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Crianças em situação de risco social – A perceção dos docentes

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CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

A PERCEÇÃO DOS DOCENTES

Maria José D. Martins, Instituto Politécnico de Portalegre, mariajmartins@esep.pt

Ana Cristina Figueira, Instituto Politécnico de Portalegre, cristina.figueira1978@hotmail.com

Resumo: Esta investigação teve como principais objetivos: conhecer a frequência de

alunos em situação de risco social, a frequentar o ensino Básico de um concelho situado no Alto Alentejo e identificar o tipo de risco que poderão estar viver, a partir das perceções dos seus docentes. A investigação pretendia ainda estabelecer a relação entre o risco percebido e variáveis como o género, ciclo de escolaridade; insucesso escolar; apoios sociais. Para o efeito adaptou-se o questionário para deteção de crianças em situação de risco social constituído por 4 subescalas: maltrato ativo, negligência, problemas emocionais, e condutas antissociais, e aplicou-se a todos os professores titulares do 1.º ciclo e a todos os diretores de turma dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. Cada um dos 15 docentes respondia a tantos questionários quantos os seus alunos. A amostra alvo correspondia a toda a população escolar dos três ciclos do ensino básico desse concelho, ou seja, os questionários reportavam-se a 232 alunos, com idades entre os 6 e os 18 anos. Os resultados obtidos permitem concluir que as situações de risco social mais frequentes eram a pobreza e as carências socioeconómicas dos alunos e suas famílias. Verificou-se também que as crianças percecionadas como estando em situação de maior risco social tinham mais insucesso escolar e eram beneficiários de ação social escolar. Os alunos do 3.º ciclo foram percebidos como estando em maior situação de risco social comparativamente aos outros.

Palavras chave: crianças, risco social, docentes

Introdução

Os maus tratos infantis existem desde a Antiguidade em todo o mundo e

embora na atualidade sejam encarados como verdadeiras desumanidades nessa

época eram vistos como comportamentos triviais e aceites pela sociedade. Ao

longo dos tempos as crianças foram abandonadas, vendidas como escravas ou

exploradas laboral e sexualmente. O infanticídio foi desde sempre praticado em

todas as culturas pois além de ser socialmente aceite era utilizado como uma forma

de eliminar todos os recém-nascidos fracos ou com defeitos físicos (Magalhães,

2004; WHO, 2002, 2006).

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Contudo paralelamente a esta situação surgiam grupos de caráter

filantrópico e humanitário que advogavam a proteção e o bem-estar da criança.

No entanto, foi apenas no século XX que surgiram vários documentos internacionais

nos quais: se reconhece a criança como sujeito de direitos (a Declaração e a

Convenção dos direitos da criança); e se recomenda que se enfrente o problema

dos maus tratos à criança como um problema grave de saúde pública, que pode e

deve ser prevenido através da identificação de fatores de risco e de proteção no

indivíduo, nos seus contextos próximos (família, escola, bairro) e alargados (políticas

sociais, educativas e de saúde), minimizando-se os efeitos dos primeiros e

promovendo-se os segundos (WHO/ Organização Mundial de Saúde, 2002, 2006).

Segundo a International society for the prevention of child abuse and neglect

citada nos relatórios da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2002, p. 59), após

comparadas as definições de 58 países, chegou-se à seguinte definição para este

problema: «O abuso infantil ou mau trato à criança inclui todas as formas de mau

trato físico ou psicológico, abuso sexual, negligência, bem como todas as formas de

exploração sexual, comercial, ou laboral, ou outras que coloquem em risco a vida,

a saúde, o desenvolvimento e a dignidade da criança no contexto de uma relação

de responsabilidade, confiança e poder». Posteriormente considerou-se ainda a

exposição a modelos de comportamento desviante como uma forma de mau trato

(de que é exemplo a exposição à violência conjugal).

