Universidade de Aveiro
2010
Departamento de Línguas e Culturas
Helder Miguel Rosas
da Costa Marques
Relatório de Projecto
Universidade de Aveiro
2010
Departamento de Línguas e Culturas
Helder Miguel Rosas
da Costa Marques
Relatório de Projecto
Sérgio Valente. Um Fotógrafo da Oposição
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos Editoriais,
realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Maria Cristina
Matos Carrington da Costa, Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e
Culturas da Universidade de Aveiro
O Júri
Presidente
Professor Doutor António Nuno Rosmaninho Rolo
Professor Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro
Professora Doutora Joana Maria Ferreira Pacheco Quental
Professora Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de AveiroProfessora Doutora Maria Cristina Matos Carrington da Costa
Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de AveiroAgradecimentos
São muitos aqueles a quem devo agradecer pelos contributos que deram para
a concretização deste projecto. Não cabem aqui todos, apesar dos seus
contributos inestimáveis. Destaco aqui somente alguns.
Ao Sérgio Valente, pelo esforço, entusiasmo e interesse que, desde o início,
alimentou em relação a este projecto e pela confiança que depositou em mim
para dar a conhecer o seu espólio fotográfico e história de vida.
À Professora Doutora Cristina Carrington da Costa pelo acompanhamento do
projecto, pela motivação, pelas sugestões de melhoramento de várias partes
do mesmo e por todos os esforços que fez para que eu conseguisse levá-lo
até ao fim.
À Olinda Martins, pela permanente disponibilidade e simpatia em dar
sugestões e rever o que fui escrevendo relativamente às rubricas do design
editorial.
Palavras-chave
Produção editorial, indústrias culturais, história contemporânea, história oral,
fotografia, design editorial
Resumo
No presente projecto de mestrado, o autor propõe um plano de edição
de um livro impresso para a publicação comercial de um espólio
fotográfico inédito, pertença de Sérgio dos Santos Valente (n. 1943),
fotógrafo portuense, ao qual se reconhece um importante valor histórico
e patrimonial. Para a sua concretização foi desenvolvida investigação
para a produção dos conteúdos escritos que constituem o original do
projecto (de cujo processo este relatório dá conta), ao mesmo tempo
que se desenvolveu uma proposta fundamentada de concepção gráfica
em que aquela publicação se poderá materializar.
Keywords
Editorial production, cultural industries, contemporary history, oral history,
photography, editorial design.
Abstract
In this Project, the author proposes a plan to issue a printed book for
commercial publication of an unpublished photographic collection,
property of Sérgio dos Santos Valente (b.1943), a photographer from
Oporto, to which is recognized a significant historical and patrimonial
value. For its implementation it was developed research for the
production of written the contents that compose the original project
(which processes are described in this report), while it was developed a
proposal for the graphic design in which that publication could be
materialized.
Índice
1| Apresentação do Projecto ... 9
2| Desenvolvimento do Projecto/Produção dos Conteúdos ... 13
3| Conteúdos ... 18
3.1| Textos e Legendagem ... 18
3.2| Fotografias ... 22
3.3| Outros Elementos ... 22
4| Design Editorial ... 23
4.1| Estrutura ... 24
4.2| Grelha ... 25
4.3| Tipografia ... 27
4.4|Papel ... 29
5| Fontes Orais ... 32
6| Bibliografia Consultada ... 32
6.1|História/História Oral ... 32
6.2|Design Editorial ... 35
Apêndices ... 38
9
1|Apresentação do Projecto
O relatório que aqui apresentamos tem dois objectivos essenciais. Primeiro, visa dar conta dos
processos e opções inerentes à produção dos conteúdos (textos e fotografias) em que se
materializa o original que constitui o projecto editorial que aqui apresentaremos (nas rubricas
sobre o desenvolvimento do projecto e sobre os conteúdos). Em segundo, procura fornecer uma
espécie de guião com sugestões fundamentadas para uma futura produção editorial do mesmo
projecto (nas rubricas sobre o design editorial).
Sendo parte integrante do projecto de Mestrado em Estudos Editoriais da Universidade
de Aveiro intitulado
Sérgio Valente. Um fotógrafo da Oposição
visa, portanto, a preparação, para futura
edição em forma impressa, de um livro-álbum com parte de um espólio fotográfico, na sua quase
totalidade inédito, ao qual se reconhece um importante valor patrimonial e histórico para a
compreensão da história política e social da cidade do Porto e sua região, durante o regime
ditatorial estado-novista, sobretudo na sua fase marcelista.
Este espólio é, na sua maior parte, da autoria e propriedade de Sérgio dos Santos
Valente, um fotógrafo portuense que foi membro activo na oposição ao regime ditatorial, tendo
estado envolvido em diversos movimentos sociais e colectivos que, então, desenvolveram várias
formas de luta política.
O espólio fotográfico que agora se pretende divulgar constitui, precisamente, o resultado
do registo que este fotógrafo de profissão ia fazendo das actividades em que ia participando ou
em que se via envolvido.
A maior parte
das fotografias incluídas neste projecto cobre um período que vai da
segunda metade da década de 1960, altura a que remontam os primeiros negativos preservados
por Sérgio Valente, até Maio de 1974, data que se escolheu por razões óbvias, dados os
acontecimentos de ruptura política que então se verificaram. A transgressão destes
limites
temporais só aconteceu com a inclusão de duas fotografias alusivas à campanha eleitoral do
general Humberto Delgado, em 1958, que servem para ilustrar o acontecimento que o próprio
fotógrafo indica como marco no despertar da sua consciência política.
Acreditamos que um projecto desta natureza tem relevância editorial e historiográfica
por vários motivos. Primeiro, porque se propõe publicar conteúdos que se prendem com dois
tipos de fontes históricas que, a nosso ver, são habitualmente pouco exploradas e divulgadas: as
10
fontes de história oral e as fontes fotográficas — as primeiras, pelas implicações epistemológicas
que ainda suscitam; as segundas, porque a divulgação que se tem feito de registos fotográficos
com o objectivo de difusão de conhecimento histórico se tem limitado a um universo social muito
restrito, ou seja, sobretudo a elites políticas, culturais e económicas, aquelas que mais condições
reuniram e reúnem para a produção, preservação e divulgação de registos fotográficos.
