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Estudo sobre intoxicações em animais de companhia no concelho de Loures

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Academic year: 2021

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JOANA ISABEL GARCIA CARDOSO

ESTUDO SOBRE INTOXICAÇÕES EM ANIMAIS

DE COMPANHIA NO CONCELHO DE LOURES

Orientador: Professor Doutor Nuno Cardoso

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Medicina Veterinária

Lisboa 2016

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JOANA ISABEL GARCIA CARDOSO

ESTUDO SOBRE INTOXICAÇÕES EM ANIMAIS

DE COMPANHIA NO CONCELHO DE LOURES

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Medicina Veterinária

Lisboa 2016

Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em Medicina Veterinária, no curso de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Presidente de mesa: Professor Doutor Daniel Murta Arguente: Professora Doutora Joana Oliveira Orientador: Professor Doutor Nuno Cardoso Co-orientador: Mestre Professor Pedro Almeida

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AGRADECIMENTOS:

Ao meu orientador de estágio curricular Dr. Nuno Cardoso pelo apoio prestado durante a realização da minha dissertação de mestrado.

Ao meu co-orientador Dr. Pedro Almeida, que mesmo estando noutro país, se disponibilizou de forma incondicional e com imensa paciência.

À Dra. Ana Lúcia Rodrigues por ter disponibilizado o seu tempo para me auxiliar com terminologia de toxicologia.

À Dra. Inês Viegas e Dr. Mauro Bragança por me terem dispendido o seu tempo nos resultados estatísticos.

Aos médicos Dra. Isabel Narciso e Dr. Joaquim Cordeiro e auxiliar Carla Ramalhete da Clínica Veterinária do Infantado, pela transmissão de conhecimentos, auxilio e amizade recebida durante o estágio curricular.

Aos meus pais, que fizeram um esforço extra para que eu pudesse tirar o curso que sempre desejei e que fizeram com que nunca desistisse.

Às minhas colegas de curso, Ana Sofia, Sandra e Tânia e marido Rui Oliveira por me manterem animada nesta última etapa.

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RESUMO:

No presente estudo, foram observados 43 casos de intoxicação ou suspeita de intoxicação, em gatos e cães, durante 4 meses. Os 43 casos foram obtidos através da distribuição de questionários em centros de atendimento médico veterinário no concelho de Loures.

Este estudo teve como objetivo a caracterização das intoxicações tendo em conta as características intrínsecas dos animais (espécie, género, via de intoxicação, idade, o habitat: meio rural ou meio urbano e o tipo de ambiente: indoor, outdoor ou ambos), verificando quais as intoxicações que ocorreram com maior frequência, a sua causa, os sinais clínicos associados, os exames complementares mais solicitados, o tratamento aplicado e a taxa de mortalidade resultante dessa intoxicação.

Após análise estatística verificou-se que as intoxicações ocorreram maioritariamente em cães (72,1%). O género mais afetado em cães foram fêmeas (51,2%) e machos (83,2%) em gatos. Os cães eram maioritariamente de raça determinada (58,1%) e os gatos indeterminada (91,7%) e a maioria da amostra pertencia à faixa adulto (53,5%). De acordo com o tipo de ambiente, os cães encontravam-se outdoor (51,6%) e os gatos indoor (58,3%) e ambos em meio rural (69,8%). Os xenobióticos mais implicados nas intoxicações foram os fármacos em cães (29,0%) e gatos (50,0%), seguido dos rodenticidas e herbicidas/pesticidas (22,6%) em cães e os xenobióticos naturais em gatos (33,3%) e a via mais implicada foi a via oral (72,1%). Os sinais clínicos apresentados pelos animais foram sinais do sistema digestivo (93,0%), seguido dos sistemas nervoso (65,1%) e cardíaco (48,8%). Verificou-se que as maiores taxas de mortalidade se verificaram nos animais com sinais clínicos de cinco sistemas ou aparelhos de órgãos (75,0%), com sinais clínicos do aparelho urinário (70,0%) e com intoxicação por etilenoglicol (100%) e rodenticidas (62,5%). Os exames complementares mais solicitados foram as bioquímicas sanguíneas (30,2%) e hemograma (27,9%). Os tratamentos que apresentaram menor taxa de mortalidade foram: os banhos (0%); a antibioterapia, lavagens orais com clorhexidina, sedativos, corticosteroides, barbitúricos e benzodiazepinas (20,0%); provocar a emese (20,0%); administração de carvão ativado (26,7%) e antídoto (30,0%).

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ABSTRACT:

In the present study, we observed 43 cases of poisoning or suspected poisoning in cats and dogs, during four months. The 43 cases were obtained by distributing questionnaires in veterinary medical care centers in Loures municipality.

This study aimed to characterize the poisoning cases taking into account the intrinsic characteristics of the animals (species, gender, intoxication route, age, habitat: rural or urban and the type of environment: indoor, outdoor or both), verifying which poisonings occurred more frequently, the etiology, the associated clinical signs, the most requested laboratory tests, the treatment applied and the resulting mortality rate of the poisoning.

After statistical analysis it was found that the intoxication occurred mainly in dogs (72,1%). The gender most affected in dogs were female (51,2%) and male (83,2%) in cats. Dogs were mainly purebreed (58,1%) and cats crossbreed (91,7%) and they were all mainly adults (53,5%). According to the type of environment, dogs were mainly found outdoor (51,6%) and cats indoor (58,3%) and both in rural areas (69,8%). The most frequent xenobiotic involved were drugs in dogs (29,0%) and cats (50,0%), followed by rodenticides and herbicides/pesticides (22,6%) in dogs and natural xenobiotics in cats (33,3%) and the most implicated route was the oral route (72,1%). The clinical signs presented more frequently by the animals were signs of the digestive system (93,0%), followed by the nervous system (65,1%) and cardiac (48,8%). It was found that the highest mortality rates were found in animals with clinical signs of five organ systems or devices (75,0%), with clinical signs of the urinary tract (70,0%) and in ethyleneglycol (100%) and rodenticides (62,5%) poisoning. The most frequently ordered complementary diagnosis tests were blood biochemicals (30.2%) and hemogram (27,9%). The treatments that had the lowest mortality rate were: baths (0%); antibiotic treatment, oral rinses with chlorhexidine, sedatives, corticosteroids, barbiturates and benzodiazepines (20,0%); to induce emesis (20%); administration of activated charcoal (26,7%) and antidote (30,0%).

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ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS:

A,B.C.D.- vias respiratórias, respiração, circulação e inaptidão do sistema nervoso central, acrónimo aglo-saxónico paraAirway, breathing, circulation and disability of central nervous system

AINEs- anti-inflamatórios não esteroides

ALT- alanina trasaminase, acrónimo aglo-saxónico paraAlanine transaminase AST- aspartato transaminase, acrónimo aglo-saxónico paraAspartate transaminase ATP- adenosina trifosfato, acrónimo aglo-saxónico paraadenosine tri-phosphate BID- Duas vezes ao dia, do acrónimo em latimbis in die

BUN- Ureia nitrogenada

C.A.M.V.- Centro de atendimento médico veterinário C.I.A.V.- Centro de informação antivenenos

CK- creatinoquinase, acrónimo aglo-saxónico paracreatine kinase COX- enzima ciclooxigenase

DDT- diclorodifeniltricloroetano, acrónimo aglo-saxónico para

dichlorodiphenyltrichloroethane D.L.A.- dose letal aproximada

DL50- dose necessária para provocar a morte de 50% da amostra de população D.M.T.- dose máxima tolerada

D.N.T.M- dose não tóxica máxima

ELISA- ensaio imunoenzimático, acrónimo aglo-saxónico para enzyme-linked immunosorbent assay

FA- fosfatase alcalina FC- fator de cronicidade

GABA- àcido gama aminobutirico, acrónimo aglo-saxónico paragamma aminobutyric acid GGT- Gama glutamil transpeptidase

g/kg- grama por quilograma

H2- antagonista de recetores de histamina ILE- emulsão lipídica endovenosa

IM- intramuscular

IV- endovenoso, acrónimo aglo-saxónico paraintravenous mg/g- miligrama por grama

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mEq/kg- miliequivalentes por quilograma mEq/l/h- miliequivalentes por litro por hora PO- via oral, acrónimo em latimper os PR- via rectal, acrónimo em latimper rectum

PT- tempo de protrombina, acrónimo aglo-saxónico paraprothrombin time

PTT- tempo parcial de tromboplastina, acrónimo aglo-saxónico para partial thromboplastin time

PVC- pressão venosa central

QID- quatro vezes ao dia, acrónimo em latimquater in die H2- recetores da histamina

SC- subcutâneo

SID- uma vez ao dia, acrónimo latimsemel in die S.N.C.- sistema nervoso central

TID- três vezes ao dia, acrónimo em latimter in die T.F.G.- taxa filtração glomerular

TGI- trato gastrointestinal t1/2- tempo de semi vida

U/kg- unidade internacional por quilograma μg/kg- micrograma por quilograma

μg/kg/min- micrograma por quilograma por minuto 2- PAM- pralidoxima

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ÍNDICE GERAL:

