REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
ww w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r
Artigo
original
Dor
lombar
inespecífica
em
adultos
jovens:
fatores
de
risco
associados
Rita
Neli
Vilar
Furtado
a,∗,
Luiza
Helena
Ribeiro
a,b,
Bruno
de
Arruda
Abdo
b,
Fernanda
Justo
Descio
b,
Celso
Eduardo
Martucci
Junior
be
Débora
Coutinho
Serruya
baUniversidadeFederaldeSãoPaulo,SãoPaulo,SP,Brasil bUniversidadeNovedeJulho,SãoPaulo,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo: Recebidoem15dejaneirode2014 Aceitoem26demarçode2014 On-lineem6dejulhode2014 Palavras-chave: Dorlombar Adultosjovens Fatoresderiscor
e
s
u
m
o
Objetivo:Oobjetivodoestudofoi avaliarfatoresde riscopotenciaisparadorlombarna
rotinadiáriadedoisgruposdejovens:indivíduoscomqueixadedorlombareumgrupode
controle.
Métodos:Aamostraconsistiude198estudantesemidadeuniversitária(homensemulheres),
entre18e29anos.Deacordocomosdiagnósticosdedornascostas,osparticipantesforam
separadosemdoisgrupos:comousemdorlombarcrônicainespecífica.Ambososgrupos
foramavaliadosporumobservador“cego”,i.e.desconhecedordapresenc¸aoudequalquer
outraindicac¸ãodedorlombar.Foramaplicadosquestionáriosrelativosàscaracterísticas
clínico-demográficas,estilodevida,qualidadedevida(questionárioSF-36),dorpelaescala
visualanalógica(EVA)eexamefísico.
Resultados: Umaanálise univariadademonstrouuma associac¸ãoestatisticamente
signi-ficativa(p<0,05)entrepresenc¸a dedorlombare algunsfatores.Houveumaassociac¸ão
negativaentredorlombareasseguintesvariáveis:IMC,autoavaliac¸ãodasaúde/EVAealguns
domíniosdoSF-36(func¸ãofísica,dorcorporal,saúdeemgeral,vitalidade,func¸ãosocial).
Houveumacorrelac¸ãopositivacomasseguintesvariáveis:dorglobalporEVA,presenc¸a
dedordifusaenúmerodepontossensíveis.Contudo,aanálisemultivariadademonstrou
correlac¸õesestatisticamentesignificativas(p<0,05)entredorlombarepoucasvariáveis:dor
globalporEVAenúmerodepontossensíveis.
Conclusão:Algumasvariáveisrelacionadasàdordifusacrônicaeàmáqualidadedevida
podemestarassociadasàdorlombarcrônicaemadultosjovens.Mashánecessidadede
estudoslongitudinais.
©2014ElsevierEditoraLtda.Todososdireitosreservados.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:rvfurtado@hotmail.com(R.N.V.Furtado).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2014.03.018
Nonspecific
low
back
pain
in
young
adults:
associated
risk
factors
Keywords:
Lowbackpain
Youngadults
Riskfactors
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective: Theaimofthestudywastoevaluatepotentialriskfactorsrelatedtolowback
paininthedailyroutinesoftwosetsofyouths:individualscomplainingofchroniclowback
painandacontrolgroup.
Methods: The sampleconsisted of198university-agestudents(maleand female)aged
between18and29.Inaccordancewithbackpaindiagnoses,theywereseparatedintotwo
groups:withorwithoutnonspecificchroniclowbackpain.Bothgroupswereevaluatedbya
“blinded”observerwithnoknowledgetothepresenceorotherwiseoflowerbackpain.
Ques-tionnairesconcerningclinical-demographiccharacteristics,lifestyle,qualityoflife(SF-36
questionnaire),painvisualanalogicalscales(VAS),andphysicalexaminationwereapplied.
Results: Aunivariateanalysisshowedastatisticallysignificantassociation(P<0.05)with
thepresenceoflowbackpainandsomefactors.Therewasanegativeassociationbetween
lowbackpainandthefollowingvariables:BMI,healthself-assessment,VASandsome
SF-36domains(physicalfunctioning,bodypain,generalhealth,vitality,socialfunctioning).
Therewasapositivecorrelationwiththefollowingvariables:globalpainbyVAS,presence
ofdiffusepainandnumberoftenderpoints.However,themultivariateanalysisshowed
statisticallysignificantcorrelations(P<0.05)betweenlowbackpainandfewvariables:global
painVASandnumberoftenderpoints.
Conclusion: Somevariablesrelatedtochronicdiffusepainandlowerqualityoflifemight
beassociatedtochroniclowbackpaininyoungadults.However,longitudinalstudiesare
necessary.
