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As fraturas da modernização em Morte e Vida Severina

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Academic year: 2021

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DA

MODERNIZAÇÃO

EM MORTE E

VIDA SEVERINA

Grupo de Pesquisa

Literatura e

Modernidade

Periférica

1 Universidade de Brasília

como a literatura pode evidenciar um significativo sentimento de dilaceramento do autor diante das contradições entre a realidade lo-cal periférica e a universalidade literária, política e econômica. Os muitos Severinos do poema expõem as tensões de uma existência cujo destino é "seguir o próprio enterro". O objetivo do trabalho é anali-sar tais tensões com ferramentas da crítica materialista, mostrando como o poema testemunha os efeitos predatórios de uma globalização espoliadora.

Palavras-chave: crítica materialista; modernização periférica; litera-tura brasileira; João Cabral de Melo Neto.

ABSTRACT: Morte e vida severina is an impressive example of how

literature can evidence a meaningful feeling of a writer tearing up in presence of the contradictions between the local peripheral reality and the literary, political and economic universality. The poor peasants, "Severinos", that emerge from the poem expose existence

tensions whose fate is "to follow the own funeral". This paper intends to analyze such tensions with materialist critics tools, in order to show how the poem evidence the predatory effects of exploitative globalization.

Keywords: materialistic criticism; peripheral modernization; brazilian literature; João Cabral de Melo Neto.

1 O Grupo Literatura e modernidade periférica consta do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq e é coordenado pelo Prof. Dr. Hermenegildo José de Menezes Bastos, da Universidade de Brasília. Integram-no professores da UnB e alunos do programa de pós-graduação em literatura. Atuando nas áreas de crítica materialista e histórica e enfocando, primordialmente, as relações entre o sistema literário e o projeto modernizador ocidental, o grupo tem produzido dissertações de mestrado e teses de doutorado. Tem, ainda, publicado livros e artigos em periódicos especializados e participado de congressos de amplitude nacional e internacional. O presente trabalho foi escrito em conjunto pelos pesquisadores: Profa Dra. Ana Laura dos Reis Corrêa; Drnd° André Matias Nepomuceno; Prof. Drnd"

Alexandre Pilati; Profa Drnd". Deane Maria Fonseca de Castro e Costa; Profa Drnda Maria Izabel Brunacci; Profa Drnda Germana Henriques Pereira de Sousa e Grnd° Thiago Chacon.

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2 Conforme MARX, К. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. In: O Manifesto Comunista 150 anos depois. Karl Marx, Friedrich Engels / Carlos Nelson Coutinho et. Al; Daniel

Aarão Reis Filho (Org.) - Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998, p. 12-13.

Introdução - "a terra que querias ver

dividida"

No lugar da tradicional auto-suficiência e do isolamento das nações, surge uma circulação universal, uma interdependência geral entre os países. E isso tanto na produção material quanto na intelectual. Os p r o d u t o s intelectuais das nações passam a ser de domínio geral. A estreiteza e o isolamento nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura mundial. (...) Províncias independentes, ligadas até então por débeis laços, mas com interesses, leis, governos e aduanas diversos, foram reunidas em uma só nação, com apenas um governo, uma legislação, um único interesse nacional de classe e uma só fronteira aduaneira. (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista) Se não soubéssemos a fonte da citação acima, pensaríamos tratar-se de texto atual, des-crevendo, por exemplo, a criação da União Eu-ropéia. Identificamos, de imediato, o processo da chamada "globalização" que, desde o início da década de 90 do século XX, vem sendo cantada e decantada como conseqüência inexorável do atual estágio do Capitalismo, contra o qual não se p o d e lutar, restando aos países a corrida em busca de inserção favorável no novo concerto das n a ç õ e s . T r a t a - s e , s e m d ú v i d a , d a internacionalização do capital, na etapa do capi-talismo financeiro, d a n d o c o n t i n u i d a d e a um processo que "imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países", que submeteu "o campo à cidade", que domes-ticou as nações consideradas bárbaras, obrigan-do-as "a adotar o m o d o burguês de produção"

e forçando-as a "introduzir a assim chamada ci-vilização".2

Utilizaremos as perspectivas presentes nas idéias de Marx e Engels, citadas acima, como prisma interpretativo para uma leitura histórico-materialista da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. Desse modo, preten-demos mostrar em que medida estética e literá-ria se dá o arranjo temático-formal da obra de Cabral, o qual problematiza a inserção do Brasil no processo de mundialização do capital.

Antes, contudo, nesta primeira seção do trabalho, será necessário fazermos uma reflexão crítica acerca daquilo que hoje chamamos pro-cesso de globalização, especialmente no que tan-ge ao seu avanço sobre os países periféricos do capitalismo mundial.