1. INTRODUÇÃO GERAL:...14

1.1. Terminologia e conceitos gerais:... 15

1.1.1. Toxicodinâmica dos xenobióticos:...16

1.1.1.1. Absorção:... 16

1.1.1.2. Distribuição:...17

1.1.1.3. Metabolismo:...17

1.1.1.4. Excreção:...18

1.1.2. Toxicocinética dos xenobióticos:...19

1.2. Triagem na intoxicação:...21

1.3. Procedimentos de descontaminação:...23

1.3.1. Descontaminação gastrointestinal:...23

1.3.2. Emese:... 23

1.3.3. Lavagem gástrica:... 25

1.3.4. Diminuição da absorção gastrointestinal:... 26

1.3.5. Aumento da excreção gastrointestinal (catárticos):... 27

1.3.6. Indução da eliminação urinária:... 28

1.3.7. Sequestro iónico:...29

1.3.7.1. Acidificação da urina:... 29

1.3.7.2. Alcalinização da urina:...30

1.3.8. Descontaminação cutânea:... 30

1.3.9. Descontaminação ocular:... 31

1.3.10. Descontaminação de substâncias inaladas:... 31

1.3.11. Descontaminação de substâncias inoculadas:... 32

1.4. Principais xenobióticos:... 32 1.4.1. Produtos Fitofarmacêuticos:...32 1.4.1.1. Organofosforados:...33 1.4.1.1.1. Tratamento:... 33 1.4.1.2. Carbamatos...34 1.4.1.2.1. Tratamento:... 35 1.4.1.3. Organoclorados:... 35

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1.4.1.3.1. Tratamento:... 36 1.4.1.4. Amitraz:...36 1.4.1.4.1. Tratamento:... 37 1.4.1.5. Piretrinas e Piretróides:... 38 1.4.1.5.1. Tratamento:... 39 1.4.1.6. Rodenticidas:...40 1.4.1.6.1. Tratamento:... 41

1.4.2. Antipirético e Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs):... 43

1.4.2.1. Antipirético- Paracetamol... 43 1.4.2.1.1. Tratamento:... 43 1.4.2.2. AINEs:...44 1.4.2.2.1. Tratamento:... 46 1.4.3. Plantas:... 47 1.4.3.1. Tratamento:... 49 1.4.4. Alimentos e condimentos:...50 1.4.4.1. Xilitol:... 50 1.4.4.1.1. Tratamento:... 50 1.4.4.2. Chocolate:... 51 1.4.4.2.1. Tratamento:... 51 1.4.4.3. Sal:...52 1.4.4.3.1. Tratamento:... 52

1.4.4.4. Uvas, passas e sultanas:...52

1.4.4.4.1. Tratamento:... 53

1.4.4.5. Cebola:... 53

1.4.4.5.1. Tratamento:... 54

1.4.4.6. Micotoxinas na alimentação seca de animais de companhia:... 54

1.4.4.6.1. Tratamento:... 55

1.4.5. Etilenoglicol:... 56

1.4.5.1. Tratamento:... 56

1.4.6. Intoxicação por contacto com a larvaThaumetopoea p.(processionária):...58

1.4.6.1. Tratamento:... 59

2. DECLARAÇÃO DE OBJETIVOS:...60

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3.1. Metodologia:... 61

4. RESULTADOS:...64

4.1. Caracterização da amostra (apêndice II):...64

4.1.1. Características intrínsecas:... 64 4.1.1.1 - Espécie:...64 4.1.1.2 - Raça:... 64 4.1.1.3 - Género:...64 4.1.1.4 - Idade:... 64 4.1.2. Via de intoxicação:...65 4.1.3. Causa:...65 4.1.4. Tipo de ambiente:...65 4.1.4.1. Habitat:...65 4.1.4.2. Ambiente:...66

4.1.5. Sistema ou aparelho orgânico afetado:... 66

4.1.6. Exames complementares:...66

4.1.7. Tratamentos realizados:... 67

4.1.8. Resultado obtido:... 67

4.2. Análise estatística:...67

4.2.1. Habitat vs. causa de intoxicação:... 67

4.2.2. Tipo de ambiente vs. causa de intoxicação:... 68

4.2.3. Idade vs. causa de intoxicação:... 69

4.2.4. Idade do animal vs. via de intoxicação:... 70

4.2.5. Raça do animal vs. causa de intoxicação:... 71

4.2.6. Causa de intoxicação vs. Sistema orgânico afetado:...72

4.2.7. Causa de intoxicação vs. taxa de mortalidade:...73

4.2.8. Aparelho ou sistema orgânico afetado vs. taxa mortalidade:...73

4.2.9. Nº de sistemas ou aparelhos orgânicos afetados vs. taxa mortalidade:...74

4.2.10. Tratamento realizado vs. taxa mortalidade:... 74

5. DISCUSSÃO:... 76

6. CONCLUSÃO:... 81

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ÍNDICE DE TABELAS:

Tabela 1- Sinais clínicos apresentados pelos 43 animais de acordo com a

sua causa de intoxicação... 72 Tabela 2- Taxa de mortalidade de acordo com o tratamento realizado em

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ÍNDICE DE GRÁFICOS:

Gráfico 1- Causa de intoxicação em 43 animais de acordo com o habitat em que este se encontra inserido... Gráfico 2- Causa de intoxicação em 43 intoxicações em animais segundo o seu tipo de ambiente... Gráfico 3- Faixa etária de 43 animais com intoxicação e a sua respectiva causa de

intoxicação. ... Gráfico 4- Via de intoxicação de 43 animais, segundo a sua faixa

etária... Gráfico 5- Raça de 43 animais com intoxicação e a sua respectiva causa de

intoxicação... Gráfico 6- Taxa de mortalidade resultante das 43 intoxicações, segundo os diferentes xenobióticos envolvidos. ... Gráfico 7- Taxa de mortalidade de acordo com o sistema ou aparelho orgânico afetado... Gráfico 8- Taxa de mortalidade segundo o número de sistemas orgânicos afetados... 68 69 70 71 72 73 73 74

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ÍNDICE DE FIGURAS:

Figura 1- Dados relativos a 793 chamadas atendidas pelo C.I.A.V em 2013... Figura 2- Dados relativos a 690 chamadas atendidas pelo C.I.A.V em 2014...

15 15

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1. INTRODUÇÃO GERAL:

Em Portugal as referências ao uso de venenos remontam ao século XIX e desde essa época que existem relatos de vários casos de mortalidade animal intencional e acidental.

O aumento das intoxicações com medicações destinadas a uso humano pode ser associado ao aumento da indústria farmacêutica, sendo um problema muito comum na medicina Humana e medicina Veterinária. As intoxicações estão associadas a mortalidade e morbilidade em animais domésticos e animais silvestres (Campbelle & Chapman, 2000; Bernyet al.,2010).

As intoxicações propriamente ditas, na área veterinária, ocorrem na maioria das vezes por imprudência das pessoas ao acondicionarem de maneira imprópria químicos como o etilenoglicol e substâncias destinadas à eliminação de pragas (ratos, insetos, ervas, etc.) como os pesticidas, inseticidas e rodenticidas, ao auto medicar os seus animais com medicamentos de medicina Veterinária e medicina Humana e intencionalmente, de forma criminosa, em envenenamentos de cães de guarda com o objetivo de facilitar o furto. Há ainda intoxicações casuais por ingestão de produtos de limpeza, por ingestão de alimentos tóxicos, por agentes tóxicos no ambiente como plantas ou fungos, pelas situações resultantes de picadas ou contacto com animais venenosos e ingestão acidental de substâncias de abuso.

Segundo Bernyet al.(2010), BSAVA (2011), Poppenga & Brant (2011) e o centro de informação antivenenos (C.I.A.V., 2015) em Portugal, as intoxicações em animais domésticos ocorrem com maior frequência em cães comparativamente com os gatos.

De acordo com Campbelle & Chapman (2000) e Bernyet al, (2010), os agentes mais frequentemente associados a intoxicações em animais domésticos atendidos em centros de atendimento veterinário (C.A.M.V.) foram os inseticidas/acaricidas, rodenticidas, pesticidas, ingestão de plantas, medicamentos de medicina Humana e Veterinária, toxinas associadas a insetos e alimentos ou fungos. Entre os menos frequentes encontravam-se a ingestão acidental de produtos de limpeza, a ingestão de produtos químicos como o etilenoglicol e a ingestão acidental de substâncias de abuso.

De acordo com o centro de informação antivenenos (C.I.A.V.) em Portugal, em 2014 foram atendidas 690 chamadas telefónicas, comparativamente com 793 chamadas atendidas em 2013. Das 690 chamadas atendidas, 548 eram relativas a intoxicações em cães e 105 relativamente a intoxicações em gatos. Tanto em 2013 como em 2014, os cães foram os animais mais envolvidos em intoxicações e os xenobióticos (compostos químicos estranhos a um organismo ou sistema biológico, que podem ser encontrados no organismo, mas que não

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são produzidos pelo mesmo) mais implicados foram os rodenticidas, seguidos dos pesticidas, medicações destinadas a uso humano, acaricidas/inseticidas, medicações de uso veterinário, contacto com insetos e animais venenosos, por ingestão de plantas e por último a ingestão de alimentos tóxicos. Na categoria outros encontram-se os casos de ingestão de produtos de limpeza, ingestão de objetos estranhos, ingestão de substâncias de abuso e ingestão de químicos agrícolas e industriais não especificados (C.I.A.V., 2015). Figura 1 e figura 2.

