• No se han encontrado resultados

Trombose venosa cerebral após raquianestesia: relato de caso

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Trombose venosa cerebral após raquianestesia: relato de caso"

Copied!
6
0
0

Texto completo

(1)

REVISTA

BRASILEIRA

DE

ANESTESIOLOGIA

PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologia

www.sba.com.br

INFORMAC

¸ÃO

CLÍNICA

Trombose

venosa

cerebral

após

raquianestesia:

relato

de

caso

Flora

Margarida

Barra

Bisinotto

a,b,∗

,

Roberto

Alexandre

Dezena

c

,

Tania

Mara

Vilela

Abud

d

e

Laura

Bisinotto

Martins

e

aDisciplinadeAnestesiologia,UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil bHospitaldeClínicas,UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil cDisciplinadeNeurocirurgia,UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil dUniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil

eUniversidadedeRibeirãoPreto,RibeirãoPreto,SP,Brasil

Recebidoem3desetembrode2014;aceitoem10desetembrode2014

PALAVRAS-CHAVE

Raquianestesia; Complicac¸ões cefaleiapós-punc¸ão dadura-máter; Trombosevenosa cerebral

Resumo

Introduc¸ão: Atrombosevenosacerebral(TVC)éumacomplicac¸ãorara,masgrave,após raqui-anestesia.Estáfrequentementerelacionadacomapresenc¸adefatorespredisponentes,como gestac¸ão,puerpério,usodecontraceptivosoraisedoenc¸asmalignas.Osintomamaisfrequente éacefaleia.Descrevemosumcasodeumpacientesubmetidoàraquianestesiaqueapresentou cefaleianoperíodopós-operatóriocomplicadacomTVC.

Relatodecaso: Pacientede30anos,ASA1,submetidoàcirurgiadeartroscopiadejoelhosob raquianestesia,semintercorrências.Quarentaeoito horasapósoprocedimentoapresentou cefaleiafrontal,ortostática,quemelhoravacomodecúbito.Foifeitodiagnósticodesinusite emprontosocorrogeralerecebeumedicac¸ãosintomática.Nosdiassubsequentestevepioria dacefaleia,quepassouaterlocalizac¸ãoholocranianaemaisintensaecompequenamelhora comodecúbitodorsal.Evoluiucomhemiplegiaesquerdaseguidadeconvulsõestônico-clônicas generalizadas. Foisubmetidoàressonânciamagnéticacomvenografiaquefezodiagnóstico deTVC.A pesquisaparafatorespró-coagulantesidentificouapresenc¸adeanticorpolúpico. Recebeucomomedicamentosanticonvulsivanteseanticoagulantesetevealtahospitalarem oitodias,semsequelas.

CETdoHospitaldeClínicasdaUniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil.

Autorparacorrespondência.

E-mail:flora@mednet.com.br(F.M.B.Bisinotto). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.09.005

(2)

Discussão: Qualquerpacientequeapresentecefaleiaposturalapósumaraquianestesia,eque intensificaapósumplatô,percasuacaracterísticaortostáticaousetornemuitoprolongada, devesersubmetidoaexamesdeimagemparaexcluircomplicac¸õesmaissériascomoaTVC. Aperdadelíquidocefalorraquidianolevaàdilatac¸ãoeàestasevenosa,que,associadasàtrac¸ão provocadapelaposic¸ãoereta,podem,emalgunspacientescomestadosprotrombóticos,levar àTVC.

©2015SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados. KEYWORDS Spinalanesthesia; Complications post-duralpuncture headache; Cerebralvenous thrombosis

Cerebralvenousthrombosisafterspinalanesthesia:casereport

Abstract

Introduction:Cerebralvenousthrombosis(CVT)isarare,butseriouscomplicationafterspinal anesthesia.Itisoftenrelatedtothepresenceofpredisposingfactors,suchaspregnancy, puer-perium,oralcontraceptiveuse,andmalignancies.Headacheisthemostcommonsymptom.We describeacaseofapatientwhounderwentspinalanesthesiawhohadpostoperativeheadache complicatedwithCVT.