©2014ElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Atualmente, a dor lombar é um dos mais difundidos
problemasdesaúdepúblicaenfrentadospelomundo
indus-trializado,porafetarumagrandepartedapopulac¸ãoepor
constituirpesadoônusparaossistemasnacionaisdesaúdee
deprevidênciaemtermosdediagnóstico,tratamento,
absen-teísmo e aposentadoria prematura. Acrescente-se a isso o
impactopsicossocialcausadopeloprematuroafastamentode
pessoas, ativassobos demaisaspectos, desuasatividades
cotidianas.1,2
Estima-se que aproximadamente 80% da populac¸ão
sofra de dornas costas emalgum ponto de suasvidas. A
ocorrência de dor lombar aguda é elevada; algo em torno
de15%-30%dapopulac¸ãosofreessacondic¸ão,sobretudona
vidaadulta.Ditoisso,estudosepidemiológicosdemonstraram
aumentoda ocorrênciadelumbagomecânicoemcrianc¸as,
adolescenteseadultosjovens.Estimativassituama
prevalên-ciaacumuladanessapopulac¸ãoemcercade30%.3–5
As causas secundárias de lumbago na populac¸ão mais
jovemsempreforammotivodepreocupac¸ãomédica,poissua
ocorrênciaéconsideradacomoum“alerta”,quandoadornas
costasafetaessafaixaetária.Noentanto,adorlombar
ines-pecíficaéaindaaprincipalcausanessapopulac¸ão.5
Estudos já publicados detectaram o que são
considera-doscomofatoresderiscopossivelmenteconducentesàdor
inespecíficanascostasentrecrianc¸aseadolescentes.Entre
esses fatores, encontramos as alterac¸ões biomecânicas na
coluna vertebral causadas por excesso de carga mecânica
(mochilaspesadas,porexemplo),posturaincorretae
carac-terísticasergonômicasdascarteiraseassentosescolares.6–12
Aocorrênciadedorinespecíficanascostastambémpodeser
rastreadaatéapráticadecertosesportesduranteainfância
e/ouadolescência.13–22
Damesmaformaquenadornascostasentreapopulac¸ão
adulta,outrosfatoresderiscoparaaocorrênciaoupiorada
dorlombarentreosjovenssãoosedentarismo,tabagismoe
asalterac¸õespsicossociais.13–17
Oobjetivodopresenteestudofoiavaliaraexistência de
possíveis fatores de risco relacionados à dor lombar ou a
alterac¸õesno examefísico nasrotinas diáriasde dois
gru-posdejovens:umconsistindodeindivíduoscomqueixade
dorlombarcrônicaeooutro–ogrupodecontrole–semtal
queixa.
Métodos
Coligimosumaamostrarepresentativade198estudantesem
idadeuniversitáriaemSãoPaulo,Brasil.Aamostraconsistia
demulheresehomenscomidadesentre18e29anos.
Indiví-duoscomdiagnósticopréviodealgumaenfermidadeespinhal
oudedorlombarsugestivade causassecundárias,pessoas
comciáticaeindivíduosquetinhamsidosubmetidos
previa-menteaalgumacirurgiaespinhalforamexcluídosdoestudo.
Como critériodiagnóstico paradorlombarcrônica
ines-pecífica, escolhemos apersistênciada dorao longodeum
período detrês meses,emumaregião das costasentreas
costelasmaisinferioreseapregaglútea.18
De acordo com os diagnósticos de dor lombar crônica,
osparticipantes foramseparadosemdois grupos:(1)grupo
1: indivíduos com dorlombar crônica inespecífica (CDL);e
(SDL).Essegrupoincluiuaquelesparticipantesnãopadecendo
dedorlombarcrônicainespecíficaporocasiãodoestudoe
aquelesquejamaisapresentaramsintomasdelumbago
crô-nico.
Os participantes foram randomicamente escolhidos e
incluídosnoestudo.
Avaliac¸ão
Inicialmente,osparticipantesforamsolicitadosapreencher
umformuláriodeautoavaliac¸ão,tendosidoemseguida
avalia-dosporumobservador“cego”,semconhecimentodapresenc¸a
oudequalqueroutra indicac¸ãode dorlombar.Foram
apli-cadosquestionários concernentesà regiãolombar eforam
realizados exames físicos, além de pontos sensíveis para
“fibromialgia”.