A esses países restou, tão-somente, a du-vidosa inserção subordinada aos interesses do c a p i t a l i n t e r n a c i o n a l , c o n c r e t i z a n d o e a p r o f u n d a n d o a d e p e n d ê n c i a em relação aos países centrais, pela abertura econômica cada vez maior ao capital especulativo, pela privatização dos serviços prestados pelo Estado, pelo ajuste das contas internas, com vistas à obtenção de superávits primários cada vez maiores para fa-zer frente aos compromissos de pagamento dos juros de suas dívidas externas. Especialmente na América Latina, são hoje visíveis os efeitos pre-datórios dessa política de subordinação levada a cabo pelas elites regionais: o empobrecimento

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esvaziando-as de seu conteúdo original e repro-d u z i n repro-d o - a s e x a u s t i v a m e n t e , b a n a l i z a n repro-d o - a s , como faz, por exemplo, com a música produzi-da pelos movimentos socioartísticos produzi-das perife-rias das grandes cidades, seja na origem (por um reflexo vicioso de recepção massificada), seja na a p r o p r i a ç ã o pela c i r c u l a ç ã o i n d u s t r i a l ou midiática. Por isso a expressão "globalização cul-t u r a l " é, já no n a s c e d o u r o , falsa: o q u e se "globaliza", o que circula pelo m u n d o como manifestação cultural é, na verdade, o CD ou o DVD - e as variadas espécies de merchandising midiático de produtos culturais, produzidos por transnacionais da indústria fonográfica -, porta-dores de uma mercadoria que d e p e n d e de so-fisticadas e s t r a t é g i a s p u b l i c i t á r i a s p a r a ser aceita pelo mercado como p r o d u t o de consu-mo. Como toda mercadoria em circulação, tem "vida útil" curta, sendo rapidamente substituída por outra(s).

A recuperação da forma arcaica do auto de Natal, do cantar de excelências, do cantar de repente, dos objetos da artesania p o p u l a r em Morte e vida severina nos parece bem sintomá-tica dentro dessa perspectiva. Todos esses ele-mentos testemunham o conflito do próprio arte-sanato literário, que tem de lidar não apenas com uma matéria cosmopolita moderna, mas também tem de dar conta de um d a d o local arcaico. O artesanato da beira do mangue do Recife e o auto de Natal de que se vale o autor são elementos do arcaico que teima em resistir diante do rolo compressor da mercadoria. Trata-se de glorifica-ção do atraso? Pensamos tratar-se, principalmen-te, de evidências de um mal-estar autoral, que não se pode considerar descartável na análise do texto cabralino.

acelerado das populações, a quase extinção da classe média, a escandalosa concentração da ren-da nacional, a miséria i n v a d i n d o p e q u e n a s e grandes cidades, o crime organizado impondo-se como força social.

Testemunha desse caráter predatório, a viagem do retirante em Morte e vida severina se dá entre dois pólos da temporalidade local: o pólo do tempo feudal/medieval da caatinga e o pólo do tempo modernizado da capital, Recife. De um pólo a outro, caminha Severino, perden-do, a cada estação, as ilusões de superação de sua condição de miséria, que nutria no início da empreitada. Severino vai ao encontro do conforto mínimo que a modernização pode dar. Todavia, o que encontra é apenas a morte, que, cada vez mais, vê ativa. D u r a n t e a viagem, deparamos com um morto-vivo que segue seu próprio en-terro. Severino é um ente fantasmal que emerge do atraso e, na dualidade v i d a / m o r t e que rege a narrativa de sua vida, encontramos as fratu-ras do avanço do cosmopolitismo burguês glo-bal sobre o ambiente periférico, o qual ainda não conseguiu s u p e r a r o atraso. Por isso Severino ainda vive, apesar de estar sempre no limiar da morte. Sua existência assombra e fere a aparên-cia gloriosa da modernidade.

P a r t a m o s , p o i s , d o s e g u i n t e princípio para analisar o conceito de "severino" em Cabral: a globalização reproduz, em escala mundial, as relações desiguais que dão sustentação ao Capi-talismo. O p r i m a d o da mercadoria se expande e abarca todas as relações entre os homens. A pro-dução intelectual, científica e artística passa a ter circulação planetária, m e d i a d a pela indústria cultural, que intensifica o processo de apropria-ção das expressões genuínas da cultura popular,

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4 E v i d e n t e m e n t e , o e p i s ó d i o da o c u p a ç ã o h o l a n d e s a é apresentado de forma resumida, apenas para demonstrar suas relações com o processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Para narração factual detalhada, ver Isto É Brasil 500

anos (Atlas histórico), São Paulo: Editora Três, 1998.

3 Sobre o conceito de d e s e n v o l v i m e n t o d e s i g u a l e s u a s implicações para o Capitalismo, ver WALLERSTEIN, Immanuel.

O Capitalismo histórico. São Paulo: Brasiliense, 1985, Coleção

Primeiros Vôos.

zou grandes obras de engenharia e foi auxiliado por sábios, artistas e administradores estrangei-ros. Esse processo transformou Recife em centro cosmopolita iluminista de brasileiros, portugue-ses, holandeportugue-ses, franceportugue-ses, alemães e ingleses. Mas seu objetivo maior foi retomar a produção de açúcar e transformar a cidade em importante porto de escoamento das exportações do "ouro branco". Para isso, leiloou a crédito os engenhos abandonados e viu as plantações de cana-de-açú-car invadirem vastas áreas da região. Todos os esforços eram feitos para modernizar rapidamen-te a cidade pernambucana.