Figura 1- Dados relativos a 793 chamadas atendidas pelo Centro de informação antivenenos em 2013.

Figura 2- Dados relativos a 690 chamadas atendidas pelo Centro de informação antivenenos em 2014.

1.1. TERMINOLOGIA E CONCEITOS GERAIS:

A toxicologia consiste no estudo dos efeitos nocivos dos venenos sobre os sistemas biológicos, incluindo as suas propriedades, ações e efeitos dos agentes. O agente denomina-se substância tóxica (Poppenga & Brant, 2011).

Um tóxico ou xenobiótico, é qualquer sólido, liquido ou gás que quando introduzido ou aplicado no corpo, pode interferir a nível celular ou no organismo devido às suas qualidades inerentes (toxicidade) (Poppenga & Brant, 2011).

O termo toxina é utilizado para os xenobióticos produzidos por uma fonte biológica (por exemplo, veneno origem animal). Este também se pode designar por biotoxina.

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Os termos intoxicação e envenenamento referem-se a um transtorno provocado por um xenobiótico (Poppenga & Brant, 2011; Ensley, 2013).

O termo toxicidade refere-se à quantidade de uma substância tóxica necessária para causar efeitos nocivos num organismo (Poppenga & Brant, 2011; Ensley, 2013).

A dose letal 50 (DL50) é a dose necessária para provocar a morte de 50% dos indivíduos de um teste. É o parâmetro mais usado para avaliar a toxicidade das substâncias. Para estimar a morbilidade ou a letalidade individual usam-se outras expressões, por exemplo, dose não tóxica máxima (DNTM), dose máxima tolerada (D.M.T.), dose letal aproximada (D.L.A.) (Ensley, 2013).

A remoção ou o desaparecimento, devido a metabolização, de uma substância química num órgão expressa-se em termos de tempo de semivida (t1/2), que é o tempo decorrido até a perda de metade do composto. A taxa de eliminação em geral depende da concentração do composto (Ensley, 2013).

Intoxicação aguda refere-se aos efeitos observados durante as primeiras 24 horas. Quando a intoxicação resulta de uma exposição prolongada, com uma duração de exposição de pelo menos 3 meses ou mais, esta denomina-se intoxicação crónica (Poppenga & Brant, 2011).

A duração da exposição pode afetar significativamente a toxicidade do agente, como refletido no fator de cronicidade (FC), ou seja, a relação entre a DL50aguda e crónica. Depois de uma exposição prolongada o sistema biológico pode tolerar uma dose maior. Outros compostos metabolizam-se e eliminam-se de maneira constante sem distinção da duração da exposição e a dose letal não varia sensivelmente. Por outro lado, a exposição prolongada a um agente tóxico pode fazer com que a dose letal crónica seja muito menor que a dose letal aguda, devido a uma sensibilização ou acumulação (Ensley, 2013).

1.1.1. Toxicodinâmica dos xenobióticos: 1.1.1.1. Absorção:

O processo no qual os xenobióticos atravessam as membranas celulares e entram na corrente sanguínea é referido como absorção (Poppenga & Brant, 2011; Klaassen, 2013).

Não existem sistemas ou vias específicas para a absorção. Os xenobióticos são absorvidos da mesma forma que as substâncias biológicas essenciais, como o oxigénio e nutrientes (Klaassen, 2013).

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A absorção pode ocorrer através do tracto gastrointestinal (TGI), da pele, dos pulmões, das mucosas oculares, das glândulas mamárias, uterina ou de forma iatrogénica. Os efeitos tóxicos podem ser locais, mas é necessário que o xenobiótico seja solubilizado e absorvido para afetar uma célula. A solubilidade é um fator primário que afeta a absorção. Os sais insolúveis e os compostos ionizados são pouco absorvidos, enquanto as substâncias lipossolúveis são rapidamente absorvidas, mesmo através da pele (Ensley, 2013; Klaassen, 2013).

1.1.1.2. Distribuição:

Após a absorção e entrada na corrente sanguínea, um xenobiótico é distribuído pelos tecidos e órgãos. A distribuição ocorre rapidamente e a taxa de distribuição para os órgãos e tecidos é determinado primariamente pelo fluxo sanguíneo e pela taxa de difusão de fora dos capilares para dentro das células de um determinado tecido ou órgão (Klaassen, 2013).

A facilidade da distribuição de uma substância química depende em grande medida da sua solubilidade em água. As substâncias hidrossolúveis são excretadas pelo rim enquanto que as substâncias químicas lipossolúveis têm maior probabilidade de serem eliminadas pela bílis e de se acumularem no tecido adiposo. A concentração máxima de um xenobiótico num animal não se observa necessariamente no órgão ou tecido onde este exerce seu efeito máximo (órgão de destino). Por exemplo, o chumbo pode encontrar-se em maior concentração no osso, não sendo este o seu o local de efeito tóxico (atua a nível do sistema nervoso e medula óssea) (Ensley, 2013; Klaassen, 2013).

1.1.1.3. Metabolismo:

O metabolismo refere-se ao que vai acontecer ao xenobiótico dentro do corpo e é usado geralmente como sinónimo de bio transformação (Poppenga & Brant, 2011).

A maioria das substâncias xenobióticas são metabolizadas ou sofrem bio transformação numa “tentativa de desintoxicação” do organismo. Nalguns casos a substância xenobiótica metabolizada pode ser mais tóxica que a substância original, fenómeno que recebe o nome de síntese letal. Este é o caso de muitos inseticidas organofosforados que produzem metabolitos mais tóxicos que o composto inicial (Poppenga & Brant, 2011; Ensley, 2013).

Existem duas fases de metabolismo, a fase I inclui mecanismos de oxidação, redução e hidrólise. Estas reações que são catalisadas por enzimas do citocromo P450 e convertem os

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compostos em compostos mais solúveis em água e com um grupo funcional reativo para subsequente reação na fase II. No entanto, os produtos da fase I podem ser excretados logo após terminar a fase I, se a solubilidade polar for suficiente para a sua excreção. A fase II implica principalmente conjugação de um grupo funcional (sulfato, glucuronido, aminoácido, glutationa, metil ou acetil) ou reações de síntese. Estas reações resultam em compostos com grande solubilidade em água, para que estes possam ser eliminados pelos rins (Poppenga & Brant, 2011).

Entre os conjugados mais comuns estão os produtos de acetilação e a combinação com glicina. As substâncias xenobióticas raramente seguem uma via metabólica. Geralmente uma fração é excretada sem sofrer alteração e a restante é excretada, ou armazenada, sob a forma de metabolitos. Pode haver diferenças significativas nos mecanismos metabólicos entre diferentes espécies. Por exemplo, o gato tem deficiência de certas glucuroniltransferases, o que compromete a sua capacidade de conjugar alguns compostos como a morfina e os fenóis. Nalguns casos, a tolerância subsequente deve-se à indução enzimática iniciada por exposição prévia (Ensley, 2013).

1.1.1.4. Excreção:

A excreção é o processo de remoção de xenobióticos e dos seus metabolitos do organismo (Poppenga & Brant, 2011).

Grande parte da excreção realiza-se através da filtração glomerular, excreção tubular por difusão passiva e secreção tubular activa. Outras vias de excreção incluem a excreção fecal (através da via biliar), via pulmonar, salivar, pelo suor e através do leite (Poppenga & Brant, 2011).

A excreção via biliar ocorre através do ciclo entero-hepático, ou seja, quando os compostos polares ou de alto peso molecular passam da circulação sistémica para o fígado e são excretados, via ducto biliar para o intestino. Aí são reabsorvidos e passam novamente para a circulação sistémica, que por sua vez retorna ao fígado. Este ciclo contínuo leva ao prolongamento do tempo em que o xenobiótico se encontra em circulação (Poppenga & Brant, 2011).

O leite pode também constituir uma via de excreção para alguns xenobióticos, o que poderá ter impacto na saúde pública, devido à presença de compostos tóxicos em alimentos para consumo Humano (Ensley, 2013).

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1.1.2. Toxicocinética dos xenobióticos:

O potencial de um xenobiótico é determinado por uma variedade de fatores inter-relacionados. Esses fatores por vezes são mais importantes do que o nível de toxicidade do xenobiótico. A absorção, o metabolismo e a eliminação do xenobiótico estão regulados por fatores biológicos, fatores químicos e fatores relacionados com a exposição, que têm influência sobre as consequências clínicas (Ensley, 2013).

1.1.2.1. Exposição:

Todos os dias, os animais estão expostos a xenobióticos, através do ar que respiram, da comida que ingerem e da água que bebem (Poppenga & Brant, 2011).

O fato dos animais não apresentarem sinais clínicos de intoxicação de forma mais frequente, demonstra o princípio da toxicologia de Teofrasto Von Hohenheim (Paracelsus): a dose faz o veneno (Hohenheim, 1538).

