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F
z
rJ]
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J
ú
tl;
frl
REPRESENITAÇAO
E
PARTICIPAÇAO
POLÍTICA
NTA
ELJROPA
EM
CRISE
André
Freire
Marco
Lisi
José
Manuel
Leite
Viegas
Organizadores
ã
r ¡ r r r r r r ¡ r llltl¡ r t r r r r r r t
ijj.j.lj=ij:lj''l-rrffi
ÍNorcn
Agradecimentos
11 15t7
T7 21. 23 29Lista
deabreviaturas
e siglasFICHA TECNICA
Introdução
MARCo I-lst, eNoRÉ FREIRE e JosÉ MANUEL LEITE vIEGAS
Introdução Objetivos e dados
A
estrutura dolivro
Título Representação e participação política na Europa em crise Organizadores André Freire, Marco Lisi,José Manuel Leite Viegas
Sessão de
abertura
daConferência
"Representação eparticipação
política
na
Europa
em crise", 7-8julho
2014, NovoAuditório
daAssembleia
da
República
DEPUTADO GUILHERME SILVA
Edição Assembleia da República - Divisão de Edições Revisão Conceição Garvão e Maria da Luz Dias
tadução Susana Santos e Pedro Estêvâ.o Colaboração Alda Luís
Capa c de sign Nuno Timóteo
PARTE
I
-
Representaçãopolítica
em tempos de austeridade:Portugal
eGrécia
em perspetiva comparadaPaginação e pré-impressão Undo Impressão Clássica, Artes Gráficas
Capítulo
1 |As atitudes
das elites e dos cidadãos face àspolíticas
deausteridade e as suas consequências na Grécia e em
Portugal
EFTICHIA TEPEROGLOU, ANDRÉ FREIRE, IOANNIS ANDREADIS
CJOSÉ MANUEL LEITE VIEGAS
L.
Qradro
teórico 2. Hipóteses e operacionalizaçã.o 3. Dados e metodologia 4. Resultados empíricos 5. Notas conclusivas 35 Tiragcm 600 exemplares ISBN 97 8-97 2-55 6 - 632-9 Depósito Lega| 474285 / 76 Lisboa, agosto 2016 @ Assembleia da RepúblicaDireitos reservados, nos termos do artigo 52." da lei n." 28/2003, de 30 de julho.
www.parlame nto.pt
Imagem da capa: Manifestação antiausteridade na Europa,2011. Fotografia de Nuno Timóteo.
38
40
43 45 53
Capítulo 2
|Individualizaçio
das campanhaseleitorais
antes e depoisdo resgate: uma comparação entre Grécia e
Portugal
JOSÉ SANTANA-PEREIRA C MARCO LISI1. Introdução
2.
Individualização
das campanhas e a crise financeira3. Dados e metodologia
55
55 57 62
6
|
REPRESENTAçÁO E p,A.RTlcrpAÇÁopolÍtrc¡
NA EURopA EM cRIStr 4. Individualização das campanhas em Portugal e na Grécia:resultados empíricos
5. Fatores de
individualização
das campanhas em Portugale na Grécia, antes e depois do resgate 6. Conclusões
Capítulo
3 | Oimpacto
da crise económica no espaçoideológico
em
Portugal
e naGrécia:
uma comparação entre elites e eleitoresEMMANOUIL TSATSANIS, ANDRÉ FREIRE C YANNIS TS]RBAS
1. Espaço ideológico: teoria e questões de partida
2.
O
impacto da crise económica na competição política: os contextos da Grécia e de Portugal 3.A
crise na Grécia a.A
economia b.A
situação política c.O
espaço ideológico 4.A
crise em Portugal a.A
economia (política) b.A
arena política c.O
espaço ideológico 5. Dados e metodologia 6. Análise e resultados a. Grécia b. Portugal 7. Apontamentos conclusivos ApêndiceCapítulo
4 | Representação epolíticas
de austeridade: uma comparaçãodas atitudes entre massas e elites na
Grécia
GEORGIOS KARYOTIS, WOLFGANG RÜDIG E DAVIDJUDGE
1. Introdução
2. Representação e políticas de austeridade 3. Hipóteses de pesquisa
4. Recolha de dados
5. Congruência ideológica e
política
na Grécia6. Conclusões Apêndice
l7
64 67 71 I5 76 78 79 79 80 81 82 82 83 84 84 87 87 91. 93 95 103 103 105 109 111 1.1.3 1.21. 1244.
Apoio
à integração europeia na Grécia e em Portugal antese depois do acordo de resgate
5.
Explicar
o apoio dos eleitores e das elites à integração europeia, 201'2-201,36. Conclusões
Apêndice
Capítulo
6 |Apoio
dos portugueses à democracia em tempos de crise:apoio
difuso
e específico emPortugal
e naGrécia
CONCEIÇAO PtrqUITO, EMMANOUIL TSATSANIS C ANA BELCHIOR
1. Introdução
2. As dimensões do apoio democrático
2.1.
A
questão do apoio à democracia na crise que afetouPortugal e a Grécia
3. Dados e metodologia
4.
Apoio
difuso e específico à democracia em Portugal5.
Apoio
difuso e específico à democracia na Grécla6. Conclusões
Apêndice
PARTE
II
-
Campanhaeleitoral,
comunicaçãopolítica,
Padamento
e representaçãopolítica
naEuropa
Capítulo
7 |Envolvimento
dos cidadãos com oPadamento
na
Europa
através das petições: um quadro de análiseTIAGO TIBÚRCIO 1. Introdução
2.Breve
enquadramento teórico e caracterização dodireito
de petiçãoperante o Parlamento
3. Características distintivas dos sistemas de petições parlamentares 3.1.
Qradro
legal einstitucional
Petições eletrónicas (petições-e)
3.2. Os intervenientes do
direito
de petição 4.Um
quadro de avaliação da eficácia das petições4.1,.
A
efr,câcla àLuz docritério
do projeto4.2.
Aeß,câciaàLuz docritério
democrático5. Conclusões
Capítulo
8 | Campanhaseleitorais
online: uma análise comparadaFILIPA SEICEIRA C CARLOS CUNHA
1. Introdução
2.
Autllização
dainternet
na política3.
A
internet no contexto das campanhas eleitoraisa. Modalidades de utilização da internet em contexto eleitoral
4.
Metodologia
5. Resultados 1.32 1,37 1"43 146 153 153 1"55 158 160 1.61 1.65 768 777 184 186 186 188 189 190 192 197 199 183 183Capítulo
5 |O
despertar dogigante adormecido: atitudes
em relação àintegração europeia na Grécia e em
Portugal
em tempos de criseeconómica
125 ANDRÉ FREIRE, EFTICHIA TEPEROGLOU C CATHERINE MOURY1.
Introdução
1252.
Qradro
teórico, hipóteses eoperacionalização
I2B
3. Dados e
metodologi^
1.31. 201 201. 201. 203 205 206 2088
|
REPRESENTAçÁO E pARTrcrpAÇÃoporÍrrca
NA EURopA EM cRisE6. Conclusões
Capítulo
9 | Campanhas departidos
ou de candidatos?Individualização
das campanhas
eleitorais
emdiferentes
cenáriospolíticos
einstitucionais
JOSÉ SANTANA_PEREIRA C MARCO LISIL. Introdução
2.
Campanhas individualizadas: o contexto importa?3. Dados e metodologia
4.
Individualízação
das campanhas em perspetiva comparativa5. Notas finais
Capítulo
10 | Campanhaspolíticas
nas redes sociais: uma análisecomparativa
das eleições presidenciais em França(2012)
e em
Portugal(20l1)
CARLOS CUNHA C MAFALDA LOBO
1. Introdução
2.
As
campanhas políticas online: evolução e tendências3.
Internet,
SocialNetworking
Services (SNS) e participação política4.
