Revista
Portuguesa
de
Estomatologia,
Medicina
Dentária
e
Cirurgia
Maxilofacial
ww w . e l s e v i e r . p t / s p e m d
Investigac¸ão
Prevalência
e
gravidade
de
cárie
dentária
numa
populac¸ão
infantil
de
S.
Tomé
Filipa
Coimbra,
Sónia
Mendes
∗e
Mário
Bernardo
FaculdadedeMedicinaDentáriadaUniversidadedeLisboa,Lisboa,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa23demaiode2012 Aceitea24deoutubrode2012 Palavras-chave: Cáriedentária Prevalência Comportamentos SaúdeOral
r
e
s
u
m
o
Objetivos:1)Determinaraprevalênciaegravidadedecáriedapopulac¸ãoinfantilemduas
roc¸asdeS.Tomé;2)Conhecer,namesmapopulac¸ão,comportamentosrelacionadoscoma saúdeoral;3)Verificarseexistemdiferenc¸asrelativamenteàcárie,entreasroc¸as.
Metodologia:Estudotransversal,comaplicac¸ãodequestionárioeobservac¸õesorais
realiza-dasporumexaminadorcalibrado,segundooscritériosdaOMS.Aamostrafoiconstituída por113crianc¸asvoluntárias.Foirealizadaumaanálisedescritivaeinferencialatravésdos testesdeMann-Whitneye2(␣=0,05).
Resultados:Aidademédiadascrianc¸asfoi8,1±2,41.Aprevalênciadecárienadentic¸ão
decíduafoi58,9%eocpod1,8(±2,25).Nadentic¸ãopermanenteaprevalênciafoi38,8%eo CPOD0,9(±1,55).Verificaram-sediferenc¸asentreasroc¸asrelativamenteàprevalênciade cárienadentic¸ãopermanente(p=0,005),eàgravidadenadentic¸ãodecídua(p=0,007)e permanente(p=0,001).Agrandemaioriadosdentes,querdecíduos,querpermanentes,não apresentavatratamento.Amaioriadascrianc¸as(62,5%)considerouosdentesimportantes, noentanto98,2%nãosabiaoqueeraumacárie.Embora58,4%dosparticipantestenham tidodordedentes,apenas7,3%referiuterrealizadotratamentosdentários.Oconsumode alimentoscariogénicosverificou-sefrequente,emespecialacana-de-ac¸úcar.Apenas18,6% dosparticipantesreferiurealizarescovagemdentáriaduasvezespordia.
Conclusões:Estapopulac¸ãoreveloufracosconhecimentosemsaúdeoral,compresenc¸ade
várioscomportamentosderisco.Noentanto,aprevalênciaegravidadedecáriepodeser con-sideradabaixaamoderada,mascomagrandemaioriadosdentessemqualquertratamento. ARoc¸adoCanavialdemonstroupioresindicadoresdesaúdeoral.
©2012SociedadePortuguesadeEstomatologiaeMedicinaDentária.Publicadopor ElsevierEspaña,S.L.Todososdireitosreservados.
∗ Autoraparacorrespondência.
Correioeletrónico:sonia.mendes@fmd.ul.pt(S.Mendes).
1646-2890/$–seefrontmatter©2012SociedadePortuguesadeEstomatologiaeMedicinaDentária.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todososdireitosreservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.rpemd.2012.10.001
Dental
caries
prevalence
and
severity
in
a
children
population
of
S.
Tomé
Keywords: Dentalcaries Prevalence Behaviors Oralhealtha
b
s
t
r
a
c
t
Objectives: 1)Determinetheprevalenceandseverityofcariesinchildrenfromtwofarms
(«roc¸as»)inS.Tomé;2)Verifydifferencesforcariesprevalenceandgravityinthefarms;3) Describe,inthesamepopulation,someoralhealthrelatedbehaviors.
MaterialandMethods: Cross-sectionalstudy,withapplicationofaquestionnaireandoral
observationbyacalibratedexaminer,usingWHOcriteria.Thesampleincluded113 volun-teerchildren.TheanalyseincludeddescriptiveandinferentialstatisticwithMann-Whitney and2tests(␣=0,05).
