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A EROTIZAÇÃO DA MULHER NEGRA NAS MÍDIAS BRASILEIRAS

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Academic year: 2020

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(1)A EROTIZAÇÃO DA MULHER NEGRA NAS MÍDIAS BRASILEIRAS. Carol Moreira 1 Rhuander Lucero 2 Fernanda Sagrilo Andres 3 Muriel Pinto 4. Resumo: Este estudo tem por objetivo refletir sobre a representação da mulher negra e a influência das mídias brasileiras. A metodologia adotada teve como objeto de análise a série: Sexo e as Negas. O objetivo é verificar como as pessoas interpretam as questões abrangidas pelo seriado sob uma perspectiva racista e machista. A minissérie criada por Miguel Falabella, exibida em 2014, foi produzida pela emissora rede Globo e transmitida em canal aberto, tendo grande repercussão e críticas. Este trabalho aborda, de forma crítica, algumas tendências na construção de identidade e diferenciação social a partir da análise das propostas encontradas no audiovisual e propagandas. Verificou-se que alguns estereótipos são constantemente reforçados - através da mídia - na sociedade, onde as mulheres negras servem somente para mão de obra e erotização. Embora já passados 500 anos desde a colonização do Brasil, a mídia exerce uma função de suma importância neste processo de legitimação e naturalização da imagem e ideologia racista/machista.. Palavras-chave: mídia; representatividade; erotização; mulher negra. Modalidade de Participação: Iniciação Científica. A EROTIZAÇÃO DA MULHER NEGRA NAS MÍDIAS BRASILEIRAS 1 Aluno de graduação. kerol.preta@gmail.com. Autor principal 2 Aluno de graduação . rhuander.rlucero@gmail.com. Apresentador 3 Docente. fernandaandres@unipampa.edu.br. Orientador 4 Docente. murielpinto@unipampa.edu.br. Co-orientador. Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa | Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018.

(2) A EROTIZAÇÃO DA MULHER NEGRA NAS MÍDIAS BRASILEIRA 1 INTRODUÇÃO Recentemente, a minissérie criada por Miguel Falabella, Sexo e as Negas, exibida em 2014, produzida pela emissora rede Globo e transmitida em canal aberto, teve grande repercussão e críticas. O audiovisual mostra o cotidiano de quatro amigas, moradoras da periferia, que residem na cidade Alta de Cordovil, subúrbio do Rio de Janeiro. A trama apresenta a história de mulheres negras, que sonham em atingir seus objetivos tendo de enfrentar, diariamente, os problemas estruturais da nossa sociedade. A personagem Lia (Liliane Valeska) de 38 anos, é recepcionista, divorciada de um traficante, e não tem perspectivas para um futuro melhor; Matilde da Silva (Corina Sabbas) tem o sonho de cursar matemática, no entanto, se encontra pressionada a desempenhar o papel social pré GHWHUPLQDGR GH ³WRGD PXOKHU´ FDVDU FRQVWUXLU IDPtOLD H VHU GRQD GH FDVD =XOPD GRV 6DQWRV (Karin Hils) é uma camareira que faz tudo para obter a aprovação de seu pai e atender as expectativas da patroa, uma atriz de teatro; e Soraia Sousa (Maria Bia), uma mulher livre e empoderada, a melhor cozinheira da região, mas sofre preconceitos pelo seu estilo de vida e é, frequentemente, assediada por patrões, devido a sua profissão em residências familiares. De forma geral, essas personagens representam a imagem da mulher nas mídias atuais, todavia, tal imagem não é recente, e sim, histórica. A representação erotizada advém de uma herança cultural portuguesa e está imbricada na formação do povo brasileiro desde a mercantilização, apropriação e coisificação das suas vidas e corpos até o ponto da naturalização dessa opressão que perdura na sociedade. Nos séculos XVI e XVII começava o processo de escravidão sobre as civilizações indígenas e principalmente africanas. O etnocentrismo arraigado aos países Ibéricos, sobretudo Portugal, no decorrer do processo de dominação tratou de negar, destruir e criminalizar a cultura desses povos. Além do mais, a forte influência da Igreja Católica conferia aos portugueses, o costume de classificação das mulheres em santas ou profanas. Enquanto a mulher branca exercia o papel de responsável por afirmar a cultura europeia, constituir família e seguir as normas morais do catolicismo, as PXOKHUHV QHJUDV ³QmR HUDP SDUD FDVDU´ YLVWDV FRPR REMHWR VH[XDO XP FRUSR SDUD GLYHUVmR H exploração - assim como o território brasileiro ± e quando não enquadrada no ideário sensual e provocante, a função era cuidar dos serviços domésticos. Devido ao contexto histórico que, ainda hoje, nos assombra, os papéis representados na minissérie acabam por ser mulheres oprimidas, incapazes e hipersexualizadas, longe de estimular e retratar o empoderamento feminino, assim reforçando e legitimando constantemente, através da mídia, tais atitudes racistas e machista presentes no nosso cotidiano. A partir desse panorama, a proposta deste trabalho é investigar a série Sexo e as Negas e discutir sobre o papel da mídia na difusão do conceito de erotização da mulher negra.. 2 METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido através da análise de conteúdo, que segundo .ULSSHQGRUII S ³D DQiOLVH GH FRQWH~GR p XPD WpFQLFD GH LQYHVWLJDomR GHVWLQDGD D formular, a partir de certos dados, inferências reproduzíveis e válidas que podem se aplicar a VHX FRQWH[WR´ 2 REMHWR GH SHVTXLVD p D SUySULD VpULH Sexo e as Negas. Para tanto, a dinâmica de trabalho contou com a observação dos 13 capítulos da primeira temporada, bem como Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa œ Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018.