Metodologia
5. Apresentação e discussão dos resultados
6. Conclusões
Capítulo
11 |A
crise europeia no ecrã: a(s) cobertura(s)televisiva(s)
das eleições
legislativas
gregas e presidenciais francesaserr.2012
SUSANA SANTOS C ELOÍSA SILVA
1. Introdução
2. Democracia, Estados-nação, hiperglobalização e as crises financeiras
3. Comunicação política: questões em
torno
do agendamento, das campanhas eleitorais e da política-espetáculo4. Contextos eleitorais 4.1. Eleições na Grécia 4.2. Eleições em França 5. Desenho da pesquisa
6.
Análise
dos resultados6.1. Grécia
6.2.França
7. Notas conclusivas:
Grécia
versusFrança-
Dois
discursos antagónicos no espaço comum europeuCapítulo
12 | Padrões de organização dos Parlamentos naEuropa
DEPUTADO ANTÓNIO FILIPE, PCP
Capítulo
13 |A
representaçãodescritiva
de género noParlamento
føz
diferençanas preferênciaspolíticas? O
papel dospartidos
políticos
ANDRÉ FREIRE, ANA ESPÍRITO-SANTO C SOFIA SERRA DA SILVA
le
221 219 221. 223 228 230 234 1. Introdução2.
Aimportãncia
relativa da representação descritiva paraas preferências políticas
3. Teoria e hipóteses: trazendo os partidos para a discussão 4. Dados e metodologia
5. Resultados e discussão
5.1. Testando as diferenças entre homens e mulheres nas preferências
políticas, em geral, e controlando
avariâvelpartidos
políticos 5.2.Explicando
avariação das diferenças entre homens e mulheres naspreferências políticas ao nível do
partido
6. Conclusões
Apêndice
Capítulo
18 |O
cns-lP
diante
dareformapolítica
DEPUTADOJOSÉ RIBEIRO E CASTRO, CDS-PP
Referências
bibliográfi
casNotas
biográficas
dos autoresÍndice
de tabelasÍndice
de frgurasÍndice
de apêndicesÍndice remissivo
285 286 287 290 296 296 298 303 306 312 318 323 235 235 237 243 244 246 249 251 257 253PARTE
III
-
Participação
e representaçãopolítica
na
Europa
em crise: as visões dos deputados e dospartidos
políticos
Capítulo
14 |Participação
eresponsabilidade
DEPUTADO ANTÓNIO RODRIGUES, PSD
Capítulo
15 |A
crise da representaçãopolítica
DEPUTADO JOSÉ MACALHAES, PS
Capítulo
16 |Capitalismo:
camisa-de-força da democracia?DEPUTADO PEDRO FILIPE SOARES, BE
Capítulo
17 |A
democracia, a crise e a representaçãopolítica
emPortugal
329DEPUTADA RITA RATO, PCP
255 258 258 260 267 264 264 269 338 345 373 379 383 385 387 274 277 285
Agradecimentos
Todos os
capítulos
do
presentelivro
foram
apresentados originalmentena segunda conferência do projeto "Eleições, liderança e responsabilîzação'. a repre-sentação
política
em
Portugal
-
uma
perspetiva
longitudinal
e
comparativa"(rcn lrnc
/ cPJ- cP o / 119307 /2010), 2012-2075,
coordenadopor
André
Freire,Marco Lisi
eJoséManuel
Leite Viegas, Representøçã.o e participação política na Europøem crise, que teve lugar em 7 e 8 de
julho
de 20L4, na Assembleia da República(en).
Trata-se, pois, de textos revistos, tendo em contâ as críticas formuladas pelos comen-tadores (iiscussant) na conferência da AR, mas também as orientações de revisão dos organizadores do presente
livro.
São de referir, ainda, duas notas adicionais sobre omesmo.
Primeiro,
ele é o segundo de uma série de dois (e de duas conferências subja-centes, antecedentes), quete-os
vindo
a editar com o apoio da Assembleia daRepú-blica, na Coleção Parlamento, sendo que o
primeiro
foi já dado à estampa noprimeiro
semestre de 2075:
Freire,
Lisi
e Viegas, 20L5. Segundo,o conjunto
de artigos queintegra a
primeira
parte dolivro foi
originalmente publicado no número especial de dezembro de 201.4 da revista South European SocietyU
Politics, volume 19, n.o 4, como título "Political
representationin
times
of bailout:
evidencefrom
Portugai
andGreece" (ver Freire,
Lisi,
Andreadis
e Viegas, 2074), e quefoi
editado emlivro
da Routledge, em setembro de 201,5 (ver Freire,Lisi,
Andreadis e Viegas, 2016).Aproveitamos este ensejo para,
primeiro,
agradecer a todos os comentadores (académicos, deputados e responsáveis políticos) quetiveram
a amabilidade decola-borar connosco nessas tarefas.
E,
segundo, para agrzdecer à revista South European SocietyU
Politics, nomeadamente às suas editorasAnna
Bosco e SusannahVerne¡
bem como à
editora
Ta/or U
Frøncis, responsáveleditorial
dojornal,
a permissãopara
republicar aqui
o dito
material
(créditos específicos para cada publicação sãoapresentados no
início
de cada capítulo daprimeira
parte).Agradecemos, ainda, a todos os que
tornaram
esta pesquisa, nas suas várias vertentes, possível. Este projeto é financiado e/ou institucionalmente patrocinado porvárias entidades (Fundação para a Ciência e Têcnologia: FCT-MCTES; Direção-Geral
da Administração Interna
-
MAI:DGAI-MAI;
Comissão Nacional de Eleições: CNE),entre as quais a
própria
Assembleia da República Portuguesa. Obteve, para tanto, também apoioinstitucional
daAR.
Gostaríamos, assim, de agradecer a todas estasentidades o apoio financeiro e/ou logístico que nos deramparaarealização desta pes-quisa. Agradecemos o apoio transversal da
DGAI-MAI,
nomeadamente através dapes-soa do Dr. Jorge
Miguéis,
seu diretor-geral.O
contributo da CNE, nomeadamente dos12
|
RTPRESENTAÇÃO E pARTrcrpAÇÁopolÍrIcR
NA EURopA EM cRisEnomeadamente para a" concÍetização dos inquéritos aos candidatos.
No
caso da AR, o apoio tem-se consubstanciado em vários domínios, que gostaríamos também desubli-nhar e
de agradecer vivamente, nomeadamente noscinco
seguintes.Primeiro, tal
apoio
tem
resultado numa estreita colaboração da equipado projeto com
todos osgrupos parlamentares
(cl)
e com os respetivos deputados, para a realização dos inqué-ritos aos deputados (eleitos em2071., trabalho de campoem20122,013)
e aoscandi-datos a deputados nas legislativas de 2011 (trabalho
d.
campoem
2012-2013).Tam-bém neste caso, queremos agradecer vivamente o patrocíniã da
AR,
e em especial o apoio excecional da senhora presidente daAR
(lAn),
Dr.^
Assunção Esteves, e de todos os GP, deputados estaf
daAR
(nomeadamente a equipa liderada peloDr.
Rui
costa), em geral, àrealizaçã.o da
dita
conferência. Segunáo,-além de todos os apoios da.PAR, dos líderes parlamentares e dos respetivos chefes de gabinete, e todos o,J.p.,-tados que aceitaram
participar
nos inquéritos, há ainda algumas pessoas queindivi-dual e/ou institucionalmente nos ajudaram
muito
a
concretizareita
difícii
tarefa deinquirir
as elites parlamentares, ainda por cima tendo em conta a extensão dosques-tionários.