Em segundo lugar, este projecto editorial pretende realçar/dar destaque à forma como as
classes populares perceberam e viveram o processo histórico, e isso é veiculado não só pelo relato
da história de vida de Sérgio Valente, ele próprio oriundo das classes populares, como a partir do
acervo de fotografias trabalhado. Na verdade, é de reconhecer que o estudo das classes populares,
em virtude de estas, frequentemente, não deterem condições de preservação da sua perspectiva de
vida e da forma como percepcionam e racionalizam os acontecimentos por si vivenciados, é
muitas vezes preterido em favor do estudo de outros objectos para cujo estudo se dispõem de
fontes de conhecimento mais generosas, como as organizações ou as classes sociais com melhores
recursos materiais. Daí que, nomeadamente, em referência ao operariado, classe social que se
insere no conceito de classes populares, este tenha sido já classificado como um dos «grandes
recalcados da historiografia portuguesa»
1.
A divulgação historiográfica em Portugal é hoje dominada, do ponto de vista do texto
impresso, pelo género biográfico (e, dentro deste, por biografias ou fotobiografias de
personalidades ligadas às elites do poder político, económico, social e/ou cultural), por memórias,
por textos com um cariz marcadamente temático, obras alusivas à comemoração de efemérides,
de factos históricos que marcam a actualidade ou de história contemporânea, ou por publicações
dedicadas à divulgação do património arquitectónico e artístico, ou ainda à divulgação da
produção historiográfica estrangeira ou de temáticas de história geral, através de traduções. Isto é
bem patente nos catálogos editoriais de algumas das principais editoras que, em Portugal,
investem no segmento de mercado das ciências sociais e humanas, como a
Oficina do Livro,
Almedina/Edições 70, Casa das Letras, Temas & Debates/Círculo de Leitores, Civilização
Editora, Presença, Editorial Estampa ou as Publicações Europa-América.
1
Mónica, Maria Filomena, A Formação da Classe Operária Portuguesa. Antologia da Imprensa Operária (1850-1934), Lisboa,
11
A oferta editorial de títulos ligados ao conhecimento histórico (classificada de, de acordo
com o
Inquérito ao Sector do Livro
, na rubrica «Biografia, Geografia, História») cresceu bastante em
Portugal e todos os anos é responsável pela publicação de cerca de sete centenas de novos títulos
2.
No entanto, é nossa convicção, pela experiência profissional que temos no sector
editorial, que são muito poucos os títulos publicados com as características do projecto que aqui
propomos. Acreditamos, por isso, que este projecto editorial terá algum mérito ao permitir lançar
luz sobre alguns aspectos e fontes da história dos designados «esquecidos da história», aqui
entendidos enquanto aqueles que não puderam deixar o seu testemunho da história e do seu
passado.
Em terceiro lugar, ao disponibilizar uma fonte «visual», o presente projecto editorial
poderá contribuir para uma maior sensibilização de um público leitor mais alargado, e colaborar,
também, de algum modo, para a história mais recente do país. Isto porque a fotografia, enquanto
fonte de conhecimento histórico, é acessível a um público alargado que não necessita de ter
adquiridos demasiados conhecimentos historiográficos para poder descodificar os seus
significados. Como salienta Germano Silva no título do prefácio deste projecto, «uma imagem é
igual a mil palavras».
Um aspecto importante, e que deriva das considerações que acabamos de tecer, é a
questão do público-alvo deste projecto. São identificadas duas tipologias de público-alvo para este
projecto. A um primeiro nível, mais importante, está um público-leitor mais especializado
(investigadores, estudantes, professores universitários, etc.) e os interessados pelas questões da
história local do Porto e sua região, que poderão encontrar neste projecto, pelas características dos
seus conteúdos, uma fonte alternativa de aprofundamento de conhecimentos sobre um período
recente da história contemporânea da cidade do Porto e do país. De entre este público-alvo,
particular importância têm os leitores que foram testemunhas e/ou participantes dos
acontecimentos retratados e que revelam, por conseguinte, um interesse redobrado, motivado por
razões emocionais relativamente aos factos e acontecimentos narrados e fotografados, que
constituem a matéria-prima deste projecto.
Um outro público interessado serão certamente os amantes de fotografia, profissionais e
amadores, uma vez que aqui podem perceber, através dos documentados apresentados, algumas
2
Neves, José Soares (responsável de projecto), Inquérito ao Sector do Livro, s.l., Observatório das Actividades Culturais,
12
das diferenças e características do trabalho fotográfico de há três décadas (formas de trabalho,
qualidade artística, aspectos técnicos da fotografia, condições de trabalho, etc.).
A um segundo nível, este projecto destina-se também a um público composto pelos
leitores em geral, um público não especializado e mais alargado, que seguem uma estratégia de
compra de livros motivada por razões lúdicas e por impulso, isto é, que podem adquirir este livro
sem terem com isso objectivos pré-definidos de aquisição dos conhecimentos nele
consubstanciados.
Este projecto editorial tem, portanto, objectivos culturais, para além dos objectivos
comerciais que possam eventualmente advir da sua efectiva edição e publicação. Assim, os
objectivos são essencialmente os seguintes:
1.
Contribuir para o enriquecimento e preservação da memória colectiva e social do Porto;
2.
Fornecer uma visão complementar, pelas fontes que divulga, da história recente da cidade
do Porto;
3.
Divulgar novas fontes de conhecimento histórico;
4.
Tornar acessível o testemunho histórico daqueles que não possuem os meios ou a
capacidade para registar a sua visão do processo histórico, dando assim a conhecer uma
visão da história «vinda de baixo».
13
2|Desenvolvimento do Projecto/Produção de Conteúdos
A ideia deste projecto surgiu do aproveitamento de um outro plano
,
entretanto malogrado, de
montagem de uma exposição no Centro Português de Fotografia, na cidade do Porto, com parte
do espólio de fotografias de Sérgio dos Santos Valente, fotógrafo portuense, que conta com mais
de cinco mil fotografias. Este projecto
de exposição possibilitou a digitalização e organização
parcial do espólio, o que, dada a facilidade de manuseamento e de manipulação das fotografias em
formato digital, levou a um interesse e vontade de edição e publicação de algumas das fotografias
daquele acervo fotográfico.
A primeira fase do trabalho consistiu na selecção das fotografias que integrariam o
presente projecto
de edição. Este foi um processo levado a cabo, conjuntamente com o fotógrafo,
o que se revelou bastante moroso, não só devido à afectuosidade
do fotógrafo em relação a
algumas das fotografias (que não poderiam ser seleccionadas dada a redundância de muitas delas),
como também às exigências técnicas para a visualização das cerca de cinco mil fotografias
referidas. Era nossa preocupação ter uma visão de conjunto de todo o espólio de forma a
podermos fazer uma selecção mais equilibrada.