Results: Themeanagewas8,1±2,41years.Carie’sprevalencewas58,9%inprimary
denti-tionand38,8%inpermanentdentition.Themeandmft/DMFTwas1,8(±2,25)fordeciduous teethand0,9±1,55forpermanentdentition.Thereweredifferencesbetweenthetwofarms consideringcariesprevalenceinthepermanentdentitionandseverityinbothdentitions. Almostalldecayedteethremainuntreated.Althoughmostchildren(62,5%)considerteeth important,98,2%didnotknowwhatacariewas.Themajority(58,4%)ofparticipantshad toothacheexperience,butonly7,3%reporteddentaltreatment.Theconsumptionof cari-ogenicfoodwasmentioned asfrequent,particularlythesugarcane.Only18,6%ofthe participantsreportedatobrushteethtwoormoretimesperday.
Conclusions:Theobservedchildrenhavepoororalhealthrelatedknowledgeandpresenceof
riskfactorsforcaries.Nonethelessthestudiedpopulationhadalowtomoderateprevalence andseverityofcaries,withthevastmajorityofdecayedteethremaininguntreated.Canavial farmdemonstratedworstoralhealthindicators.
©2012SociedadePortuguesadeEstomatologiaeMedicinaDentária.Publishedby ElsevierEspaña,S.L.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Acáriedentária,devidoàsuaelevadaincidênciae prevalên-cia,éconsideradaumproblemadesaúdepública.Nospaíses industrializadosestima-seque60%a90%dapopulac¸ão esco-larizada, bem como a maioria dosadultos sejam afetados porestadoenc¸a1.Adistribuic¸ãoegravidadedestapatologia
varianosdiferentescontinentes,paísesouatémesmoregiões, sendomaisprevalentenaspopulac¸õesdesfavorecidassocial eeconomicamente.Oíndicedosdentescariadosperdidose obturados(CPOd)nospaísesemviasdedesenvolvimento,nos quaisseincluemamaioriadospaísesdocontinenteafricano, éreferidocomosendobaixo2,noentanto,éexpectávelquea
incidênciadecáriedentáriavenhaaaumentar, poistem-se verificadoumaumentodoconsumodeac¸úcar,mantendo-se umainadequadaexposic¸ãoaosfluoretos1,2.
Os estudos de prevalência das doenc¸as orais nas populac¸õesafricanassãoescassosenãoexistemdados publi-cadossobreS.ToméePríncipe.Estimava-se,em2010,quea populac¸ãodesteArquipélagorondasseos175808habitantes, com70%dapopulac¸ãoaconcentrar-senumraiode10kmao redordacapital3,4.Éumpaíscomumafortedependênciade
ajudaexterna,com54%da populac¸ãoavivernapobrezae 15%emsituac¸ãodepobrezaextrema.Dadosde2001referem quecercade 12%dapopulac¸ãonuncafrequentou aescola, queapenas19,6% beneficiadoacesso aáguacanalizada, e quesomente16%dispõedeumafossaséticaouestáligada àredepúblicadeesgotos3.Nesteestudoforamvisitadasas
roc¸asdoCanavialedeAgostinhoNeto,queselocalizamno nortedaIlhadeS.Tomé,nodistritodeLobata.ARoc¸ado Cana-vialestima-sequetenhacercade600habitantes,situando-se
a2KmdeGuadalupe,capitaldodistrito.Éumaroc¸apequena, comacessosdifíceis,semeletricidadenemáguacanalizada, estandorodeadaporcamposdecultivodecana-de-ac¸úcare porlixeirascomunitárias.ARoc¸adeAgostinhoNeto,demaior dimensão,comestimativadecercade2000habitantes, situa-semaispertodeGuadalupeecommelhoresacessos.Dispõe deeletricidadeemdiasalternadoseáguacanalizada,parauso comum.
Esteestudotevecomofinalidadearecolhadedados epide-miológicossobreasaúdeoraldapopulac¸ãoinfantildaIlhade S.Tomé.Osseusobjetivosforam:1)Determinaraprevalência egravidadedecárienascrianc¸asdasroc¸asdeAgostinhoNeto edoCanavial;2)Verificarseexistemdiferenc¸asentreasduas roc¸asrelativamenteàprevalênciaegravidadedacárie dentá-ria;3)Descrever,namesmapopulac¸ão,algunsconhecimentos ecomportamentosrelacionadoscomasaúdeoral.