A
deputadaNilza
Sena eo
assessor parlamentarHugo
Costeira, no psD,providenciaram ambos
um
apoio adicional
preciosíssimo parainquirir o
Gp-psD.António Filipe,
deputado dopcp
e vice-presiàente da AR (que é afiás tambémmem-bro do nosso projeto de pesquisa),
foi
tambémum
apoio fundamental nesta bancada.Embora tenha sido só candidato a deputado
,.-
,r.r.r." exercer (ainda) neste mandato, mas sendoum
destacadodirigente do
cDS-pp, Pedro Pestana Bastosfoi um
apoiocrucial
para a reaTização do trabalho de campo nesta bancad a. João Semedo,doBE,
deu uma ajuda precios à
îa
fetafinal
do trabalho de campo para as excelentes taxas deresposta que obtivemos nos pequenos
partidos,
onde osmuito
reduzidos números absolutos de eleitos obrigam a uma cobértura quasetotal
das bancadas. Finalmente, uma palavra de apreço é devida aos deputados que aceitaramparticipar
na segunda conferência do projeto e/ou escreverum
texto para olivro q.r.
o.utend.,
e-
Lãor:
Guilherme
silva,
deputadodo psD
e vice-presidenteda ÁR;
António
Rodrigues,deputado do PSD; Ribeiro e
castro,
deputado do cDs-pp; José Magalhães, depuladodo.PS;
António
Filipe,
vice-presidente da AR,Miguel Tiago
e Rita Ruto, todo,d.prr-tados do PCP; Pedro
Filipe
Soares, deputado e líder parlamentar do BE.Terceiro, agradecemos
ainda
à mestreInês
Lima,
inexcedível assìstente deinvestigação
do projeto, todo
o
apoio que nostem
prestadoem
todas as fases dot¡abalho. Ela
foi
sempreum
pilar
fundamental
do nosso sucessona
realização d,osdiferentes objetivos, do trabalho de campo à logística dos eventos e à edição
formal
dos
livros.
Nesteponto,
cumpre ainda
agradecervivamente
àsvárias
estagiáriasdo
projeto
até à datal , quemuito
ajudaramim
várias tarefas, e aos váriosentrevista-dores e entrevistadoras2, geralmente estudantes do mestrado de Ciência Poiítica do
1 Eduarda Damasceno, Carmen Gaudêncio, Filipa Magalhães, Sofia Santos, Daniela Viera, Tânia Dias, Inês Lourenço, Márcia Alcântara e Inês Pereira.
2 Eduarda Damasceno, carmen Gaudêncio, Filipa Magalhães, sofia serra, Bruno Mesquita, Inês
Amador, Hernâni Pereira, Joana Morgado, Bárbara Boìr.go, Fábio Ramarho, carrota veiga, Luís
Sargento e Ana Luísa Gouveia.
AGRADECTMENTOS
I
13ISCTE-IUL, que foram cruciais para levarmos a bom
porto
o trabalho de campo dosinquéritos aos deputados e aos candidatos a membros do Parlamento.
Qrarto,
ao støf,do CIES-IUL (Carla Salema,Ana
Ferreira, José Ferreira, Sara Silva,Marta Diogo,
Neide Jorge, etc.) agradecemos também todo o apoio logístico.Qrinto,
agradecemosainda
à
GFK-Metris, liderada
neste
processo pelaDr.^ Carmen Castro,
o
excelentetrabalho
queimplementou,
naturalmente sob anossa supervisão
científica, mais
precisamenteo
trabalho de campo
referente aoinquérito
aos eleitores, realizado em finais de20L2.André
FreireMarco
Lisi
Capítulo
2
Individu
alizaçiodas
campanhas
eleitorais
antes
e
depois
do resgate: uma comParação entre
Grécia
e
Portugal'
¡osÉ
sANIANA-PEREIRA e MARCo LISI1.
Introdução
1 Este capítu1o foi originalmente publicado como Lisi,Marco eJosé Santana-Pereira (2014), "Campaign
individualisation before and after the bailout:A comparison between Greece and Portugal", in Anðté Freire, Marco Lisi, Ioannis Andreadis e José Manuel Leite Viegas (eds.), South EuroPean SocietY U
Pollllrs, Special issue:"Political rePresentation in times of crisis: evidencefrom Portugal and Greece",
A
personaliz ação dapolítica é uma das principais transformações vividas pelas democracias contemporân.å,"o 1o.rgo das últimas
décadas.
Com
a decrescenterele-vância das clivagens sociais, o enfraquecimento das identidades partidárias e a crise dos partidos poìiticos, os
[áer.s
.
.uïdid"to'
desempenham um papel fundamentalnas democracias representativas, em termos de estruturação do
voto
e
mob\lizaçáodos cidadãos, ou nos mecanismos de tomada de decisão
(McAllister,
1996;Aarts,
Blais eSchmitt,20L2;
Helms ,2012).O
aumento dos sentimentos antipartidários por parte dos cidadãos éum
poderoso incentivo p ara red]uz\r aimportância
daotganiza-iea
patidaria, em
fav or åas p ersonalidadesindividuais
(Farrell, 20 0 6).No
contexto destas mudanças significativasvividas
pelas democraciascon-temporâneâs, o objetivo deste capítulo é o de explorar em que medida e em que
tipo
de situação
o, .^rráiduto.
podem desempenhar um papel mais autónomo nascampa-nhas eleitorais.
O
conceiå
d"
.u-p*.th"
"centradàno
candidato"tem
sidoampla-mente
utilizado
nos Estados Unidos daAmérica (pUn)
(Wattenberg, 1991), mas, nocontexto europeu,
foi
grandemente negligenciado.A
literatura
aponta para que osvo1. 19, n." 4, P. 547-555.
t
ttp./l***.tindfonline.com/doi/abs/10.1080/1 3608746.201'4.984384?ai=2gJ&xi=3wix&af{'Os'organizadores do livro e os autores agradecem à editora Taylor
&
Francis e às edìtoras da RevistaSouth"European Society €l politics
(A'n"
Èor"o e Susannah Verney) a permissão para republicar aqui o presente artigo. Tradução do inglês por Inês Lima'INDIVIDUALIZAçAO DÁ.S CAMPANHAS ELEITORAIS
I
57Em seguida, apfesentam-se os dados e os métodos utilizados neste capítulo.
A
quartasecção analisa as variações
longitudinais
e transnacionais em'termos das campanhas dos candidatos, enquanto aquinta
secção apresenta e discute o modelo de regressãomultivariada
utilizado
para testar osprincipais
determinantes daindividualização
das campanhas.
A
secçãofinal
resume os resultados e discute as suas implicações para o papel desempenhado pelos partidos políticos e os desafios com que as democracias contemporâneas se veem a braços.2.
Individualizaçáo
das campanhas
e a
crise
financeira
No
debate em torno da personalizaçáo dapolítica, tem-se argumentado que ascaracterísticas e o desempenho dos candidatos são cada vez mais importantes para o
comportamento eleitoral, para a cobertura mediática da esfera política e para as pla-tafoimas
partidárias
(McAllister,
2007;
Adam eMaier,
2010;Kriesi,
2072; Aatts,
Blais e
Schmitt,
2012). Enquanto os processos de modern\zação e profi.ssionalização encorajarama
centralização da comunicação política e a preponderância das campa-nhas "centradas nos partidos", as mudanças drásticas nas ferramentas decomunica-ção política passaram
a
enfatizar afigura
dopolítico individual.
Esta personalizaçáo podå enrolvêr, não só os líderes partidários, mas também os candidatos a deputados' Consequentemente,hâ
agota umamaior
vat\açáo em termos de estratégias einstfu-mentos de campanha (Giebler e Wessels, 201t3).
Alguns
autores sugerem que, durante as campanhas eleitorais, os candidatosindividuais poderão tentâr aumentar a sua autonomia e visibilidade entre os eleitores,
mobilizando os seus próprios recursos e desenvolvendo diferentes estratégias.