Casereport: Malepatient,30yearsold,ASA1,whounderwentuneventfularthroscopicknee

surgeryunderspinal anesthesia.Forty-eight hoursafterthe procedure,thepatient showed frontal,orthostaticheadachethatimprovedwhenpositionedsupine.Diagnosisofsinusitiswas made inthe generalemergency room,andhe receivedsymptomatic medication. In subse-quent days,the headache worsened with holocranial location and withlittle improvement inthesupineposition. Thepatient presentedwith left hemiplegiafollowed by tonic-clonic seizures.Heunderwentmagneticresonancevenography;diagnosedwithCVT.Analysisof pro-coagulantfactorsidentifiedthepresenceoflupusanticoagulantantibody.Thepatientreceived anticonvulsantsandanticoagulantsandwasdischargedeightdayswithoutsequelae.

Discussion: Anypatientpresentingwithposturalheadacheafterspinalanesthesia,which inten-sifiesafteraplateau,losesitsorthostaticcharacteristicorbecometoolong,shouldundergo imagingteststoruleoutmoreseriouscomplications,suchasCVT.Thelossofcerebrospinal fluidleadstodilationandvenousstasisthat,coupledwiththetractioncausedbytheupright position,canleadtoTVCinsomepatientswithprothromboticconditions.

©2015SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights reserved.

Introduc

¸ão

DesdeoprimeirocasorelatadoporAugustBierem1898,1a cefaleiapós-punc¸ãotemsidoumproblemaparaospacientes submetidosàpunc¸ãodural.Nadescric¸ãoclássica,acefaleia pós-punc¸ãodadura-máter(CPPD)é delocalizac¸ãofrontal ouoccipital, piora coma posic¸ão ereta e essencialmente melhora ou desaparece com o decúbito dorsal. O início eadurac¸ãodossintomasdaCPPDpodemserextremamente variáveis, mas na maioria dos casos ocorrem dentro das primeiras48horas após a punc¸ão,tem umcaráter autoli-mitado,durandosomentealgunsdias.Emalgunscasospode estarassociadaanáuseasevômitos.1Váriascausastêmsido associadasaosurgimentodaCPPD,principalmenteocalibre eodesenhodapontadaagulhausada.Mas,mesmocomas agulhasdepequenocalibreeemmãosexperientes,aCPPD aindaapresentaumaincidênciade0,16%a1,3%.2

Emboraadescric¸ãoclássicadaCPPDtenhaumaevoluc¸ão benigna,elanemsempretemessedesfechofavorável,pois podeserumsintomaassociadoacomplicac¸õesmaisgraves, apesardemaisraras.Dentretaiscomplicac¸ões,atrombose

venosacerebral(TVC)ocupalugardedestaqueepodeser umdesafiodiagnósticoquandoassociadaàpunc¸ãolombar.

Oobjetivodesteartigoérelatarocasodeumpaciente queapresentouumquadrodeTVCapósumaraquianestesia paracirurgiaortopédica.

Relatodecaso

Pacientede30anos,82kg,1,71m,bombeiro,previamente sadio, proposta cirurgia de artroscopia unilateral de joe-lho. Apresentava antecedente decirurgia paraapendicite aos 14 anos e procedimento otorrinolaringológico havia três anos,comanestesia gerale semintercorrências.Não apresentava comorbidade e o exame físico era normal. Foiclassificadocomo ASA1e submetidoàraquianestesia, feitaem L3-4 comagulhaponta Quincke 27. Foi adminis-trada bupivacaína 0,5%hiperbárica (15mg).A artroscopia de joelho foi feita com garroteamento do membro infe-rior em nível da coxa com uma pressão de insuflac¸ão de 380mmHg, durante40minutos.O procedimentodurou

(3)

cerca de umahora, sem intercorrências. Recebeu como medicac¸ões midazolam(5mg), cefazolina(1g), ondansen-trona(4mg),dipirona(2g)ecetroprofeno(100mg).Apósa intervenc¸ãocirúrgicao pacientefoi levadoparaasalade recuperac¸ãopós-anestésicaeemseguidaparaaenfermaria erecebeualtahospitalarnomesmodia.

