REVISTA
PAULISTA
DE
PEDIATRIA
www.rpped.com.br
ARTIGO
ORIGINAL
Aleitamento
materno,
introduc
¸ão
precoce
de
leite
não
materno
e
excesso
de
peso
na
idade
pré-escolar
Viviane
Gabriela
Nascimento
a,∗,
Janaína
Paula
Costa
da
Silva
b,
Patrícia
Calesco
Ferreira
c,
Ciro
João
Bertoli
de
Claudio
Leone
aaFaculdadedeSaúdePública,UniversidadedeSãoPaulo(USP),SãoPaulo,SP,Brasil b
FaculdadedeCiênciasdaSaúdedoTrairi,UniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),Trairi,RN,Brasil cFaculdadedeMedicinadoABC,SantoAndré,SP,Brasil
d
UniversidadedeTaubaté,Taubaté,SP,Brasil
Recebidoem7dedezembrode2015;aceitoem29demaiode2016 DisponívelnaInternetem16dejunhode2016
PALAVRAS-CHAVE Aleitamentomaterno; Alimentac¸ão complementar; Sobrepeso; Pré-escolar; Obesidade Resumo
Objetivo: Investigarrelac¸õesexistentesentreexcessodepesoempré-escolares,durac¸ãodo aleitamentomaternoeaidadedeintroduc¸ãodeleitenãomaterno.
Métodos: Estudotransversaldeamostrarepresentativade817pré-escolares,2-4anosdeidade, decrechesmunicipaisdeTaubaté.Opesoeaalturadascrianc¸asforammensuradosnascreches em2009,2010e2011.CalculadooescorezdeÍndicedeMassaCorporal(zIMC),ascrianc¸as foramclassificadascomoriscodesobrepeso(zIMC≥1a<2)oucomoexcessodepeso(zIMC≥2).A análisedosdadosfoifeitaporcomparac¸ãodeproporc¸ões,coeficientedecorrelac¸ãoeregressão linearmultivariada.
Resultados: Aprevalênciaderiscodesobrepesofoi18,9%edeexcessodepeso(sobrepesoou obesidade)de9,3%.Amedianadedurac¸ãodoaleitamentomaternoeaidadedeintroduc¸ãodo leitenãomaternofoide6meses.OzIMCdacrianc¸aevidencioucorrelac¸ãodiretacomopesoao nascer(r=0,154;p<0,001)ecomoÍndicedeMassaCorporal(IMC)materno(r=0,113;p=0,002). Acorrelac¸ãofoiinversacomadurac¸ãototaldoaleitamentomaterno(r=−0,099;p=0,006)ea idadedeintroduc¸ãodeleitenãomaterno(r=−0,112;p=0,002).Nãohouvecorrelac¸ãoentreo zIMCdacrianc¸acomocomprimentoaonascer,durac¸ãodoaleitamentoexclusivoeidadeda mãe.
Conclusões: Quantomaisprecoceaintroduc¸ãodeleitenãomaterno,maioracorrelac¸ãocom excessodepesonaidadepré-escolar.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadedePediatriadeS˜aoPaulo. Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY(http://creativecommons.org/licenses/ by/4.0/).
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.rppede.2016.05.002 ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:vivianegnasc@hotmail.com(V.G.Nascimento).
0103-0582/©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadedePediatriadeS˜aoPaulo.Este ´eumartigoOpenAccesssob umalicenc¸aCCBY(http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
KEYWORDS Breastfeeding; Complementary feeding; Excessweight; Preschooler; Obesity
Maternalbreastfeeding,earlyintroductionofnon-breastmilk,andexcessweight
inpreschoolers
Abstract
Objective: Investigateassociationsbetweenexcessweightinpreschoolchildren,breastfeeding durationandageofnon-breastmilkintroduction.
Methods: Cross-sectional study of arepresentative sample of817 preschoolchildren, aged 2to4years,attendingmunicipaldaycarecentersinthecityofTaubaté.Theweightandheight ofchildren weremeasured inthe daycarecentersin2009, 2010and2011. Thebody mass indexz-score(BMIz)wascalculatedandchildrenwereclassifiedasriskofoverweight(BMIz≥1 to<2)orexcessweight(BMIz≥2).Dataanalysiswascarriedoutbycomparisonofproportions, coefficientofcorrelationandmultivariatelinearregression.