Zittele
Gschwend (2003) descreveram este fenómeno através do conceito de
"individualiza-ção das campanhas", que fetrataum
cenário em que os candidatos pfocuramfomen-iar
o voto peìroul através deuma
organ\zaçáo de campanha, de uma agenda decam-panha
e
di
meios "centradosno
candidato".Por
outro
lado, Karlsen
e
Skogerbø (2015) fazem adistinção entre duas dimensões: o enfoque comunicativo e a estratégia organizacional.A
individrtalização das campanhas está relacionada com aprimeira
dimensão, enquanto
o
segundo aspeto está associado como
graude
centtalizaçáo' Em geral, estes estudos observaram que) mesmo quando as características institucio-nais iavorecerem a adoção de campanhas "centradas nopartido"
-
nomeadamente em sistemas de representação proporcional-
ainda é possível encontraralgum
grau depersonalizaçáo das campanhas por parte dos candidatos'
A
componente organizacional é, certamente,um
aspeto significativo daindi-vidtalizaçio
das campanhas, mas é igualmente importante ter em conta as perceçõesdos candidatos acerca
do
seu papel na campanhaeleitoral'
De
acordo comZittel
eGschwend (2008), esta é a componente normativa da individualização da campanha, que deverá complementar a análise da dimensão objetiva: ou seja, o uso de
ferramen-tas
de
comuniiação
política
personalizadas.Além
destas componentes'há
umaterceira dimensão
importante:
a inserção de questões locais e temas específicos do56 I
REPRESENTAÇAO E PARTICIPAÇÁO POLÍTICA NA EUROPA EM CRISEpartidos europeus tenham
vindo
a centralizar as suas campanhas eleitorais, quer emtermos de estratégias de comunicação, quer ao
nível
da
organização.Contudo, tal
como alguns autores demonstraram
(Zittel
eGschwend,2008;
Karlsen e Skogerbø,2015), estas duas componentes não estão, necessariamente, relacionadas uma com a
outra e podem variar separadamente.
Alguns
estudos têm revelado a existência de grandes variações nas estratégiasdas campanhas eleitorais, especialmente quando se tomam em consideração os
diferen-tes componentes das campanhas eleitorais.
Além
dos fatores individuais, esta variaçãotem sido associada, principalmente, a fatores institucionais (Giebler e Wessels, 2013).
No
entanto, estes estudostêm
negligenciadoo
papel que outros fatores contextuaispodem desempenhar nas características da campanha eleitoral.
Tal
comofoi subli
nhado por vários autores (Bosco e Verney, 201,2; Bermeo e Bartels, 2074; Freire et a/., 2074), a crise económica e financeira provocou importantes mudanças no que respeita
às atitudes face aos representantes, à mobilização partidâria e aos alinhamentos
eleito-rais. Consequentemente, a crise na
ZonaEuro
podeter
afetado igualmente as estraté-gias de campanha e aforma como as campanhas eleitorais são conduzidas.Este capítulo analisa as campanhas dos candidatos a deputados em eleições gregas e portuguesas.
O
nossoponto
departida
é adistinção
teóricaentre'campa-nhas
individualizadas'e
'campanhas centradas nos partidos' (Plasser e Plasser, 2002; Karlsen e Skogerbø, 2015).Acreditamos
que estas ferramentas conceptuais devem ser exploradas empiricamente, nomeadamente em termos da influência que os fatores de curto prazo exercem sobre otipo
e o estilo de campanha eleitoral.A
análise dasestratégias
de
campanhana
Grécia
e
em Portugal permite-nos explorar em
que medida as mudanças radicais nas condições económicas afetam as características des-tas mesmas estratégias de campanha. Neste capítulo, centramo-nos nos dois grandespartidos em cada um dos países em análise, partidos esses com experiência recente de
governo e/ou
com
expectativa de formação de governo após as eleições.Na
nossaopinião, o efeito do contexto nas estratégias de campanha é fundamental para estes
partidos, tendo em consideração quer a sua experiência passada (todos governaram os
países em causa na
última
década), quera
suaîatrreza
(cøtch-all, ideologicamentedifusos).
Em relação aos estudos anteriores sobre estratégias de campanha, a
contribui-ção deste trabalho é dupla.
Primeiro,
pretende analisar se e como as estratégias e osestilos de campanha mudaram ao longo do tempo.
Em
particular, pretende-severifi-car se um grande choque externo,
tal
como o resgate na Grécia e em Portugal, afetouas campanhas dos candidatos a deputado, ou se as principais características das cam-panhas eleitorais se mantiveram estáveis, apesar dos importantes desafios trazidos pela crise económica. Em segundo lugar, através da comparação dos dois países em análise,
este capítulo
procura
avaliaro
impacto relativo
dos determinantesindividuais,
em configurações contextuais distintas, em termos de ordeminstitucional
e de fatores de clJrto pÍazo. Desta forma, esta nossa contribuição vai ao encont ro, náo só da literaturasobre campanhas eleitorais, mas também
do
debate sobre mudança organizacional partidária e sobre as tendências atuais da representação política.A
secção seguintefazumabreve
revisão daliteratura
sobre a individualização58 I
REPRESENTAÇÃO E PARTJCIPAçAO POLÍTICA NA EUROPA EM CRISEcírculo eleitoral pelos candidatos na agenda de campanha.
Com
base na análise des-tas três dimensões, podemos obter uma imagem mais completa das estratégias e dos estilos de campanha dos candidatos.Os estudos
longitudinais
sobre este tópico são relativamente escassos.O
casode Israel confirma a tendência para o aumento dos níveis de personalização, embora
esta mudança tenha acontecido tanto a nível nacional como a nível local, estimulando
quer o papel quer a visibilidade dos candidaros do
partido
(Balmas et a1.,2014).Estesautores
formularam
o
conceitode
"campanha personalizada descentralizada", que espelhao
fenómeno de aumento da personalização da campanhapor parte
de umgrupo de individuos que não são líderes partidários nem líderes do execurivo (Balmas et a/.,201'4).
No
entanto, quando discutem a evidência empírica que sustenta o seunovo conceito
,
enfatizam a crescente importância do voto pessoal ou a grandevisibi-lidade que os candidatos
adquiriram
atravésda
adoção de eleições primárias nopar-tido.
A
personalização descentralizada pode serum
conceitoútil,
especialmãnte quando é associado ao estudo sobre as campanhas nos círculos eleitorais, mas a formacomo estes autores aplicam o conceito sobrepõe-se, em grande medida
-
pelo menosem termos da componente comportamental
-,
ao conceito de individualizaçã.o dascampanhas.
O
usodo
conceito de personalização descentralizada pode ser poucoadequado quando analisamos as campanhas de candidatos
a
deputados.Por
isso, neste capítulo optámos porutilízar
os conceitos de "individualizaçã.o das campanhas"ou "personalizaçã,o por parte do candidato". Neste contexto, não será considerado o
impacto que os candidatos têm no comportamento eleitoral.
De
acordocom
investigâções anteriores, as campanhas eleitorais nas novas democracias da Europa do Sul podem ser descritas como sendo relativamente perso-nalizadas e centralizadas (Pasquino,2001). Em
Portugal, os estudos realizados evi_ denciaram que os candidatosindividuais
centram a sua campanha nos seus respetivospartidos
e dependem em grandeparte
dos recursos oferecidos pelas organizaçõespartidárias
(Lisi,
2011; 2013).com
basenum
inquérito
aos candidatos rcalizadodurante as eleições de 2009, estes estudos sugerem que as campanhas eleitorais em
Portugal
apresentamum
elevado nível de centralização e que os candidatos adepu-tado
utilizam,
maioritariamente, ferramentas tradicionais de comunicação política.Adicionalmente,
o enfoque da comunic açãoé
claramente centrado nas organizaçõespartidárias,
enquanto as campanhas apresentamum
nível
relativamentebaixo
deprofissionalização, em termos de recurso a consultores externos, da dimensão dos orçamentos de campanha e dos níveis de planeamento. Por
fim,
os candidatosdesem-penham um papel marginal na mobilização dos cidadãos a nível Tocal e fazemum uso
limitado
das novas tecnologias de informação, dois aspetos convencionalmenteasso-ciados com as campanhas pós-modernas (Seiceira, 2011).