Aautoavaliac¸ãoforneceuasseguintesinformac¸ões:
• Características clínico-demográficas: cor, gênero, idade,
pesoealtura;
• Estilodevidaehábitos:tabagismo,usodeálcooloudrogas
ilícitas,exercíciofísico;
• Antecedentespessoaisefamiliarescomrelac¸ãoàdor
lom-bar;
• Aspectosrelacionadosàsaúdemental:ansiedade,
instabi-lidadeemocional,distúrbiosdosono;
• Escalavisualanalógicaparadorlombar:0-10cm(dor
lom-barporEVA);
• Pesquisadedoremgeral:notificac¸ãodedordifusaede
cefa-léia; escalavisualanalógicaparadordifusa:0-10cm(dor
difusaporEVA);notificac¸ãodousodeanalgésicos.
Asseguintesvariáveis dedesfecho foramaplicadaspelo
observador“cego”paraosgrupos:
• Escalavisualanalógicaparaavaliac¸ãodasaúdeemgeral:
0-10cm(saúdeemgeralporVAS);
• PesquisadesaúdeporSF-36:questionáriosobrequalidade
devida;19
• Testedetocarosdedosdospésnaposic¸ãoereta:paraavaliar
aflexibilidadedaregiãolombar;
• TestedeSchober:paratestaracapacidadedeflexionara
regiãolombar;
• Númerodepontossensíveis:18pontosnototal.
Análiseestatística
Para comparar as características clínico-demográficas e os
fatorescomportamentaisdosdoisgrupos,utilizamosoteste
tdeStudentnaanálisedasvariáveiscontínuas,eotestedo
qui-quadradoparaanalisarasvariáveiscategóricas.
Paraavaliaraassociac¸ãoentrecadavariávelconsiderada
comopossívelfatorderiscoparadorlombarepresenc¸ade
dorlombar,efetuamosumaanáliseunivariada.Aqueles
fato-resparaosquaisforamobtidoscoeficientesestatisticamente
significativosforamanalisadosconjuntamentepormeiode
umaanálisemultivariada.
Adotamosumnívelsignificânciade5%(p<0,05)paratodos
ostestes.
Tabela1–Característicasclínicasedemográficas
GrupoCDL (n) GrupoSDL (n) p Idade(média) 22,2 23,1 0,07 GêneroM:H 47:11 82:58 0,004 Rac¸a(mulatos/brancos)(%) 52 132 0,9 IMC 21,7 23,4 0,001 Tabagismo(%) 15 38 0,99 Consumodeálcool(%) 31 76 0,96 Usodedrogas(%) 13 32 0,90 Exercíciofísico(%) 10 43 0,07
Testeestatístico,Qui-quadrado.
Resultados
Nototal,198adultosjovensforamexaminados(129mulheres e69homens),commédiadeidadede22,9anos.Dessenúmero, 193 (97%)erambrancos oumulatos(tabela1). Cinquentae
oitoparticipantesforamdiagnosticadoscomopadecendode
dorlombar crônicainespecífica (grupoCDL),enquanto que
140 não apresentavam tal condic¸ão (grupo SDL). A média
VAS para o grupo CDL foi 4,92. As características
clínico--demográficas dos dois grupos estão listadas na tabela 1.
Houvediferenc¸anoporcentualdemulheresentreosdois
gru-pos(maiornogrupoCDL)eemtermosdeIMC(maiornogrupo
SDL).
As comparac¸ões entre os grupos não revelou qualquer
diferenc¸aestatisticamentesignificativaemrelac¸ãoaosfatores
deriscocomportamentaispropostos,comotabagismo,
con-sumodeálcool,usodedrogasouexercíciofísico.Entretanto,
foiobservadaumatendênciaestatísticaassociandoa
ausên-ciadedorlombarcrônicacomapráticadeexercíciosfísicos
(tabela1).
Masencontramosdiferenc¸assignificativasentreosgrupos
emconformidadecomosseguintesdesfechos,paraogrupo
CDL:gênerofeminino(p<0,05);IMCmaisbaixo(p<0,001)e
históriapréviadedornascostas(p=0,003);baixosescoresna
autoavaliac¸ão desaúde(p<0,0001);história familiar dedor
nascostas (p=0,003); cefaleiascrônicas (p=0,002);uso
crô-nicodeanalgésicos(p<0,001);dordifusa(p=0,025);VASpara
dordifusa(p=0,01);númerodepontossensíveis(p≤0,001);
rigidezmatinalnacolunavertebral(p=0,02)emáqualidadede
vida,deacordocomosdomíniosdoSF-36:func¸ãofísica,dor
corpórea,saúdeemgeral,vitalidade,func¸ãosocial(p=0,01).