Como não poderiam ser editadas as cerca de cinco mil fotografias existentes, houve que
estipular um limite máximo para a sua compilação em livro. Com efeito, a edição de livros com
fotografias é bastante dispendiosa, devido sobretudo à elevada qualidade do papel e dos
acabamentos que exige. Assim, e como era uma edição que apresentava um elevado risco
económico-financeiro e comercial optou-se por estabelecer como número máximo as trezentas
fotografias; todavia, rapidamente se chegou à conclusão que aquele número teria que subir, sob
pena de se perder a oportunidade de se tornarem públicas algumas imagens bastante relevantes,
na óptica do fotógrafo Sérgio Valente, acabando por se fixar o limite nas quinhentas.
A par deste critério quantitativo, foram definidos alguns critérios qualitativos para a
selecção das fotografias a escolher. Foram então seleccionadas as fotografias que, no seu
conjunto, cobrissem um maior número de pessoas, e, particularmente, aquelas que retratassem
personalidades facilmente reconhecíveis pelo público-alvo, figuras com uma mediatização,
passada e/ou actual; foram também
seleccionadas aquelas que documentassem uma maior
tipologia de acontecimentos (jantares, convívios, manifestações, romagens, comícios eleitorais,
14
reuniões sindicais, eventos culturais, etc.), um maior número de locais, as que dessem grandes
planos da participação da população e as que permitissem «reconstruir» algumas sequências dos
acontecimentos fotografados.
Numa segunda fase, passou-se à produção dos conteúdos textuais a incluir no projecto.
Decidiu-se que estes conteúdos consistiriam num texto de enquadramento histórico geral,
referente ao período histórico abarcado pela selecção de fotografias, e num texto com a história
de vida do fotógrafo. Ambos os textos seriam apresentados pela ordem referida e iriam servir de
complemento à visualização das fotografias seleccionadas.
Apesar de se pretender, com este projecto, a edição de um livro de divulgação histórica
de leitura fácil e acessível (e daí que se tenha prescindido do aparato crítico), as questões do rigor
científico e informativo dos conteúdos não podiam ser descuradas. Por isso, para a redacção do
texto de enquadramento histórico, onde se deveriam focar alguns dos aspectos mais relevantes
das transformações por que passou a sociedade portuguesa entre as décadas de 1950 e 1970,
optou-se por solicitar a colaboração de um professor universitário de História Contemporânea, o
Professor Doutor Manuel Loff, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, para conferir
alguma autoridade «académica» ao livro e para apresentar o estado da arte no que concerne aos
conhecimentos historiográficos relativos ao período histórico em questão.
A redacção do texto com a história de vida de Sérgio Valente, da nossa autoria, foi um
processo mais complexo, na medida em que partiu de fontes primárias. A fonte desta
matéria-prima foi o arquivo de história oral da Universidade Popular do Porto (Centro de Documentação
e Informação), onde estão reunidos vários testemunhos orais prestados por pessoas que
trabalharam no Porto e sua região, que foram recolhidos no âmbito do projecto das «Memórias
do Trabalho – Testemunhos do Porto Laboral do Século XX», desenvolvido por esta instituição
desde 2001, sendo um desses testemunhos, precisamente, o do próprio Sérgio Valente.
O processo de construção da sua história de vida passou por três etapas. Primeiro,
audição da entrevista e leitura da sua transcrição, de forma a identificar os momentos
estruturantes da vida do fotógrafo
3. Esta entrevista, concedida em 2002, foi uma entrevista de
3
A entrevista não foi realizada por nós, mas sim por outros investigadores, em 2002. Desde então que tem estado
arquivada no Centro de Documentação e Informação da Universidade do Porto, em formato audiovisual e transcrita.
Foi a estes suportes arquivados que tivemos acesso para a realização da história de vida de Sérgio Valente.
15
guião aberto, em que se pretendeu focar, de uma forma mais abrangente possível, vários aspectos
da sua vida infância, ensino, serviço militar, actividade profissional, militância política, etc.).
Numa segunda etapa, procedeu-se à redacção de uma primeira versão dessa história de
vida, com base nos elementos recolhidos na entrevista concedida e em fontes secundárias.
Finalmente, procedeu-se à correcção e/ou reformulação daquela primeira versão, o que passou
ainda pela recuperação de muita da informação da história de vida junto do próprio fotógrafo, de
forma a esclarecer e precisar alguns factos mais relevantes. Neste processo final de correcção e de
validação dos conteúdos redigidos acerca da vida de Sérgio Valente, e uma vez que não há
documentos históricos inócuos ou inocentes, as informações recolhidas foram confrontadas com
alguma crítica documental, e foram cruzadas com outros testemunhos orais (disponíveis no Centro
de Documentação e Informação da Universidade Popular do Porto) e com outras fontes
secundárias. Durante este trabalho sentimos alguma dificuldade em lidar com os preconceitos e
subjectivismo do fotógrafo Sérgio Valente, particularmente no que dizia respeito à tentativa de
imposição de determinadas interpretações (e valorizações) que fazia da sua própria vida e à
imposição de determinados conteúdos que queria ver incluídos no texto da sua história. Também o
carácter anárquico das suas rememorações veio dificultar a elaboração da sua biografia. Estas são, de
resto, as dificuldades inerentes ao recurso da metodologia de história oral.
A decisão de recorrer a fontes orais foi bastante ponderada, porquanto esta é uma
metodologia de conhecimento histórico de prática bastante delicada, devido aos problemas de
fiabilidade e de veracidade que ainda pode suscitar, e que derivam, nomeadamente, da falibilidade
da memória humana, do carácter «construído» da mesma, do seu excessivo subjectivismo, da
contaminação da informação recolhida que os preconceitos do entrevistador e do entrevistado
podem trazer, do carácter frequentemente anárquico, desordenado e superficial das memórias
4.
Contudo, decidimos adoptar esta metodologia por ser aquela que permitia acesso ao
conhecimento de factos e actividades essenciais a uma melhor compreensão da história de vida de
Sérgio Valente que, dada a natureza de muitos deles, não deixaram rasto documental escrito e
dificilmente poderiam ser recuperados de outra forma; referimos nomeadamente as actividades
4
Raphael, Freddy, «Le Travail de la Mémoire e les Limites de l‘Histoire Orale», Annales ESC, 35.º ano, n.º 1,
Janvier-Février, 1980, p. 128; Durão, Susana; Cardoso, Teresa, «Os Métodos Biográficos: Uma Aproximação aos
Fundamentos da História de Vida», Arquivos da Memória, n.º 1, 1996, p. 106; Aron-Schnapper, Dominique; Hanet,
Danièle, «D‘Hérodote au Magnétophone: Sources Orales et Archives Orales», Annales ESC, 35.º ano, n.º 1,
Janvier-Février, 1980, pp. 183-199.