(3) anúncio de abertura do seriado e propagandas. No estudo foram utilizados os seguintes quesitos de análise: enunciação, expressão, contingência, estrutural e discurso.. 3 RESULTADOS e DISCUSSÃO Atualmente, é perceptível o impacto que os avanços dos meios de comunicação causam na formação das consciências individuais e coletivas. O papel desempenhado pela PtGLD FRQWpP JUDQGH LQIOXrQFLD QD FRQVWUXomR GR LQGLYtGXR ³6H DQWHV RV PDWHULDLV VLPEyOLFRV HPSUHJDGRV QD FRQVWUXomR GR µHX¶ HUDP DGTXLULGRV HP FRQWH[WRV GH LQWHUDomR IDFH D IDFH agora eles são cada vez mais dependentes do DFHVVR jV IRUPDV PHGLDGDV GH FRPXQLFDomR´ (DOS SANTOS, 2009, p. 106). Diante disso, podemos tentar identificar quais foram as representações que os produtores de Sexo e as Negas utilizaram na criação da série, os sentidos e significados que os telespectadores captaram sobre a mulher negra brasileira, e a imagem da mulher negra sobre si mesma. No presente momento, propagandas, revistas, TVs e filmes, parecem indicar um movimento maior de visibilidade às mulheres negras. Porém, o discurso por trás dessa divHUVLGDGH LJXDOGDGH HVWmR GLVWDQWHV GR UHVSHLWR jV GLIHUHQoDV ³&RQIOLWRV UDFLDLV VmR mascarados por discursos perversos da diversidade, que são motivados pelo pensamento de VHQVR FRPXP GR TXH p VHULD SROLWLFDPHQWH FRUUHWR´ &267$ '( 3$8/$ S A representatividade negra nas mídias brasileiras, ainda hoje, remete a um estereótipo de sensualidade e/ou serviçal. Por mais que o objetivo de alguma obra seja fazer uma crítica ao machismo e/ou racismo, a mulher negra é tachada como objeto de consumo. Tendo como ponto de partida o título da série: Sexo e as Negas, analisando a expressão utilizada, notamos TXH R VLJQLILFDGR GD SDODYUD ³QHJD´ UHPHWH D UHODomR HQWUH RV VHQKRUHV H DV HVFUDYDV RQGH estas eram referidas como negas. Na abertura da minissérie, observamos, em sua estrutura, o destaque da erotização atribuído ao corpo das mulheres, salientando, a partir do enquadramento da câmera, o foco QDV SDUWHV FRPR ERFD SHUQD EXQGD VHLRV YLULOKD H ³ROKDUHV VHGXWRUHV´. Figura 1: Abertura. Figura 2: Abertura. Fonte: Globo Play, 2018. Fonte: Globo Play, 2018. 6REUH D QDUUDWLYD QR LQtFLR GD WUDPD D SHUVRQDJHP =XOPD IDOD ³2 SUREOHPD GR transporte acaba atrapalhando a vida amorosa da gente, se o cara mora longe de você, babau! Ele DFDED GHVLVWLQGR´ DWUDYpV GD FRQWLQJrQFLD D VpULH DVVRFLD TXH D SURFXUD GH XP KRPHP p o fator principal dos problemas em suas vidas, sendo esse o objetivo de toda mulher: homens. Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa œ Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018.