A produção do açúcar contava, na épo-ca, com alta tecnologia, comparável, hoje, ao que se denomina "tecnologia de ponta". A adminis-tração da Companhia das índias Ocidentais aliou o g r a n d e fluxo de capital da região com as melhorias de infra-estrutura e saneamento bási-co, construção de escolas, hospitais e orfanatos. No entanto, considerado perdulário pela matriz, Nassau perdeu apoio político e foi obrigado a voltar à Holanda, o que facilitou a tomada do poder pelos portugueses, com apoio da já orga-nizada classe d o m i n a n t e local. Criavam-se as condições favoráveis, então, para a chegada e ins-talação da Companhia de Jesus, pronta a ocupar o espaço deixado pelos protestantes holandeses.4

O período da administração de Nassau possibilitou ao Brasil-colônia uma inserção inter-nacional no desenvolvimento do mundo capitalis-Isso p o r q u e , no caso do Brasil, assim

como de outros países periféricos, conforme já a l u d i m o s a n t e r i o r m e n t e , o f e n ô m e n o da globalização insere-se no contexto das relações entre tempos e espaços desiguais, entre arrandas de progresso e estagnações de atraso que ca-racterizam o desenvolvimento do Capitalismo e de seu conseqüente processo civilizatório.3 Por

que não dizer, situa-se na tensão da coexistência de t e m p o s e e s p a ç o s d e s i g u a i s , da n ã o -contemporaneidade do que nos é contemporâ-neo. É, pois, fenômeno antigo, que aqui ocorre desde o início da colonização.

A Recife a que chega o Severino, desespe-rançado, carregando apenas desilusão, é fruto desse processo de globalização, desde seu está-gio colonial. Severino chega, na verdade, a um grande entreposto de comércio que, desde a épo-ca da colônia, já fora cobiçado pela Holanda. A invasão do Brasil pelos holandeses é um capítu-lo da guerra de independência holandesa na dis-puta da colônia açucareira com Portugal. O avan-ço da Holanda teve apoio de uma parcela des-contente da classe dominante local, para a qual tinha o mérito de não questionar a estrutura escravagista. Durou de 1540 a 1647 a tentativa de construção da "Nova Holanda" no Brasil, al-ternando períodos de guerra e de armistício com os portugueses. Maurício de Nassau, alto execu-tivo da Companhia das índias Ocidentais, gover-n o u a região litorâgover-nea de P e r gover-n a m b u c o até a Bahia, de 1640 até 1688, período em que

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5 Trabalhamos com o texto de Morte e vida severina presente nas Obras completas de João Cabral de Melo Neto, Editora Nova Aguillar, 1994. As referências de páginas, doravante, remetem a esta edição.

6 P.177.

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1."levas somente/ coisas de não/ fome sede privação"

Antes de focalizar as estações mais rele-v a n t e s da rele-v i a g e m serele-verina, atentemos p a r a o

dilaceramento da forma arcaica do auto de Na-tal, utilizada para narrar um percurso que se estende do arcaico ao moderno, sem jamais dei-xar aquele, mas a d e n t r a n d o este. Em Morte e vida severina5, a forma do auto presta-se a en-cenar não exatamente uma história, mas uma condição de classe, q u e o a u t o r c h a m o u de severina. Entretanto, os Severinos são feitos de privação, não têm vez, não têm voz, nem terra, nem trabalho, nem lugar. Têm, apenas, "coisas de não: fome, sede, privação."6 Por esse motivo,

Severino não pode ser um nome próprio, mas, antes, um adjetivo, uma qualificação que põe à mostra a desqualificação, a indigência do que não é possível nomear sem alterar, mas também a s e v e r i d a d e de resistência q u e faz l e m b r a r Euclides da Cunha: o Severino é, como o serta-nejo, um Hércules-Quasímodo.

A c o m p a n h e m o s , p o i s , p a r a m e l h o r elucidar as fraturas do projeto m o d e r n i z a d o r global, a viagem do personagem Severino, pro-curando verificar que elementos literários con-tribuem para a exposição dos dilemas da histó-ria e da literatura periféricas. Seguindo o percur-so-esclarecimento de Severino, não encontramos alento: por todo o seu percurso, o conhecimento adquirido foi o da negatividade. Essa negati-vidade esvazia o personagem de função, de uti-lidade, destruindo as habilidades que lhe confe-rem identidade, e, ao mesmo tempo, retira-lhe a ta, com a cosmopolitização da região Nordeste e

a extensão de seus benefícios apenas a uma par-cela da população. Esse progresso, entretanto, co-existia com as práticas arcaicas de posse da terra pela violência e da escravidão no interior de en-genhos e de usinas produtoras de açúcar. Tais práti-cas, a persistir a lógica do desenvolvimento desigual, não podem ser, ainda, consideradas extintas.

Tanto menos poderiam ser consideradas extintas na década de 50, época em que a pala-vra desenvolvimento toma o proscênio do palco p o l í t i c o - e c o n ô m i c o n a c i o n a l e a euforia m o d e r n i z a d o r a marca o n a r r a r da história. A partir desse momento, como que vivendo uma nova etapa de colonização, o Brasil passou a d e p e n d e r fortemente da e x p a n s ã o d o s países centrais e dos investimentos de multinacionais norte-americanas e européias. O texto poético de Cabral narra, todavia, a contrapelo da história oficial, o oposto contraditório dessa inserção do Brasil na lógica industrial global. Ele pode estar nos lembrando que há muitos Severinos vagan-do como fantasmas entre as fraturas da não-contemporaneidade contemporânea, em que só a mercadoria transita ativa. É possível, pois, con-fiar na modernidade que se vê à periferia do Ca-pitalismo? Severino, o retirante, e o leitor atento constatarão, ao fim da viagem-narrativa, que, na sociedade da imagem industrializada, não há que se confiar naquilo que se tem diante dos olhos.

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7p. 172

mo do desfiar das contas do rosário, no qual cada conta representa uma cidade. Eis o choque entre o pensamento mágico arcaico de Severino e a m a t e r i a l i d a d e q u e e n c o n t r a r á a c a m i n h o da modernidade. A viagem também não é o que se vê: o caminho é o rosário, mas, em vez de enca-minhar para a transcendência, o rosário encami-nha o personagem para a materialidade da explo-ração e da morte.