Quarenta eoitohoras após oprocedimento opaciente apresentou cefaleia frontal direita, de forte intensidade, decaráterortostático,quemelhoravacomorepouso.Essa evoluiuemumperíodode12horasparacefaleia holocrani-ana, considerada nível deintensidade 10, em umaescala de zero a 10 (zero para a ausência de dor e 10 para uma dor insuportável), principalmente em posic¸ão ortos-tática. Em decúbitodorsal aindareferia dor, considerada deintensidade 5,na mesma escalacitada anteriormente. Além da cefaleia, ainda referiu sensac¸ão de ouvido obs-truído. Procurou atendimento médico em pronto-socorro, ondefoifeitodiagnósticodesinusite.Opacientefoi medi-cado com antibiótico,anti-inflamatório e antialérgico.No quarto dia pós-operatório apresentou quadro de pareste-sia nobrac¸oesquerdo,que evoluiuparahemiparesiagrau

III em todo o dimídeo esquerdo. No dia seguinte (quinto diapós-operatório),apresentouepisódiodecriseconvulsiva tônico-clônica generalizada, recebeu atendimento inicial pelo Samu e foi conduzido ao hospital, onde na chegada apresentounovoepisódioconvulsivogeneralizado,com mio-clonias.FoiinternadonaUnidadedeTerapiaIntensiva,onde foimedicadocomanticonvulsivantesesubmetidoaestudo imagenológico. Tomografia computadorizada (CT) de crâ-nio demonstrou pequena hipodensidade frontal direita e ressonânciamagnética(RM)encefálicacomvenografia con-trastadaevidenciouedemavasogênicoassociadoàtrombose agudadasveiascorticaissuperficiaisnaconvexidadefrontal direita(fig.1A,1Be1C).Comtaldiagnósticofoiiniciado tratamentoespecífico,comanticoagulac¸ãoplena.

Apósdiagnósticoetratamentodocasoemquestão, pes-quisadetalhadadeantecedentesfamiliaresrevelouhistória familiarpositivapara eventostrombóticos. Opai do paci-ente apresentouepisódiodeisquemiacerebral edois tios apresentaramtrombose venosaprofunda.Pesquisa labora-torial do paciente em questão evidenciou hiperlipidemia (colesteroltotalde331mg/dLetriglicéridesde414mg/dL) epesquisaparafatorespró-coagulantesrevelouaumentodo anticoagulantelúpico---testedetriagem1,24(nl<1,15)e testeconfirmatóriode1,46(VN<1,21),comconfirmac¸ãoda presenc¸adoinibidorinespecífico---anticoagulantelúpico.

O paciente recebeu alta hospitalar após oito dias de internac¸ão, em uso de droga anticonvulsivante (difenil--hidantoína)eanticoagulanteoral.Após10diasdoevento ictal foi submetido à CT de crânio controle, que eviden-ciou áreahipodensafrontal direita e caracterizou melhor delimitac¸ãodalesãoisquêmicasubaguda,comregressãodo edema(fig.1D).

Três mesesapós oeventoopaciente referiualterac¸ões comportamentaistipociclotímicas,comepisódiosde eufo-riaalternados comperíodosdedepressão.Nenhumdéficit motorpermaneceu.

Discussão

As revisões publicadas em que há concomitância entre a CPPD e a TVC são em número limitado, o que impede o

conhecimentodaverdadeiraincidênciadessacomplicac¸ão. Alémdisso,soma-seaindaofatodequemuitoscasossequer são diagnosticados e muito menos relatados. Uma maior conscientizac¸ãodaTVC,apartirderelatoscomoeste,pode permitirmaioridentificac¸ãodospacientescomaltoriscoe tratamentomaisprecoce.