As doses que afetam o animal devem ser levadas em consideração, mas estas nem sempre são conhecidas. A duração, tempo e frequência de exposição são importantes. Alguns xenobióticos necessitam apenas de uma exposição para provocar sinais clínicos, mas outros podem requerer mais exposições até provocarem sinais de intoxicação (Poppenga & Brant, 2011; Ensley, 2013).

A via de intoxicação também é importante. Quando ocorre uma intoxicação, a maioria das pessoas assume que esta ocorreu por ingestão de um xenobiótico. No entanto a intoxicação pode ocorrer por outras vias, incluindo a via transdérmica, via inalatória, ocular, etc. Agentes xenobióticos inoculados por via endovenosa têm efeitos mais rápidos, seguido dos inalados, inoculados via subcutânea, inoculados via intramuscular, via oral e via dérmica (Poppenga & Brant, 2011).

O momento de intoxicação, em períodos de estresse ou de ingestão de alimentos, etc., também são um fator importante, por exemplo, depois da ingestão de alguns xenobióticos pode ocorrer vómito se o estômago estiver vazio, mas por vezes se o estômago estiver parcialmente cheio o xenobiótico pode ser retido e pode ocorrer intoxicação. Os fatores ambientais, como a temperatura, a humidade e a pressão atmosférica podem afetar o ritmo de consumo e mesmo a existência do xenobiótico (Ensley, 2013).

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1.1.2.2. Fatores biológicos:

As várias espécies e as raças dentro da mesma espécie reagem de maneira distinta perante um determinado xenobiótico, devido a diferenças de absorção, metabolismo ou eliminação (Poppenga & Brant, 2011).

As diferenças funcionais nas espécies também podem afetar a probabilidade de intoxicação, como por exemplo, animais que não vomitam (por razões anatómicas) podem ser intoxicados com uma dose menor do agente xenobiótico (Ensley, 2013).

A idade e o tamanho do animal constituem fatores primários de envenenamento. O metabolismo e o transporte das substâncias xenobióticas nos animais jovens encontram-se comprometidos pela falta de maturidade do seu sistema enzimático microssómico. Existem variações na permeabilidade das membranas e na capacidade de metabolização hepática e renal devido à idade. Geralmente a quantidade de xenobiótico necessária para causar envenenamento está correlacionada com o peso corporal, mas em casos de um peso corporal muito elevado, observa-se com frequência um aumento da toxicidade de forma não proporcional (por unidade de peso corporal) de um composto. A superfície corporal pode desta forma ser mais estreitamente relacionada com a dose tóxica. Não há nenhum parâmetro que seja consistente para todas as situações (Poppenga & Brant, 2011; Ensley, 2013).

O sexo e o estado hormonal do animal podem afetar o metabolismo das substâncias xenobióticas e afetar as consequências da exposição. As fêmeas gestantes, por exemplo, são aparentemente mais sensíveis a certos compostos visto que a gestação provoca alterações fisiológicas, que incluem a diminuição da motilidade intestinal, diminuição da concentração plasmática de proteína e alterações na função renal e hepática. Estas alterações afetam a absorção, distribuição, metabolismo e excreção dos xenobióticos. O tratamento também tem de ter em consideração o efeito dos xenobióticos a nível fetal (Poppenga & Brant, 2011).

Os fatores nutricionais e dietéticos, o estado de saúde e os fatores de estresse também podem condicionar a gravidade da intoxicação. Os fatores nutricionais podem atuar diretamente sobre o xenobiótico (por exemplo, alterando a sua absorção) ou afetar indiretamente os processos metabólicos ou a disponibilidade de recetores locais (Ensley, 2013).

1.1.2.3. Fatores químicos:

A natureza química de um xenobiótico determina a sua solubilidade, que por sua vez influencia a sua absorção. As substâncias não polares ou lipossolúveis tendem a ser absorvidas com mais facilidade do que as substâncias polares ou ionizadas (Ensley, 2013).

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1.2. TRIAGEM NA INTOXICAÇÃO:

As chamadas telefónicas de urgência devem ser avaliadas com rapidez pelo médico veterinário, visto que o contacto inicial com o proprietário de um animal com suspeita de intoxicação é quase sempre feito por telefone (Gfeller & Messonnier, 2006; Khan, 2010a). A falha em fornecer informações vitais e adequadas ao proprietário podem afetar os casos de intoxicações, de forma negativa, sendo que o desfecho na maioria das situações, resulta na morte do animal em questão (Gfeller & Messonnier, 2006).

A perda de tempo em casa tentando induzir a emese, atrasa a chegada do animal até à clínica onde procedimentos eficazes podem ser implementados, considerando obviamente, o tempo e a distância (Campbelle & Chapman, 2000).

Durante a manipulação do animal, o uso de luvas e um avental ajuda a reduzir a exposição humana (Khan, 2010a).

A doença aguda num animal doméstico pode ter várias causas, podendo ser endógenas ou exógenas. O veterinário tem que estar atento e de forma minuciosa e sistematizada observar e registar todos os sinais clínicos que o animal apresenta (Khan, 2010a).

Numa primeira abordagem devem ser avaliados os sinais vitais. Para facilitar o atendimento nos momentos tensos iniciais, deve ser utilizada a abordagem A.B.C.D. (Airway, breathing, circulation and disability of central nervous system) das emergências, que consiste numa primeira avaliação, que não deve demorar mais que 3 a 5 minutos.

Muitas intoxicações são sistémicas e produzem efeitos difusos como alterações do sistema nervoso central (S.N.C.) e convulsões e estes podem confundir-se com patologias endógenas (Khan, 2010a). O diagnóstico das intoxicações baseia-se numa resenha e anamnese completa, num atendimento rápido, observação dos sinais clínicos, lesões e de análises laboratoriais (Khan, 2010a).

Muitas intoxicações podem resultar de ingestão de objetos estranhos, ornamentos ou xenobióticos. Os sinais clínicos podem ser imediatos ou ocorrer apenas dias após a ingestão.

Segundo Gfeller & Messonnier (2006) os médicos veterinários devem “tratar o paciente, não o xenobiótico” e a solução do problema está num diagnóstico correto. A identificação apropriada do xenobiótico pode proporcionar o uso de antídotos específicos ou de terapias que podem salvar vidas, evitar complicações ou acelerar a recuperação. O diagnóstico preciso aumenta a probabilidade do veterinário reconhecer casos subsequentes de intoxicações pela mesma substância (Gfeller & Messonnier, 2006).

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O proprietário deve ser capaz de informar quais os diferentes xenobióticos que se encontram no ambiente do animal. A falta de informações precisas quanto a possível exposição a um produto tóxico, dificulta a intervenção pois só com a determinação do xenobiótico é possível fazer um tratamento correto. Alguns membros da família devem ser questionados para averiguar o que pode estar presente no ambiente do animal (Gfeller & Messonnier, 2006).

Chegar a um diagnóstico toxicológico requer cooperação entre o proprietário, veterinário e por vezes o toxicologista (Volmer, 2008).

A informação deve ser detalhada (Volmer, 2008; Ensley, 2013):

- Raça, sexo, idade, o peso e histórico médico relevante e atual medicação. - Número total de animais no ambiente e o número de afetados.

- Se for conhecida, a substância ingerida, o tempo de ingestão, sinais clínicos e a resposta ao tratamento (devem identificar-se os medicamentos administrados para evitar a interpretação errada das análises) (Volmer, 2008; Ensley, 2013).

Deve-se instruir o proprietário a levar para a clínica vómitos, suspeita de materiais xenobióticos ingeridos (como por exemplo parte de plantas ingeridas ou rodenticidas), a embalagem ou o rótulo (ou o que sobrou dela) e estes devem ter indicação para serem imediatamente atendidos (Khan, 2010a).

Segundo Ensley (2013) a abordagem geral de um processo agudo de intoxicação compreende os seguintes passos:

- Estabilizar os sinais vitais, através do sistema A.B.C.D. das emergências - Evitar a absorção de mais agente xenobiótico.

- Administrar um antídoto se estiver disponível. - Facilitar a remoção ou eliminação do xenobiótico. - Aplicar terapêutica de suporte e monitorizar o animal.

A terapia de suporte é necessária até o xenobiótico ser metabolizado e eliminado. O tipo de suporte necessário depende da condição clinica do animal. A terapia de suporte pode incluir controlo das convulsões, manutenção da respiração, tratamento do choque, correções dos desequilíbrios eletrolíticos, da perda de fluídos, o controlo cardíaco e alívio da dor (Ensley, 2013).

A prevenção de uma maior absorção do xenobiótico ingerido exige a descontaminação, ou seja, a remoção ou neutralização de substâncias nocivas no organismo e o reforço da sua eliminação (Khan, 2010a). Os xenobióticos podem entrar na circulação

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sistémica por meio de aplicações tópicas, inalação, injeções ou ingestão (Gfeller & Messonnier, 2006). O processo de descontaminação deve ser adaptado para atender às necessidades de cada animal.