A partir, pois, da forma do texto, temos uma contradição, uma tensão constante entre as relações arcaicas e o m u n d o capitalista. Prova disso é a linguagem do texto: percebemos, encar-ceradas n u m metro arcaico (redondilha maior), metáforas da mais requintada modernidade e, logo, dissonantes em relação ao m u n d o de Severino. É o Severino retirante quem fala? Ou não podemos confiar no que vemos?

Na estruturação da narrativa, o autor re-duziu as p a r a d a s da viagem severina às mais emblemáticas: àquelas cidades ou lugarejos que vão permitir a Severino, e ao leitor, desvendar tanto o "mistério" da viagem, quanto o do rosá-rio e o da reza. São pausas na narrativa-viagem que vão permitir a entrada em cena de outros personagens, os quais exercem a função, no jogo teatral, de contrapor à esperança de Severino -encontrar uma vida melhor no litoral, ou seja, condições que lhe p e r m i t a m viver um p o u c o mais, em vez de morrer "de velhice antes dos 30"7 - a verdadeira e derradeira verdade: a de

que não há lugar disponível para os Severinos na modernidade e no progresso. Para eles, resta só o eito e o suor da faina cotidiana. Para atin-esperança. A parca esperança inicial do migrante

é o que o fazia viajar e, em última instância, su-portar a sua sina de fome e privação. Estabele-ce-se, portanto, na lógica do percurso narrativo, uma lógica do e s c l a r e c i m e n t o , q u e retira do Severino a segurança em relação àquilo que es-perava da vida ao emigrar.

Sob essa perspectiva, percebemos que a estruturação de Morte e vida severina, ao mos-trar a migração do Severino, segue uma espécie de lógica do "o que você vê não é o que pare-ce". A presença do verbo ver no texto é, aliás, a b u n d a n t e e e x t r e m a m e n t e significativa. Seu campo semântico oscila entre a visão/observa-ção (positiva) e a c o n s t a t a ç ã o / c o m p r e e n s ã o (negativa). A seqüência das cenas do auto que r e p r e s e n t a m a viagem severina formaliza essa oscilação na c h a v e e s t r u t u r a l da alternância m o n ó l o g o / d i á l o g o . Severino nutre-se de espe-rança diante d a s n o v a s paisagens que vê. Con-t u d o , p e r s o n a g e n s e a ç õ e s a p a r e c e m alertando-o p a r a o fato de que aquilo que ele e s t á e n x e r g a n d o é c a r r e g a d o d e p u r a n e g a t i v i d a d e e m o r t e . Logo, n ã o é possível fiar-se no que se vê.

A h i b r i d e z da forma poética do a u t o cabralino também evidencia que não se trata da-quilo que se vê. Morte e vida severina é um auto de Natal? Como então explicar a palavra leitor na primeira indicação cênica? Desde logo, essa palavra fratura a estrutura tradicional do auto de Natal, negando que este seja um texto destina-do unicamente à representação, o que estaria na natureza do texto teatral. Dirigido ao leitor, o texto o convoca para acompanhar a viagem do Severino retirante do sertão ao Recife, ao litoral. Essa viagem vai ser narrada segundo o

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rit-quem está fadado a permanecer aquém do hu-mano e que, para se tornar legível para as "vos-sas senhorias" a quem o texto é dirigido, passa a ser o Severino personificado que emigra na presença do leitor. O Severino migrante é, por-tanto, a forma-personagem que o autor encon-trou para, pela encenação, tornar visível ao lei-tor uma das partes do conflito de classes: aque-la que não tem representação, que não pode che-gar à condição de autonomia, n e m m e s m o na esfera da solução imaginária que o discurso lite-rário oferece para os problemas reais.10

Após o monólogo de apresentação, a pri-meira estação da viagem, geograficamente, refe-re-se ao sertão e à caatinga. Simbolicamente, entretanto, refere-se a um m u n d o em que rela-ções arcaicas de produção ainda predominam, com pequena, mas significativa, participação de elementos modernos. Assim, a primeira parada na caminhada do retirante se dá no encontro com os "irmãos das almas", que gritam a ausência de sua culpa na morte de mais um Severino, cujo corpo carregam, o lavrador. Esses irmãos das almas vêm de longe. São personagens de uma literatura arcaica e de um lugar arcaico, "onde a Caatinga é mais seca".11 Esse m u n d o arcaico é

um lugar sem lei, onde a "ave-bala" voa livre. É um m u n d o por demais afastado do m u n d o do leitor, que pode ter notícias de lá, pelo lamento

10 MACHEREY, Pierre e BALIBAR, Etienne. Sobre la literatura como forma ideológica. In: ALMARGO, Juan M. Azpitarte (selección e introducción). Para una crítica del fetichismo

literário. Madrid: Akal Editor, 1975, p.34.

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8 A respeito da identidade narrativa, consultar RICOEUR, Paul.

O si mesmo como outro. São Paulo: Papirus, 1991, pp. 167-175. 9 p. 171

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gir esse esclarecimento, o autor faz oscilar cenas de monólogos e diálogos.

Para acompanharmos melhor o percurso severino do retirante, dividiremos a análise em estações, segundo as paradas realizadas pelo per-sonagem na viagem. São elas: (i) sertão; (ii) zona da mata/latifúndio; (iii) Recife/cemitério e (iv) presépio no mangue.