Nestetrabalhodescreve-seumcasodeTVCapóspunc¸ão lombar para raquianestesia em um paciente previamente sadio.Osurgimentodesinaisesintomasnosegundodia pós--operatório, caracterizados por cefaleia de característica ortostática,levaaodiagnósticodeCPPD.Noentanto,duas característicaschamamaatenc¸ãonessepaciente, comoa intensidadeda cefaleia e a mudanc¸a na localizac¸ão, que passoudatopografia frontalparaa holocraniana. A histó-riapréviadesinusitemascarouasuspeitaclínicadeoutra complicac¸ãoesomenteoaparecimentodesinaisdealerta, comoosdéficitsmotoreseascrisesconvulsivas,levaramà suspeic¸ãodeumacometimentomaisgrave.

Opacienteemquestãonãoapresentavacondic¸ões pre-disponentesque pudessem ajudar nodiagnóstico deTVC. Essaéumacondic¸ãoraracommúltiplascausasoufatores derisco,taiscomousodecontraceptivosoraiseoutras dro-gas,infecc¸ões, doenc¸as malignas e inflamatórias,período pós-parto etrombofilia congênita.3,4 Poucos casosdeTVC foramdescritos apósapunc¸ão duralparaanestesia raqui-dianaou peridural,5 mielografia, administrac¸ão intratecal dedrogasouparadiagnóstico.6 OscasosdeTVCrelatados naliteraturaapósanestesiaregionalsãorarosegeralmente estãoassociadosaoperíodopós-parto.6

Naturalmente,há umdilemaparaoclínicoqueatende umpacientecomcefaleiaapósumaraquianestesia,poissem dúvidaoprimeirodiagnósticoseráodeCPPD.Nocaso em questão,cita-secomofatordecomplicac¸ãoasobreposic¸ão deoutro diagnóstico, o desinusite, como fatorcausal da cefaleia,embora sinusiteagudaseja umacausaincomum decefaleiacomascaracterísticasapresentadas.7

A TVC apresenta-se com uma ampla e notável varie-dadesemiológica.Podemestarpresentescefaleiacontínua relacionada ao ortostatismo, vertigens, náuseas,vômitos, turvac¸ão visual, sinais motores, crises convulsivas, rebai-xamento do nível de consciência e coma. A cefaleia é o sintomamaisfrequente8,9epodesimularaprópriaCPPD,10 hemorragiacerebralouumacefaleiadotipomigrânea.11,12 A apresentac¸ão específica depende da localizac¸ão e da extensãodatrombose,dograudacirculac¸ãovenosa colate-ralemtornodatromboseedapresenc¸adelesõescorticais associadas.13 Atrombosedeumaveiacorticalisoladapode gerardéficitsfocaismotoresousensoriais,enquantoqueum tromboextensoemumgrandeseiovenosoprovocará semio-logianeurológicamaisgeneralizada.Estãoinclusoscefaleia, sinaisde hipertensão intracraniana, convulsões e coma.14 Alémdisso, ossinaise sintomaspodemserintermitentes, quando ocorrem trombose e fibrinólise simultaneamente, que levama flutuac¸ões na circulac¸ão em torno dos vasos trombosadosenapressãointracraniana.14

Em termos epidemiológicos a TVC é mais comum em mulheres,entre20 e 35anos, e parecenãohaver predo-mínio étnico. É amplamente aceito que a frequência de TVCémuitomaioremparturientesemrelac¸ãoàpopulac¸ão geral,erespondepor34%doscasosrelatadosnaliteratura.14 Geralmenteédeinícioagudoduranteagravidezenagrande maioria dos casos ocorre no período pós-parto. Quando

(4)