Na
Grécia, as campanhas partidárias são altamente centralizadas e acompe-tição tem lugar maioritariamente
anível
nacional. Papathanassopoulos(2000:
5a)argumenta que, a
partir
das eleições de 7996, os partidos têmvindo
a controlar cadavez mais as estratégias dos candidatos, especialmente no que toca à sua participação nos programas televisivos.
As
campanhas centradas na televisãotêm
sido também prejudiciaispaft a
mobilizaçã.o baseada nas atividadesdo
candidato anível
local.No
que respeita aouso de
novas tecnologias deinformação, os
estudos sobre asINDIVIDUALIZAç1\ODASCAMPANHASELEITORAIS
I
59campanhas na
internet,
nas eleições de 2004, registaram que apenas uma pequenaparte dos candidatos
utilizou
esta ferramenta de comunicação, levando os autores aconcluir que as campanhas gregas continuam a ser caracterizadas pelos traços
distin-tivos das campanhas tradicionais (Lappas, Chatzopoulos e Yannas, 20C8;
Mylona,
2008).
Além
disso, o uso da internet está inversamente associado à experiênciapolí-tica e à posição ocupada dentro do
partido,
no sentido em que candidatos titulares decargos governamentais, ou com uma posição de topo no
partido,
são mais propensosz
uttlîzar
ferramentas tradicionais.Vários fatores contribuem para este elevado nível de centraliza.çã.o. Primeiro,
o
recrutamento dos candidatos dependemaioritariamente
dos órgãospartidários
anível nacional
e
os iíderescontrolam
a
carreirados
candidatose
dos
deputados'Segundo, os meios de comunicação social focam-se, tendencialmente, nos principais
líderes partidários, em especial nos que têm uma maior probabilidade de
vir
aformar
governo.
Em
terceiro lugar,o
financiamentopartidário
na Grécia e emPortugal
ébareado em subsídios públicos e são proíbidas quaisquer doações privadas a partidos
ou
a candidatos. Esta regulação fortaleceo
poder dospartidos
emdetrimento
dos candidatos. Finalmente, é aindaimportante
considerar que o sistema de representa-ção proporcional favorece o enfoque das campanhas nos partidos, reforçando, assim, o papel dos líderespartidários
'¿tis-à-ttis os candidatos.A
literatura indica
que o grau deindividualização
das campanhas depende,pof um
lado, das características pessoais e políticas dos candidatos e) Por outro, dascaracterísticas dos partidos.
Em
relação aoprimeiro
conjunto de fatores, aprobabili-dade de
ter
mais recursos disponíveis émaior
para candidatos incumbentes do quepara aqueles que se apresentam,
pela primeira
vez,
como candidatosa
deputado(ZitteI
e Gschwend, 2008). Estudos empíricos mostram ainda que o género tem umimpacto significativo
no
estilo de
campanhapolítica
do
candidato,
sendo que oshomens são mais propensos
a
personalizar as suas campanhasdo
que as mulheres(Karlsen e Skogerbø, 2015).
Qranto
à variação intrapa:rtidâfia, um elementoimpor-tante, tradicionalmente associado às campanhas eleitorais, é o
tipo
de recrutamentoutilizado.
De
acordocom
aliterarura
(Careye Shugart,
1995;Giebler
e \Messels,2013), modalidades mais descentralizadas de seleção dos candidatos deverão
fomen-tar
aindividralização
das campanhas.Finalmente,
é plausívelainda
distinguir
ospartidos
em
termos
de
ideologia,
sendoos
candidatos associadosa
partidos
deèsq.,"rdu mais propensos a conduzir campanhas com
um
baixo grau deindividuali-zação (Karlsen e Skogerbø,20L5).
Esta breve revisão da
literatura
revela que oimpacto
do contextono
tipo
decampanha
do
candidato
é
claramenteum
tópico de
investigação negligenciado.Alguns
estudos demonstraram que os estilos de campanha e objetivos podemdepen-der das configurações institucionais (Giebler e
Wüst,
2011; Giebler e Wessels, 2013).Contudo, não existe nenhum estudo sobre o impacto que diferentes ambientes
políti-cos podem ter na individ:ualizaçáo das campanhas.
A
crise económica atingiu,signifi-cativamente, tanto a Grécia como Portugal: a Grécia teve de pedir dois resgates' entre
2010
e
2012, enqtanto Portugal entrou em
deføuttfinanceiro,
em abril de
201L,levando à queda do governo socialista e à realizaçã.o de novas eleições legislativas, em
60
|
REPRESENTAçÁO E pARTrcrpAÇeo por_Í.rrca NA EURopA EM cRlsE[r'ntI],
comissão Europeia[ct]
e Bancocentral
Europeu[ncn])
teve consequênciaspolíticas, económicas e sociais importantes.
Em particular,
estudos recentesanalisa-ram
os
efeitosda
crise
económicano
comportamentoeleitoral (Kosmidis,
2014;Magalhães, 2014a), no desempenho dos partidos (Bosco e
verne¡
2012) e nasatitu-des políticas (Bartels e Bermeo, 2014).
No
entanto, esta vertente de investigação tem examinado,principalmente,
mudançaspolíticas
do ponto
de
vista
dos
cidadãos,enquanto as estratégias partidárias têm, em grande parte, sido negligenciadas.
Acre-ditamos que os casos grego e português são adequaáo, puru.rrnuãnãüse das campa-nhas de candidatos em diferentes contextos, não só por causa do impacto significativo
da crise económica, mas também devido a algumas diferenças
insiitucionáis
impor-tantes. Esta variação transnacional e
longitudinal
permite-nos compreender se osåsti-los e os objetivos de campanha são os mesmos em diferentes contextos.
Qrais
são as principais expectativas em relação ao impacto da crise económicanas campanhas dos candidatos? Têndo em conta o potencial efeito da crise económica
nas estratégias de campanha, é plausível que a intervenção
e
as restrições ditadas pelos credores internacionais possam ter criado um contexto que fomentasse aimple-mentação de campanhas mais individualizadas.
Em primeiro
lugar, com programas de austeridade decididos por atores estrangeiros, torna-se cadaveimaisdifícilãistin-guir
entre diferentes programaspartidários
ou plataformas eleitorais (Enyedi, 2014).Em
segundo lugar, um dos efeitos da crise económica é revelar a existência de crisesno
seio das organizaçõespartidárias
perante aopinião
pública. Apesar deo
senti-mento de desilusão com os partidos ser um fenómeno de longoptuio
,
de o aumento das opiniões negativas sobre os partidos ser uma tendência consolidada, vários estu-dos têm demonstrado que a crise económica e financeira que afetou o sul da Europaserviu como um catalisador p^ra a crescente distância entre os partidos e os cidadãos
(JaIzli,
2074;Lisi,
201Ð. É, provável que o aumento do descontentamento doscida-dãos em relação aos partidos (em especial aos partidos do governo) e as dificuldades
dos
principais partidos
em responder aos desafios colocados pela crise e em seremsensíveis à sua base eleitoral, altere as estratégias de campanha, enlatizando o papel dos candidatos em detrimento das organizaçöes partidárias.
Qrando
analisamos as eleições porruguesas(20rr)
e gregas (20j,2), devemossalientar que as perceções e as condições associadas à crise econãmica são profunda-mente diferentes.
Enquanto na Grécia
os dois resgates financeirosjá tinham
sìdoimplementados e os seus efeitos sociais, económicos e
políticos
eram evidentes, nocaso- português, quando se realizaram as eleições de 201,1,, ainda não era claro quão
profundos seriam os efeitos das medidas de auste¡idade e quanto tempo
iriam
durar. Por conseguinte, a nossaprimeira
hipótese prevê que u.iir.
económica promoveuuma maior individualização
das campanhas, sendo expectável que este Ëfeito sejamais forte entre os candidatos gregos.
A
nossa segunda hipótese diz respeito ao cenárioinstitucional.