1.1 Sertão: ave-bala; ave-palavra

Na primeira cena do auto, Severino, o re-tirante, apresenta-se ao leitor. Nesse monólogo inicial, ambientado no sertão, Severino aparece entre o coletivo e a individuação da moderni-dade. A narrativa, que seria um meio de respon-der à pergunta - Quem? - forma típica da iden-tidade moderna8, não p o d e fazê-lo; Severino não

faz da narrativa sua identidade; alguém fala em nome dele. Em vez de individualizar-se na apre-sentação, Severino torna-se símbolo de uma co-letividade esmagada:

E se somos muitos Severinos iguais em t u d o na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina9

Por isso os Severinos encontrados pelo protagonista durante a narrativa podem ser con-siderados reproduções do migrante. O adjetivo severino torna-se u m a marca, um estigma de

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14 p. 179 15 pp.180-181 12 P. 175

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d r e / na sua terra de lá?".14 Severino lhe dá as

respostas mais simples: seu saber está reduzido à vida do campo, ao trato com os bichos, à ter-ra, à plantação. Mas a rezadeira o coloca diante de um impasse: para sobreviver naquelas para-gens é preciso ter o dom da fala, do convenci-mento:

mas diga-me, retirante sabe benditos rezar? sabe cantar excelências, defuntos encomendar?

sabe tirar ladainhas, sabe mortos encomendar?15

E preciso saber lucrar com a morte alheia ("a morte é farta, vivo de morte ajudar", diz a mulher), encomendando-a, embelezando-a pela reza. A rezadeira não é uma religiosa, mas sim uma comerciante da palavra. Ela sabe muito bem que não há trabalho, pois "o banco não quer finan-ciar" roçados e a usina avançou sobre os engenhos. A modernização rouba do Severino sua capacida-de produtiva, estabelecendo um m u n d o híbrido. Mais uma vez, temos exposta a lógica do "não é aquilo que se vê".

Para Severino, portanto, não há emprego p o s s í v e l . Ele n ã o c o n s e g u e r e s p o n d e r à rezadeira. Naquele lugar não há espaço para o seu saber, o saber tradicional, pré-capitalista, que, ali, de nada mais vale. O saber só está dis-ponível, ali, para as profissões do m u n d o moder-no - médicos e farmacêuticos -, inclusive as da arte do engodo, do convencimento, tão próprias dos irmãos das almas, pois "muito longa é a

vi-agem e a serra é alta".12

A morte desse Severino lavrador dá-se pela expansão do domínio de terras de um gran-de proprietário, que o texto omite pela elabora-ção requintada da metáfora "ave-bala". Assim como a c o n t e c e com o d i s c u r s o h i s t ó r i c o hegemônico que omite os culpados pela espolia-ção da modernizaespolia-ção, nessa cena Severino lavra-dor é morto sem que se apresente um culpado. O requinte da m o d e r n a metáfora da ave-bala elide o nome culpado, mas, ao mesmo tempo, dá evidências de que ele tem ligações com a moder-nização:

quem contra ele soltou essa ave-bala?

- Ali é difícil dizer, irmão das almas, sempre há uma bala voando desocupada.13

Percebemos, portanto, que o avanço do grande proprietário de terras sobre o pequeno la-vrador denuncia a voz autoral, pois o responsá-vel pelo refinamento da metáfora ave-bala é o autor. Estamos diante de um fio que vai da for-ma literária à forfor-ma h i s t ó r i c a , r e v e l a n d o as fissuras de uma e de outra.

Pouco mais adiante em seu percurso, ain-da no agreste, Severino encontra uma rezadeira postada à janela e a ela vai pedir emprego. Di-ante da solicitação de Severino, a rezadeira in-siste na pergunta retórica "o que fazia o

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compa-Cerrados: Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, n. 17, ano 13, 2004, p. 35-53 43

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à política, encarnada pela rezadeira. Ela p o d e folgar na janela, p o r q u e não trabalha, vive da especulação da morte alheia - o roçado que cul-tiva é o da morte, que dá "lucro imediato" e não p r e c i s a e s p e r a r p e l a colheita. O r o ç a d o da rezadeira é também o da literatura, ou da políti-ca, pois sua ferramenta básica é a palavra. A reza da mulher vaga fantasmática n u m m u n d o cujo modo de produção não inclui, como mercadoria, o ato discursivo de "encomendar o morto". De-c o r r e d a í a p o s i ç ã o p r i v i l e g i a d a d a m u l h e r "emoldurada" na janela, dona do poder da pa-lavra: ela utiliza o descompasso modernizador periférico p a r a se alimentar das desgraças do atraso e do abandono político.

O m u n d o do progresso, para o qual es-tão voltados os investimentos e os projetos da elite do Brasil nos anos 50 (época da elaboração do poema), a partir de alianças com os investi-dores externos e acompanhando uma tendência que, hoje sabemos, se solidificaria sob a fórmula de uma globalização contraditória, jamais será alcançado pelos Severinos.

P e r c e b e m o s , d e s s a f o r m a , o c a r á t e r conflituoso que está na base do processo moder-nizador, encenado em todo o percurso do reti-rante e, de m o d o especial, no encontro com a rezadeira. O leitor vê o fechamento de todos os acessos ao m u n d o do trabalho e da produtivida-de para o Severino, embora o discurso inicial da mulher na janela seja o de que "trabalho aqui n u n c a falta/ a q u e m sabe trabalhar".1 6 Essa é

uma sentença que, aliás, sempre fez parte do jar-gão conveniente e retórico da classe dominante.