Results: Theprevalenceofriskofoverweightwas18.9%andofexcessweight(overweightor obesity)was9.3%.Themediandurationofbreastfeedingandageofintroductionofnon-breast milk was 6 months.The child’s BMIzshowed direct correlationwith birthweight (r=0.154;
p<0.001)andmaternalBodyMassIndex(BMI)(r=0.113;p=0.002).Thecorrelationwasinverse withthetotaldurationofbreastfeeding(r=−0.099;p=0.006)andageatnon-breastmilk intro-duction(r=−0.112;p=0.002). Therewas nocorrelationbetween thechild’sBMIzwith birth length,durationofexclusivebreastfeedingandmother’sage.
Conclusions: Theearliertheintroductionofnon-breastmilk,thehigherthecorrelationwith excessweightatpreschoolage.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadedePediatriadeS˜aoPaulo. ThisisanopenaccessarticleundertheCCBYlicense(http://creativecommons.org/licenses/ by/4.0/).
Introduc
¸ão
O aleitamento materno representa forma natural e ade-quada de alimentar uma crianc¸a nos primeiros meses de vida,propiciacrescimentoedesenvolvimentoadequados.1
Nesse sentido,a Organizac¸ão Mundialde Saúdepreconiza que oaleitamento maternoexclusivo sejamantido atéos seismesesequeasuacomplementac¸ãocomoutros alimen-tosénecessáriasomenteapartirdessaidade.2
Diversos estudos têm mostrado que o aleitamento maternoé umfatordeprotec¸ãotanto paraadesnutric¸ão quantoparaaobesidade.3---5 Omomentodeintroduc¸ão de
outrosalimentos,inclusivesólidos,duranteainfância tam-bém tem sido considerado um aspecto importante na atenc¸ão à crianc¸a, até por suas possíveis consequências sobre a saúde ao longo de toda a vida.6 O momento de
introduc¸ãoeaquantidadedealimentossólidos7,8
introdu-zidosnadietadascrianc¸as,noiníciodavida,podemlevar aumaumentodorisco dedesenvolverobesidade precoce-menteeascomorbidadesaelaassociadas.9,10
Aobesidade,atualmente,éumdosgrandesdesafiosda saúde pública, inclusive na pediatria, desde os lactentes até a adolescência. Nesse contexto, sabe-se que os pri-meiros mesesdevidasãoapontadoscomo cruciaisparao desenvolvimentodaobesidade.11,12Aintroduc¸ãoprecocede
alimentos sólidos, particularmente antes dos 4 meses devida,seassociaaumaumentodoganhodepesoeatéde gorduracorpóreaduranteainfância,13,14fatoresesses
con-sideradospredisponentesàobesidadefutura.15
Existeaindacontrovérsiaemrelac¸ãoàprotec¸ãodoleite maternonodesenvolvimentodaobesidade.Enquantoalguns estudos sugeremque o aleitamento maternopode prote-gerascrianc¸asquantoaodesenvolvimentodesobrepesoou
obesidade,outrossugeremqueofatodeiniciaraintroduc¸ão dealimentoscomplementaresomaispróximodo recomen-dadosejaofatordeprotec¸ãocontraoexcessodepeso.3,5
Nessecontexto,oobjetivodesteestudoéinvestigaras possíveisrelac¸õesexistentesentreexcessodepesonaidade pré-escolaredurac¸ãodoaleitamento maternoe idadede introduc¸ão de leite não materno, com controle de peso e comprimento ao nascer, além de algumas característi-casmaternasderisco paraodesenvolvimentoprecocede excessodepeso.
Método
EstudotransversalfeitoemcrechesmunicipaisdeTaubaté, Estado de São Paulo, Brasil, com crianc¸as em idade pré--escolar,originalmenteprevistoparaavaliarocrescimentoe oestadonutricionaldosingressantesduranteosanosletivos de2009,2010e2011.