Em Portugal, o sistema de proteção à infância está consagrado na lei n.º

147/99 de proteção de crianças e jovens em perigo que enquadra legalmente as

respostas ao problema da criança e/ou adolescente vítima de negligência ou de

maus tratos e na lei tutelar educativa n.º 166/99 de 14 de setembro que enquadra

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respostas para situações de pré-adolescentes e adolescentes que pratiquem atos

de vandalismo ou sejam eles próprios perpetradores de maus tratos a outrém. Isto

significa que tem vindo a consensualizar-se que as crianças e/ou adolescentes

estão em risco não apenas quando podem vir a ser vítimas de maus tratos mas

também quando podem vir a ser elas próprias perpetradoras de maus tratos

(Carvalho, 2013; Martins, 2008, 2012). Distingue-se ainda entre situações de perigo

iminente, perigo efetivo e risco, no sentido em que o perigo iminente configura uma

situação de urgência, o perigo efetivo se diferencia do risco na medida em que

este último representa um perigo potencial para a saúde e bem estar da criança

em termos de probabilidade de ocorrência, enquanto que o perigo configura uma

situação concreta que determina ou uma intervenção tutelar ou uma medida de

promoção e proteção por parte dos tribunais ou das comissões restritas de

proteção de crianças e jovens (Carvalho, 2013).

A maioria dos autores (e.g., Alberto, 2010; Calheiros, 2006; CNPCJR, s/d;

Diaz-Aguado, 1999; Magalhães, 2004) é unânime relativamente aos diferentes tipos de

maus tratos a considerar: negligência, que consiste na falta de atenção às

necessidades da criança (ao nível alimentação, saúde, higiene, falta de supervisão

apropriada à idade) e que pode ser ativa e intencional, ou passiva e não

intencional, quando ocorre por incompetência dos pais; abuso físico ou mau trato

ativo, que consiste em qualquer ação não acidental (espancamentos,

queimaduras, etc) que provoca dano físico à criança; abuso emocional

(indiferença, crítica excessiva, humilhação constante da criança); abuso sexual

(envolvimento da criança em práticas sexuais desapropriadas à idade, desde

visualização e envolvimento em pornografia, passando por carícias nos orgãos

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genitais da criança e do adulto, até à penetração oral, anal ou vaginal);

exploração comercial ou laboral e ainda tráfico de crianças.

Na avaliação das situações de mau trato deverá levar-se em conta: se

todas ou só algumas destas formas estão presentes; em que grau de gravidade se

apresentam; qual o seu impacto na criança ou jovem. O diagnóstico pode requerer

ou não exames médicos e psicológicos da vítima e uma avaliação social dos seus

contextos próximos, nomeadamente o familiar, pelo que qualquer intervenção

nesta área requer uma abordagem multidisciplinar. A avaliação dos casos deverá

procurar clarificar se os indicadores físicos e/ou emocionais apresentam um caráter

acidental ou não acidental (segundo estes se apresentam de forma continuada,

com lesões graves e são ou não congruentes com as explicações apresentadas

pelos cuidadores); se foram infligidos intencional ou não intencionalmente (o mau

trato pode ocorrer por ignorância, o que não desresponsabiliza totalmente os

perpetradores); identificar o contexto em que são infligidos os maus tratos

(família,

instituição); e ponderar as caraterísticas da criança (idade, estado de saúde)

(Carvalho, 2013; CNCJR, s/d; Magalhães, 2004).

Os resultados da investigação (e.g., Alberto, 2010; Calheiros, 2006;

Magalhães, 2004; WHO, 2002, 2006) sobre as consequências dos maus tratos são

igualmente consistentes, para além dos riscos de morte imediata, danos corporais

irreversíveis e maior probabilidade de transmissão intergeracional da violência, as

consequências no desenvolvimento incluem: problemas emocionais de vária ordem

(depressão, ansiedade, somatização de sintomas psicológicos) associadas

sobretudo à negligência, abuso emocional e sexual; perturbação de stress

póstraumático (quer dizer experiência invulgar súbita que envolve ameaça de

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morte ou à integridade física do próprio ou de outros, provocando a médio ou

longo prazo pensamentos intrusivos e recorrentes sobre essa experiência, pesadelos,

insónias, angústia e medo intenso de situações similares), está associada sobretudo

ao mau trato físico e ao abuso sexual; condutas antissociais e deliquência, em

particular, na sequência de maus físicos e exposição a modelos desviantes.

A deteção e sinalização da negligência e do mau trato compete e pode ser

feita por todos os cidadãos mas é geralmente efetuada nos sistemas de saúde,

educativo e social. Os professores, em particular, pelo tempo que passam com as

crianças e adolescentes na escola constituem interlocutores privilegiados na

deteção de situações de negligência, mau trato, problemas emocionais e

condutas agressivas ou antissociais. Além de que podem implementar programas e

estratégias educativas que contribuam para a prevenção da violência e/ou

minorem o sofrimento das crianças que já experimentarm algum tipo de violência

(Diaz-Aguado & Arias, 1999; Martins, 2008, 2011).