Emboranãoestatisticamentesignificativa,foipercebidauma
tendênciaemfavordemaisaltaqualidadedevidanos
domí-niosdepapel-físicoesaúdementaldoSF-36(tabelas1–4).
Os testes analisadospara flexibilidade lombar (tocar os
dedosdospésedeSchober)nãorevelaramqualquerdiferenc¸a
estatisticamentesignificativaentreosdoisgrupos(tabela2).
Paraavaliaracorrelac¸ãoentrepossíveisfatoresderiscoe
apresenc¸adedorlombarcrônica,foiefetuadaumaanálise
univariada. Alguns fatores demonstraram correlac¸ão
esta-tisticamente significativacom presenc¸a de dorlombar. Foi
observadaumacorrelac¸ãonegativaentredorlombarcrônicae
asseguintesvariáveis:IMC,autoavaliac¸ãodasaúde/VASeos
domíniosdoSF-36:papel-físico,func¸ãosocial,dorcorpórea,
Tabela2–Medic¸ãodosresultadosrelacionadosàdornascostas GrupoCDL (n=58) GrupoSDL (n=140) p
Dornascostasprévia(%) 19 21 0,0008
Dornascostasemmembrodafamília(%) 36 53 0,003
MédianotestedeSchober(±SD) 4,73(±1,24) 4,86(±2,17) 0,66
Média(±SD)detoquenodedão(cm) 10,3(±11,3) 8,76(±9,55) 0,33
Rigidezmatinal(%) 25 9 0,02
MédiaVASdedornascostas(±SD) 4,92(2,03) 0
-Consumodeanalgésicos(%) 25 6 <0,0001
Testesestatísticos:TestetdeStudent;Quiquadrado.
Tabela3–Medic¸ãodosresultadosrelacionadosàdorcrônica
GrupoCDL GrupoSDL p
Dordifusa(%) 18 22 0,02
Dordecabec¸a(%) 23 25 0,002
MédiaVASdedordifusa(SD) 2,85(±3,13) 1,80(2,31) 0,01
Médiadepontossensíveis(SD) 4,81(±3,94) 1,91(±2,55) <0,0001
Testesestatísticos:TestetdeStudent;Quiquadrado.
Tabela4–Outcomemeasuresrelatedtogeneralhealth
GrupoCDLn=58 GrupoSDLn=140 p
Ansiedade(%) 49 104 0,17
Distúrbiodosono(%) 23 42 0,25
Instabilidadeemocional(%) 8 21 0,99
MédiaVASdesaúdeemgeral(SD) 7,36(±1,72) 7,93(±1,18) <0,0001
Média(SD)SF36DomaisFuncionamentofísico 84,9(±16,8) 92,20(±9,17) <0,0001
Papelfísico 78,8(±26,6) 85,8(±25,36) 0,084 Dornocorpo 59,6(±17,3) 79,5(±17,6) <0,0001 Saúdegeral 66,12(±20,16) 74,65(±15,20) 0,001 Vitalidade 52,36(±18,07) 62,48(±18,20) <0,0001 Funcionamentosocial 69,28(±24,58) 80,24(±21,53) 0,002 Papelemocional 69,67(±38,69) 86,38(±51,54) 0,22 Saúdemental 64,90(±18,87) 69,77(±16,06) 0,06
Testesestatísticos:TestetdeStudent;Quiquadrado.
seguintesvariáveis:dorglobalporVAS,presenc¸adedordifusa enúmerodepontossensíveis(tabela5).
Essasvariáveis,consideradascomotendocorrelac¸ões
esta-tisticamentesignificativasnaanáliseunivariada,foramentão
submetidas àanálise multivariada,queextraiucorrelac¸ões
estatisticamente significativas entre dor lombar crônica e
asseguintesvariáveis:dorglobalporVASenúmerodepontos
sensíveis(tabela5).
Tabela5–Nonspecificchroniclowbackpainassociatedfactors.Univariateandmultivariateanalysis
CCdaanáliseunivariável p CCdaanálisemultivaríavel p
IMC 0,846 0,003
VAS:autoavaliac¸ãodasaúde 0,971 0,053
VAS:dorgeral 1,18 0,005 0,732 0,006
Dordifusa 2,57 0,009 Pontossensíveis 1,322 0,001 1,19 0,016 DomíniosdoSF-36 Papelfísico 0,922 0,001 Funcionamentosocial 0,981 0,003 Doresnocorpo 0,945 <0,001 Saúdegeral 0,971 0,002 Vitalidade 0,981 0,001
Testesestatísticos:Análisesunivariadaemultivariada. CC:coeficientedecorrelac¸ão.