Materiais
e
Métodos
Para atingirosobjetivospropostosfoi realizadoumestudo transversal.OestudofoiautorizadopelaDelegadadeSaúdedo DistritodeLobataeainclusãodosseusparticipantes depen-deu da autorizac¸ão verbal ou escrita dos encarregados de educac¸ãoetambémdoassentimentoinformadoevoluntário porpartedacrianc¸a.
A populac¸ão de estudo foi composta pelas populac¸ões infantisdasRoc¸asdoCanavialedeAgostinhoNeto,dasquais nãoseconheciamdadosestatísticospublicados.Otrabalho decampofoirealizadonumaúnicadeslocac¸ãoaS.Tomé,e decorreuemagostode2010.Foidada,localmente,informac¸ão sobre o estudo,seus objetivose procedimentos através de
Figura1–Observac¸õesoraisnaroc¸adoCanavial.
divulgac¸ãooralecartazesinformativos,colocadosemlocais estratégicos.Aamostrafoideconveniênciaeforamincluídas noestudotodas ascrianc¸asquesedeslocaram voluntaria-menteaolocaldeobservac¸ão.
Aequipadetrabalhofoicompostapordoiselementos:um examinadoreumanotador.Paraadeterminac¸ãoda prevalên-ciaegravidadedecáriefoirealizadaaobservac¸ãodacavidade oralearecolhadeinformac¸ãorelativaaosconhecimentose comportamentossobresaúdeoralfoiefetuadaatravésdeum questionário.
Asobservac¸õesoraisforamrealizadasporumúnico exami-nador,previamentecalibrado,sendoutilizadososcritériosde diagnósticodecáriedaOrganizac¸ãoMundialdeSaúde(OMS)5.
O material utilizado incluiu espelhos dentários e sondas exploradorasrecomendadaspelaOMS,eforamusadastodas asmedidasdecontroloeprevenc¸ãodainfec¸ãocruzada.Olocal ondedecorreramasobservac¸õeserailuminado,como exa-minadorposicionadoportrásdoparticipante(fig.1).Durante arecolhadedadosoexaminadoreoanotadorcolocaram-se numaposic¸ãopróxima,facilitandoacomunicac¸ãoe permi-tindoao examinadoro controloda inscric¸ãodosdados na fichaderegisto.Foramefetuadasobservac¸õesduplasacerca de 10% dos participantes, com uma concordância intraob-servadorde0,79(KappadeCohen),consideradacomosendo excelente6.
Oquestionáriofoidesenvolvidopelosautoresdoestudo, tendoemconsiderac¸ãoalgunsdosfatoresderisco,descritos econhecidosnaliteratura,paraodesenvolvimentodacárie dentária.Oquestionáriofoirevistopor3peritos,ummédico
dentistaedoisoutrosindivíduosqueconheciamasroc¸asdo estudo. Após esta revisão foram feitas algumas alterac¸ões deconteúdoedeadequac¸ãoàrealidadelocaleculturaldas roc¸asparticipantes.Paraotreinoecalibragemdoexaminador efetuou-seumpré-teste,ondeforamtestadososinstrumentos derecolhadedados.
A aplicac¸ão doquestionário foi realizada porentrevista direta, antes do exame intraoral, e recolheu informac¸ão sobreasseguintesvariáveis:localdaobservac¸ão,idade,sexo, conhecimentosobreaimportânciadosdentesparaasaúde, conhecimentosobreoqueéumacárie,experiênciadedores dedentes,realizac¸ãode tratamentosdentários,hábitos ali-mentares relacionados com a cárie e hábitos de higiene oral.
AanálisedosdadosfoirealizadanoprogramaSPSS,versão 17.0,tendosido efetuada umaanáliseestatísticadescritiva einferencialatravésdostestesdeMann-Whitneyedo Qui-quadrado(significânciade5%).
Resultados
Foramobservadas113crianc¸as,sendo44,2%(n=50)dosexo masculino.Cercade63,7%(n=72)dosparticipanteseram resi-dentesnaroc¸adeAgostinhoNetoeosrestantes36,3%(n=41) naroc¸adoCanavial.Amédiadeidadesfoide8,1(±2,41)anos (Tabela1),comummínimode4eummáximode13.
A prevalênciade cáriedentária nadentic¸ão decídua foi 58,9%eocpodmédio1,9(±2,25),comumvalormáximode 10 (Tabela 2). Decompondo ocpod por componente,quase todososdentes(99%)encontravam-secariadosenãotratados, existindoapenas1%dosdentesperdidosdevidoacárie.