Dada a gravidade e consequências deste tipo de problemas revela-se de

grande pertinência a identificação dos riscos associados a determinadas

comunidades e famílias, a fim de se eleborarem programas de prevenção primária

ou universal que evitem a emergência deste tipo de problemas e minorem os seus

impactos, nomeadamente pela promoção de fatores de proteção, ao nível da

escola e da comunidade. Neste sentido Diaz-Aguado e Arias (1999) desenvolveram

um instrumento para a deteção do risco social a partir da perceção dos docentes,

cuja finalidade é detetar crianças em situação de risco social, bem como

compreender os tipos de risco social a que estão sujeitas. Nesse sentido as autoras

elaboraram um questionário para deteção de crianças em risco social, destinado a

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ser preenchido pelos professores, que revelou quatro subescalas após uma análise

fatorial: maltrato ativo, negligência, problemas emocionais, condutas antissociais

(Diaz-Aguado & Arias, 1999).

Assim, a presente investigação teve como principais objetivos: conhecer a

frequência de alunos em situação de risco social a frequentar o Ensino Básico de

um concelho situado no Alto Alentejo; identificar o tipo de risco que poderão estar

a viver (problemas sócio-económicos, maus tratos, negligência, problemas

emocionais e condutas antissociais), a partir das perceções dos seus docentes; e

verificar se existiam diferenças no risco social percebido em função de variáveis

como o sexo, ciclo de escolaridade, insucesso escolar e apoios sociais recebidos.

Metodologia

Participantes

Quinze docentes, 5 titulares do 1.º ciclo, 4 diretores de turma do 2.º ciclo, e 6

diretores de turma do 3.º ciclo do ensino básico, de todos os agrupamentos de

escolas situadas num determinado concelho do Alto Alentejo, responderam a

tantos questionários quantos os alunos, ou seja, por cada um dos alunos que

frequentavam um dos três ciclos do ensino básico, num total de 232 alunos. Destes

15 docentes, 6 eram do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com idades

compreendidas entre os 35 e os 55 anos, e tempo de serviço entre os 6 e os 28 anos.

As respostas dos docentes incidiram sobre cada uma das crianças do total

da população escolar do agrupamento de escolas de um concelho do Alto

Alentejo, 136 do sexo masculino e 85 alunos do sexo feminino, com idades entre os 6

e os 18 anos, uma média de idades de 10.99 anos e um desvio padrão de 2.94 anos.

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49 crianças encontravam-se a frequentar o 1.º ciclo, 35 frequentavam o 2.º ciclo, e

56 o frequentavam o 3.º ciclo do Ensino Básico. Destes 232 alunos, 51.06%

beneficiavam de algum tipo de ação social escolar (escalão A ou B).

Instrumento

Foi utilizada uma adaptação do questionário para deteção de crianças em

situação de risco social de Diaz-Aguado e Arias (1999) elaborada pelas autoras

deste trabalho. Este questionário é composto por 80 itens que se distribuem por 4

subescalas do seguinte modo: maltrato ativo (composta por 29 itens, por exemplo

parece ter medo dos seus pais); negligência (composta por 19 itens, por exemplo

apresenta um aspeto desnutrido); problemas emocionais (composta por 8 itens, por

exemplo

está triste) e condutas antissociais (composta por 24 itens, por exemplo

destrói as coisas dos outros). Os professores assinalavam uma de seis alternativas

para cada um dos itens sendo que 1 correspondia a ausência de comportamento

ou contexto de risco percebido e 6 à exibição de comportamento ou contexto de

risco elevado.

Foi analisada a consistência interna do instrumento com o alfa de Cronbach

tendo-se obtido um valor de 0.97 para a escala total, o que revela uma elevada

fidelidade. Nas subescalas os valores foram: no maltrato ativo 0.97; na subescala

dos problemas emocionais 0.86; na negligência, 0.91; e nas condutas antissociais

0.92, valores que revelam uma boa consistência interna, logo uma elevada

fidelidade das subescalas (Figueira, 2014).