16
clandestinas e de contestação política em que se envolveu, os elementos da sua vida privada e
familiar e algumas práticas quotidianas ligadas à sua vida profissional.
Uma terceira fase da produção do original deste projecto consistiu na legendagem das
fotografias seleccionadas. Não foi um aspecto de somenos importância. Muitas das fotografias
ilustram acontecimentos que não são inteligíveis por si só ou através do texto da história de vida
de Sérgio Valente. Mas, por outro lado, as fotografias são indissociáveis da vida do seu autor, na
medida em que retratam muitos dos nomes e espaços referidos na sua história de vida. As
legendas das fotografias servem, por isso, para atribuir um «rosto» a muitos dos nomes que
passaram pela vida de Sérgio Valente e para dar «visibilidade» aos espaços por onde passou,
permitindo ao leitor concretizar a leitura que vai fazendo desta história de vida.
Esta legendagem foi um processo, também ele, bastante moroso, porque exigiu não só a
identificação das centenas de pessoas, datas, locais e acontecimentos retratados no conjunto de
fotografias, como também a sua ordenação cronológica. Para este trabalho ser feito com o
máximo rigor, decidiu-se fazer circular as fotografias por um grande número de pessoas (cerca de
vinte pessoas), contemporâneas de Sérgio Valente e dos factos retratados (muitas delas foram
mesmo participantes dos acontecimentos aí documentados). Foi para facilitar o controlo da
circulação de fotografias entre várias pessoas que, associado às razões de ordem material já
referidas, também se estipulou o limite de 500 fotografias a editar.
Depois de produzidos os conteúdos escritos do projecto, decidiu-se incluir ainda um
prefácio, escrito por alguém que pudesse atestar a qualidade dos conteúdos. Somos da opinião
que este pode ser um elemento enriquecedor para o projecto e potenciador de valorização
comercial do mesmo. Depois de equacionados vários nomes, optou-se por Germano Silva, que
acedeu a redigir um pequeno prefácio para este projecto. Germano Silva é jornalista no
Jornal de
Notícias
e um dos mais conhecidos investigadores de história local e regional da cidade do Porto,
com bastante produção nesta área do conhecimento
5.
5
Para além da sua coluna semanal «À Descoberta do Porto» no
Jornal de Notícias, tem publicados vários títulos sobre
17
Finalmente, a última etapa de produção do original consistiu na transposição dos
conteúdos textuais reunidos e das fotografias seleccionadas para um suporte digital. Optamos
pelo programa informático de paginação
PageMaker
, pela relativa facilidade de manuseamento que
oferece. Não se pretendeu com isto paginar o original deste projecto, mas tão-só fornecer-lhe um
arranjo gráfico que permitisse reunir e visualizar todos os conteúdos num mesmo suporte e
permitisse um primeiro esboço da forma como os conteúdos podiam ser distribuídos e
relacionados entre si. Na rubrica de Design Editorial, mais adiante, iremos apresentar uma
proposta de estudo gráfico para este projecto, substancialmente diferente da solução gráfica
apresentada pelo projecto que apresentamos juntamente com este relatório.
Lisboa, Casa das Letras, 2008;
Porto. A Revolta dos Taberneiros e Outras Histórias, Lisboa, Casa das Letras, 2004, entre
outros).
18
3|Conteúdos
O projecto aqui apresentado é constituído, assim, por duas partes essenciais: os textos (prefácio
de Germano Silva, texto de introdução de Manuel Loff, o texto com a história de vida de Sérgio
Valente e as legendas, de nossa autoria) e as fotografias, com as características que a seguir se
indicam.
3.1|Os Textos e a Legendagem
Os textos produzidos para este projecto editorial encontram-se em fase que aqui
poderíamos designar de original e a sua edição comercial implicará sempre que sejam objecto de
tratamento editorial (isto é de uma intervenção a vários níveis, normalização, revisão
linguística/literária, tipográfica, científica e de adequação de conteúdos, que poderá determinar a
omissão, inclusão ou reformulação dos mesmos), no decurso da qual se deverá procurar elaborar
um guia de estilos a aplicar a todos os textos
6.
Todavia, a produção destes textos já foi feita tendo em conta as características do
público-alvo: procurou-se redigir textos de leitura fácil, sem aparato crítico e que fornecessem ao
leitor um «guião» de apoio à visualização das fotografias.
Como já dissemos, os textos que acompanham o acervo fotográfico são dois: um de
enquadramento histórico geral, da autoria de Manuel Loff, e outra que narra a história de vida de
Sérgio Valente, de nossa autoria.
No primeiro texto procura-se fazer uma contextualização histórica da sociedade
portuguesa entre os anos de 1960 e 1974, focando-se os aspectos mais marcantes dessa evolução
(as migrações internas, o fenómeno da emigração, a guerra colonial, o êxodo rural e a
urbanização, a industrialização e terciarização da economia, a evolução do mercado de trabalho, a
construção dos primeiros alicerces do Estado-Providência, a massificação da escolarização, e
«repolitização» da sociedade, etc.), procurando descrever aquilo que se pode considerar como a
emergência da sociedade de massas em Portugal, que enquadra a vida e a época fotografada por
6
Legendre, Bertrand, «La Sphère Editorial», Legendre, Bertrand (Dir.),
Les Métiers de L’Édition, [s.l.], Éditions du
Cercle de la Librairie, 2007, pp. 72-74; Coelho, Sérgio,
Uma Questão de Fé, texto disponível em
http://blogtailors.blogspot.com/2010/02/opiniao-uma-questao-de-fe-por-sergio.html (Acedido em 24/02/2010).
19
Sérgio Valente. Este texto introdutório é documentado com inúmeros dados estatísticos que são
incluídos com o objectivo de dar ao público leitor destes conteúdos (que se pretende o mais
alargado possível) uma visão panorâmica rigorosa e fundamentada daquilo que foi a sociedade
portuguesa das décadas de 1960-1970, da qual se pretende, precisamente, dar uma perspectiva
«visual» com o espólio de fotografias que se pretende publicar.