Paraocálculodaamostra,foiconsideradaumadiferenc¸a de1/3 de desvio padrão noescore z de Índice de Massa Corpórea(zIMC),comsuposic¸ãodedesviopadrãode1,2de zIMC,paraumpoderdetestede90%eumalfade5%.Ototal mínimoestimadocomonecessáriofoide248crianc¸asque, acrescido de10% para reporpossíveis perdas ou recusas, resultouemamostrainicialde273pré-escolaresnecessária paracadaanoletivodeavaliac¸ão.
Aamostragemfoiprobabilísticaealeatóriapor conglo-merados,tevecomounidadeamostralasprópriascreches, baseadanalistagemdaSecretariadeEducac¸ãodacidade. Das59crechesexistentes nessalistagem,foramsorteadas novecrechesmunicipaisechegou-sea288,246e283 pré--escolaresentre2a4anosincompletos,avaliadosem2009, 2010e2011,respectivamente.
Tabela1 Característicasdospré-escolaresporanodeingressonascreches,2009,2010e2011
Variáveis 2009 2010 2011
Média DP Média DP Média DP
Idade(meses) 38,8 3,7 38,9 3,7 38,8 3,7 Peso(kg) 15,3 2,6 15,4 2,3 15,4 2,4 Altura(cm) 97,1 4,7 96,9 4,3 97,1 4,9 IMC 16,2 1,8 16,3 1,6 16,3 1,6 zPeso/Idade 0,269 1,223 0,305 1,038 0,320 1,012 zAltura/Idade −0,077 1,088 −0,143 0,913 −0,071 1,140 zIMC 0,460 1,236 0,571 1,061 0,539 1,142
IMC,ÍndicedeMassaCorporal;zIMC,EscorezdeÍndicedeMassaCorporal.
Apósacoletadosdadosdoúltimoanoletivo, procedeu--seàcomparac¸ãodostrêsanos,comointuitodeverificar possível semelhanc¸a da amostra. Como os três anos leti-vosamostradosnãorevelaramdiferenc¸asnascaracterísticas antropométricasdospré-escolares(tabela1),optou-sepor continuaraanálisedogrupocomoumtodo, independente-mentedoanodeavaliac¸ãodascrianc¸as.
Dessemodo, nopresente estudoforam incluídos todos ospré-escolaresqueestavammatriculadosefrequentavam asclassesdematernalInoprimeirosemestredesses3anos letivos,oqueresultouemamostrafinalde817crianc¸as.
Dessaamostraforamanalisadasasinformac¸õesdepeso e comprimento de nascimento, durac¸ão do aleitamento maternoexclusivo,durac¸ãototaldoaleitamentomaternoe aidadedeintroduc¸ãodeleitenãomaterno,alémdeidade, pesoealturadasmães.Essesdadosforamreferidose ano-tadospelas mãese/ou responsáveis dospré-escolares em formuláriopadronizadoquefoienviadoporintermédiodas creches.
Osdadosantropométricosdepesoealturadascrianc¸as foramtomadosnasprópriascreches,emdiasdevidamente programados, em abrilde2009, 2010 e 2011. As crianc¸as forampesadassemsapatosecomomínimoderoupa possí-vel,embalanc¸aeletrônicaportátil(803,Seca®,Portugal),
comcapacidadeparaaté150kgesubdivisõesde100g. Paraamedidadeestaturafoiusadoumestadiômetro por-tátil(E210,WISO®,SãoPaulo,Brasil)fixadoàparede,com
subdivisõesemcentímetrosemilímetros.Ascrianc¸as encos-taramàparedecalcanhares,panturrilhas,glúteoseombros eposicionaramacabec¸acomoplanodeFrankfurt horizonta-lizado.Todasasmedidasantropométricasforamobtidascom astécnicasdescritasporLohmanetal.16emduplicata,
ano-tadasimediatamenteapóssuatomada,comamédiacomo valorfinalparaasanálises.
OsvaloresdeescorezdePeso(zP),deEstatura(zE)ede ÍndicedeMassaCorporal(zIMC)decadacrianc¸aforam cal-culadosapartir doreferencialdaOrganizac¸ão Mundialde Saúde(OMS)de2006.17Paraclassificaroestadonutricional
dascrianc¸asforamusadososcritériospropostospelo Minis-tério daSaúde em 2009.18 Consideraram-se com risco de
sobrepesoospré-escolarescomzIMC≥1a<2ecomexcesso de peso, isto é, sobrepeso ou obesidade, aquelas com zIMC≥2.