Têndo emcon-sideração os incentivos
institucionais
para umamaior
ou menor personalização das campanhas, é expectável que os dois países apresentem diferentás níveis deindivi-dralização das campanhas. Várias
nzões
teóricas estão na base desta hipótese.Primeiro,
de acordocom uma
vertente consolidada de pesquisa,a
variâvelcrucial
que afeta a motivação dos candidatospara
organizar eimplèmentar
as suasINDIVIDUALIZAÇÃODASCAMPANHASELEITORAIS
I
61próprias estratégias de campanha e
mobilizar
mais recursos pessoais está relacionadacom as características do sistema eleitoral.
Em particular,
aòredita-se que o sistema de representação proporcional promove campanhas mais centralizadas e aumenta acoordenação nacional e uma estrutura
vertical
da organîzação da campanha (Bowlere
Farrell,
1992; Swanson eMancini,
1996;FarreII,2002). Alguns
estudos realizadosem países europeus parecem
confirmar
que as campanhas são mais centralizadas em sistemas eleitorais proporcionais (Plasser e Plasser, 2002;Karlsen e Skogerbø,2075).
No
que respeita aos seus sistemas eleitorais, a Grécia e Portugal sãomarcada-mente diferentes. Embora ambos os países usem
um
sistema de representaçãopro-porcional nas eleições legislativas,
aGrécia
tem três segmentosdistintos,
enquantoPortugal uttliza apenas um segmento.
No
geral, o sistema eleitoral da Grécia é signi-ficativamente mais desproporcional do que o sistema eleitoral português.A
média damagnitude
dos círculos eleitorais é de5,4
para aGrécia
ede
10,5 para Portugal,enquanto os limiares mínimos efetivos são de 11,7 e de 6,5, respetivamente (Gallagher
e
Mitchell,
2008;
Freire,Moreira
eMartins,
2008).Além
disso, se considerarmos que na Grécia há uma cláusula-barreira de 3%o eum prémio
demaioria
correspon-dente a 40 lugares (que aumentou para 50 lugares com a reforma eleitoral de 2008),as diferenças entre os dois países são ainda mais flagrantes.
Outra
característicaimportante
do sistema eleitoral que pode afetar o grau deindividualização das campanhas é o
tipo
deboletim
devoto.
Carey e Shugart (1995)foram
os pioneirosna
investigação sobre estetópico, ao
analisarem as diferentescaracterísticas do sistema eleitoral que afetam os incentivos para o
voto
pessoal.De
acordo com este
contributo,
o efeito da magnitude do círcuio eleitoral interage com aestrutura do
boletim
de v-oto.A
medida que a magnitude aumenta, maior é aproba-bilidade de
os candidatos desenvolverem campanhasindividualizadas,
quando oseleitores expressam as suas preferências. Por outro lado, em listas fechadas, esta rela-çáo
é
exztamente oposta: supostamente, só os candidatos notopo
das listas devemen{atizar a sua personalidade, pois, neste contexto, aufllização de recursos pessoais é
um
instrumento
para assegurar a seleção pelos líderespartidários.
Os estudosempí-ricos tendem a
confirmar
esta interação, revelando, assim, que a capacidade doscan-didatos
para mot:ltlizar recursos (ilegais) depende,tanto
da magnitude
do
círculoeleitoral, como do
tipo
deboletim
de voto (Chang eGolden,
2007). Relativamente àestrutura do
boletim
de voto, há claras diferenças entre Grécia e Portugal. Na Grécia,os eleitores votam no candidato ou candidatos numa lista eleitoral (entre um e cinco, dependendo do número cle lugares em causa no círculo), enquanto em Portugal o voto
é entregue às listas fechadas preparadas pelos partidos, sendo que os eleitores só têm de escolher entre os vários partidos políticos que se apresentaram na eleição.
Além
das características do sistema eleitoral, espera-se que as campanhasgre-gas e portuguesas sejam divergentes em matéria de
individualizaçáo
das campanhas,devido à existência de diferentes níveis
de
centralizaçãodo
Estado. Vários estudosdemonstram que a estrutura
administrativa afeâ
as características das organizaçõespartidárias e o processo de seleção dos candidatos
(Lundell, 2004;
Bolleyer,2017).Consequentemente, é possível esperar que quanto maior for o nível de descentraliza-ção, maior a probabilidade de os candidatos realizarem campanhas individualizadas. Portugal é um dos países mais centralizados no contexto europeu, tal como é
demons-INDIVIDUALIZAç,TO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
I
63do
Comparøtitte Candidate Survey (ver a introdução destelivro
para mais detalhes)com o propósito de analisar avariaçáo da individualização das campanhas nos dois países; segundo, estimámos
um
modelo de regressãomultivariada
deforma
a isolar os principais determinantes da individual\zaçáo das campanhas em quatroconfigu-rações contextuais diferentes.
Este capítulo centra-se exclusivamente nos candidatos dos dois mais
impor-tantes partidos políticos na altura das eleições: o
Partido
Socialista (es) e oPartido
Social
Democrata
(nso)
emPortugal;
eo ND
eo
PASoK naGrécia. Esta
opção deveu-se a razões substanciais e metodológicas.Primeiro,
estamos particularmanteinteressados
no
comportamento dos candidatosligados
aospartidos
que ocuPâm posições de governo e/ou quetêm
grandes probabilidades deformar
governo após as eleições. Segundo, alguns dos fatores maisimportantes
daindividualizaçáo
dacampanha
dizem
respeito às característicasdo partido,
tal
comoo tipo
departido
(catch-all ,uersus foftemente ideológico; grande 'uersus
Peqtreîo em termos eleitorais;
direita
versus esqtrerda).Os
candidatos dospartidos
mais pequenostêm'
habitual-mente, opiniões e hábitos bastante diferentes em termos de individualização da cam-panha (não só devido à
falta
de recursos, como também devido àmaior
ênfase naideologia e nos conteúdos programáticos
-
ver Gibson e Römmele, 2001). Por estesmotivos, é
muito
provável que o impacto da crise financeira nas estratégias de cam-panha sejalimitado
empartidos
mais ideológìcos ou empartidos
antissistema.Ao
considerar partidos que apresentam uma nattrfeza semelhante, tal como o PS e o PSD
em
Portugal
e o ND e o PASOK na Grécia, muitos dos fatores acima descritosapre-sentam uma variação
limitada
ou, pura e simplesmente, são invariantes. Por isso, aoescolher apenas
partidos
comuma
menor carga ideológica e de grande dimensão, controlamos, facilmente, o impacto das características do partido na individualizaçãodas campanhas.
Em
terceiro lugar, em 2009, não há dados para os candidatos gregos que não sejam do ND ou do PASOK, o que significa que estabelecer comparações entre a campanha grega de 2009 e as restantes campanhas eleitorais sem reconhecer estaimportante lacuna resultaria numa série de conclusões imprecisas. Por
fim,
não nos pareceum
grande problema queo
foco
da análise seja colocado nos dois maiorespartidos políticos
em cada país, uma vez queo principal objetivo
destecapítulo
écomparar os padrões gerais de individualização e determinar se eles variam de acordo com os contextos
político-institucionais
(Grécia versusPofiugal) ou económicos (pré versus pós-rcsgate),identificando a
força relativa dos fatores mais relevantes, e nãotanto elaborar um modelo exaustivo dos fatores que explicam as variações em termos do grau de
individualização
das campanhas.A partir
dos estudosdeZittel
e Gschwend (2008), foram selecionadas como variáveis dependentes três dimensões diferentes daindividualizaçáo
das campanhas:o
enfoque comunicativo da campanha(partidos
versus candidatos,variando
entrezero "a campanha
tem
comoobjetivo aftaír
o
máximo
de atenção possível para' opartido",
edez"a
campanha visaatrair
omáximo
de atenção possível para ocandi-dato"); a agenda da campanha (uma variável dummy que mede a introdução de ques-tões que são relevantes pâra o círculo eleitoral do candidato durante a campanha) e os
meios de campanha (variando eîtne zeto "não foram
utilizados
recursos ou estraté-gias pessoais", e sete "vários recursos ou estratégias pessoais foramutilizados")'
62 |
REPRESENTAçÃO E PARTICTPAçÃOpOlÍrrce
NA EUROPA EM CRISEtrado
peloíndice
de autoridaderegional (Hooghe,
Marks
e Schakel, 2008). Nesteíndice, Portugal apresenta um valor de 3,7 numaescala de 0
a20,
emque valores mais elevadossignificam
níveis mais baixos ð.e centralização.A
Grécia
é relativamentemais
descentralizada, apresentandouma
pontuaçãode
10no
mesmoíndice.