(4) Em outro momento, em um diálogo entre patroa e funcionária, ocorre um discurso aparentemente inofensivo, mas que carrega em sua enunciação os traços do processo histórico racial, quando a patroa fala que a sua joia estaria segura com a empregada, pois ninguém acreditaria que uma mulher negra e periférica portaria tal acessório valioso. Ao decorrer da série, há diversas cenas em que as personagens sofrem assédio sexual corriqueiramente. A personagem Soraia, ao fim do dia, após o término do trabalho doméstico, ao pedir sua remuneração diária é surpreendida pela ação do patrão, que sai seminu do quarto e apresenta um sentido erótico supondo que por ser mulher, negra, e empregada doméstica estaria a seu dispor e constantemente desejando-o sexualmente. Observando tal expressão, notemos que o homem atribui um caráter, concomitantemente à imagem erotizada, de apropriação e coisificação do corpo feminino, em especial, a mulher negra. De maneira ampla, a série emprega o discurso de que mulheres negras, brasileiras e marginais, são apenas corpos eroitizados e serviçais, ressaltando que o desejo sexual prevalece sobre os demais interesses e necessidades, assim como seus sentimentos. Expõe a superioridade masculina na sociedade brasileira quando exibe a mulher na visão idealizada do homem, em que a mesma se encontra em constante aprovação social.. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora já passados 500 anos desde a colonização do Brasil, estes estereótipos ainda reforçam na sociedade que mulheres negras servem somente para mão de obra e erotização. A mídia exerce uma função de suma importância neste processo de legitimação e naturalização da imagem e ideologia racista/machista. Conforme Woodward:. A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentidos à nossa experiência e àquilo que somos. Podemos inclusive sugerir que esses sistemas simbólicos tornam possível aquilo que somos e aquilo no qual podemos nos tornar. [...] Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar (WOODWARD, 2006, p. 17).. Ela dissemina através de programas, novelas, filmes, e outros, a toda população brasileira ideais pregados durante a construção do Brasil e de forma quase imperceptível, ela tem a capacidade de determinar os papéis sociais, de modo que ela não só representa o nosso cotidiano, mas interfere e molda a nossa realidade.. REFERÊNCIAS DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2 ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2010.. Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa œ Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018.

(5) THOMPSON, J. B. (1999). A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 2 ed. Petrópolis, Vozes. KRIPPENDOORF, Klaus. Metodologia de análisis de contenido. Barcelona: Paidós,1999.. DE SANTOS, Leandro José. Reflexões sobre as identidades femininas negras no jornalismo de revista. IARA ± Revista de Moda, Cultura e Arte ± São Paulo v.2 n. 1 set./dez. 2009. COSTA DE PAULA, R. A domesticação dos corpos de mulheres negras no discurso de revistas femininas. In: CIMJ Centro de Investigação Media e Jornalismo. CD ROM. Lisboa, 2006. p. 287-307.. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sobre o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.. FALABELLA, Miguel. Sexo e as Negas. Disponível <https://globoplay.globo.com/v/3634443/programa/> Acesso em: 12 set.2018.. Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa œ Santana do Livramento, 6 a 8 de novembro de 2018. em:.

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