O texto com a história de vida de Sérgio Valente, por seu turno, está estruturado de
acordo com as fases mais relevantes da sua vida pessoal,
que não coincidem, necessariamente,
com momentos relevantes da história do país. Encontra-se dividido em quatro partes que
procuram dar a conhecer quatro momentos estruturantes da vida do fotógrafo: 1) a sua iniciação
política e a forma como, consciente e retrospectivamente, o fotógrafo afirma que foi ganhando
percepção para a situação política e social do país; 2) o serviço militar e as estratégias que então
desencadeou para evitar ser mobilizado para a Guerra Colonial nas colónias portuguesas; 3) as
prisões políticas de que foi alvo e o enorme sofrimento, físico e psicológico, que daí lhe adveio; 4)
o crescente envolvimento nas actividades da oposição e em vários movimentos de acção colectiva
na cidade do Porto e sua região, corolário do que considerou ter sido um processo de
amadurecimento político e cívico, que acabaria por definir a sua luta contra o regime ditatorial do
Estado Novo como um objectivo incontornável na sua vida pessoal.
Nesta medida, este texto procura não só fornecer o testemunho pessoal da vida do
indivíduo Sérgio Valente como, simultaneamente, pretende complementar e explicar o contexto e
a motivação em que as fotografias foram produzidas.
Dentro da rubrica «textos», há ainda que referir as legendas. A regra principal assumida
para a legendagem das fotografias foi a de procurar ser o mais exaustivo possível para cada uma
das fotografias, sempre que tal se revelou possível. Se bem que isso tenha levado, em alguns casos,
ao fornecimento de informação redundante ou excessiva e pouco útil para a compreensão das
fotografias (como, por exemplo, a identificação de pessoas somente pelo nome próprio ou a
repetição de alguns nomes), entendemos que só desta forma se poderá melhor valorizar o
potencial que as fotografias podem ter. O objectivo foi o de recuperar a maior quantidade
possível de informação, correndo-se, no entanto, o risco de alguma repetição. Em todo o caso, se
o projecto for alvo de edição comercial haverá certamente uma nova revisão em sede de produção
editorial.
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A legendagem serviu também, por outro lado, pelo esforço de datação que exigiu, para a
ordenação cronológica das fotografias seleccionadas.
Finalmente, o texto que constitui o prefácio foi redigido de acordo com o livre critério
do seu autor e foi inserido tal como no-lo entregou. A única indicação previamente dada foi o seu
conteúdo não poder ultrapassar mais de uma página e ter de se referir ao espólio de fotografias de
Sérgio Valente e procurar, de alguma forma, destacar o seu valor.
Os textos apresentados neste projecto estão, como se disse, em estado bruto, isto é,
encontram-se na sua fase de «original», tal como foram redigidos pelos seus autores. Isto significa
que terão ainda que ser alvo de edição, sobretudo ao nível de normalização de texto e de revisão
linguística. Este é um trabalho eminentemente técnico, para o qual existem várias ferramentas de
trabalho como as gramáticas, prontuários ou dicionários. Contudo, estas ferramentas não definem
regras para todas as situações com que se depara um técnico editorial. Num trabalho de edição há
sempre necessidade de definição de um guia de estilos, que se destina a fornecer as regras de
uniformização gráfica, garantindo que situações semelhantes são resolvidas de forma semelhante
(nos casos em que existem várias soluções válidas), evitando-se, assim, a criação de «ruído» na
leitura de qualquer livro.
Neste sentido, o que propomos nas seguintes linhas é um sucinto guia de estilos que
deverá nortear uma futura edição e revisão dos conteúdos escritos produzidos para este projecto.
Valores de 1 a 9 por extenso; de 10 em diante em algarismo;
Os algarismos vão juntos até ao 9999; deve ser dado um espaço entre o algarismo das
centenas e dos milhares a partir de 10 000;
Nos decimais deve usar-se a vírgula;
A indicação das percentagens deve vir por extenso (50 por cento e não 50%);
A designação de décadas deve ser feita de forma numérica, e não por extenso (década de
70, e não década de setenta);
Datas, idades, números de documentos legais, graus de temperatura, dinheiros nacionais e
estrangeiros, quantidades ou números estatísticos escrevem-se em numeração;
21
Para as citações ou destaque de palavras de significado não consensual devem usar-se
sempre as aspas («»); para citações dentro de citações, usam-se plicas (―‖); para citações
dentro de citações, que estão dentro de citações, usa-se o apóstrofe (‗‘);
Para destacar frases intercaladas deve usar-se o travessão (–) e não o hífen (-);
Nomes de títulos de obras, jornais, filmes, obras musicais (álbuns) e obras de arte devem
vir em itálico;
Capítulos de livros, artigos de jornais e faixas de um álbum musical devem vir entre aspas;
Deve escrever-se quilómetro, e não km (assim como todas as unidades de medida e de
capacidade devem ser escritas por extenso: metro, grama, litro, etc.);
Estrangeirismos ou expressões em latim devem vir a itálico
Topónimos e antropónimos estrangeiros devem vir, sempre que possível, aportuguesados;
A indicação de séculos (
XVI
) e siglas deve vir em versaletes (nota: a palavra século deverá
vir sempre escrita por extenso);
Na escrita de siglas, não se deve usar pontos a separar as iniciais (ONU e não O.N.U.;
INE e não I.N.E.);
As siglas não têm plural (os DVD e não os DVDs)
As referências bibliográficas deverão ser organizadas do seguinte modo: apelido(s) do(s)
autor(es), seguido do(s) nome(s) próprio(s), do ano de edição entre parêntesis, título da
obra em itálico (ou do artigo entre aspas, caso em que se segue o título da publicação em
que está inserido em itálico), local de edição, editora e páginas (quando se aplica)
(Exemplo 1: Godinho, Paula (2001),
Memórias da Resistência Rural no Sul. Couço (1958-1962)
,
Oeiras, Celta Editora; Exemplo 2: Pereira, João Cordeiro (1998), «A Estrutura Social e o
seu Devir», in Dias, João José Alves (Coordenação),
Portugal. Do Renascimento à Crise
Dinástica
, volume V, Lisboa, Editorial Presença, pp. 277-336);
3.2|Fotografias
As fotografias são a parte essencial deste projecto. São o objecto que se pretende editar,
que, como dissemos, representam uma selecção de 500 fotografias de um acervo de mais de cinco
mil fotografias inéditas, propriedade de Sérgio Valente. Há, no entanto, duas excepções
22
relativamente à origem e paternidade das fotografias: as primeiras duas fotografias, da campanha
eleitoral de 1958, que foram cedidas a título gracioso pela Fundação General Humberto Delgado;
e cerca de dezena e meia de fotografias, com imagens da repressão por parte da polícia nas ruas de
Aveiro, durante o III Congresso da Oposição Democrática, que são de autor anónimo e foram
cedidas por Pereira de Sousa, seu actual proprietário.