Embora todas as capacidades produtivas de Severino sejam desqualificadas no novo mun-d o i n s t a u r a mun-d o pelas e t a p a s contramun-ditórias mun-d o progresso, que coexistem no sertão e se resumem a uma seqüência perversa (trabalho-especulação-espetáculo-morte), as profissões qualificadas (far-macêuticos, coveiros, doutor de anel no anular) "fazem da morte ofício ou bazar".17

No m u n d o onde só "os roçados da mor-te" compensam cultivar, Severino não pode pro-duzir nem trabalhar "a meias" com a rezadeira. Não porque não saiba rezar somente, mas (o que ainda não se diz no texto) porque está na outra ponta da negociação, pois Severino é a fonte de lucro da palavra-mercadoria da rezadeira, cuja matéria-prima é a morte.

1.2. Zona da mata: homens com terra; homens sem vida.

D e i x a n d o o agreste p e r n a m b u c a n o , o Severino adentra a zona da mata, onde se encon-tram os latifúndios e as usinas de cana-de-açú-car, embora o texto indique novamente que o que se diz não corresponde ao que se vê. Todo o processo desenvolvimentista dos centros urba-nos, no Brasil dos anos 50, deu-se em coexistên-cia com relações arcaicas no campo. A viagem-narrativa, por sua vez, expondo tais contradições, estabelece-se sob a forma circular e, por mais que se estenda, não pode, efetivamente, conduzir para fora da tensão encenada.

A natureza da zona da mata, quando da chegada do personagem, é descrita como uma

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m a n e c e n a forma d e r u í n a s d o m u n d o p r é -m o d e r n o . N o p r o c e s s o d e e s c l a r e c i -m e n t o d e Severino, vê-se que o p a s s a d o , m e s m o n u m a região mais m o d e r n i z a d a , teima e m n ã o p a s -sar. Em c o n t r a s t e com as r u í n a s do b a n g ü ê , está o m u n d o d o c a p i t a l i s m o m o d e r n o , d o m o n o p ó l i o da terra e d o s m e i o s de p r o d u -ção.

Assim, o retirante descobre que não bas-tam água e terra boa, mas que ainda é preciso ser o dono da terra para poder feriar. Mas esta só é dada ao trabalhador como cova, sete palmos de terra que viram m u l h e r e m a n t o . A terra, mulher tão feminina na visão esperançosa e an-terior de Severino, agora, diante do corpo do trabalhador morto, é a madrasta que "despiu de privação" o camponês. Severino aprende mais uma verdade: não há diferença entre caatinga e z o n a da m a t a . Em G o i a n a , z o n a da m a t a p e r n a m b u c a n a , o discurso dos camponeses é diferente daquele da rezadeira, que se situa com relação àqueles n u m espaço-tempo de transição, entre o sertão e o litoral. Na zona da mata já há, no discurso dos trabalhadores, a consciência de que são explorados, e que, não tendo a posse da terra, de n a d a valem. Seu fim, p o r t a n t o , é a m o r t e , assim como o do c o m p a n h e i r o que enterram.

O canto de e n t e r r o d o s t r a b a l h a d o r e s segue a lógica metafórica da i d e n t i d a d e entre h o m e m e terra. Tal identificação, e n t r e t a n t o , dá-se como p u r a negatividade. Os parcos bens que a vida negou ao Severino (terno, chapéu, vestido) transformam-se na coberta de terra que recebe o corpo m o r t o . E a concretude das coisas que confere u m a ironia cáustica ao tom do discurso de classe, como no já célebre tre-18 p.tre-183

19 p. 185

p a i s a g e m fantasma, m a s p r ó d i g a , que leva o Severino a imaginar que seus habitantes estão em férias. O personagem sente o cheiro da terra chã, da terra úmida da zona da mata; mas, ali, algo de estranho acontece. Não se vê ninguém nos campos, em lugar algum, só um "bueiro de usi-na" e um "bangüê velho em ruínas".18 Mais uma

vez, o horizonte de expectativa de Severino é frustrado, assim como o do leitor, p o i s lhe é revelada a v e r d a d e i r a v i d a do lugar. Não há férias, n i n g u é m t r a b a l h a , pois h á u m m o r t o , c h a m a d o S e v e r i n o , p a r a e n t e r r a r . T o d o s s e e n c o n t r a m e m seu e n t e r r o . N ã o e r a m férias a q u e l e d e s e r t o que se via no canavial: era a morte, ainda ativa.

O s t r a b a l h a d o r e s r u r a i s o r g a n i z a d o s enunciam o discurso de classe. São bóias-frias que, enterrando o companheiro morto, desfiam o rosário da vida naquele lugar - o da luta pela terra e do trabalho em terra alheia ("o trabalho a meias em terra alheia"). N u m lugar que pare-cia, a Severino, farto e cheio de vida, aparece a morte por cansaço e por doença. A injustiça e a exploração social matam tanto quanto a fome e a seca no agreste.

Mas, a q u i , o e l e m e n t o acumulação, ti-p i c a m e n t e m o d e r n o , d e s c o r t i n a - s e aos olhos de Severino e do leitor. Descobrimos que, se há fartura, esta n ã o é d i v i d i d a . A ela os tra-b a l h a d o r e s n ã o têm acesso ("o chão tra-betra-beu o suor vendido"1 9).