A análise dos dados do grupo das três amostras como um todo foi feita por meio de cálculos de frequências, comparac¸ões de proporc¸ões e cálculo dos coeficientes de
correlac¸ãodePearson.Alémdisso,nofim,foitambémfeita uma análise de regressão linear múltipla, que teve como variável dependenteo zIMCdos pré-escolares. Para essas análises,asinformac¸õesdedurac¸ãodoaleitamentomaterno exclusivoedoaleitamentomaternototal,bemcomoaidade deintroduc¸ãodoleitenãomaterno,foram operacionaliza-dosemmesescompletos.Nomodelodeanálisederegressão lineardemúltiplasvariáveisforamincluídasnovevariáveis independentes, a saber,idadee sexodacrianc¸a, durac¸ão doaleitamentomaternoexclusivo,durac¸ãototaldo aleita-mentomaterno,idadedeintroduc¸ãodeleitenãomaterno, pesoaonascer,comprimentoaonascer,alémdaidadeedo IMCdasmães.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisa daFaculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Protocolo 1.877, de abril de 2009). O Termo deConsentimento LivreeEsclarecido foienviadoàsmães ou responsáveis, pela própria creche, foram devolvidos devidamente preenchidos e assinados antes do início de coleta,conformeaResoluc¸ãodoConselhoNacionaldeSaúde n◦ 196/1996,vigentenaépocadapesquisa.
Resultados
Atabela1mostraamédiadeidadedascrianc¸asavaliadas em 2009, 2010 e 2011, de 38,8, 38,9 e 38,8 meses, res-pectivamente, com desvio padrão (DP) de 3,7 meses, nos três momentos (p=0,465). Em relac¸ão ao Índice de MassaCorporal e ao seuescore z, verificou-se nãoexistir diferenc¸aestatística(p=0,689ep=0,515;respectivamente). Em relac¸ãoaos demais parâmetrosantropométricos apre-sentados,tambémnãofoiobservadadiferenc¸aestatística.
Naamostratotal,51,3%dascrianc¸aseramdosexo mas-culino,nãohádiferenc¸anessaproporc¸ãoentre2009,2010 e2011,cujosvaloresforam51,7%,50,4%e52,3%, respecti-vamente(qui-quadrado;p=0,907).
Noqueserefereaoriscodesobrepeso(zIMC≥1a<2),a amostratotalevidenciouumaprevalênciade18,9%equanto àdoexcessodepeso(zIMC≥2),de9,3%.Acomparac¸ãodas prevalênciasdoexcessodepesopara2009,2010e2011não mostroudiferenc¸as,de9,4%,8,5%e9,9%,respectivamente (qui-quadrado;p=0,864).
Comrelac¸ãoàdurac¸ãodoaleitamentomaterno,25%das crianc¸as receberamaleitamento maternode forma exclu-sivaatéos6meseseamedianadedurac¸ãodoaleitamento
0 5 10 15 20 25 –4 –2 0 2 4 6
Duração total do aleitamento materno (meses)
Escore z de índice de massa corpórea
1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 –4 –2 0 2 4 6 Peso de nascimento (g)
Escore z de índice de massa corpórea
0 6 12 18 24 –4 –2 0 2 4 6
Idade (meses) de introdução de leite não materno
Escore z de índice de massa corpórea
15 20 25 30 35 40 45 –4 –2 0 2 4 6
Índice de massa corpórea materno
Escore z de índice de massa corpórea
Figura1 Tendênciasdecorrelac¸ão/regressãoentreoescorezdeÍndicedeMassaCorporaldospré-escolaresepesodenascimento, durac¸ãototaldoaleitamentomaterno,idadedeintroduc¸ãodeleitenãomaternoeÍndicedeMassaCorporaldamãe.Taubaté,São Paulo,2009-2011.
maternoexclusivo foi de3 meses.A mediana de durac¸ão totaldoaleitamentomaternoedeintroduc¸ãodoleitenão materno foi a mesma, 6 meses, e apresentou a mesma amplitude de variac¸ão, 0 a 23 meses de idade. Do total daamostra,10%dascrianc¸asreceberamleitematernopor 24meses.