1.3. PROCEDIMENTOS DE DESCONTAMINAÇÃO: 1.3.1. Descontaminação gastrointestinal:

A via mais implicada na maioria das intoxicações em animais é a via oral. Existem diversos procedimentos de descontaminação do tracto gastrointestinal. Esses procedimentos variam de acordo com o xenobiótico ingerido e o tempo de ingestão do mesmo. Se a exposição tiver decorrido há menos de 2 horas, pode-se descontaminar o estômago através da emese ou lavagem gástrica. Se a exposição tiver decorrido há mais de 2 horas, não existem razões para descontaminar o estômago, através da emese ou lavagem gástrica, a menos que o exame físico ou radiográfico revele que o estômago contém ingesta (Gfeller & Messonnier, 2006).

Nos casos em que a ingestão já ocorreu há mais de duas horas, existem diversos procedimentos, uns para diminuir a absorção gastrointestinal e outros para aumentar a excreção do xenobiótico (Gfeller & Messonnier, 2006; Volmer, 2008).

1.3.2. Emese:

A emese caracteriza-se por ser um dos métodos mais rápidos, seguros e fáceis para remover substâncias do estômago. A eficácia do vómito depende das propriedades físicas do xenobiótico ingerido, tempo de ingestão, o volume de conteúdo gástrico e o agente emético utilizado. Nalguns casos, os xenobióticos permanecem no estômago algumas horas a emese permite recuperar o conteúdo gástrico (varia de 9 a 75%) permitindo a identificação do xenobiótico ingerido (Volmer, 2008).

Não induzir a emese se (Campbelle & Chapman, 2000): - O animal já está a vomitar;

- O animal estiver enfraquecido ou gravemente doente; - O nível de consciência estiver alterado;

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- Ingestão de produtos cáusticos ou corrosivos: podem causar necrose coagulativa ou liquefactiva da mucosa e submucosa, queimaduras orais e esofágicas, com subsequente formação de estenose;

- Presença de convulsões ou em casos que pode vir a tê-las: a emese pode induzir a apreensão e causar aspiração;

- Em coelhos e roedores;

- Ingestão de hidrocarbonetos voláteis: evaporam rapidamente à temperatura e pressão ambiental e podem entrar nas vias respiratórias podendo causar inflamação, edema e hemorragias.

- Se a exposição foi por via inalatória ou endovenosa

- Se a exposição ocorreu há mais de 2 horas (com exceção de alguns materiais vegetais que são digeridos lentamente e que nestes casos pode ir até 4 horas).

- Em situações de perda do reflexo de deglutição

- Se o xenobiótico for desconhecido: o risco de aspiração ou de repetir a exposição dos tecidos esofágicos ao xenobiótico é muito grande comparado com a efetividade da emese para justificar a sua indução no caso de um xenobiótico desconhecido.

- Em raças braquicefálicas devido ao risco de aspiração. Pode-se induzir a emese com:

- Peróxido de hidrogénio a 3%: atua causando irritação gástrica e pode ser administrada por um veterinário ou proprietário. A dose recomendada é de 1 a 2ml/kgPer Os (PO) para cães e gatos (esta dose pode ser repetida se a emese não tiver ocorrido no espaço de 20 minutos). A agitação suave, como caminhar também pode contribuir para o efeito (Volmer, 2008).

- Cloridrato de apomorfina: age diretamente sobre a zona quimiorecetora e é geralmente usado em cães. Embora uma dose segura e eficaz ainda não tenha sido estabelecida para o gato, este tem sido usado com sucesso nesta espécie por parte de alguns médicos. Este pode ser administrado de várias formas:

a) a administração por instilação no saco conjuntival, em que um comprimido ou parte do comprimido é colocado no saco conjuntival inferior. Outra hipótese é a colocação da apomorfina dissolvida em água e instilada no olho. Depois da emese, o comprimido ou resíduo é removido e a conjuntiva lavada.

b) a administração de 0,03 a 0,04mg/kg intravenous (IV) ou 0,04 a 0.08mg/kg intramuscular (IM) ou 0,08mg/kg subcutâneo (SC). É possível que este provoque depressão

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do Sistema Nervoso Central, podendo esta ser revertida com naloxona na dose de 0,04mg/kg IV, IM ou SC em cães e na dose de 0,05 a 0,1mg/kg IV em gatos (Volmer, 2008).

- Xilazina: tem sido recomendado como um emético em gatos na dose de 0,44mg/kg IM, mas não é um emético de confiança em cães. Pode induzir emese em 5 a 10 minutos. A xilazina causa bradicardia, sedação e depressão respiratória (Campbelle & Chapman, 2000; Gfeller & Messonnier, 2006).

A sedação pode ser revertida com um antagonista α-2 adrenérgico (por exemplo, ioimbina ou atipamezole) (Volmer, 2008).

- Xarope de ipeca: é muitas vezes vendido comercialmente em solução a 7%. Não é muito recomendado, pois não é tão eficaz como outros eméticos. Este causa emese através da irritação gástrica ou através da estimulação da zona de quimiorrecetores. Devido ao seu sabor desagradável, normalmente requer uma administração através de um tubo esofágico. A dose no cão é de 1 a 2,5ml/kg PO e no gato a dose é de 3,3ml/kg PO diluído 50:50 com água. O início da emese deve ocorrer nos primeiros 10 a 15 minutos. A dose pode ser repetida, caso o efeito desejado não se realize no espaço de 20 a 30 minutos (Volmer, 2008).

Segundo Volmer (2008) os seguintes métodos de emese não são recomendados porque são ineficazes e por vezes perigosos:

- Cloreto de sódio (sal de mesa): emese inconsistente, possível intoxicação com iões de sódio.

- Detergente de líquido da loiça: emese inconsistente.

- Colocar os dedos ou outros objetos na parte posterior da garganta: risco de prejuízo para os humanos ou animais, resultados inconsistentes.

1.3.3. Lavagem gástrica:

A lavagem gástrica continua a ser um meio efetivo para remover xenobióticos presentes a nível gástrico através da entubação gástrica e irrigação. (Volmer, 2008) Esta não deve ser efetuada nos casos em que já se passaram mais de 1 a 2 horas. Pode ser usada em animais inconscientes (Campbelle & Chapman, 2000).

Recomenda-se a realização de exame radiográfico para averiguar a presença ou não de ingesta no estômago. Se não for observado nada no estômago, não é necessário assumir os riscos de uma lavagem gástrica (Gfeller & Messonnier, 2006).

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Esta técnica está indicada nos casos em que a indução de emese não teve sucesso, quando o animal apresenta sinais clínicos ou outras condições que impeçam a utilização segura dos eméticos (Volmer, 2008).

As substâncias cáusticas ou corrosivas são diluídas e retiradas por meio de um tubo, evitando-se a reexposição do esófago à toxina (Campbelle & Chapman, 2000; Gfeller & Messonnier, 2006).

Este método de evacuação de xenobióticos permite a introdução de carvão ativado dentro do estômago de animais que não colaboram, contudo apresenta as seguintes desvantagens: requer anestesia geral, possui risco de trauma do esófago ou estômago, há perigo de aspiração de carvão ou fluidos da lavagem/conteúdo gástrico (mesmo que o animal

esteja intubado) e geralmente não é eficaz em remover comprimidos não

dissolvidos/digeridos e com quantidades grandes de ingesta ou pedaços grandes de comida (Campbelle & Chapman, 2000; Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.4. Diminuição da absorção gastrointestinal:

Quando o xenobiótico não pode ser retirado fisicamente, certos agentes administrados oralmente podem absorve-lo e prevenir a sua absorção a nível do tracto gastrointestinal (Ensley, 2013).

Estudos recentes em humanos verificaram que administração de carvão ativado por si só é mais eficaz na descontaminação gastrointestinal do que a emese e a lavagem gástrica (Gfeller & Messonnier, 2006).

Para ser eficaz, o carvão ativado deve contactar fisicamente com o xenobiótico. Dado que o carvão ativado tem grande área superficial, consegue adsorver muitos compostos através de ligações por pontes de hidrogénio, forças de Van der Waals e dipolos no tracto gastrointestinal superior (Lee & Welch, 2013).

Como em todos os fármacos, existem contra indicações para o uso do carvão ativado, tais como: se o animal já apresenta sinais clínicos, pois estes significam que já houve absorção do xenobiótico; quando ocorreu a ingestão de compostos como o etanol, etilenoglicol, xilitol, metais pesados, nitratos e cloratos, visto que o carvão ativado não tem capacidade de ligação a estes compostos; quando há ingestão de corrosivos, agentes cáusticos ou hidrocarbonetos; nas intoxicações por cloreto de sódio, devido ao potencial de agravamento da hiponatremia; quando a janela de tempo para os efeitos benéficos do carvão

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ativado já foi ultrapassada (geralmente uma hora após a ingestão do xenobiótico) ou quando o animal já apresenta emese; em estados hiperosmolares ou quando o animal apresenta doenças com aumento de perda de água livre, como diabetes ou doenças renais; quando vão ser realizados testes de diagnóstico avançados (endoscopia ou cirurgia) pois pode resultar numa obstrução do campo de visão (Lee & Welch, 2013).