N e s s e t r e c h o e x p õ e - s e a c o r r o s ã o do m u n d o a n t i g o d o b a n g ü ê , q u e , todavia,

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É o que ocorre com o retirante, que ouve, dos coveiros, sem ser visto, o que não era para ser ouvi-do, isto é, a verdade trágica sobre os retirantes:

M a s o q u e se vê n ã o é isso: (...) N ã o é v i a g e m o q u e fazem, v i n d o p o r essa C a a t i n g a , v a r g e n s , aí e s t á o s e u e r r o :

v ê m é s e g u i n d o s e u p r ó p r i o enterro.2 2

Os coveiros, como arautos da morte, ex-p õ e m ao Severino o m u n d o do t r a b a l h o , da estratificação social. A questão que se estabele-ce aí é relacionada ao fato de os coveiros serem p a r t í c i p e s da i n d ú s t r i a da m o r t e . De a l g u m modo, eles detêm uma verdade que é também conhecida pelos sociólogos do lugar, citados mais adiante na narrativa. O conhecimento da estratificação social, em toda a sua barbárie, con-trasta com a languidez acomodada, conformada e individualista dos coveiros, os quais intentam apenas a melhoria de condições do próprio tra-balho.

Diante dessa tentativa dos coveiros de p a r t i c i p a r do t e a t r o da m o r t e da elite p e r n a m b u c a n a (enterram-se menos ricos com mais p o m p a ) , a conclusão do Severino ganha ainda mais em dilaceramento. O autor, como a expor sua culpa, está do lado dos coveiros. Como eles, conhece os segredos do sistema. Talvez o máximo que possa fazer, como intelectual e poeta, seja participar, com o poema, do gran-d e t e a t r o m o gran-d e r n i z a gran-d o r e m p r e e n gran-d i gran-d o p e l a s elites locais.

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21 Note-se a semelhança do episódio com a cena de Hamlet, em que dois coveiros conversam, sem saber que são escutados pelo protagonista. Lá, os coveiros falam do afogamento de Ofélia, discutindo para saber se a amada de Hamlet merece ou não um enterro cristão. Os coveiros de Cabral também falam de afoga-mento e suicídio: o do Severino que se mata, atirando-se no cai-xão de água doce do Capibaribe. Diz um dos coveiros de Shakespeare: "Se não se tratasse de uma senhorinha de impor-tância, não lhe dariam sepultura cristã". Está referida, aí, a mes-ma divisão social da morte exposta pelos coveiros de Morte e

vida severina. Também nos coveiros de Hamlet há uma curiosa

e irônica defesa da profissão, de forma bastante semelhante à dos coveiros ouvidos por Severino.

cho: "a terra q u e q u e r i a s ver dividida".2 0 A

exploração, base do processo modernizador ca-pitalista, é, pois, aquilo que estabelece o destino fúnebre do Severino.

1.3. Periferia do Recife: minha viagem; meu enterro

A estação seguinte à do latifúndio é a da periferia do Recife, onde o Severino encontra um cemitério e escuta a conversa de dois coveiros21,

que lhe esclarecem, por fim, qual é o sentido da viagem do migrante.

A viagem dos Severinos é a daqueles que, na contradição das classes sociais e do modo de produção capitalista periférico, já nasceram atra-sados, nunca vão chegar à etapa modernizada para onde se dirigem. É esse o saber adquirido pelo retirante, um saber traumático, que não é acessível pela formalização do instrumento tra-dicional d o m é t o d o p e r g u n t a / r e s p o s t a , mas como uma experiência equívoca, da qual se pre-tendia fugir. É uma experiência daquele que vê o que não era para ser visto e ouve o que não era para ser ouvido.

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23 Este trecho final reúne as cenas: APROXIMA-SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO; UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM, ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ; APARECEM E SE APROXIMAM DA CASA DO HOMEM VIZINHOS, AMIGOS, DUAS CIGANAS, ETC; COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES PARA O RECÉM-NASCIDO; FALAM AS DUAS CIGANAS QUE HAVIAM APARECIDO COM OS VIZINHOS; FALAM OS V I Z I N H O S , AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM PRESENTES, ETC; O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA.

24 Com relação aos conceitos de consciência amena e consciência catastrófica do atraso, consultar CÂNDIDO, Antonio. "Literatura e subdesenvolvimento". In: A educação pela noite e outros

ensaios. São Paulo: Ática, 2000. 3 ed, p p . 140-162. O avesso dessa culpa é a exposição

vio-lenta do destino da vida severina: seguir seu próprio enterro. Severino não está fazendo uma viagem. Dizem os coveiros: "não é viagem o que fazem, v ê m é s e g u i n d o seu p r ó p r i o enterro". Peça literária arcaica n u m Brasil que exalava modernização e internacionalismo, Morte e vida severina não poderia estar mostrando a presen-ça do a t r a s o a c o r r o e r o s o r r i s o do projeto m o d e r n i z a d o r da elite tropical? O destino do Severino não seria o destino do próprio país: se-g u i n d o o p r ó p r i o e n t e r r o e n q u a n t o o capital encena seu t e a t r o futurista e e s p e t a c u l a r ? O projeto nacional em marcha no país nunca é o que parece.

O projeto literário tem profundas ligações com esse projeto nacional. Assim como Severino, o Brasil está em busca de i d e n t i d a d e , após a queda da ditadura Vargas. Assim como a iden-tidade é impossível ao personagem, a identida-de é impossível a um Brasil que abriu as portas para uma globalização de capital especulativo. Assim como o Brasil, Severino avança, mas não supera o arcaico que o marca com o estigma da morte.