Figura1 Estudoimagenológicodo caso.A, B e Csãoexamesfeitos no dia de iníciodo quadroclínico e Dexame controle feitoapós10 dias.A,CTdecrâniosemcontrastecomdiscretahipodensidadeemlobo frontaldireito.B, RMdeencéfaloFlair quedemonstraedemavasogêniconatopografiadogiropré-centraldireito.C,Angio-RMquedemonstratromboseagudadeveias corticaissuperficiaisnaconvexidadefrontaldireita.D,CTdecrâniosemcontrastecomhipodensidadeemlobofrontaldireito,que caracterizamelhordefinic¸ãodalesãoemrelac¸ãoàCTdecrânioinicial.

relacionadaao períodopós-parto, a TVCpodeterum iní-cioagudooumaisprolongado.Acongestãovenosaeodano aoendotéliovascular,quepodemsersecundáriosao traba-lhodepartoeaoperíodoexpulsivo,em combinac¸ãocomo o estado de hipercoagulabilidade típico do período pós--parto,poderiamcontribuirparao aumentodorisco após onascimento.15-17

Embora apresente um predomínio em parturientes, a TVCtambémpodeacometer outrospacientes.Em revisão feitaporMaheshetal.18 foramanalisados52casosdeTVC que ocorreram após punc¸ão lombar. Os casos foram divi-didos em um grupo de pacientes obstétricas (34,06% dos casos), um segundo grupo de pacientes que se submete-ram à punc¸ão lombardiagnóstica e um terceiro grupode pacientes que tiveram a punc¸ão para anestesia ou para injec¸ãodemedicamentos.Naspacientesobstétricas,72,2% delas apresentaram cefaleia postural como primeiro sin-tomae foiobservada alterac¸ão nopadrãodacefaleia em cercade 50% das pacientes. A maioria dessas apresentou

predisposic¸ãopró-trombótica ouhistória préviadeuso de contraceptivosorais.Ospacientesdosdoisgruposnão obs-tétricoscursaramcomcefaleiaposturalemquase100%dos casos,com alterac¸ão dopadrãoem 77%dogrupo quefez a punc¸ão para diagnóstico e em 40% daqueles que foram submetidos à punc¸ão para anestesia ou para injec¸ão de medicamentos.Doenc¸asdesmielinizantesforamobservadas em 82% do grupo de punc¸ão para diagnóstico e estados pró-trombóticosem 66%dospacientessubmetidos à anes-tesia.

Desdeadescric¸ãoinicialdaassociac¸ãoentrepunc¸ão lom-bar eTVC porSchou e Scherb19 em 1986, temhavidoum debateconstantedarelac¸ãocausalentreapunc¸ãolombar eaTVC:seháassociac¸ãoentreosdoiseventosousesetrata demeracoincidência.Entretanto,aolongodasúltimasduas décadas, há grandesevidênciasque sugeremcausalidade, segundoaqualapunc¸ãolombarporsisópodedesencadear aTVC.20Apesardisso,namaioriadoscasosreportadosestão presentes outros fatoresde risco para a TVC, que levam

(5)

aindaaalgumadúvidasobreorealpapelexclusivodapunc¸ão lombarnagênesedaTVC.

ApatogênesedaTVCinduzidapelapunc¸ãolombarpode ser explicada pela doutrina de Monro-Kellie. Tal teoria sugere o crânio como uma estrutura rígida, em que os componentes intracranianos,o tecido cerebral,o sangue, e o líquido cefalorraquidiano (LCR) estão num estado de equilíbriopressórico.Emestadospatológicos,umareduc¸ão ou umaumento de um desses elementos levará compen-satoriamente à alterac¸ão no volume dos outros dois, de modoqueoconteúdointracranianomantém-seconstante. Nocasoespecíficodapunc¸ãolombar,quandoocorre hipo-tensão liquórica,o volumedo LCR e a pressão desse são reduzidos significativamente. Como consequência, ocor-reráumaumento dovolumesanguíneoprincipalmente no compartimento venoso, àcusta deestase e dilatac¸ãodos seios venososdurais e das veias corticais. Essa alterac¸ão ocorre marcadamente na paquimeninge (dura-máter) e como essa não tem barreira hematoencefálica, tal fato explicaria o extravasamento de contraste num exame de imagem para diagnóstico.19 Com a reduc¸ão dovolume do LCR ocorrerá uma descida relativa e trac¸ão do encéfalo como um todo, concomitante à distorc¸ão e ao alonga-mentodasveiasduraisecorticais.Taisalterac¸õesacabarão porlesaraparedevascular.Todasessasalterac¸ões descri-tas sãoagravadas pela posic¸ão ereta, ocasião em que há dilatac¸ãoagudadasveias,assimcomoestiramentodesuas paredes.19 O fenômeno descrito vai ao encontro da teo-ria de Virchow, segundo a qual as três causas principais para o surgimento da trombose seriam, a estase sanguí-neaeaalterac¸ãonaparededosvasosenacomposic¸ãodo sangue.19,20