Quanto às características maternas verificou-se que 43,7% das mães apresentavam sobrepeso (IMC≥25) e que11,7%eramobesas(IMC≥30).
Na análise bivariada, houve correlac¸ão entre zIMC da crianc¸a com o peso ao nascer (r=0,154; p<0,001), oIMCmaterno(r=0,113;p=0,002),adurac¸ãodoaleitamento maternototal(r=-0,099;p=0,006)eaidadedeintroduc¸ão
doleitenãomaterno(r=-0,112;p=0,002).Essasduasúltimas apresentaramcorrelac¸ãoinversa(fig.1).
A análise de regressão linear de múltiplas variáveis (tabela2)mostrouqueapenasquatrodasnovevariáveisdo modelo inicial permaneceram associadas de modo signi-ficante ao zIMC dos pré-escolares, a saber, por ordem crescentedesignificânciaestatística:sexomasculino,IMC materno,idadedeintroduc¸ãodeleitenãomaternoepeso aonascer. Dessas, apenasoscoeficientes dopeso ao nas-ceredoÍndicedeMassaCorporalmaternoforampositivos, enquanto para as outras duas variáveis foram negativos, indicaramumacorrelac¸ão inversa. Nãoapresentaram sig-nificâncianomodeloaidadedacrianc¸a,seucomprimento
Tabela2 RegressãolineardemúltiplasvariáveisassociadasaoescorezdeÍndicedeMassaCorporal(IMC)dospré-escolares
Variáveis Coef. Erropadrão CP t p-valor
Durac¸ãoAME(meses) 0,001 0,025 0,002 0,055 0,956
Idadedamãe(anos) −0,002 0,006 −0,009 −0,255 0,799
Idadedacrianc¸a(meses) 0,003 0,011 0,009 0,245 0,807
Comprimentoaonascer(cm) −0,012 0,015 −0,031 −0,761 0,447
Durac¸ãototalAM(meses) −0,007 0,006 −0,049 −1,083 0,279
Sexomasculino −0,189 0,082 −0,082 −2,298 0,022
IMCmaterno(kg/m2) 0,025 0,009 0,099 2,805 0,005
Idadeintroduc¸ãoLNM(meses) −0,025 0,007 −0,120 −3,397 0,001
Pesoaonascer(r) 0,000 0,000 0,162 4,533 <0,001
Constante −0,942 0,315 − −2,996 0,003
Coef.,coeficiente;CP,coeficientepadronizado;IMC,índicedemassacorporal;AME,aleitamentomaternoexclusivo;AM,aleitamento materno;LNM,leitenãomaterno.
aonascer,a durac¸ãodoaleitamentomaternoexclusivo,a durac¸ãototaldoaleitamentomaternoeaidadedamãe.
Discussão
Nopresenteestudo,aprevalênciadeexcessodepesoentre ospré-escolaresfoide9,3%,valorquepodeserconsiderado elevadoem nossomeio.5,19 O maioríndice de massa
cor-poralmaterno,aintroduc¸ãoprecocedeleitenãomaterno e omaiorpeso ao nascer dos pré-escolaressemostraram fatoresderiscoparaodesenvolvimentodeexcessodepeso (risco de sobrepeso, sobrepeso ou obesidade) nessa faixa etária.
Quanto ao sexo, apesar de o masculino ter se mos-trado comofator deprotec¸ão frenteao excessode peso, seuimpacto foi muitopequeno (coeficientepadronizado= -0,082), o que explica o fato de não se ter encontrado diferenc¸a significante na prevalência em relac¸ão ao sexo (p=0,907) na amostra analisada, o que, aliás, está de acordocomoutraspesquisasquetambémnãoencontraram diferenc¸asnaprevalênciadoexcessodepesoemfunc¸ãodo sexodacrianc¸a.20,21
QuantoaoÍndicedeMassaCorporalmaterno,verificou-se que43,7%dasmãesestavamcomexcessodepeso (sobre-peso ouobesidade)e quehavia correlac¸ão direta entreo ÍndicedeMassaCorporalmaternoeodacrianc¸a,fatoque tem sido documentado na literatura já há algum tempo, aténoBrasil.22,23Essasevidênciasdarelac¸ãodiretaentreo
estadonutricionaldemãesefilhosnoBrasilquantoao sobre-pesoestãosendodivulgadasdesdeosanos1980,quandoa PesquisaNacionalsobreNutric¸ãoe Saúde(PNSN),ao estu-darcrianc¸as menoresde10 anos,concluiu que o riscode umacrianc¸a ter sobrepeso era 3,2 vezes maiorquando a mãetambémtinhasobrepeso.24Moreiraetal.25mostraram
tambémumaelevadaprevalênciade excessodepeso nas crianc¸as associada à obesidadecentral damãe e ao alei-tamentomaternonãoexclusivo porumperíodo inferiora 6meses.