Este produto deve ser administrado em pó, misturado com 50 a 200ml de água para fazer uma suspensão na dose recomendada de 1 a 5g/kg PO (preparações líquidas também estão disponíveis e podem conter sorbitol). A administração é repetida ao fim de 6 horas e em xenobióticos de absorção retardada poderá requerer novas administrações (Volmer, 2008; Lee & Welch, 2013).

Se o animal apresentar sinais neurológicos (que afetem o seu estado de consciência), pode-se administrar carvão ativado através de um tubo nasogástrico, sob sedação e com intubação endotraqueal. Este também pode ser administrado com uma seringa ou conta-gotas para animais não anestesiados, embora isso aumente o risco de aspiração. Alguns animais podem ingerir o carvão misturado com uma pequena quantidade de alimento (Volmer, 2008; Lee & Welch, 2013).

Os animais tratados com carvão ativado devem ser monitorizados relativamente à ocorrência de sinais adversos raros, como por exemplo hipernatrémia (inclui sinais semelhantes a outras intoxicações como: ataxia, alteração capacidade mental, tremores, convulsões e coma). Os animais mais suscetíveis de desenvolver estes sinais adversos (desidratação, com síndrome hiperosmolar ou com problemas de perda de água livre) devem realizar painéis sanguíneos (gasimetria venosa e painel de eletrolíticos) para monitorizar a concentração de sódio (Lee & Welch, 2013).

1.3.5. Aumento da excreção gastrointestinal (catárticos):

Existem poucos estudos para afirmar ou negar a eficácia dos catárticos na excreção dos xenobióticos do tracto gastrointestinal, no entanto grande parte da literatura continua a defender o seu uso (Gfeller & Messonnier, 2006).

Os catárticos aumentam a velocidade de trânsito do conteúdo gastrointestinal, promovendo assim a excreção fecal dos xenobióticos. Mais importante, os catárticos diminuem o período de tempo disponível para a absorção sistémica de um xenobiótico presente no tracto digestivo (Lee & Welch, 2013).

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Os catárticos mais comuns incluem catárticos osmóticos: catárticos sacáridos como o sorbitol ou catárticos salinos como o sulfato de sódio (sal de Glauber), sulfato de magnésio (sal de Epson) e citrato de magnésio (Gfeller & Messonnier, 2006; Lee & Welch, 2013). Estes são indicados para auxiliar a passagem do carvão ativado que adsorveu xenobióticos, ou a passagem de xenobióticos que são insuficientemente absorvidos pelo carvão ativado (Gfeller & Messonnier, 2006).

Os catárticos estão contraindicados nos animais em jejum, desidratados, com vómitos, diarreia ou com doenças renais diagnosticadas. A maioria das contraindicações para a administração de catárticos é similar ás da administração de carvão ativado (Lee & Welch, 2013).

O sulfato de magnésio deve usado com precaução em animais com diminuição da motilidade ou com insuficiência renal, em que o excesso de magnésio pode ser absorvido. A absorção de magnésio pode agravar a depressão do S.N.C. causada pelos xenobióticos. Portanto, catárticos com compostos de magnésio são contraindicados nos casos de xenobióticos que causem depressão do S.N.C., O uso de catárticos à base de óleo, também é contraindicado, uma vez que diminuem a eficácia do carvão ativado e podem aumentar a absorção de alguns xenobióticos como os inseticidas (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.6. Indução da eliminação urinária:

Os xenobióticos que são eliminados do corpo essencialmente pelos rins podem ser retirados da circulação mais rapidamente se a taxa de filtração glomerular (T.F.G.) for aumentada através da administração de fluidos cristalóides e diuréticos. Fluidos, como solução salina, Lactato de Ringer ou outras soluções cristalóides, são administrados a uma velocidade que promova a produção urinária superior a 2ml/kg/h (Gfeller & Messonnier, 2006).

Os diuréticos podem ser adicionados para aumentar a T.F.G., como o manitol a 20% na dose de 5 a 10mg/kg IV durante 30 minutos como dose única (Gfeller & Messonnier, 2006; Volmer, 2008).

Se o paciente estiver anúrico, o manitol não deve ser utilizado (Gfeller & Messonnier, 2006).

Eventualmente pode-se recorrer à furosemida numa dose de 2 a 4mg/kg IV para aumentar a diurese. Se não obtiver resposta deve-se administrar uma segunda e terceira dose

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na dose de 4 a 8mg/kg IV (Volmer, 2008). Também pode ser utilizada Dextrose a 10% numa solução salina (20ml/kg IV) alternado com 20ml/kg de solução salina normal ou Lactato Ringer IV durante 6 a 8 horas. (Volmer, 2008) A dopamina na dose de 1 a 2μg/kg/min foi considerada dilatadora das arteríolas renais aferentes, resultando num aumento do fluxo sanguíneo renal e da taxa filtração glomerular (Gfeller & Messonnier, 2006).

O uso de diuréticos tem riscos visto que pode causar desidratação, desequilíbrios eletrolíticos e de ácido-base, hipotensão e subsequente deficit de perfusão (Gfeller & Messonnier, 2006).

A pressão venosa central (PVC) deve ser monitorizada regularmente para evitar sobrecarga de volume ou super-hidratação (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.7. Sequestro iónico:

Existem xenobióticos que são eliminados pela urina e cujo grau de ionização pode ser manipulado alterando o pH urinário. Ácidos e bases fracos estão presentes nas formas ionizadas e não ionizadas no organismo. As substâncias na forma ionizada não se difundem facilmente através das membranas celulares, ou seja, os componentes ionizados são mal reabsorvidos pelos túbulos renais. A incapacidade desses iões em se difundirem através das membranas do lúmen dos túbulos renais é de particular importância. Este fenómeno pode ser usado para aprisionar moléculas ionizadas na urina. Ajustando o pH da urina pode-se alterar o balanço do equilíbrio (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.7.1. Acidificação da urina:

Em animais com urina básica ou neutra, pode-se acidificar a urina para facilitar a excreção de alguns xenobióticos. A acidificação da urina é realizada usando cloreto de amónio para manter o pH da urina entre 5,5 e 6,5. Este é administrado através de preparações orais na dose de 100mg/kg PO BID em cães ou 20mg/kg PO BID em gatos (Gfeller & Messonnier, 2006). A urina ácida favorece o desvio do equilíbrio de certos xenobióticos (de base fraca) para a forma ionizada. Exemplos de xenobióticos que podem ser eliminados utilizando-se esta técnica, são anfetaminas, fenciclidina e estricnina (Gfeller & Messonnier, 2006).

A acidificação urinária não é muito eficaz e pode agravar a lesão renal nos pacientes com rabdomiólise, mioglobinúria ou hemoglobinúria. (Gfeller & Messonnier, 2006).

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1.3.7.2. Alcalinização da urina:

A alcalinização da urina tem sido utilizada para tratar animais intoxicados com salicilatos, etilenoglicol, ácido 2,4-diclorofenoxiacético e fenobarbital. Esta técnica requer que o limiar renal de excreção de bicarbonato (24mEq/L) seja excedido e para esse efeito é necessário efetuar administrações de bicarbonato de sódio na dose de 1 a 2mEq/kg IV a cada 3 a 4 horas. Para melhores resultados a sua administração deve ser endovenosa contínua e lenta (Gfeller & Messonnier, 2006).

O objetivo desta técnica é aumentar o pH urinário acima de 7. No entanto, os carnívoros têm urina ácida e a administração de bicarbonato em quantidades suficientes para provocar alcalinização urinária, pode provocar alcalose metabólica (Gfeller & Messonnier, 2006). A hipocalémia, hipoclorémia (a alcalinização sistémica resulta em perdas de cloro e potássio) e alcalose metabólica são complicações comuns resultantes da tentativa de alcalinizar a urina (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.8. Descontaminação cutânea:

Os xenobióticos aplicados tópicamente podem ser absorvidos através da pele, provocando efeitos sistémicos. Para evitar lesões e absorção sistémica, o xenobiótico deve ser removido o mais rapidamente possível (Gfeller & Messonnier, 2006).

Antes de iniciar o banho é importante que o animal seja estabilizado (Volmer, 2008). O paciente deve ser protegido da ocorrência de lesões ao longo da descontaminação. Se o paciente estiver inconsciente deve-se salvaguardar as vias aéreas para evitar aspiração. Se o animal está consciente, deve-se confirmar que este não ingere o xenobiótico enquanto se procede à lavagem (Gfeller & Messonnier, 2006).

A lavagem deve abranger o todo o animal, ser realizada com água morna e corrente (Gfeller & Messonnier, 2006) e eventualmente com um detergente da loiça (Volmer, 2008). Não se devem usar champôs inseticidas, detergentes designados para máquinas de lavar loiça ou produtos de limpeza. A água fria é de evitar pela possibilidade de provocar hipotermia nos animais (Volmer, 2008).

É necessário repetir o banho, seguido de secagem, enquanto o odor do xenobiótico for muito intenso (Volmer, 2008).

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Por vezes, apenas o banho pode não ser suficiente para algumas substâncias mais viscosas. Nesses casos deve ser considerada a hipótese de tosquiar o pêlo para remover a substância nociva (Volmer, 2008).

Todos os procedimentos devem ser realizados com a devida proteção pessoal, através do uso de luvas protetoras, aventais e proteção contra respingos (Gfeller & Messonnier, 2006).