Quandoanalisada aprevalênciaporlocaldeobservac¸ão, verificou-sequenaroc¸aAgostinhoNeto,52,8%dascrianc¸as observadas apresentaram cárie na dentic¸ão decídua, enquanto na roc¸a do Canavial este valor foi 70,3%. Esta diferenc¸anãofoi,noentanto,significativa(p=0,082).Naroc¸a deAgostinhoNetooíndicecpodfoi1,4(±2,00)enaroc¸ado Canavial foi 2,7(±2,47), sendo esta diferenc¸a significativa (p=0,007)(Tabela2).
Aprevalênciadecárienadentic¸ãopermanentefoi38,8%e oCPODmédiofoi0,9(±1,55),sendo9ovalormáximo encon-trado(Tabela2).Talcomonadentic¸ãodecídua,verificou-se que agrande maioria dosdentes encontravam-se cariados (98%),existindoapenas2%dosdentesperdidosporcárie.
Fazendo a análise da prevalência de cárie por local verificou-sequenaroc¸aAgostinhoNeto28,6%dascrianc¸as apresentavampelomenosumdentepermanentecomcárie, enquantonaroc¸adoCanavial54,1%dascrianc¸aseram afe-tadas poresta patologia (p=0,005).O índice CPOD da roc¸a
Tabela1–Caracterizac¸ãodaamostra
Sexo Idade
Feminino Masculino Média Desviopadrão(dp)
Total(n=113) 58,8%(63) 44,2%(50) 8,1 2,41
Roc¸aCanavial(n=41) 41,5%(17) 58,5%(24) 8,5 2,75
Tabela2–Prevalênciaegravidadedecárie,nadentic¸ãodecíduaepermanente,porlocalenototaldaamostra
cpod/CPOD
¯x dp Mediana Moda Mínimo Máximo
Prevalêncianadentic¸ãodecídua
AgostinhoNeto 52,8%(37) p=0,082 1,4 2,00 1 0 0 8 p=0,007
Canavial 70,3%(26) 2,7 2,47 2 0 0 10
TOTAL 58,9%(63) 1,9 2,25 1 0 0 10
Prevalêncianadentic¸ãopermanente
AgostinhoNeto 28,6%(19) p=0,005 0,4 0,78 0 0 0 3 p=0,001
Canavial 54,1%(20) 1,7 2,18 1 0 0 9
TOTAL 38,8%(38) 0,9 1,55 1 0 0 9
Tabela3–Conhecimentosecomportamentosrelacionadoscomasaúdeoral
Sim Não
Osdentessãoimportantesparaobem-estar? 62,5%(70) 37,5%(42)
Sabeoqueéumacárie? 1,8%(2) 98,2%(111)
Jáalgumaveztevedordedentes? 58,9%(66) 41,1%(46)
Jáalgumavezrealizoutratamentosdentários? 7,3%(8) 92,7%(102)
deAgostinhoNeto(0,4±0,78)foitambémsignificativamente menor (p=0,001) doque o da roc¸a do Canavial (1,7±2,18) (Tabela2).
Embora62,5%dosparticipantesdoestudotenhareferido queosdentessãoimportantesparaoseubem-estar,somente 1,8%respondeusaberoqueéumacárie.Maisdemetadedos participantes(58,4%)referiujátertidodoresdedentesmas, apesardisso, somente 7,3%realizou tratamentos dentários (todosextrac¸ões)(Tabela3).
Verificou-se que o consumo diário de alimentos cario-génicos é considerável, sendo de salientar o consumo de cana-de-ac¸úcarnaroc¸adoCanavial(Tabela4).
Amaioria dos indivíduos(58,4%) referiu realizar a higi-ene oral apenas umavez por dia (Tabela 5). Nenhum dos participantesreferiuefetuararemoc¸ãodeplacabacteriana
interproximal.Emboraaescovadedentessejaoutensíliomais utilizadopara arealizac¸ão da higieneoral(83,2%),existem outrosmeiosderemoc¸ãodeplacabacterianamencionados pelos participantes do estudo, como o miswak (fig.2) e a folhadefruteira(fig.3).Autilizac¸ãodestesutensíliosnaturais revelou-semaisfrequentenaroc¸adoCanavial(Tabela6).