Por-tanto, com base na
literatura
sobre o impacto do sistema eleitoral eda
centralizaçáodo Estado na personalização das campanhas por parte dos candidatos, espera-se que os candidatos gregos apresentem
um
maior
nívelde
personalizaçãodo
que os seushomólogos portugueses.
A
nossa terceira hipótesediz
respeito ao estatuto específicodo partido
que apoia os candidatos durante a campanha.A
crise económica pode ter efeitos distintosnas estratégias dos partidos e dos candidatos, dependendo da sua posição
institucio-nal.
Sabemos que, em eleições realizadzs em períodos conturbados, os incumbentestêm
o
objetivo
deevitar
a responsabilizaçã.o pela situaçãodiÍìcil
em queo
país seencontra (Magalhães, 201,4a).
Além
disso, Vavreck (2009) defende que a esrratégia dos candidatos depende do contexto, especialmente em termos de desempenhoeconó-mico.
Qrando
a situação económica é favorâvel, os líderes tendem a focar-se mais em questões desta matéria; mas quandoo
desempenho económico é negativo, preferem centrar-se em questões mais consensuais.Durante
as crises económicas, os partidos incumbentes tendem a nãofocar
demasiadoo
desempenho dos líderes partidáriosnacionais, de forma a evitar serem castigados pelos eleitores. Deste ponto de vista, é
expectável que os candidatos dos partidos incumbentes realizemcampanhas mais
per-sonalizadas do que aqueles que pertencem a partidos na oposição. Como
tal,
a nossa terceira hipótese é a de que a emergência da crise económica reforça a individualizaçãodas campanhas dos candidatos apoiados pelos partidos incumbentes, quando compa-rados com os candidatos dos partidos da oposição. Por outras palavras, espera-se que o estatuto do
partido
tenha um impacto maior depois do resgate do que antes do res-gate. Contudo, a formaçáo de um governo tecnocrático, apoiada por uma grandecoli-gação
formada
pelo Movimento
Socialista
Pan-helénico(eRsor
-
llavel,Àr1vroI,ooral,rotrrcó Kivr¡¡ra) e pela Nova Democracia (NO
-
Nta
Aq¡rorpotia),
que esteve no poder entre novembro de201L e maio de2012, pode ter esbatido a distinção entrepartidos incumbentes e de oposição. Como
tal,
a comparação entre a Grécía ePortu-gal permite-nos também analisar o
impacto
qlue a"clareza de responsabilidade" pode exercer sobre as estratégias dos candidatos, especialmente quando édifícil
identificar
o
partido
ao qual se podeatribuir
a culpa pelas medidas de austeridade.3.
Dados
e
metodologia
Este capítulo tem como objetivo analisar o grau de individualização das cam-panhas na Grécia e em
Portugal,
añtes e depois doinício
da crise económica.De
modo a responder a esta questão,
utilizámos
uma base de dadosoriginais,
baseadanum questionário comum aplicado nos dois países em análise, relativo a duas eleições
INDIVIDUALIZAçÃO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
I
65caso
grego
a
tendência
sejade
crescenteindividualização
(t-testpara
Portugal:41.351--
-
1.36; p>0.1; t-test para a Grécia: t[2701=-
1.54; p>0.1).Um
segundoindicador
de
individualizaçáo
das campanhasdiz
respeito àagenda
de
campanha. Perguntou-se aos candidâtos setinham
introduzido na
suaageldade campanha temas relevantes parâ o seu círculo eleitoral, temas esses que não eram abrangidos pelo partido ao nível nacional ou regional. Tal comportamento é
um
indicador
de individual\zaçáo, porque desliga os candidatos da agenda nacional epermite-lhes
selecionar temas e acontecimentos nos quais a suaprópria
personali-dade, experiência ou conhecimento podem representar uma mais-valia na competi-ção.
Mais
rtmavez, os candidatos gfegos tendem a adotat mais frequentemente esta estratégia de individualização do que os candidatos poftugueses (Tabela 2.1.), mas asdiferenças são apenas significativas nas eleições mais recentes
(Chi-quadrado
2009:f
[f,
N=
184]--1..20,?,
0.7;Chi-quadrado
2077/72:*
lt,N=2221=10.88,1<
0.01)'Na
Grécia, aproximadamente 600/o dos candidatos focam-se em questões específicasdo
círculo
eleitoral pelo qual se candidatam em ambas as campanhas, enquanto emPortugal uma agenda local
foi
implementada por cerca de 35o/o dos candidatos do PSe do PSD em2017
-
uma diferença de quase 20 pontos percentuais, em comParação com as eleições de 2009(t'
[1,N=136]=4.85, p<0.05).trm
Portugal, o contextopolí-tico
pós-resgate levou a que os candidatos do PS e do PSD adotassem agendasinde-pendentes menos frequentemente do que em 2009 (Tabela2.7.).
Tabela 2.1.
-
Enfoque comunicativo da campanha, agenda e recursos em Portugale na Grécia antes e depois do regate (candidatos do PS, PSD, PASOK e ND)
Enfoque Comunicativo* 4.7
Agenda de Campanha Personalizaåa (0/o) ** 59.9 Personalização dos recursos
4.3
de (lnolceJ
Fontes: Pa¡a a Grécia: Andreadis, Chadjipadelis e Teperoglou (20I4a,2014b). Para Portugal: Freire e Viegas (2010) e
Freire, Viegas e Lisi (2013a). Dados calculados pelos autores.
Notas: *Os valores correspondem à média (para cada eleição) numa escala de 0 (atrair o máximo da atenção possível para o partido) a 10 (atrair o máximo de atenção possível para o candidato). ** Percentagem de candidatos que' durante a campanha, introduzem questões que são relevantes para o círculo eleitoral pelo qual se candidatam. *** Os valores dizem respeito à médìa (para cada eleição) numa escala de 0 (não foram utilizados meios pessoais) a 7 (foram utilizados vários meios pessoais),
Centremo-nos agora nos recursos e nos materiais utilizados pelos candidatos
durante a campanha eleitoral.
A
maioria
dos candidatos portugueses e gregos dosdois
maiorespartidos políticos
no
momento
das eleições usarampelo
menos umdos seguintes materiais ou atividades de campanha personalizados: cartâzes de cam-panha
em
nomepróprio;
anúnciosem
nomepróprio na
imPrensalocal;
horas de2.2 2.3 4.1. 62 53.9 .1) 2.7 4.5 2.2 Grécia 2009 Grécia 2072 Portugal 2009 Portugal 20-t-1,
64 I
REPRESENTAçÁO E PARTICIPAçAO POLÍT]CA NA EUROPA EM CRISEOs fatores chave da análise empírica são os contextos
institucionais (Portugal
versus Gré,cia), o momento da campanha (antes e depois do resgate) e o estatuto do
partido
que apoia o candidato durante as eleições (um=incumbente; zero=oposição)2.As variáveis de controlo utilizadas no modelo dizem respeito a características
socio-demográficas importantes, tais como a idade e o género dos candidatos (ver
Aalberg
e Strömbäck, 2077; Karlsen e Skogerbø, 2015), mas também o nível a que a nomea-ção de cada candidato é feita (escala de três pontos, de "nomeação
local"
até"nomea-ção nacional"), visto que um processo descentralizado de nomeação deverá conduzir
a
uma maior individualização
(Carey eShugart,
1995;Giebler
e Wessels, 201,3)3.A
ideologia não éincluída no
modelo de regressão, vma vez que, neste caso, estáfortemente associada ao estatuto do
partido
(incumbente aersus oposiçã,o).Na
secção seguinte, procedemosà
descrição das diferençase
semelhanças entre Grécia e Portugal, no que diz respeito às três dimensões de individualização das campanhaspor
parte
dos candidatos.Em
seguida, a contribuição relativa de cada uma das variáveis independentes descritas zcima é avaliadapor meio de váriasregres-sões.