Como constituem a parte essencial do projecto, as fotografias ocupam o lugar central na
estrutura gráfica e estão ordenadas pela ordem cronológica apurada para cada uma delas. Serão
enquadradas pelas legendas e será em função delas que se disporá, em trechos variáveis, a parte
dos conteúdos textuais relativa à história de vida do fotógrafo.
As fotografias serão apresentadas em alta resolução (têm todas um mínimo de 300 dpi –
dots per inch
), e serão inseridas, com qualidade, no seu formato real. Neste projecto serão
simulados, na rubrica de design editorial, diferentes formatos em que estas fotografias poderão ser
inseridas, uns para situações de uma fotografia por página, outros para permitir mais do que uma
fotografia por página, até a um máximo de quatro fotografias por página.
3.3|Outros Elementos
De referir, finalmente, que os conteúdos reunidos para este projecto incluem ainda
alguns documentos «avulso» (cédula militar, recortes de jornais, etc.), também pertencentes a
Sérgio Valente, que foram digitalizados para serem aqui incluídos. São em número reduzido e
procuram fornecer alguma informação adicional para complementar os textos e fotografias.
23
4|Design Editorial
Na presente rubrica o que se pretende fazer é somente apresentar uma proposta de design
editorial para o original do projecto aqui apresentado e fundamentar todo um conjunto de opções
a este nível para a sua futura edição. Como já foi dito, propõe-se com este projecto a edição de
uma publicação que associe as características de uma obra com funções de informação,
susceptível de transmitir eficazmente o conhecimento historiográfico consubstanciado nos seus
conteúdos escritos e iconográficos e, simultaneamente, as características de um livro de
fotografias ou livro de arte, com uma estrutura e qualidade gráfica que dê igual importância e
visibilidade às fotografias e ao texto informativo
7. Neste sentido, propõe-se que se adopte um
livro com um formato com largura suficiente para as fotografias terem uma dimensão que permita
uma visualização o mais detalhada possível, garantindo, no entanto, que seja um formato
facilmente manuseável para, igualmente, facilitar a leitura. Pretende-se, em suma, propor uma
estrutura gráfica sóbria, simétrica (entre páginas) e, ao mesmo tempo, atractiva, apelativa e
duradoura.
Por outro lado, sendo um livro de fotografias, significa isto que, nas propostas que
adiante se farão, os critérios da qualidade e valorização estética, sobretudo no que diz respeito à
escolha do papel, prevalecerão sobre os critérios materiais. Obviamente que esta escolha se
prende com o facto de se tratar de um projecto. Na eventualidade de uma futura edição
comercial, as características materiais do projecto terão que ser definidas de acordo, também, com
critérios económico-financeiros que permitam a viabilização comercial de uma edição que tem
custos de produção elevados (não nos aqui esquecendo que a edição, enquanto indústria cultural,
é uma indústria de retorno ao investimento de longo prazo)
8.
São quatro os vectores que teremos em consideração para a proposta de design editorial
do presente projecto: a estrutura do livro, a grelha, a tipografia e o papel.
24
4.1|Estrutura
Para este projecto editorial aponta-se a seguinte estrutura de organização interna (vulgo
miolo): capa, folha de anterrosto, folha de rosto, ficha técnica no verso desta, nota prévia,
prefácio, um capítulo só de texto, um capítulo composto de texto e imagens, aconselhamento
bibliográfico, índice e cólofon.
A ficha técnica, elaborada de acordo com a NP 738 de 1987, deverá incluir o título,
editor, local e ano de edição. O ISBN vai simulado, uma vez que este projecto não é, em si,
objecto de comercialização, pelo que não há qualquer obrigação de emissão daquele número.
A nível exterior, para a concepção da capa sugere-se uma fotografia do fotógrafo,
contemporânea da época do espólio de fotografias, que deverá cobrir toda a superfície da capa,
em cor sépia. O título («Sérgio Valente») deverá ser inscrito na parte superior da capa, com
tipografia Bodoni MT negrito, corpo de 30 pontos, alinhado à direita, a cor branca; e o subtítulo
(«Um Fotógrafo da Oposição) terás as mesmas características, com a excepção que irá em Bodoni
MT regular. Na capa deverá ser também incluído o logótipo da hipotética editora ao centro da
capa, a 12 mm de distância do limite inferior da capa.
A contracapa será composta por uma superfície lisa de cor semelhante à cor dominante
da fotografia da capa (cor semelhante ao sépia), incluirá um
blurb
com um breve resumo do livro,
informação sobre o fotógrafo e/ou um excerto de um comentário ao livro e/ou ao autor, o
código de barras e endereço electrónico (se se aplicar). O texto da contracapa deverá ser escrito
com tipografia Bodoni MT regular, corpo de 14 pontos e ser alinhado à esquerda. O código de
barras não deverá ultrapassar os 30 mm x 20 mm e deverá ser orientado verticalmente, sendo
acompanhado, pelo lado da lombada, do endereço electrónico em tipografia Bodoni MT regular,
com corpo de 14 pontos. Tanto um como outro deverão distar 20 mm em relação à lombada.
Para o título da capa e o texto da contracapa, assim como para a disposição da restante
informação, deverá considerar-se uma margem exterior, na capa e na contracapa, de 30 mm, pela
8
Cf. Hjorth-Andersen, «Publishing», Towse, Ruth (ed.), A Handbook of Cultural Economics, Cheltenham, Edward Elgar
Publishing, 2003, pp. 402-403; e Robin, Christian, «La Gestion», Legendre, Bertrand,
Les Métiers de l’Édition, Paris,
Éditions du Cercle de la Librairie, 2007, p. 299.
25
qual se deverá fazer os referidos alinhamentos, uma margem superior e inferior de 20 mm e uma
margem de 20 mm em relação à lombada (do lado da capa e da contracapa).
A lombada deverá ser rectilínea e, de acordo com a NP 3193 de 1987, deverá incluir o
título horizontalmente. Como se trata de uma obra colectiva, não se aplica a inclusão do nome de
um autor na lombada. Poder-se-ia considerar o fotógrafo Sérgio Valente como a designação de
autoria, dado as fotografias serem o elemento de maior relevância, mas uma vez que o nome já vai
integrado no título, inserir o seu nome juntamente com o título afigurar-se-nos como redundante.
Para este projecto estudamos uma badana com uma largura de 50 mm, prevendo que o volume de
uma futura publicação deste projecto poderá justificar essa medida.
O título na lombada deverá ser escrito em tipografia Bodoni MT negrito, com corpo de
24 pontos, alinhado ao centro e orientado para a direita. O subtítulo terá as mesmas
características, com a excepção do estilo que será regular. A lombada deverá ter o logótipo da
hipotética editora, mas, à semelhança da capa, este deverá estar orientado horizontalmente e a 12
mm de distância do limite inferior da capa (Apêndice I).