Procedimento

Foi solicitada e obtida autorização ao diretor do agrupamento de escolas, e

o consentimento informado dos docentes, e foi garantida a confidencialidade dos

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dados referentes a cada aluno, através da colocação de um código em

substituição do nome a fim de cruzar resultados nas diferentes variáveis. Os

questionários foram entregues aos docentes e após um período de tempo

concedido estes responderam no local e tempo que lhes era mais favorável e

foram depositando os questionários numa caixa que se encontrava na secretaria

da escola, sendo posteriormente recolhidos pela segunda autora deste trabalho. Os

dados apresentados reportam-se ao ano lectivo de 2013/2014 (Figueira, 2014).

Resultados

A tabela 1 apresenta as médias e os desvio padrão em função do sexo na

escala total e nas subescalas do questionário.

Tabela 1- Tipo de risco social percebido em função do sexo

Tipo de risco social Género N Média

Desvio padrão Valor mínimo Valor máximo Escala maltrato ativo Masculino 138 35.86 9.67 29 174

Feminino 87 35.66 11.03

Escala negligência Masculino 139 29.65 11.42 19 114 Feminino 92 27.30 11.42 Escala problemas emocionais Masculino 139 11.68 4.28 8 48 Feminino 91 11.75 5.55 Escala condutas antissociais Masculino 139 33.04 10.25 24 144 Feminino 90 31.93 10.23

Total escala Masculino 136 109.47 31.57 80 480

Feminino 85 104.41 34.89

Verifica-se que a média dos rapazes é mais elevada que a das raparigas na

escala total e na maioria das diferentes subescalas (à exeção da subescala dos

problemas emocionais) indicando maior uma perceção de risco social nos rapazes

comparativamente às raparigas, por parte dos docentes. Contudo após se aplicar

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o teste t para amostras independentes concluímos que as diferenças, nas diferentes

subescalas individualmente consideradas, não eram estatisticamente significativas

e, em particular, não eram significativas para a escala total pois

t

(219/165.051)

=1.113 p = 0.267.

Em seguida foi analisada a relação entre os tipos de risco social percecionados

pelos docentes e o facto dos alunos serem ou não beneficiários de algum tipo de

ação social. Como se pode constatar através da tabela 2, adiante apresentada, os

alunos que beneficiam da ação social escolar são percebidos pelos professores

como estando mais expostos ao risco social, comparativamente aos que não

beneficiam de ação social escolar, nas quatro subescalas e na escala total.

Aplicou-se o teste

t para saber as diferenças entre os que beneficiam e os que

não beneficiam de ação social escolar são estatisticamente significativas na

subescala de maltrato ativo e verificou-se que

t

(223/98.518) = 3.787, p < 0.05, logo

as diferenças são estatisticamente significativas, no sentido de que os beneficiam

de ação social escolar são percebidos pelos professores como mais expostos ao

maltrato ativo.

Relativamente à escala da negligência, o resultado de t (229/212,588) = 4,251, p

<0,05, permite também concluir que as diferenças são estatisticamente

significativas, no sentido de que os beneficiam de ação social escolar serem

percebidos pelos professores como mais expostos à negligência.

No que concerne aos problemas emocionais, os resultados apurados para o

teste t(228/225.178) = 2.463, p <0.05, revelam que as diferenças são estatisticamente

significativas, no sentido de que os beneficiam de ação social escolar são

percebidos pelos professores como exibindo mais problemas emocionais.

(10)

Relativamente às condutas antissociais, verificou-se que t(227/222.400) = 2.184, p

< 0.05, logo as diferenças são estatisticamente significativas, no sentido de que os

beneficiam de ação social escolar são percebidos pelos professores como exibindo

mais condutas antissociais.

Por fim aplicou-se o teste t na escala total e verificou-se que

t

(219/209.826) =

3.609,

p <0.05, logo as diferenças são estatisticamente significativas, no sentido de

que os beneficiam de ação social escolar são percebidos pelos professores como

estando mais expostos ao risco social.