Tais fenômenosfisiopatológicosacimadescritosacabam porcriarumciclovicioso,poisatrombosedasveias corti-caisoudoseiolongitudinalsuperiorlevaaumdecréscimo dadrenagemvenosa,oquereduzaabsorc¸ãodoLCRpelas vilosidadesaracnoideas,oqueaumentaaindamaisa pres-sãointracraniana. Simultaneamente, aestasevenosa leva àestasearteriale aoinfartocerebralfocal.Isso desenca-deiasinaisesintomascomocefaleiasevera,náuseas,sinais neurológicosfocais,convulsõesealterac¸õesdaconsciência. A ocorrência de hematoma subdural e hemorragia intra-craniana após punc¸ão lombar relaciona-se ao mesmo mecanismofisiopatogênico.21,22

O volume de LCRextravasado através doorifício feito pelaagulhadepunc¸ãoé oresponsável pelavenodilatac¸ão secundária.No entanto, tal dilatac¸ão nãose correlaciona diretamentecomovolumeperdido.Dentrodessecontexto, Grantetal.,23 em umestudo comressonânciamagnética, demonstraram que mesmo pequenos volumes de LCR, de cerca de1,8ml, que sãoperdidos após umapunc¸ão lom-bar,sãosuficientesparalevaràCPPD. Alémdisso,Ghaleb etal.24 descreveramqueumaperdade10%dovolumede LCRécapazdedesencadearcefaleia.

Parareforc¸arahipótesedarelac¸ãoentreapunc¸ão lom-bareoaparecimentodetrombosecerebral,Canhãoetal.20 usaramoDopplertranscranianoem13pacientes,nosquais foiregistradaamédiadavelocidadedofluxosanguíneono seioretoantes,duranteeapósumapunc¸ãolombar.Oestudo demonstrou reduc¸ão na velocidade do fluxo sanguíneo de aproximadamente 50% no seio reto após a punc¸ão lom-bar.Essareduc¸ãonavelocidadedofluxoseriasecundáriaà

reduc¸ãodapressãointracranianainduzidapelodecréscimo liquórico.20

Ébemaceitoquemúltiplosfatoresderiscosão frequen-tementeencontradosnomesmopacientecomTVC.Defato, temsidodemonstradanaliteraturaaassociac¸ãocomdoenc¸a maligna,trombofilia,estadospós-parto,usode contracep-tivosoraiseinjec¸ãointratecaldeesteroidesoucitostáticos. Emtaispacientesapunc¸ãolombartemsidoumdosfatores precipitantesdaTVCpelomecanismo descritoporCanhão ecols.25Consequentemente,frenteaumcasodeTVCapós punc¸ãolombar,outrosfatoresderiscoparatrombosevenosa devem ser investigados, como diagnosticado no paciente aquidescrito, umestadopró-trombóticopelapresenc¸ado anticorpolúpico.