Discussão
Aamostradeconveniênciausadanesteestudonãopermite queassuasconclusõessejamextrapoladasparaapopulac¸ão deS.Tomé.Emestudosfuturos,seriainteressanterecolher dados numa amostra representativa e incluindo as idades índicespreconizadaspelaOMS.
Tabela4–Distribuic¸ãodoshábitosalimentaresrelacionadoscomasaúdeoralporlocaldeobservac¸ãoenototalda amostra
Guloseimas Cana-de-ac¸úcar Bebidasac¸úcaradasoucomgás
R A TD R A TD R A TD
AgostinhoNeto(n=72) 45,8% 15,3% 38,9% 38,9% 18% 43,1% 62,5% 18,1% 19,4%
Canavial(n=41) 7,3% 58,5% 34,2% 0% 24,4% 75,6% 36,6% 48,8% 14,6%
TOTAL(n=113) 31,8% 31% 37,2% 24,8% 20,3% 54,9% 53,1% 29,2% 17,7%
R=raramente;A=àsvezes;TD=todososdias
Tabela5–Distribuic¸ãodoshábitosdehigieneoralporlocaldeobservac¸ãoenototaldaamostra
Nãofaz ÀsVezes 1x/dia 2x/dia Depoisdasrefeic¸ões
AgostinhoNeto(n=72) 0% 6,9% 62,5% 20,8% 9,7%
Canavial(n=41) 12,2% 22,0% 51,2% 14,6% 0%
Figura2–Preparac¸ãoeutilizac¸ãodeummiswakporum habitantedaRoc¸adoCanavial:a)Colheitadaplanta;b) Preparac¸ãodocauledaplanta.
Aprevalênciadecáriedentárianadentic¸ãodecíduapode serconsiderada moderada(58,9%),emboracomvaloresum pouco superiores aos encontrados na Etiópia7 (42%) e no
Zimbabwe8 (37%). Noentanto, nestes estudos, a médiade
idades das crianc¸as observadasfoi inferiorao dopresente estudo.Aprevalênciade cáriedentárianadentic¸ão perma-nentepodeserconsideradabaixa,apresentandoumvalorde 38,8%.Estevalorésuperioraoencontrado nascrianc¸asda Nigéria9(24,6%)esemelhanteaoencontradonascrianc¸asdo
Uganda10(40%)edeMoc¸ambique11(39,9%).Noentanto,deve
ter-seemconsiderac¸ãoqueamédiadeidadedascrianc¸asdo presenteestudoéinferior,poisnãoforamapenasavaliadas crianc¸ascomaidadeíndicede12anos.
Apoucautilizac¸ãodosservic¸osdemedicinadentáriapode ser verificada pela ausência de restaurac¸ões dentárias na populac¸ãoestudada, permanecendoquasetodos osdentes, quersejamdecíduos oupermanentes, semserem tratados. Apesarde maisde metade das crianc¸as (58,4%)játer tido
Figura3–Preparac¸ãoeutilizac¸ãodeumafolhadefruteira pararealizac¸ãodahigieneoral:a)Folhadefruteira;b) Utilizac¸ãodafolhadefruteira.
doresdedentes,apenas7,1%realizoutratamentosdentários, sendotodosextrac¸ões,oquedemonstraorecursoaosservic¸os desaúdeoralapenasparatratamentosdeemergência6.Por
outrolado,aescassezservic¸osnaáreadasaúdeoral1,2,12,13e
oisolamentodasroc¸aspodemtambémcontribuirparaesta realidade.
Osconhecimentossobresaúdeoraldapopulac¸ãoestudada sãoreduzidos,compoucascrianc¸asasaberoqueéumacárie. Esta lacunapodeserexplicadapelaausênciadeprogramas preventivosedepromoc¸ãodasaúdeoral,factoquefoipossível confirmarlocalmenteatravésdocontactocomostécnicosde saúdeoraldazona.