Se o animal foi exposto a um produto em pó, deve-se escovar suavemente com uma escova de cerdas rígidas ou com um pedaço de papelão. Deve-se evitar que o pó atinja os olhos ou o tracto respiratório do paciente ou do clínico em questão (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.9. Descontaminação ocular:

Os tecidos da córnea são muito sensíveis e lesionam-se com rapidez durante a exposição a xenobióticos. Se este não for removido, o olho pode ser lesionado permanentemente (Gfeller & Messonnier, 2006).

Os sinais clínicos podem variar desde uma leve irritação até danos graves da córnea ou conjuntiva (Volmer, 2008).

O proprietário deve ser informado para lavar o olho do animal com água corrente durante 10 minutos antes de trazer o animal para a clínica. No entanto, a água da torneira é incómoda aos tecidos sensíveis do olho, sendo a solução salina a melhor opção (Gfeller & Messonnier, 2006).

Após a chegada à clínica, deve-se continuar a irrigar o olho com solução salina estéril pelo menos durante 30 minutos. Anestésicos tópicos oftálmicos podem ser utilizados para tornar o procedimento mais confortável para o animal de estimação (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.10. Descontaminação de substâncias inaladas:

A maioria dos xenobióticos, que têm acesso à circulação sistémica através do sistema respiratório, são inalados como gás ou fumos. O paciente deve ser afastado da fonte da substância nociva (Gfeller & Messonnier, 2006).

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Deve-se proteger as vias aéreas, administrar oxigénio humidificado, intubar o animal e ventilar se necessário (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.3.11. Descontaminação de substâncias inoculadas:

A exposição mais comum a xenobióticos inoculados é principalmente, por picadas de abelhas, vespas ou cobras. A injeção de xenobióticos através da pele ocorre em quintas, na rua ou em acidentes industriais com equipamentos pulverizadores de alta pressão (Gfeller & Messonnier, 2006).

Alguns insetos, como as abelhas, picam e fixam o ferrão na pele da vítima, o que promove a formação de uma bolsa de toxina. Esta contrai-se lentamente até que todo o conteúdo seja evacuado na vítima. A remoção imediata da bolsa evitará absorção adicional de toxinas (Gfeller & Messonnier, 2006).

1.4. PRINCIPAIS XENOBIÓTICOS: 1.4.1. Produtos Fitofarmacêuticos:

A designação “produtos fitofarmacêuticos” inclui produtos com tipos distintos de utilização, como inseticidas, fungicidas, herbicidas, reguladores de crescimento e rodenticidas (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, 2015).

Os inseticidas e acaricidas são produtos fitofarmacêuticos que possuem químicos que podem ter efeito nos insetos e nos ácaros ao mesmo tempo. Os herbicidas são produtos fitofarmacêuticos que se destinam ao combate de infestantes e podem ter ação sistémica ou por contacto e os moluscicidas à base de carbamatos, são substâncias usadas em hortas e nos jardins domésticos, para matar caracóis e lesmas (Brutlag, 2010 & Direcção-Geral de alimentação e veterinária, 2015). Em Portugal, as formulações autorizadas para venda no mercado possuem 4% de metiocarbe em grânulos e 50% em grânulos molháveis (Direcção geral de Alimentação e Veterinária, 2015).

Baseado nas suas propriedades, estes químicos podem ser classificados em 5 grupos: 1) Organofosforados 2) Carbamatos 3) Organoclorados 4) Amitraz 5) Piretrinas e piretróides (Gupta, 2012d; Wismer & Means, 2012).

Os rodenticidas, são produtos fitofarmacêuticos, que se destinam a combater roedores e atuam pela alteração dos fatores de coagulação ou pela inibição da produção de adenosina

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trifosfato (ATP) no cérebro (Kohn etal., 2003; Declementi & Sobczak, 2012; Direcção geral de Alimentação e Veterinária, 2015).

1.4.1.1. Organofosforados:

Os organofosforados são derivados do ácido fosfórico ou fosfónico. Os organofosforados vieram substituir os compostos Organoclorados, que foram banidos (Wismer & Means, 2012).

Em Portugal, os organofosforados utilizados são os clorpirifos, o dimetoato, os fenamifos, a triazina, diazinão e o fosmete (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, 2015).

O dimetoato requer uma dose oral, para o aparecimento dos primeiros sinais clínicos de 50mg/kg (em cães); o triclorfone tem uma DL50 de 50 a 1000mg/kg e o diclorvos uma DL50de >1000mg/kg (Wismer & Means, 2012; Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, 2015; International programme on chemical safety, 2015).

Diversos produtos para uso veterinário como o novo pecusanol®, neocidol®, pecdiazol® e zooveca®, pecusanol coleira plus®, elégance®, Fullpet 15%®, Kawu®, peritol®, sapecunol 15%® e defendog® contém organofosforados na sua composição (Simpósio digital healthcare, 2014).

Os organofosforados atuam pela inibição competitiva da acetilcolinesterase, inibição que é sempre irreversível e que provoca sinais muscarínicos e nicotínicos. Os sinais muscarínicos incluem salivação, defecação, lacrimejamento, micção, dispneia, emese, miose e bradicardia. Os nicotínicos incluem tremores musculares, fasciculações, fraqueza, ataxia e paresia que progride para paralisia. Os sinais de sistema nervoso central são caracterizados por hiperatividade, ataxia, convulsões e coma. Em alguns animais pode também ocorrer uma neuropatia tardia após 2 a 3 semanas. Pode também ocorrer pancreatite aguda (Gupta, 2012c; Wismer & Means, 2012).

1.4.1.1.1. Tratamento:

Se houver suspeita de intoxicação por organofosforados, pode ser feito um teste de dose de atropina. Este teste consiste em auscultar a frequência cardíaca e administrar uma dose de atropina na dose de 0,02mg/kg IV. Se a frequência cardíaca aumentar e as pupilas dilatarem logo após a administração, deve-se procurar outra causa para os sinais clínicos,

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visto é necessário uma dose de 0,2mg/kg IV para os sinais de intoxicação por organofosforados se resolverem.

Se o animal se apresentar assintomático, a descontaminação deve incluir a emese, a administração de carvão ativado na dose de 1 a 5g/kg e a descontaminação cutânea nas exposições dérmicas (Wismer & Means, 2012). Se o animal já se apresentar sintomático, este deve ser estabilizado antes de se proceder à descontaminação cutânea. As convulsões devem ser controladas usando barbitúricos em combinação com diazepam (0,5 a 1mg/kg IV), deve ser administrado oxigénio ou intubar se necessário e deve ser usada atropina na dose de 0,2mg/kg IV. Um quarto da dose deve ser administrada IV e a restante IM ou SC (pode ter de se repetir várias vezes) (Wismer & Means, 2012).

O uso de glicopirrolato também pode ser útil no controlo dos sinais muscarínicos. Este pode ser usado na dose de 0,01 a 0,02mg/kg IV (Wismer & Means, 2012).

Estudos mostram que o uso de pralidoxima (2-PAM) é bastante útil na reversão dos sinais nicotínicos, na dose de 20mg/kg IM ou IV lento BID (Wismer & Means, 2012). O uso de dipenidramina também poderá ser eficaz, apesar de não haver estudos que comprovem que o seu uso é benéfico (Gupta, 2012c; Wismer & Means, 2012).

1.4.1.2. Carbamatos

Os carbamatos são esteres do ácido carbâmico. Ao contrário dos organofosforados, os carbamatos não são estruturalmente complexos. Atualmente, o uso de carbamatos excede o

uso de organofosforados porque são considerados mais seguros (Wismer & Means, 2012). Dentro dos carbamatos podemos encontrar os moluscicidas, os herbicidas e os inseticidas (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, 2015).

Os inseticidas, herbicidas e moluscicidas à base de carbamatos, atuam de maneira similar aos organofosforados, mas ao contrário dos organofosforados, esta inibição é reversível (Wismer & Means, 2012).

O carbamato fenoxicarbe provoca alterações gástricas em doses elevadas; o metomil possui uma dose oral DL50 de <50mg/kg; o metiocarbe possui uma dose oral DL50 de 10 a 25mg/kg; o oxamil uma dose oral responsável pelo aparecimento dos primeiros sinais de intoxicação de> 1,6mg/kg; o pirimicarbe uma dose oral responsável pelo aparecimento dos primeiros sinais de intoxicação de> 1,8mg/kg e o propoxur uma dose oral DL50 de 50 a 1000mg/kg (Anastasio & Sharp, 2011; Gupta, 2012b; Wismer & Means, 2012;

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Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, 2015; International programme on chemical safety, 2015).

Os sinais clínicos de intoxicação por carbamatos são semelhantes aos das intoxicações por organofosforados. Os sinais de sistema nervoso central são caracterizados por hiperatividade, ataxia, convulsões e coma (Anastasio & Sharp, 2011; Gupta, 2012b; Wismer & Means, 2012). Alguns animais desenvolvem pancreatite alguns dias após a intoxicação (Arnotet al., 2011).

1.4.1.2.1. Tratamento:

O tratamento de envenenamento por carbamatos é similar ao tratamento de envenenamento por organofosforados (Wismer & Means, 2012).