Discussão
Emsuamaioria,osestudossobredornascostasentre
gru-posetáriosmaisjovensseconcentramemgrandeparteem
ocorrênciasdecausasecundáriadacondic¸ão,especialmente
aquelasrelacionadasadoenc¸asinflamatórias.5
Estudosrecentementepublicadosdemonstraramque
fato-res biomecânicos e psicossociais também desempenham
papelimportantenagênesedadorlombar,tantoentrejovens
como entre idosos, e a maioria deles se concentram em
crianc¸aseadolescentes.20,23
Masémuitoimportanteestudarapopulac¸ãojovem,
por-queotratamentodadorlombarduranteessafasedavidapode
sercrucialparaaprevenc¸ãodaocorrênciadelumbagoagudo
emumestágiomaisadiantado.15
Opresente estudoobservou aexistência de associac¸ões
entre dor lombar crônica e as seguintes variáveis
clínico--demográficas:“gênero feminino” e“história prévia de dor
nascostas”,comissocorroborandocomdadosjáobtidosna
literaturasobredorlombarcrônicaentreadultos.20,21
Masemboranossoestudotenhachegadoaumpercentual
maiselevadode históriafamiliar de dornascostas parao
grupocomdorlombarcrônica,aliteraturanãorevelaqualquer
associac¸ãoentreessesfatores.Nãoobstante,nessetocanteas
informac¸õesobtidasdosparticipantesdependemdo
conheci-mentodelesprópriossobreos antecedentesfamiliares. Por
outrolado, algunsartigos recentementepublicados
sugeri-ramumapossível associac¸ãoentredornascostasefatores
genéticos.22–25
Identificamosumaassociac¸ãoestatísticapositivaentredor
lombarcrônicaeoutrasocorrênciasdedorcrônica,por
exem-plo, cefaleia e a presenc¸a de pontos sensíveis, bem como
achadosindiretosrelacionadosàdoremgeral,comoo uso
crônico de analgésicos. A associac¸ão entre dor crônica de
diferentes origens já foi demonstrada em outros estudos,
sugerindoumpapelimportantedesempenhadoporaspectos
neuromoduladoresno surgimentoenaperpetuac¸ãoda dor
crônica.26–28
Jones et al. classificaram os fatores de risco
potenci-ais para dor lombar em crianc¸as e adolescentes para as
quatrocategoriasa seguir:variáveis antropométricas,
fato-res de estilo de vida, excesso de carga nas articulac¸ões e
fatorespsicossociaisecomportamentais.29Estudosrecentes
demonstraramqueosfatorespsicossociaispossuemrobusta
correlac¸ão com informac¸ões pessoais de dorlombar entre
crianc¸as.28–30
Algunsestudosemadultosdescobriramumaassociac¸ão
entrecertas síndromesdolorosas,comodornascostas,dor
pélvica, síndrome do intestino irritável e queixas de
dorgeneralizada.31–33 Aparentemente, essa associac¸ãoestá
relacionadaàestimulac¸ãodoSistemaNervosoCentral(SNC)
atravésdenociceptoresperiféricos.34,35 Alémdesses,
meca-nismosinibitóriosefacilitadorescentraisestãoenvolvidosno
alastramentodador,domesmomodoqueprocessoscorticais
esubcorticaisrelacionadosàdorcrônica.36
Adorcrônicatambémpodeterreflexonegativona
quali-dadedevida,conformeficoudemonstradoemnossoestudo,
em que identificamos correlac¸ão entre má avaliac¸ão dos
aspectos da qualidade de vida (papel-físico, dor corpórea,
saúdeemgeral,vitalidadeefunc¸ãosocial)epresenc¸adedor
lombar.Umestilodevidasedentárioéconsideradocomofator
deriscoparadorlombarentreapopulac¸ãogeral,mastambém
sesabequecrianc¸asejovensnãopraticantesdeexercícios
físicostêmprobabilidademuitomaiordesetransformarem
emadultossedentários.37,38Porém,algunsestudos
demons-traramassociac¸ãoentreapráticadecertasatividadesfísicas
eaocorrênciadedorlombar.13–22Estudosavaliaramos
fato-resderiscorelacionadosàdornascostasentrejovensatletas;
essesfatoresestavamrelacionadosacertascausas
estrutu-rais, como hérnia dedisco eespondilólise,que emergiram
emdecorrênciadealongamentos,flexõeserotac¸ões
exces-sivasdacolunavertebral,epelaexcessivaaplicac¸ãodecarga
aoselementosposterioresdacolunavertebral,habitualmente
pormeiodahiperlordosequeafetacertosgruposdeatletas,
sobretudoginastas.13,39,40
Emumestudodecoortede25anosemqueparticiparam
crianc¸aseadolescentescomidadesentre12e17anos,os
auto-resavaliaramaocorrênciadedorlombarduranteesseperíodo
econcluíramqueapráticadoexercíciofísicoreduzseurisco.41
Nopresenteestudo,identificamosbaixopercentualde
prá-ticadeexercíciosfísicosentreogrupoCDL(17%).Esse
percen-tualfoimaisaltonogrupoSDL(30%),massemquehouvesse
diferenc¸aestatísticaentreessesvalores.Analisadosem
con-junto, o percentual geral de participantes praticantes de
exercíciofísicofoideapenas26%,oquesignificaum
percen-tualde74%desedentários.