4.2|Grelha
Todo e qualquer projecto gráfico impresso pressupõe uma grelha, uma estrutura, mais
ou menos complexa, que divide o espaço da página em blocos de espaço (os campos, definidos
através de colunas e goteiras horizontais e verticais) que servem para orientar a colocação do
texto, das imagens, das várias hierarquias de títulos, cabeçalhos e fólios, define a largura das
margens e determina a área de impressão
9. De vários ensaios efectuados, resultou a opção das
seguintes características gráficas para o presente projecto, no que à definição da grelha diz respeito
(Apêndices I e II):
Formato: 270 mm x 210 mm
Margens (Sup. X Inf. x Int. x Ext.): 20 mm x 20 mm x 25 mm x 35 mm
Colunas: 5
Goteiras verticais: 4 mm; Goteiras horizontais: 4 mm
26
Campos: 25 campos (área por campo: aprox. 38 mm x 30 mm)
Fonte/Corpo/Entrelinha para Texto: Bodoni MT/12/14 pontos
Alinhamento/Estilo de Texto: Justificado/Regular
Fonte/Corpo/Entrelinha para Títulos 1: Arial/14/16,8 pontos
Alinhamento/Estilo de Título 1: Em Bandeira à Direita/Negrito (a indicação de autores
em estilo regular)
Fonte/Corpo para Títulos 2: Arial/12
Alinhamento/Estilo de Título 2: Em Bandeira à Esquerda/Itálico
Fonte/Corpo/Entrelinha para Legendas: Arial/8/11 pontos
Alinhamento/estilo de Legenda: Em Bandeira à Esquerda (páginas ímpares); em Bandeira
à Direita (páginas pares)/negrito e regular
Fonte/ Corpo/Estilo para Fólio: Arial/8/regular e negrito
A opção por um formato bastante próximo do A4 justifica-se pela necessidade de espaço
suficiente para a distribuição do texto e do considerável número de fotografias. Com estas
dimensões, acreditamos que a mancha gráfica ficará com espaço suficiente para uma distribuição
de conteúdos que não seja demasiado preenchida, além de que a opção por um formato mais
reduzido implicaria um maior número de páginas, o que poderia aumentar demasiado a espessura
e «peso» de uma futura publicação deste projecto. Por outro lado, ao optar-se aqui por um
formato ligeiramente diferente do A4 (com menos 27 mm de comprimento), pretende-se evitar
um formato que possa parecer padronizado e «familiar» ao leitor.
A proposta de grelha com cinco colunas, que, com quatro goteiras horizontais, dá um
total de 25 campos, prende-se com a necessidade de versatilidade da estrutura gráfica para o jogo
entre os vários elementos da página (texto, fotografias, legendas). Também por isso se propõe um
formato rectangular com uma orientação de página horizontal (de entre os três formatos mais
comuns: rectângulo com orientação horizontal, rectângulo com orientação vertical e formato
quadrado)
10. Dessa forma, possibilita-se que a largura das colunas seja ligeiramente maior do que
se a opção recaísse numa orientação de página vertical, o que é importante para criar condições de
largura suficiente para a disposição do texto.
27
As cinco colunas da grelha dão também bastante flexibilidade para a manipulação das
fotografias a dispor em cada página, podendo o número destas por cada página variar entre uma e
o máximo de quatro fotografias, que poderão ser inseridas no espaço de quatro áreas (valores
aproximados): de 210 mm x 170 mm, de 124,4 mm x 170 mm, 124,4 mm x 98 mm e 81,6 mm x
64 mm. Ao serem dispostas adentro de cada uma daquelas áreas, não é estritamente necessário
que as fotografias ocupem a totalidade da área, se bem que a regra deverá ser as fotografias
«encaixarem» nas áreas em que se opte colocá-las (ver Apêndice II).
Para a disposição destas fotografias, e dada a necessidade de legendagem, apontam-se
algumas regras (para além da que acabamos de enunciar). Assim, sempre que se opte por uma
fotografia de página inteira (que ocupe as cinco colunas), a página do lado deverá ter sempre a
coluna interior livre para permitir inserir aí a legenda da fotografia relativa à página inteira. O que
significa que a página que acompanha uma página com uma fotografia de página inteira não
poderá ter uma fotografia que ocupe toda a área da mancha gráfica (que está delimitada pelas
áreas supra definidas).
Outra regra é o limite máximo de quatro fotografias por página, que se justifica para
evitar o excesso de informação iconográfica, para permitir que as fotografias tenham dimensões
suficientes para a percepção do maior número de detalhes e para evitar que seja retirado espaço
necessário para as legendas. Uma «página média» deste projecto terá duas ou três fotografias.
Por fim, tanto quanto possível, deverá procurar-se evitar um seguimento demasiado
longo de fotografias sem a presença de texto (para além das legendas, bem entendido). E,
obviamente, os conteúdos textuais da história de vida do fotógrafo devem acompanhar as
imagens com as quais estejam relacionados.
4.3|Tipografia
A escolha das fontes que se propõe visa, naturalmente, a legibilidade, um dos objectivos
principais do uso toda a tipografia
11. É esta preocupação de legibilidade e pragmatismo que nos
10
Haslam, op. cit., p. 30.
11
Kane, John, A Type Primer, Londres, Laurence King Publishing, 2002, p. 81; Zappaterra, Yolanda, Editorial Design,
28
leva a propor a escolha de uma tipografia serifada para o corpo de texto principal e uma fonte
não-serifada para os títulos e legendas.
A escolha de uma fonte serifada para o corpo de texto será a mais indicada, porquanto
são as serifadas que melhor se prestam para uma leitura de textos mais ou menos longos; as
serifas, em particular – os pequenos segmentos de recta que rematam as hastes –, permitem criar
uma noção de horizontalidade do texto que facilita a leitura
12. A fonte que aqui se propõe é a
Bodoni Monotype, uma variação da tipografia Bodoni criada pelo tipógrafo italiano Giambattista
Bodoni (1740-1813), que se caracteriza pelo contraste acentuado entre as hastes e filetes, pelos
remates finos e pelo seu carácter vertical. É uma tipografia simples e elegante, que esteve na
origem das tipografias modernas e desde a sua invenção que tem sido usada em vários periódicos
e livros italianos.