Exames de neuroimagem são necessários para confir-mar odiagnóstico de TVC.A tomografiacomputadorizada fecha o diagnóstico em apenas 30% dos casos.11 A res-sonância magnética associada à venografia é o método considerado padrãopara o diagnóstico final, com sensibi-lidadepróximade100%.25

O tratamento da TVC é primariamente não inva-sivo, embora a trombólise endovascular e a trombecto-mia cirúrgica sejam consideradas em casos graves.26,27 A anticoagulac¸ão é o tratamento de escolha, mas as indicac¸õespara o seu uso permanecem um tanto contro-versas,poisaproximadamente50%doscasossãoassociados cominfartocerebralhemorrágico.28

Em termos prognósticos, a evoluc¸ão clínica da TVC é imprevisívele frequentementehápioriadoquadroapóso diagnóstico. Alterac¸ões na consciência, coma e hemorra-giaintracraniana são preditores importantes de evoluc¸ão desfavorável.29

Assim,conclui-sequecomplicac¸õesmaiores após anes-tesiaregionalsãoraras,maspodemserdevastadoraspara o anestesiologista e, sobretudo, parao paciente. Embora amaioria doscasosdeCPPDevoluasatisfatoriamente,ela nãodevesernegligenciada,pois,emsetratandodeTVC,tal achadosemiológicoestápresenteemcercade90%doscasos epodeseraúnicamanifestac¸ãoem10%.Nessasocasiõeshá umconsiderávelpotencialparamorbidadeemesmoóbito. Portanto,aatenc¸ãodeveserredobradaquandoacefaleia mudaasuacaracterísticaposturalequandoopaciente apre-sentafatoresderiscoparaatrombosevenosa.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Referências

1.DavignonKR,DennehyKC.Updateonpostduralpuncture hea-dache.IntAnesthesiolClin.2002;40:89---102.

2.Turnbull DK, Shepherd DB. Post-dural puncture headache: pathogenesis, prevention, and treatment. Brit J Anaesth. 2003;91:718---29.

3.KarciaA,BoyaciF,YakaE,etal.Cerebralvenousthrombosis initiallyconsidered asa complicationofspinal-epidural ana-esthesia.JIntMedRes.2005;33:711---4.

4.BarrettJ,AlvesE.Postpartumcerebralvenoussinusthrombosis afterduralpunctureandepiduralbloodpatch.JEmergMed. 2005;28:341---2.

(6)

5.KayimYO,BalabanH,CilG,etal.Isolatedcorticalvein throm-bosis after epidural anesthesia:report of threecases. Int J Neurosci.2010;120:447---50.

6.Ferrante E, Spreafico C, Regna-Gladin C, et al. Cerebral venousthrombosis complicatinglumbarpuncture.Headache. 2009;49:276---7.

7.Marmura MJ, Silberstein SD. Headaches caused by nasal and paranasal sinus disease. Neurol Clin. 2012;32: 507---23.

8.StamJ.Thrombosisofthecerebralveinsandsinuses.NEnglJ Med.2005;352:1791---8.

9.TimóteoA,InácioN,MachadoS,etal.Headacheasthesole pre-sentationofcerebralvenousthrombosis:aprospectivestudy. JHeadachePain.2012;13:487---90.

10.CanOS,YilmazAA,GurcanE,etal.Ispost-partumheadache afterepiduralanaesthesiaalwaysinnocent?EurJAnaesthesiol. 2008;25:697---700.

11.BousserMG.Cerebralvenousthrombosis:diagnosisand mana-gement.JNeurol.2000;247:252---8.

12.TodorovL,LauritoCE,SchwartzDE.Posturalheadacheinthe presence ofcerebralvenoussinus thrombosis.AnesthAnalg. 2005;101:1499---500.

13.Cantu C,Barinagarrementeria F.Cerebralvenous thrombosis associatedwithpregnancyandpuerperium:reviewof67cases. Stroke.1993;24:1880---4.

14.Masuhr F,MehraeinS, EinhauplK.Cerebral venousand sinus thrombosis.JNeurol.2004;251:11---23.