Outrofator de riscoque sabidamenteapresenta relac¸ão
comaocorrênciadedorlombaremadolescenteseadultoséo
tabagismo.Emmeta-análiserecentementepublicada,os
auto-resconstataramumacorrelac¸ãomoderadaentreohábitode
fumaredorlombaremadultos.Masosautoresencontraram
umaassociac¸ãomaisrobustaentrefumantesatuaise
incidên-ciadedorlombaremadolescentesversusadultos.42Emnosso
estudo,nãoidentificamosumadiferenc¸aestatisticamente
sig-nificativaentrefumantesenãofumantesemrelac¸ãoàdorna
regiãolombar.Issopodeserexplicadopelobaixíssimonúmero
defumantesnogrupoCDL,emcomparac¸ãocomogrupoSDL.
Essadiferenc¸apodesermaispronunciadaemumaamostra
maior.
Em nosso estudo, quando fizemos comparac¸ões
esta-tísticas simples entre participantes padecendo de dor nas
costaseaquelessemtalproblemaemumapopulac¸ãoadulta
jovem, observamosalgunsfatoresquedemonstraramclara
associac¸ão com dorlombar,ou seja,gênerofeminino, IMC
maisbaixo, história pessoaloufamiliar de dornas costas,
rigidez matinalnacolunavertebral lombar,usode
analgé-sicos,máqualidadedevida,cefaleiasfrequentes,dordifusa
emaiornúmerodepontossensíveis.Algumasdessas
variá-veisjáforamcitadasemestudosrealizadosemadultos.Mas
aassociac¸ãoentreIMCmaisbaixoedorlombar,surgidaem
nossaamostra,foibastantesurpreendente.Hánecessidade
deestudoscomamostrasmaiores,paraqueessaassociac¸ão
possaseravaliada.
Poroutrolado,quandorefinamosnossaanáliseestatística
lanc¸andomãodaregressãologísticaunivariada,observamos
menornúmerodeassociac¸õesentrevariáveisversusdor
lom-barnogrupoCDL,emboraasassociac¸õescomIMCmaisbaixo,
máqualidadedevidaevariáveisligadasàdordifusativessem
Emseguidaàanálisederegressãologísticamultivariada,as
associac¸õesestatisticamente significativasrestantes foram:
umescoremaiselevadopara dorgeneralizada oudifusa e
maiornúmerodepontossensíveis.Emoutraspalavras,
nos-sosresultadossugeremqueadultosjovenscomdorlombar
crônicasãoaquelescommaiorpercepc¸ãodedordifusa.
Pacientescomdordifusacrônica,inclusiveaqueles
pade-cendo defibromialgia,podemapresentar dorlombarcomo
sintoma.Emcertoscasos,adorlombarpodesermesmoum
sintomainicialdessacondic¸ão.31,32
Em conclusão, o presente estudo descobriu correlac¸ões
entredorlombaremadultosjovensealgunspossíveisfatores
derisco,comodorcrônica,máqualidadedevidaehistória
pre-gressadedorlombar.Emumaanálisederegressãologística
multivariada,asassociac¸õescomogrupodedorlombar
crô-nicaquepermaneceramforamumescoremaisaltoparador
generalizadaoudifusaeummaiornúmerodepontos
sensí-veis.Tendoemvistaqueessafoiumaamostratransversal,os
resultadosdevemseranalisadoscomcautela,poisotipoideal
deestudoparaumaidentificac¸ãodosfatoresderiscoparador
lombarcrônicaseriaumestudoprospectivodecoorte,como
orealizadoporMikkelssonetal.41
Contudo, realizamos um estudo envolvendo uma
populac¸ão que é raramente estudada com relac¸ão à dor
lombar crônica,pois a maioria dos estudos realizados em
adultosjovensenfatizaasdoenc¸as inflamatóriasda coluna
vertebral.