O Glicopirrolato é muitas vezes usado como alternativa à atropina, ou pode ser usado em combinação com a atropina, na dose de 0,5mg/kg IV, SC ou IM (Arnotet al., 2011).

A Pralidoxima também tem sido usada como tratamento de intoxicação causadas por uma mistura de organofosforados com carbamatos, em doses de 20mg/kg IV lento ou IM BID (Gupta, 2012b; Wismer & Means, 2012).

Para controlo das convulsões pode ser utilizado o diazepam na dose de 0,5 a 1mg/kg IV. Em caso de pancreatite, deve ser instituído o tratamento aplicado em pancreatite (Arnotet al., 2011).

1.4.1.3. Organoclorados:

Distinguem-se 4 grupos principais de organoclorados. Os derivados do clorobenzeno, os derivados do hexaclorociclopentadiano, os derivados do ciclohexano e os derivados da terbentina (Raisbeck & Talcott, 2013).

Um dos organoclorados muito utilizados a nível mundial, foi o

diclorodifeniltricloroetano (DDT). O DDT possui uma DL50em ratos de 250mg/kg PO e foi banido na década de 70 (International programme on chemical safety, 2015).

Apesar de terem sido banidos, estes ainda se encontram no ambiente, devido ao seu tempo de semivida muito longo (Raisbeck & Talcott, 2013).

Recentemente, ainda era possível encontrar produtos com outro organoclorado, o lindano (usado em champôs como o Pecusanol®, recentemente modificado para Novo Pecusanol® à base de organofosforados). O lindano atua pela inibição competitiva ao àcido

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gama aminobutirico (GABA) e possui dose DL50para cães de 40mg/kg PO e de 25mg/kg PO em gatos (Raisbeck & Talcott, 2013).

Os sinais clínicos de intoxicação por lindano consistem em fasciculações musculares, hipersensibilidade, tremores, convulsões e morte (Raisbeck & Talcott, 2013).

1.4.1.3.1. Tratamento:

O tratamento é apenas sintomático e de suporte (Raisbeck & Talcott, 2013).

Em exposições cutâneas, o tratamento passa por uma descontaminação cutânea (Peterson, 2013).

No caso de intoxicação por via oral, deve ser provocada a emese, se o animal tiver ingerido o produto há menos de 30 minutos e apenas se estiver assintomático. Se não for possível provocar a emese, deve-se administrar carvão ativado na dose de 1 a 5g/kg PO e um catártico. Em caso de convulsões, estas devem ser controladas com diazepam na dose de 0,5 a 1mg/kg IV ou barbitúricos (Raisbeck & Talcott, 2013).

1.4.1.4. Amitraz:

O Amitraz é um agente antiparasitário frequentemente usado em animais de companhia para tratar demodecose (Hugnetet al., 1996; Mensching & Volmer, 2008) e como repelente para as carraças em cães (Hugnet et al., 1996; Gupta, 2007a). Também é usado como um agente de controlo de pragas agrícolas (pesticida) (Mensching & Volmer, 2008).

Os produtos comerciais que contêm amitraz na sua composição são o Promeris®, Mitaban®, o Taktic®, as coleiras Preventic® (Gfeller & Messonnier, 2006). O Mitaban® (amitraz 19,9%) é aprovado para cães e para o tratamento da demodecose generalizada em cães (Mensching & Volmer, 2008).

O amitraz não está aprovado para uso em gatos ou em cachorros com menos de 12 semanas devido à sua sensibilidade ao produto (Gupta, 2007a; Mensching & Volmer, 2008).

A dose DL50 em cães é de 100mg/kg, mas a dose necessária para causar sinais de intoxicação é de 10mg/kg (Duncan, 1993).

Existem também produtos indicados para uso em animais de grande porte, tais como Taktic® (12,5% amitraz) e Point-Guard® (2% amitraz) que são utilizados em cães sobre a forma de banhos (Mensching & Volmer, 2008). Maioria das intoxicações por amitraz devem-se a erros por parte do proprietário nas diluições dos banhos (Oglesbyet al., 2006).

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O amitraz tem ação agonista nos recetores α2-adrenérgicos e os sinais clínicos aparecem uma hora após a ingestão. Estes podem incluir vómito, ataxia, bradicardia, hipertermia que evolui para hipotermia, dilatação gástrica, midríase, diarreia, dispneia, hipersalivação, anorexia, ileus, hipertensão, vasoconstrição, choque, tremores, incontinência urinária, tremores e coma (Duncan, 1993).

Alguns estudos sugerem que o amitraz tem efeito sobre o pâncreas, provocando hiperglicemia, assim como efeitos a nível renal, provocando insuficiência renal (Hugnet et al.,1996; Oglesbyet al., 2006).

1.4.1.4.1. Tratamento:

O tratamento da intoxicação por amitraz consiste na descontaminação do paciente e administração de antídoto (Duncan, 1993; Gfeller & Messonnier, 2006).

Nos animais assintomáticos, com intoxicação por via oral, está indicado provocar a emese ou realizar lavagem gástrica, seguida da administração de agentes catárticos (Gfeller & Messonnier, 2006; Gupta, 2007a). No caso de intoxicação por Mitaban®, a indução da emese não é recomendada (Gfeller & Messonnier, 2006).

Pode ser necessário a remoção endoscópica ou cirúrgica de uma coleira ingerida, devido à libertação contínua do fármaco (Mensching & Volmer, 2008).

Nos animais sintomáticos podem ser utilizados ioimbina (yobine®) e atipamezole (Antisedan®), que são antagonistas α2-adrenérgicos (Mensching & Volmer, 2008). A ioimbina deve ser administrada na dose de 0,1 a 0,2mg/kg IV lentamente, começando pela sua dose mais baixa. O atipamezole é administrado na dose de 50 a 200μg/kg IM (Duncan, 1993). Em animais que não respondem às doses mais baixas de atipamezole, pode ser administrada a dose mais alta de 200μg/kg IM, seguido de uma administração oral de ioimbina na dose de 100μg/kg (Hugnetet al., 1996).

Os cuidados de suporte, como a fluidoterapia, a oxigenoterapia, a gestão da hipotermia, o controlo de sinais vitais, do volume de urina produzido e urianálise são importantes. No caso de existirem convulsões, estas podem ser tratadas com diazepam (Mensching & Volmer, 2008).

O uso de atropina é contraindicada (Mensching & Volmer, 2008).

Para exposições dérmicas, antes de administrar um antídoto, deve-se proceder a uma descontaminação cutânea (Mensching & Volmer, 2008).

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1.4.1.5. Piretrinas e Piretróides:

As piretrinas incluem seis ésteres principais obtidos das flores Chrysanthemum cinerarifolium (Crisântemo) e outras espécies (Sutton et al, 2007a; Dymond & Swift, 2008; Boland & Angles, 2010; Maliket al, 2010).

Os piretróides são análogos sintéticos das piretrinas e são substâncias neurotóxicas de contato. As piretrinas atuam a nível dos canais de sódio das membranas celulares das células do tecido nervoso e muscular, levando ao início dos sinais clínicos de intoxicação (Suttonet al., 2007; Dymond & Swift, 2008; Boland & Angles, 2010; Maliket al., 2010).

As permetrinas são um piretroide insecticida de classe I, que foram descritas pela primeira vez em 1973 (Boland & Angles, 2010).

As permetrinas têm uma baixa toxicidade na maioria dos mamíferos e são usadas no controlo de pulgas, em preparações spot on como o pulvex®, defendog®, advantix®, effitix®, frontline triact cães®, vectra 3D® e actyvil tick plus® ou em combinação com outros compostos como a scalibor® (Boland & Angles, 2010; Simpósio digital healthcare, 2014).

Após absorção, as permetrinas são metabolizadas a nível hepático através da enzima glucoronidase. Devido à deficiência na enzima glucoronidase transferase nos gatos, estes são mais sensíveis aos efeitos das piretrinas. A dose de 100mg/kg topicamente aplicada, é suficiente para colocar a vida do gato em risco (Suttonet al., 2007; Maliket al., 2010).

Apesar dos avisos nas embalagens, a maioria das intoxicações ocorre devido à falta de informação dos proprietários, que colocam nos seus gatos formulações para cães ou por grooming a um cão que partilha o seu ambiente e no qual foi colocado um produtospot on (Suttonet al., 2007; Maliket al., 2010).

Os sinais clínicos nos gatos expostos aparecem geralmente imediatamente após a exposição, mas podem ocorrer ao longo das 72 horas seguintes. Nas intoxicações moderadas, a parestesia induzida pelo contato direto com a substância pode resultar em movimentos repentinos dos membros, espasmos auriculares e contrações incontroláveis do músculo cutâneo do tronco. A contaminação oral (porgrooming) resulta em hipersalivação e vómitos, tremores musculares severos, convulsões e depressão (Grave & Boag, 2010). Podem também ocorrer convulsões, ataxia, midríase, hiperestesia, hipertermia, taquicardia, letargia e desorientação (Suttonet al., 2007; Dymond & Swift, 2008; Boland & Angles, 2010; Grave & Boag, 2010).

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