no período de janeiro a dezembro de 2010 no Hospital de Clínicas·UFPR. Foram avaliadas nos prontuürios as consultas realizadas no primeiro e segundo mês de pós
operatório de cada paciente. n~o sendo necessários novos procedimentos para os
pacientes. os quais seguiram com acompanhamento de rotina.
A anúlisc desses prontuários loi feita por dois residentes de onalmologia - após autorização do paciclllc. que recebeu cópia do lermo de consentimento livre c
esclarecido. Foram coletados os dados da consulta oftalmológica pós operatória. do
primeiro e segundo mês após o transplante de córnea.
A consulta pós operatória era composta por anamnesc dirigida às queixas do
paciente relacionadas diretamente ao procedimento, com relato pelo próprio paciente
sobre o uso de mcdicamentos prescritos. Seguiu-se um exame objetivo realiz,ldo por um especializando de Segmento Anterior (residente de quarto ano de oftalmologia). o qual
constava de medida de acuidade visual. exame biomicroscópico c tonoll1etria de
aplanação com tonômetro de Goldman.
A ênfase dessa análise loi dada à recuperação da transparência do botão
corncano no primeiro e segundo mês pós operatório (figura 4). Em seguida foram
levantados os dados sobre as córneas transplantadas, no que concernia o tempo de
retirada desse material após o óbito do doador, para avaliação da correlação entre esses dois dados.
Figura 4: exemplo de boa transparência
de um enxerto corneano (retirado de
3.1 Conlidencialidade
o
caráter anônimo dos pacientes foi mantido c que suas identidades foram protegidas de terceiros não autorizados. As fichas clínicas ou outros documentos nãoforam idcntificados pelo nomc. mas por um código. O pesquisudor manteve um registro de inclusão dos pacientes mostrando códigos. nomes e endereços para uso próprio. Igualmente. os !onnulários de Termo de Consentimento assinados pclos pacientes
4. RESUL TAI)OS
Entre os 31 pacientes avaliados, em 14 foram ultilazadas córneas que haviam
sido retiradas com até 6 horas decorridas do tempo de óbito. e em 17 pacientes o tempo óbito-retirada loi superior a 6 horas. Nos primeiros. em dois dos prontmirios nào foram encontrados dados quanto a transparência do botão corncano com 30 dias de pós
operatório c em 11'1':5 dos prontlJários com 60 dias após o transplante. No segundo grupo.
dois c UIll prontuário nào possuíam esses dados respectivamente. A Tabela I demonstra
a transparência do bOIão corneano. considerando o edema dessa córnea. como até lima cruz em quatro (+/IV). sendo essas córneas transparentes, e superior a uma cruz el11 quatro (> +/IV). com 30 dias de pós operatório. A Tabela 2 traz os mesmos dados para 60 dias de pós operatório.
Tllbcla I. Transparência do botiio corneano (edcma) com 30 dias de pós operatório e o tempo óbito~retirada das córneas transplantadas
Até 6 horas > 6 horas Até +ilV 10 (83%) 11 (73%) > +/IV 2(17%) 4 (27%)
Tabela 2. Transparência do botão corneano (edema) com 60 dias de pós operatório e o tcmpo óbito-retirada dessas córneas transplantadas
Ate 6 horas > 6 horas Até +/IV 11 (100%) 11 (69%) > +ilV O 5 (31%)
Foi pesquisado ainda. nos prontuúrios. li Pressão Intraocular (PIO) dos pacientes
com 30 e 60 diJS pós operatórios, nào sendo encontrados dados suliciel1tes para correlacionar com a transparência do botào em 11 prontll<Írios no primeiro período e em 12 do último. No trigésimo pós operatório 18 pacientes tiveram PIO aferida inferior a
21 milímetros de mercúrio (lllllll-lg), dos quais 13 (72%) tiveram o botào avaliado C0l110
com edema até +/IV e 5 (28%) superior a +/lV. Dois pacientes tiveram PIO superior a
211ll1l1Hg. ambos com edema até +/lV. Sessenta dias após o transplante 17 pacientes
apresentaram PIO até 2Imml-IG. 14 (82%) com edema até +/lV e 3 (18%) superior a +/IV. Dois pacientes tiveram PIO aferida superior a 211111l11-IG, ambos com edema de botào corneano c1assilicado C0l110 até +/IV.
Previamente a cirurgia. 23 pacientes negaram na anamllese ter qualquer doença cardiovascular prévia conhecida, e 8 afirmaram ter alguma cOll1orbidade. Nessa avaliação. 4 prontuários não tinham dados suficientes para correlacionar com a transparência do botão nos dois períodos pós operatórios considerados. Os resultados de
30 e 60 dias de pós operatório estão contidos nas Tabelas 3 e 4 sucessivamente.
Tabcl:l 3. Presença de doenças eardiovasculares e o edema do botão corneano
com 30 dias de pós operatório
Até +/1 V > +/IV
Sem doença cardiovascular 15 (75%) 5 (25%)
Tabela 4. Presença de doenças cardiovascularcs c o edema do botão corncallo com 60 dias de pós operatório
Até +/IV > +/IV
Sem doença cardiovascular 16 (10%) 4 (20%)
5. DISCUSSÃO
Esse trabalho demonstrou que 83% dos pacientes transplantados com córnea cujo tempo
óbito-retirada foi de ale 6 horas tiveram o botIja aVilliado como com edema de +/IV c 73% dos
pacientes pôs transplante de córnea coI11 bot,io COm lempo de retirada superior a 6 horas receberam a mesma :lvaliaç;10. Hirai. FE 1.:\ ai classilicou o tempo entre o óbito c li cnuclcação
como um lalor indcpcndclllcmcnlc associado a (Ilmlidade das córneas (SI, dado selllelhante ao
encontrado no presente trabalho.
AlIshu. A cl ai encontraram que 11 PIO era li principal cornplicaçi'io pós transplante de
córnea. ao determinar falores de risco pós operatórios que influenciavam a sobrevivência do
botão InlllSplanlildo a longo ICI"I110,(21 O presente estudo mostrou que 72% dos pncienles I ivermn PIO aferida inferior a 21nunHG no primeiro mês pós cirürgico e 82% no segundo mês. Todos os pacientes com PIO aferida superior a 2 I IllmHG ainda obtiveram avaliaç:io de edellla de +/IV
nos dois tempos pós operatórios avaliados.
Em 2009. Sugar, A cl ai apolltaram como falores de risco do reccplor associados com
falência prilll<lria do oot50 transplanlado, o diagnóstico de doença cardíaca congênita e
necessidade de suporte ventilalório antes da cirurgia.(S) Nosso estudo mostrou que 73% (23 pacientes) ruio tinham história previa de doença cardiovascular e dentre os com história pregressa positiva. 86% receberam avaliaçiio 110 primeiro e segundo mês pós operatório com
6. CONCLUSÃO
o
presente estudo sugere que o tempo óbito-relirada da córnea niio innucncia na recuperação da transparência do botào no primeiro c segundo mês pós operatório.Com relação a PIO. mesmo os olhos que tiveram aferição superior a 211lllllHG ainda tiveram a transparência carncana preservada. sendo que a maioria dos pacientes I1I<HlIivcram PIO normal (inferior a 21 Il1llll-IG).
Sobre a presença de doenças cardiovascularcs. esse estudo 1II0SIrou baixa prevalência c
7. REFEllÊNCIAS
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