Hánecessidadedefuturosestudoslongitudinaisparaque
sepossaavaliaradorinespecíficanascostasemjovens,com
abordagensàepidemiologia,fatoresderiscoecronificac¸ão.
Com isso, será possível estruturar estratégias preventivas
e tratamentos mais específicos e, portanto, mais
eficien-tes.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1. MaetzelA,LiL.Theeconomicburdenoflowbackpain:a reviewofstudiespublishedbetween1996and2001.BestPract ResClinRheumatol.2002;16:23–30.
2. LuoX,PietrobonR,SunSX,LiuGG,HeyL.Estimatesand patternsofdirecthealthcareexpendituresamongindividuals withbackpainintheUnitedStates.Spine.2004;29:
79–86.
3. BlythFM,MarchLM,BrnabicAJ,JormLR,WilliamsonM, CousinsMJ.ChronicpaininAustralia:Aprevalencestudy. Pain.2001;89:127–34.
4. ManchikantiL,SinghV,DattaS,CohenSP,HirschJA. AmericanSocietyofInterventionalPainPhysicians. Comprehensivereviewofepidemiology,scope,andimpact ofspinalpain.PainPhysician.2009;12:E35–70.
5. DugglebyT,KumarS.Epidemiologyofjuvenilelowbackpain: areview.DisabilRehabil.1997;19:505–12.
6. GeldhofE,CardonG,DeBourdeaudhuijI,DeClercqD.Back postureeducationinelementaryschoolchildren:a2-year follow-upstudy.EurSpineJ.2007;16:841–50.
7. KnightG,NoyesJ.Children’sbehaviourandthedesign ofschoolfurniture.Ergonomics.1999;42:747–60.
8.LimonS,ValinskyLJ,Ben-ShalomY.Childrenatrisk–risk factorsforlowbackpainintheelementaryschool environment.Spine.2004;29:697–702.
9.MilaneseS,GrimmerK.Schoolfurnitureandtheuser population:ananthropometricperspective.Ergonomics. 2004;47:416–26.
10.MurphyS,BuckleP,StubssD.Classroompostureand self-reportedbackandneckpaininschoolchildren.Appl Ergon.2004;35:113–20.
11.PanagiotopoulouG,ChristoulasK,PapanckolaouA, MandroukasK.Classroomfurnituredimensionsand anthropometricmeasuresinprimaryschool.ApplErgon. 2004;35:121–8.
12.ParcellsC,StommelM,HubbardR.Mismatchofclassroom furnitureandstudentbodydimensions.JAdolescHealth. 1999;24:265–73.
13.HarrebyM,NygaardB,JessenT.Riskfactorsforlowbackpain inacohortof1389Danishschoolchildren:anepidemiologic study.EurSpineJ.1999;8:444–50.
14.FeldmanDE,RossignolM,ShrierAbenhaimL.Smoking.Arisk factorfordevelopmentoflowbackpaininadolescents. Spine.1999;24:2492–6.
15.JonesMA,StrattonG,ReillyT,UnnithanVB.Biologicalrisk indicatorsforrecurrentnon-specificlowbackpainin adolescents.BrJSportsMed.2005;39:137–40.
16.KristjansdottirG,RheeH.Riskfactorsofbackpainfrequency inschoolchildren:asearchforexplanationstoapublichealth problem.ActaPaediatr.2002;91:849–54.
17.PapageorgiouAC,CroftPr,FerryS,JaysonMIV,SilmanAJ. Estimatingtheprevalenceoflowbackpaininthegeneral population.EvidencefromtheSouthManchesterbackpain survey.Spine.1995;20:1889–94.
18.KovacsFM,GestosoM,GildelRealMT,LópezJ,MufraggiN, MéndezJI.Riskfactorsfornon-specificlowbackpainin schoolchildrenandtheirparents:apopulationbasedstudy. Pain.2003;103:259–68.
19.CiconelliRM,FerrazMB,SantosW,MeinãoI,QuaresmaMR. Brazilian-PortugueseversionoftheSF-36.Areliableandvalid qualityoflifeoutcome.RevBrasReumatol.1999;39:
143–50.
20.ChouYC,ShihCC,LinJG,ChenTL,LiaoCC.Lowbackpain
associatedwithsociodemographicfactors,lifestyleand osteoporosis:Apopulation-basedstudy.JRehabilMed.2012, doi:10.2340/16501977-1070.
21.Fernández-de-las-Pe ˜nasC,Hernández-BarreraV, Alonso-BlancoC,Palacios-Ce ˜naD,Carrasco-GarridoP, Jiménez-Sánchez,etal.Prevalenceofneckandlowbackpain incommunity-dwellingadultsinSpain:apopulation-based nationalstudy.Spine(PhilaPa1976).2011;36:E213–9.