Tabela 2- Tipo de risco social percebido pelos docentes em função do aluno ser ou não beneficiário de ação social escolar (ASE)

Ação social escolar N Média Desvio padrão Escala maltrato ativo Beneficia de ASE 118 38.11* 11.77

Não Beneficia de ASE 107 33.21* 7.34 Escala negligência Beneficia de ASE 122 31.58* 12.88

Não Beneficia de ASE 109 25.51* 8.59 Escala problemas

emocionais

Beneficia de ASE 121 12.43* 5.22 Não Beneficia de ASE 109 10.89* 4.19 Escala condutas

antissociais

Beneficia de ASE 120 33.98* 11.23 Não Beneficia de ASE 109 31.08* 8.81 Total escala Beneficia de ASE 116 114.81* 36.35

Não Beneficia de ASE 105 99.47* 26.53

A tabela 3 apresenta as médias e desvios padrão na escala total e nas

diferentes subescalas em função do insucesso escolar (avaliado em termos da

obtenção de aprovação ou não no final do ano escolar em que este estudo foi

conduzido). Os resultados apresentados na tabela sugerem que a perceção de

risco social associa-se ao insucesso escolar em todas as subescalas, exceto na dos

problemas emocionais, e que a média na escala total dos alunos que tiveram

(11)

aprovação no final do ano escolar foi inferior à média dos alunos que foram

reprovados.

Aplicou-se o teste

t para saber se as diferenças entre aprovados e reprovados

eram significativas na subescala do maltrato ativo e verificou-se que

t (222/50.266)

=-1.371, p = 0.529, logo as diferenças não são significativas estatisticamente.

Relativamente à subescala da negligência, verificou-se que t (228/34,940) = -

4,214, p <0,05, logo as diferenças são estatisticamente significativas, no sentido de

que os alunos reprovados são percebidos como estando mais expostos à

negligência.

Tabela 3- Tipo de risco social em função do sucesso/insucesso escolar Sucesso

escolar atual N Média

Desvio padrão Escala Maltrato ativo Aprovado 193 35.42 10.53

Reprovado 31 38.13 7.66

Escala negligencia Aprovado 199 27.22* 10.22

Reprovado 31 38.45* 14.28 Escala problemas emocionais Aprovado 199 11.66 4.98 Reprovado 30 12.10 3.57 Escala condutas antissociais Aprovado 197 32.06* 10.25 Reprovado 31 36.19* 9.70

Total escala Aprovado 190 105.20* 32.66

Reprovado 30 122.80* 31.19

No que concerne à subescala dos problemas emocionais a aplicação do teste

t

(227/47.991) = - 0.467, p = 0.641 revela que as diferenças não são estatisticamente

significativas.

Relativamente à subescala das condutas antissociais, verificou-se que

t

(226/41.261) = - 2.187, p <0.05, logo as diferenças são estatisticamente significativas,

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no sentido de que os alunos reprovados exibirem mais condutas antissociais,

segundo a perceção dos docentes.

Por fim aplicou-se o teste t na escala total e verificou-se que

t (218/39.735) = -

2.854

p

<0.05, logo as diferenças são estatisticamente significativas, no sentido de

que os alunos reprovados são percebidos pelos docentes como estando mais

expostos ao risco social.

A tabela 4 apresenta as médias e desvios padrão em função do ciclo/nível de

escolaridade. Verifica-se que a perceção de risco social aumenta com o ciclo/nível

de escolaridade. Contudo, apenas são estatisticamente significativas as diferenças

entre os dois primeiros ciclos e o terceiro ciclo do ensino básico, ou seja, houve

claramente uma perceção de risco social maior nas crianças do 3.º ciclo, de

acordo com os resultados obtidos com o teste ANOVA, uma vez que F (2,218)= 20.78

p = 0.00, seguido depois de uma análise Tukey que permitiu identificar quais eram

exatamente as diferenças entre ciclos de escolaridade que eram estatisticamente

significativas.

Foi ainda conduzida uma análise de médias e de frequências item a item

que colocou em evidência o tipo de itens assinalados pelos professores com valores

mais elevados. Os itens que obtiveram uma pontuação mais elevada foram cinco

itens da

subescala da negligência, nomeadamente:

tem um vocabulário pobre;

tem dificuldades para se expressar verbalmente; tem dificuldades de

aprendizagem; o seu trabalho escolar é pobre; tem muitas dificuldades em

concentrar-se; e os três seguintes itens da subescala das condutas antissociais: a sua

família carece de rendimentos; a sua família tem dificuldades económicas; goza

com os colegas.