A verticalidade da Bodoni Monotype, associada a um corpo e a um
leading
(entrelinhamento) de texto generosos (que se recomendam particularmente para este tipo),
garante uma mancha gráfica bastante equilibrada e, como tal, com bastante legibilidade
13. Deste
modo, ao permitir, por um lado, reduzir a densidade da mancha gráfica, permite-se que o leitor
não se canse demasiado com a leitura do texto (essencial para a compreensão e acompanhamento
da visualização das fotografias); por outro lado, com um corpo de letra generoso e uma extensão
de linha de 124,4 mm por página (cerca de 65 caracteres, sem espaços), permite-se que o leitor
distribua a sua atenção de forma equilibrada entre o texto e as fotografias. E o que se pretende
com isto é, precisamente, criar um diálogo entre texto e fotografias.
Para os títulos e legendas, para criar um contraste com a tipografia serifada da mancha
gráfica, impõe-se que se opte por uma fonte não serifada
14. A fonte não serifada que se propõe é a
Arial, uma fonte industrial, criada em 1982 por Robin Nicholas e Patricia Saunders. Procurando
imitar a Helvética, a tipografia Arial caracteriza-se pela sua versatilidade, arcos e curvas suaves e
terminais cortados em diagonal, o que lhe confere um aspecto menos mecânico. O uso desta
tipografia não serifada não constitui propriamente uma inovação, sendo hoje o seu uso bastante
corrente, sobretudo desde que passou a estar disponível em vários programas informáticos; mas o
12
Zappaterra, op. cit., pp. 132-133; Dabner, David, Guia de Artes Gráficas: Design e Layout, Amadora, Editorial Gustavo
Gili, 2003, p. 38.
13
Biker, João,
Manual Tipográfico de Giambattista Bodoni, Coimbra, Almedina, 2001, pp. 38-39; Heitlinger, Paulo,
Tipografia. Origens, Formas e Uso das Letras, Lisboa, Dinalivros, 2006, p. 101.
29
que perdemos aqui em inovação ganhamos em pragmatismo, na medida em que é uma tipografia
com que, provavelmente, a grande maioria dos potenciais leitores deste projecto já está
familiarizada, é acessível e económica. Não sendo inovadora, é, na nossa perspectiva, uma fonte
perfeitamente indicada para criar contraste com a mancha de texto principal e criar momentos de
pausa na atenção do leitor.
4.4|Papel
Com um número tão elevado de fotografias, este projecto editorial é eminentemente
artístico, tendo em conta a tipologia de livros proposta por Hochuli e Kinross
15. Por isso, e como
já referimos, é este o critério que deverá prevalecer na escolha do papel, mais do que critérios
económicos. São sete as características que devem ser tidas em consideração para a escolha deste
elemento essencial em toda e qualquer publicação impressa (na realidade, é o suporte sem o qual a
publicação impressa nem sequer existe): o formato, o peso, o grão ou fibra, a opacidade, a
espessura (índice de mão), acabamentos e a cor
16.
Relativamente ao formato a usar para este projecto, o essencial já foi dito atrás. Sugere-se
um formato de 270 mm x 210 mm por entendermos ser um formato com largura necessária e
suficiente para a disposição de conteúdos textuais e iconográficos. A opção por um formato mais
reduzido poderia criar páginas demasiado preenchidas de conteúdos e determinaria um maior
número de páginas. Tanto um como outro são aspectos que concorrem para um potencial peso
«excessivo» deste projecto editorial. Acreditamos que com o formato próximo do A4 que aqui
propomos este aspecto do peso poderá ser mais facilmente obviado. Por outro lado, é um
formato economicamente mais rentável (isto é, implica pouco desperdício de papel). Se bem que a
determinação rigorosa desta rentabilidade só possa ser feita em função da máquina em que se faça
a impressão do livro – cada máquina de impressão tem o seu formato de papel mais rentável, que
pode diferir de outras máquinas – o formato A4 é, actualmente, considerado um dos formatos
mais rentáveis para a generalidade das máquinas de impressão em
offset
.
O peso e a espessura do papel são dois aspectos indissociáveis, se bem que distintos.
Mas o que importa referir relativamente a estes dois aspectos é a questão da escolha do papel
15
Hochuli; Kinross, op. cit., p. 62.
16Haslam, op. cit., pp. 191-199.
30
dever procurar um equilíbrio entre a qualidade e a preocupação de evitar o peso «excessivo» que
acabamos de referir. Uma edição de qualidade, como se pretende para este projecto, implica a
escolha de um papel grosso e pesado. No entanto, com 500 fotografias a inserir, estima-se que
este projecto venha a necessitar de um número elevado de páginas. Com efeito, se tomarmos em
consideração a página média com 2 ou 3 fotografias, o número de páginas necessárias para todo o
projecto rondará as 170 e as 250 que, com os textos, poderá chegar facilmente às 300. As dezenas
de obras com elevado número de elementos iconográficos que analisamos para este projecto
raramente ultrapassavam a centena e meia de páginas. Por isso, a escolha do papel que se sugere
para este projecto deverá procurar um equilíbrio entre a escolha de um papel suficientemente
grosso para manter o aspecto de qualidade do projecto e, ao mesmo tempo, não ser demasiado
grosso que aumente o peso do mesmo.
A importância da espessura do papel prende-se, mais especificamente, com a calibragem
do papel e com as implicações que isso tem na determinação da largura da espinha (ou
lombada)
17. Como é previsível que a espinha seja suficientemente grossa, as preocupações com a
espessura do papel são as mesmas apontadas para o peso.
A preocupação com o grão ou a fibra visa apenas garantir que o papel usado tenha veios
(ou fibras) na direcção apropriada. Estes veios facilitam o processo de viragem das páginas de um
livro impresso se estiverem orientados na vertical
18. E neste projecto dever-se-á procurar garantir
a orientação dos veios mais apropriada, tendo em conta a particularidade deste projecto ter uma
orientação horizontal, ou seja, apesar de ser um formato próximo de um formato padrão, o
manuseamento deste projecto será diferente daquele. Por isso, deverá procurar-se, tanto quanto
possível, seleccionar um tipo de papel com veios orientados na vertical.
Por outro lado, o papel deverá ser opaco. Com efeito, tendo fotografias e texto em
ambos os lados das páginas, o papel escolhido deverá garantir que a luz não passe para o verso da
página. Não se ganha qualquer mais-valia gráfica com a transparência, além de que, a existir, a
legibilidade será afectada.
Na rubrica dos acabamentos importa aqui reter que o papel seleccionado deverá ser
revestido – para melhor reflectir a luz, absorver menos tinta durante a impressão e permitir
imagens com maior precisão de detalhes – e deverá ter algum brilho (que também cria um bom
17