22.HestbaekL,IachineIA,Leboeuf-YdeC,KyvikKO,Manniche C.Heredityoflowbackpaininayoungpopulation:aclassical twinstudy.TwinRes.2004;7:16–26.
23.MacGregorAJ,AndrewT,SambrookPN,SpectorTD.
Structural,psychological,andgeneticinfluencesonlowback andneckpain:astudyofadultfemaletwins.Arthritis Rheum.2004;51:160–7.
24.El-MetwallyA,MikkelssonM,StåhlM,MacfarlaneGJ,Jones GT,PulkkinenL,etal.Geneticandenvironmentalinfluences onnon-specificlowbackpaininchildren:atwinstudy.Eur SpineJ.2008;17:502–8.
25.BattiéMC,VidemanT,LevalahtiE,GillK,KaprioJ.Heritability oflowbackpainandtheroleofdiscdegeneration.Pain. 2007;131:272–80.
26.StaudR,RodriguezME.Mechanismsofdisease:pain infibromyalgiasyndrome.NatClinPractRheumatol. 2006;2:90–8.
27.GieseckeT,GracelyRH,ClauwDJ,NachemsonA,DückMH, SabatowskiR,etal.Centralpainprocessinginchroniclow
backpain.Evidenceforreducedpaininhibition.Schmerz. 2006;20:411–4,416-7.
28.BaraniukJN,WhalenG,CunninghamJ,ClauwDJ.
Cerebrospinalfluidlevelsofopioidpeptidesinfibromyalgia andchroniclowbackpain.BMCMusculoskeletDisord. 2004;9(5):48.
29.JonesGT,MacfarlaneGJ.Epidemiologyoflowbackpainin childrenandadolescents.ArchDisChild.2005;90: 312–6.
30.PerrotSR-M,JavierMartyM,JeunneLE,LarocheF,theCEDR (Cercled’EtudedelaDouleurenRhumatologieFrance).Is thereanyevidencetosupporttheuseofanti-depressants inpainfulrheumatologicalconditions?Systematicreview ofpharmacologicalandclinicalstudies.Rheumatology. 2008;47:1117–23.
31.OkifujiA,TurkDC.Stressandpsychophysiological dysregulationinpatientswithFibromyalgiasyndrome. AppliedPsychophysiologyandBiofeedback.2002;27: 129–41.
32.LapossyE,MaleitzkeR,HrycajP,MennetW,MullerW.The frequencyoftransitionofchroniclowbackpainto fibromyalgia.ScandinavianJournalofRheumatology. 1995;24:29–33.
33.BajajP,BajajP,MadsenH,MollerM,ArendtNielsenL. Antenatalwomenwithorwithoutpelvicpaincanbe characterizedbygeneralizedorsegmentalhypoalgesia inlatepregnancy.JournalofPain.2002;3:451–60.
34.UshidaT,WillisWD.Changesindorsalhornneuronal responsesinanexperimentalwristcontracturemodel. JOrthopSci.2001;6:46–52.
35.HoheiselU,KochK,MenseS.Functionalreorganizationinthe ratdorsalhornduringanexperimentalmyositis.Pain. 1994;59:111–8.
36.StaudR.Peripheralpainmechanismsinchronicwidespread pain.BestPractResClinRheumatol.2011;25:155–64.
37.BellJA,BurnettA.Exercisefortheprimary,secondary andtertiarypreventionoflowbackpainintheworkplace: asystematicreview.JOccupRehabil.2009;19:8–24.
38.ChenSM,LiuMF,CookJ,BassS,LoSK.Sedentarylifestyleasa riskfactorforlowbackpain:asystematicreview.IntArch OccupEnvironHealth.2009;82:797–806.
39.BernsteinRM,CozenH.Evaluationofbackpaininchildren andadolescents.AmFamPhysician.2007;76:1669–776.
40.CurtisC,d’HemecourtP.Diagnosisandmanagementofback paininadolescents.AdolescMedStateArtRev.
2007;18:140–64.
41.MikkelssonLO,NupponenH,KaprioJ,KautiainenH, MikkelssonM,KujalaUM.Adolescentflexibility,endurance strength,andphysicalactivityaspredictorsofadulttension neck,lowbackpain,andkneeinjury:a25yearfollowup study.BrJSportsMed.2006;40:107–13.
42.ShiriR,KarppinenJ,Leino-ArjasP,SolovievaS,Viikari-Juntura E.Theassociationbetweensmokingandlowbackpain: ameta-analysis.AmJMed.2010;123(87):e7–35.