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Tabela 4- Tipo de risco social em função do ciclo/nível escolaridade

N Média DP

Escala Maltrato ativo

1.º ciclo 85 32.33 4.72 2.º ciclo 55 32.78 4.89 3.º ciclo 85 41.16* 13.86 Total 225 35.78 10.19 Escala negligência 1.º ciclo 89 26.12 10.30 2.º ciclo 57 26.49 12.10 3.º ciclo 85 32.93* 11.04 Total 231 28.72 11.45 Escala problemas emocionais 1.º ciclo 88 10.39 4.15 2.º ciclo 57 10.49 3.02 3.º ciclo 85 13.88* 5.62 Total 230 11.70 4.81 Escala condutas antissociais 1.º ciclo 86 29.15 8.25 2.º ciclo 58 30.71 8.09 3.º ciclo 85 37.39* 11.54 Total 229 32.60 10.24 Total escala 1.º ciclo 82 95.59 23.91 2.º ciclo 54 99.67 25.07 3.º ciclo 85 124.02* 37.86 Total 221 107.52 32.90

As médias obtidas nos diferentes itens oscilaram entre 1 (ausência total de risco

percebido, por exemplo no item: já falou pelo menos uma vez em suicidar-se) e 2.10

(no item: a sua família tem dificuldades económicas).

Conclusões e Discussão

Este estudo permite concluir que o questionário para deteção de crianças em

situação de risco social de Diaz-Aguado e Arias (1999) tem boas propriedades

psicométricas e permitiu identificar o tipo de risco social mais frequente no concelho

(14)

associa a perceção de risco social, por parte dos docentes. Poderá também auxiliar

os docentes a identificar crianças em situação de maior risco social, bem como

identificar a tipologia de risco associada a cada criança.

A negligência e as dificuldades sócio-económicas constituíram o risco social

mais frequente nesta população, apesar dos valores assinalados pelos professores

terem sido baixos na globalidade dos itens da escala. Congruente com este

resultado destaca-se o facto de mais de 50% dos alunos beneficiarem de algum

tipo de apoio social escolar. Estes dados vão no mesmo sentido que os de outros

estudos efetuados noutros contextos (Almeida, André & Almeida, 2001; CNCJR, s/d).

Mais especificamente, podemos concluir que neste Agrupamento de escolas as

situações de risco social mais percecionadas pelos professores foram: as

dificuldades e carências ao nível sócio-económico dos alunos e suas famílias; as

dificuldades de aprendizagem e expressão verbal exibidas por vários alunos e a

manifestação de comportamentos de

bullying relacional por parte de alguns

alunos.

A perceção de risco social por parte dos professores foi maior: nos alunos do 3.º

ciclo quando comparados com os do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, à

semelhança do que se verificou na investigação de Diaz-Aguado e Arias (1999); nos

alunos beneficiários de algum tipo de ação social escolar e nos alunos com mais

insucesso escolar (entendido em termos de reprovação no final do ano letivo em

que esta investigação foi conduzida), em particular, as médias nas subescalas da

negligência e das condutas antissociais eram mais elevadas nos alunos que

reprovaram de ano, de modo estatisticamente significativo. As diferenças entre

sexos não se revelaram significativas estatisticamente, pelo que se conclui que esta

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variável não se associou à perceção de risco por parte dos professores, ao contrário

do que se verificou no estudo de Diaz-Aguado e Arias (1999), no qual os rapazes

eram percebidos como estando em maior risco social.

Estes dados podem assim contribuir para a identificação de grupos de risco e

para a elaboração de programas de prevenção primária e secundária da violência

e do insucesso escolar que, embora possam e devam envolver toda a comunidade

escolar, podem incidir particularmente na redução de riscos nos grupos percebidos

como mais vulneráveis (adolescentes do 3.º ciclo do ensino básico, famílias

carenciadas economicamente, alunos com dificuldades de aprendizagem) e na

promoção de fatores de proteção no agrupamento de escolas considerado

(Martins, 2009, 2011).

A utilização deste questionário em outros concelhos poderá eventualmente

contribuir para melhorar a sua estrutura, distribuição de itens pelas subescalas e

verificar se diferencia os riscos percebidos pelos professores em diferentes

agrupamentos de escolas, comunidades e concelhos, por forma a permitir elaborar

programas de prevenção da violência interpessoal ajustados às necessidades das

escolas, comunidades, famílias e crianças (Martins, 2007; 2013).

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Referencias

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