15.AmeriA,BousserMG.Cerebralvenousthrombosis.NeurolClin. 1992;10:87---111.

16.HalpernJP,MorrisJG,DriscollGL.Anticoagulantsandcerebral venousthrombosis.AustNZJMed.1984;14:643---8.

17.LamyC,SharsharT,MasJL.Cerebrovasculardiseasesin puer-perium.RevNeurol.1996;152:422---40.

18.MaheshPK,ThomasB,SylajaPN.Cerebralvenousthrombosis inpost-lumbarpunctureintracranialhypotension:casereport andreviewofliterature.F1000Research.2014;3:41---6. 19.SchouJ,ScherbM.Postoperativesagittalsinusthrombosisafter

spinalanesthesia.AnesthAnalg.1986;65:541---2.

20.CanhaoP,BatistaP,FalcaoF.Lumbarpunctureandduralsinus thrombosis--- Acausalorcasualassociation? CerebrovascDis. 2005;19:53---6.

21.Turnbull DK, Shepherd DB. Post-dural puncture headache: pathogenesis, prevention, and treatment. Br J Anaesth. 2003;91:718---29.

22.ZeidanA,FarhatO,MaalikiH,etal.,BarakaA:.Doespostdural punctureheadacheleftuntreatedleadtosubduralhematoma? Casereportandreviewoftheliterature.IntJObstetAnesth. 2006;15:50---8.

23.GrantR,CondonB,Hart I,etal.ChangesinintracranialCSF volumeafterlumbarpunctureand theirrelationship to post--LPheadache.JNeurolNeurosurgPsychiatry.1991;54:440---2. 24.GhalebA,KhorasaniA,MangarD.Post-duralpuncture

heada-che.IntJGenMed.2012;5:45---51.

25.ConnorSEJ,JaroszJM.Magneticresonanceimagingofcerebral venoussinusthrombosis.ClinRadiol.2002;57:449---61. 26.PhilipsMF,BagleyLJ,SinsonGP,etal.Endovascular

thromboly-sisforsymptomaticcerebralvenousthrombosis.JNeurosurg. 1999;90:65---71.

27.WeatherbySJ,EdwardsNC,WestR,etal.Goodoutcomeinearly pregnancy following direct thrombolysis for cerebral venous sinusthrombosis.JNeurol.2003;250:1372---3.

28.BruijnSF,StamJ.Randomized,placebo-controlledtrialof anti-coagulant treatment with low-molecular-weight heparin for cerebralsinusthrombosis.Stroke.1999;30:484---8.

29.MasuhrF,MehraeinS,EinhauplK. Cerebralvenousand sinus thrombosis.JNeurol.2004;51:11---23.

Referencias

Documento similar

Um dos resultados dessa reestruturação foi a criação de dois sistemas: o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) - sistema de informação nacional, que

Os dois materiais didáticos em multimídia (CD-ROM) foram elaborados, em 2007 e 2008, em três etapas, quais sejam: a) planejamento inicial; b) desenvolvimento do conteúdo c)

A magnitude da diferença nos desempenhos dos alunos como efeito do ensino, faz com que muitos pesquisadores venham enfatizando que a efetividade do professor, mais

No entanto, em rigor, a lei inconstitucional (menos favorável), por não ser válida, não consta de uma verdadeira sucessão de leis penais, e, por isso a protecção do caso

Diante do aumento dos casos de infecção pelo vírus HIV, evidenciado pela alta taxa de detecção em Porto Alegre, que atualmente é a maior do país, o objetivo dessa

A maior epidemia de poliomielite do Rio de Janeiro, registrada no ano de 1953, fez com que em 1954, um grupo da sociedade carioca se empenhasse em criar o primeiro centro

Ainda em outro estudo com o objetivos de compreender a realização do processo de Enfermagem no cotidiano do enfermeiro que atua em Centros de Atenção Psicossocial,

Obteve ainda em 2015 a acreditação, pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), do Sistema Interno de Garantia da Qualidade (SIGQ) por um ano com