Embora alguns pesquisadores considerem inconclusivas asevidênciasdequeaamamentac¸ãoéumfatordeprotec¸ão contra a obesidade infantil,26 na última década outros
têm concluído que o aleitamento materno exclusivo pro-tegecontraosobrepesonascrianc¸asdeidadepré-escolare escolar.5,21Hedigeretal.,27nosEstadosUnidos,concluíram
queopré-escolarquehaviasidoamamentadoapresentava um risco reduzido de ser obeso, porém não de apresen-tarsobrepeso. Já estudo longitudinal em crianc¸as alemãs evidenciouo papel protetor doaleitamento materno pro-longadotambémparaosobrepeso.22 NoBrasil,emPelotas,
estudocommenoresde4anosmostrouqueaprevalênciade sobrepesoemcrianc¸asamamentadaspormaisde11meses foimenordoqueaobservadaentreaquelasamamentadas pormenosde3meses.28
Apesardoefeitoprotetor doaleitamentomaterno des-critopor diversosautores,a idade deintroduc¸ãodeleite nãomaternopareceserumfatorderiscomaisimportante paraodesenvolvimentodoexcessodepesoemcrianc¸asna fasedepré-escolar.Nonossoestudo,otempototalde alei-tamentomaterno,naanálisebivariada,mostroucorrelac¸ão comozIMCdospré-escolares,porémessasignificâncianão semantevenaanálisederegressãodemúltiplasvariáveis,
indicou possivelmente que a introduc¸ão precoce de leite não materno,mesmo quando em aleitamento misto, com a manutenc¸ão prolongada do aleitamento materno, pode resultarnaatenuac¸ãodoefeitoprotetordoleitematerno. A introduc¸ão precoce do leitenãomaterno, pelo excesso deofertadeproteínasqueacarreta,podeestarinduzindoo desenvolvimentodoexcessodepesoemcrianc¸asjánaidade pré-escolar,29 mesmo quando associado ao leite materno,
ereduzindo,assim,opapelprotetor dessefrenteaorisco dedesenvolvimentodesobrepesoeobesidade.
Apromoc¸ãodoaleitamentomaternocomopossível estra-tégiaparaaprevenc¸ãodaobesidadeinfantilfazdoincentivo ao aleitamentomaternoumaferramentaindispensávelno combate aalterac¸ões nutricionais.Por outro lado,o leite nãomaternodeveriaserincluídoapartir dosextomêsde vida,poisoleitematernocomoúnicoeexclusivoalimento nãomaisatendeatodasasnecessidadesdacrianc¸a.A prá-tica correta da alimentac¸ão complementar é considerada fundamentalnocombateadesviosdoestadonutricional,já que seprocessaentreos6e 24meses,umperíodo parti-cularmentecrítico parao crescimento, podeinterferirna velocidadedecrescimento,oque,emmédioelongoprazo, podevir a terconsequências parao desenvolvimento e a saúdedacrianc¸a.Nessecontexto,umalimitac¸ãodoestudo foianãoverificac¸ãodaintroduc¸ãodeoutrosalimentosna dietadacrianc¸a.
Conclui-se,portanto, queem crianc¸as que apresentam condic¸õesdemanteroaleitamentomaternoporumperíodo prolongadodetempo,mesmoquedemaneiranãoexclusiva, postergaraintroduc¸ãodeleitenãomaternoatéporvolta dos6mesespodecontribuirparaquesemantenhaoefeito protetordoleitematernofaceaoriscodedesenvolvimento precocedeexcessodepeso,quejápodesemanifestarna idadepré-escolar.
Financiamento
Oestudonãorecebeufinanciamento.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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