4. Individualizaçã,o
das
campanhas em
Portugal
e
na
Grécia:
resultados empíricos
Antes de nos centrarmos nos aspetos concretos da individualizaçã.o da campa-nha
-
nomeadamente apreparaçáo e o uso de materiais personalizados-,
começamospor
centrar a nossa atenção nanofma
relativa ao enfoque comunicativo das campa-nhas. Por outras palavras, deverão as campanhas ser usadas para chamar a atenção dos eleitores para os partidos políticos ou parâ os candidatos? Os candidatos gregospreferem
utilizar
as campanha s parc- fazetincidir
a atenção sobre si próprios emmaior
grau do que os candidatos portugueses (Tabela 2.1.). As diferenças entre os dois
pai
ses são consideráveise
estatisticamentesignificativas, quer
antesda
crise (t-test:t185l=-4.68;
p<0.01), quer depois da crise (t-test: t2201=-5.57; p<0.01).Em
termoslongitudinais,
verificamos que na Grécia e emPortugal
náo h,â uma mudançasigni-ß.cattvano enfoque comunicativo dos candidatos, entre 2009 e2011"-201.2, embora no
2 Em20L2, o PASOK será considerado incumbente por dois motivos: foi responsávei pelo
resgate, e a
grande coligação com o ND durou apenas alguns meses.
3 De acordo com os dados disponíveis, a proporção de candidatos eleitos na eleição mais recente foi maior em Portugai do que na Grécia (31.,7o/o e 17,8o/o, respetivamente, nas eleições de 2009). Em Portugal,
esta proporção aumentou para 39,40lo dos candidatos eleitos nas eleições de 2011; não há dados disponíveis
pârâ o caso grego. Acreditamos que esta diferença não altera, substancialmente, a interpretação dos
resultados principais, uma vez que ambos os países utilizam sistemas eleitorais que encorajam os
66
I
REPRESENTAÇÃO E pARTrclpAÇÃopolÍrrce
NA EURopA EM CRISEexpediente; reuniões sociais; panfletos em nome
próprio;
anúncios em nomepróprio
na râdio,
TV
e cinemas; ou site nainternet
em nomepróprio (Figura
2.1.). Entende-mos as reuniões sociais e as horas de expediente como atividades próprias de umacampanha individualizada, porque permitem aos candidatos assumir uma posição de destaque na campanha e promover
um
contacto direto com os eleitores.As
reuniões sociais são as atividades personalizadas mais comuns realizadas pelos candidatos, tanto em Portugal como na Grécia, e a sua importância não sofreu alterações substanciais após os resgates.No
que respeita aos outros recursos, umaanálise comparativa sugere que artiTização dos meios de comunicação social (media locais,
internet)
é mais frequente na Grécia do que em Portugal,tal
como a prcpa;ra-ção de panfletos em nomepróprio
e ohábito
de estabelecerum horário
de atendi-mento para receber os eleitores.Em
termoslongitudinais, há
um
grandegrau
de estabilidade entre as campanhas de 2009 e 201.1.,muito
embora o uso da internet emPortugal tenha aumentado consideravelmente, enquanto que os anúncios nosjornais
e as horas de expediente foram
utilizados por
uma proporção menor de candidatos portugueses naúltima
campanha.Além
disso, em Portugal, menos de 400/o doscan-didatos
utilizaram
uma página web em nome pessoal durante a sua campanha, um valor substancialmenteinferior
ao verificado na Grécia (Figura 2.1.).Figura 2.1.
-
Meios de campanha específicos utilizados pelos candidatos (%)INDIVIDUALIZAçÁO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
I
67de espantar que os gregos
utilizem,
em média, cerca de quatro em cada sete meiosde campanha
individualizados,
enquanto a média para os candidatos portuguesesé de cerca de
dois,
quer na eleiçãode
2009, quer na eleiçãode
2077.Na
Grécia, os meios pessoaisforam
usadoscom mais
frequênciado
queem Portugal,
tantoantes (t-test: tU76]=-1'0.65;
?<0'01),
como depois do resgate(ttest:
tl217l=
-
29'50;
p<0.01). Por
fim,
encontramos fortes padrões de estabilidade nas campanhas reali-Zadas pelos candidatos dos dois maiores partidos políticos, antes e depois dosresga-tes (Tabela 2.1'.).
Em resumo, a análise acima apresentada sugere que' em geral, houve um
con-siderável grau de estabilidade na forma como os candidatos apoiados pelos principais
partidos
conduziram as suas campanhas antes e depois da crise. Os dados tambémsugerem que os níveis de
individualização da
campanhaforam
muito
maiores naGrécia
do
que emPortugal. Esta
evidência empírica não nospermite
sustentar anossa
primeira
hipótese, relativa aos efeitos da crise, mas a nossa segunda hipótese, sobre as diferenças entre Portugal e Grécia, é confirmada.5. Fatores de
individualização
das
campanhas em
Portugal
e
na
Grécia,
antes
e
depois
do resgate
Na
secção anterior, vimos que o contexto de resgate parece não ter provocado mudanças significativasno
grau deindividualização
das campanhaspor parte
doscandidatos apoiados pelos dois mais importantes partidos políticos em cada país, e
que há diferenças significativas entre as campanhas portuguesas e as gregas. Nesta secção, pretendemos fortalecer esta conclusão através de uma análise desagregada,
com o objetivo de avaliar se houve uma mudança nos fatores que explicam a
indivi-dualîzaçáo da campanha antes e depois do resgate. Depois
de2009,
espera-se que oimpacto das variáveis contextuais (isto é, o estatuto do
partido
apoiante comoincum-bente ou como oposição) seja maior relativamente a outros fatores.
Para cadavariâve| dependente, são apresentados quatro modelos de regressão.
O
modelo 1 é um modelo geral para Portugal e paÍa a Grécia, queinclui
as variáveis de controloe
uma dumnty para o país, de forma a avaliar aimportância
dasconfigu-rações institucionais no padrão de individualização da campanha.
O
modelo 2inclui
também uma durnrny, paÍa
o
aîo
de eleição, e um termo de interação com o objetivo de avaliar seo impacto
da crise económica é defacto maior
naGrécia do
que emPortugal. Os
modelos3
e4
são específicospan
cadaum
dos países em anáiise edestinam-se àavaliaçã,o do impacto da crise financeira, das atitudes e dos
comporta-mentos dos candidatos apoiados pelos partidos no governo de cada país.
O
primeiro
conjunto de regressõestem
como variâvel dependente o enfoquecomunicativo da campanha (Tabela
2.2.). Os
resultados corroboram as conclusões que derivam da análise ao nível macro: as diferenças entre os candidatos portuguesese os candidatos gregos são significativas, mesmo quando se controla o efeito de vários
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 95 84 zg 8o 74 67 59 41 17 11
Cartazes Anúnc¡os em Horário de campanha nome própr¡o na de expediente em nome própr¡o imprensa local
Reuniões sociais Panfletos em nome própr¡o Anúncios em nome próprio na rád¡o, TV e cinemas Slle na internet em nome próprio 65 3B 35 38 2S 27 27 19 12
Portugal2009 IPortugal2011
!crécia2009
lcrécia2012Fonte: Ver Tabcla 2.1. Dados calculados pelos autores.
Notas: Percentagem dc candidatos quc, durante a campanha, utiliza¡am o material ou modalidade de campanha em questão.
Os dados acima dicutidos foram