Em2010,aOMS14referiucomoprincipalfatorderiscopara
asaúdeoraldapopulac¸ãosão-tomenseoelevadoconsumo deac¸úcar.Podedizer-sequeestefactofoiconfirmado, tendo-se verificado uma percentagemconsiderável de crianc¸as a consumirdiariamentealimentoscariogénicos,comdestaque, precisamenteparaacana-de-ac¸úcar.Éinteressanteverificar
Tabela6–Meiosutilizadospararealizarahigieneoral,porlocalenototaldaamostra
Miswak Escova Escova+Folha Folha NãoRegistado
AgostinhoNeto(n=72) 4,2% 94,4% 1,4% 0% 0%
Canavial(n=41) 0% 63,4% 19,5% 4,9% 12,2%
quenaRoc¸adoCanavialháumconsumomaisfrequentedeste alimento,oquepodeserexplicadopelamaiordisponibilidade destealimentonestaroc¸aepelasuapopulac¸ãosermais des-favorecida.UmestudorealizadoemÁfricareveloutambém ummaiorconsumodeac¸úcarempopulac¸õescarenciadas15.
Poroutrolado,emboraapopulac¸ãodoCanavialtenhamenos recursos,foipossívelverificar,duranteotrabalhodecampo, queosdoceseosrefrigerantessãodefácilacessoàscrianc¸as destapopulac¸ãoevendidosaprec¸osmuitobaixos, especial-mentequandocomparadoscomosalimentosessenciaispara amanutenc¸ãodeumadietaequilibrada,talcomooleite.
Aescovagembidiária, preconizadacomohábito de higi-ene oral essencial para a manutenc¸ão da saúde oral, não éumhábitoenraizadonapopulac¸ãoestudada,pois apenas 24,8%dosindivíduosreferiramefetuá-la.Esteseriaumponto importanteafocarematividadesdepromoc¸ãodasaúdeoral juntodestapopulac¸ão.Emboraautilizac¸ãodeescovade den-tessejabastantecomum,foramrelatados outrosutensílios paraarealizac¸ãoda higieneoral,tais comoafolhade fru-teira e o miswak. Estes utensílios são utilizados desde há váriosséculoseváriosautoresreferemqueomiswak,pelas suas propriedades antibacterianas, entre outras, pode ser umaboaalternativaparaahigieneoralempopulac¸õesmais carenciadas16–19.NaRoc¸adoCanavial,estesmeiosdehigiene
oralnaturaissãoutilizadosmaisfrequentemente,factoque pode,maisumavez,serexplicadoporseraroc¸acommenos recursos.
Quando comparadas as duas roc¸as, encontraram-se diferenc¸assignificativasrelativamenteà gravidadede cárie nadentic¸ãodecíduaeàprevalênciaegravidadedesta pato-logia na dentic¸ão permanente estes indicadores de saúde oralsãosignificativamentepioresnaRoc¸adoCanavial.Estas diferenc¸aspodemser, umavezmais,explicadaspelo nível socioeconómicomais desfavorecidodeste local e,também, peloconsumodecana-de-ac¸úcarmaisfrequente.
Conclusões
Aprevalênciaegravidadedecárienadentic¸ãodecíduapodem ser consideradas moderadas e baixas na dentic¸ão perma-nente.Apesar disso,verificou-se que agrandemaioria dos dentesnãoapresentatratamento.Osconhecimentosrelativos àsaúdeoraldestapopulac¸ãoforamreduzidos.Oconsumode alimentoscariogénicosfoifrequente,sendoacana-de-ac¸úcar muitoutilizada, emespecial pelas crianc¸asdo Canavial.O hábitodeescovagemdentáriabidiárianãoseverificoubem implementadoe,emboraamaioriadosindivíduosrefira rea-lizarasuahigieneoralcomescovadedentes,aindaexistem outrosmeiosdehigieneoraltradicionaisaseremutilizados. Ascrianc¸asdaroc¸adoCanavialapresentaram,deummodo geral,pioresindicadoresdesaúdeoral.
Responsabilidades
éticas
Protec¸ãodepessoaseanimais.Osautoresdeclaramquepara esta investigac¸ão nãose realizaram experiências emseres humanose/ouanimais.
Confidencialidadedosdados.Osautoresdeclaramterseguido osprotocolosdeseucentrodetrabalhoacercadapublicac¸ão dosdados depacientes equetodos ospacientes incluídos noestudoreceberaminformac¸õessuficientesederamoseu consentimentoinformadopor escritopara participar nesse estudo.
Direito à privacidade e consentimento escrito.Os autores declaramterrecebidoconsentimentoescritodospacientese/ ousujeitosmencionadosnoartigo.Oautorpara correspon-dênciadeveestarnapossedestedocumento.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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