A terceira etapa da viagem de Severino, iniciada com a conversa dos coveiros, termina, ainda na periferia do Recife, nos mocambos do Capibaribe. N e s s e t r e c h o da v i a g e m se dá a tematização d o n a s c i m e n t o d o m e n i n o Jesus, prometido pela forma auto de Natal.

Seção composta de longas cenas e de sig-nificado extremamente relevante para as hipóte-ses que aqui têm sido desenvolvidas, daremos destaque a ela, analisando-a mais longamente, buscando evidenciar o tensionamento dialético negatividade/positividade.

2. "É difícil defender/ só com palavras a vida"

A tensão desse trecho de Morte e vida severina23, em que se encena o presépio, é a da

literatura periférica marcada pela contradição entre a consciência dilacerada do atraso, expressa no saber traumático do Severino, e o comprome-timento histórico da literatura com a amenização da consciência do atraso2 4, evocada pelo

nasci-mento do filho do mestre Carpina, que reenvia a leitura aos laços com o discurso retórico e tra-dicional. É dessa tensão, fruto da má-consciên-cia do autor, que nasce a possibilidade, não de emancipação de Severino, mas de encenação do conflito de classes, e, mais especificamente, da parte sem possibilidade de representação desse conflito insolúvel, que só pode ser enfrentado a partir da aproximação irredutível do seu profun-do antagonismo.

É esse saber traumático que adquire o re-tirante após ouvir os coveiros:

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cer positiva, mas agrega a ela um outro adjeti-vo, "mirrada", seu oposto. Como p o d e ser uma explosão mirrada? A representação do espetácu-lo da vida é tensionada pela vida mirrada, e peespetácu-lo fracasso da retirança de Severino, que vai ao en-c o n t r o d a p r ó p r i a m o r t e , o u d e u m a v i d a severina.

No poema, as tensões se manifestam não apenas no léxico, mas também de forma subter-rânea: é a vida que, qual doença, infecciona a mi-séria, as mangabas que v ê m do cajueiro e os quintais dos ricos que estão nos Aflitos ou no Espinheiro. A inversão é um importante traço estético e, portanto, político, que organiza a cons-trução do texto, criando estruturas cambiáveis e lançando suspeitas sobre o fazer poético.

As contradições expostas nesse trecho do poema são as da própria literatura, e delas João Cabral não pode fugir. O autor assume, assim, na forma do texto, o risco contraditório de ten-tar fazer o Severino falar, m e s m o que a única forma para tanto seja a dos meios literários: o recurso ao auto, às formas tradicionais, também elas comprometidas com o processo moderni-zador.

Por isso pensamos que as contradições do texto não estão centradas apenas na oposição en-tre morte e vida, pessimismo e otimismo, enen-tre o desejo de Severino de pular para fora da vida e o nascimento do filho do mestre Carpina - que, n o dizer d a v i z i n h a , " p u l o u p a r a d e n t r o d a vida".27 Entre vida e morte parece não vigorar a

tradicional oposição, pois escolher entre viver e morrer é um luxo negado aos Severinos. Vida e

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e chegando aprendo que, nessa viagem que eu fazia, sem saber desde o Sertão, meu próprio enterro eu seguia.25

D i a n t e d i s s o , a p a r e c e a ú l t i m a e dilacerante constatação do retirante:

que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida?26.

P a r a a s e n g r e n a g e n s d a g l o b a l i z a ç ã o espoliadora, vida e morte severina são uma úni-ca e mesma coisa: os Severinos já nascem atra-sados p a r a embarcar no trem do progresso e estão sempre adiantados no que se refere ao seu próprio enterro. Nesse tempo fora dos eixos, o texto de João Cabral encena a profunda contra-dição de classe, da qual não escapa o discurso literário.

C o n s e q ü e n t e m e n t e , a representação de um auto tradicional, positivo, já não é mais pos-sível, pois o contexto m u d o u . E impossível a positividade na vida do Severino, que só é vida quando é mirrada. Só pode, portanto, ser enca-rada dialeticamente, como o avesso da morte. A pergunta do Severino remete à do autor e à do leitor: o que é morte, o que é vida? Tudo é vida-e-morte severina.

Exemplo disso aparece q u a n d o Cabral define a vida como "explosão", que p o d e

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pare-O "auto de natal" persiste, nas cenas fi-nais, portanto, refundido com a inserção do ele-mento culto crítico (sério) sobre a exclusão de classe, de cuja fusão com a saga épico-reflexiva da n e g a t i v i d a d e do(s) Severino(s) personagem(ns) resulta uma tensão de acuidade social, sem prejuízo da identificação entre lírica e leitor distanciado, representado textualmente pelo "vossa senhoria" inicial. A formalidade do tratamento revela esse leitor como beneficiário, em algum grau, do pólo positivo da moderniza-ção conservadora, propulsora do êxodo rural e do processo de urbanização excludente.

Dessa maneira, a referência contida, es-pecialmente, no trecho "Começam a chegar pes-soas trazendo presentes para o recém-nascido", leva, a nosso ver, ao conceito de arte leve, cu-nhado por Adorno/Horkheimer.2 9

Contudo, em vez de os termos referen-tes à matéria local atingirem o "reino da liber-dade" da arte burguesa "séria", eles remetem à "verdadeira universalidade". Nessa perspectiva, Adorno e Horkheimer relacionam a arte leve ao efeito de uma falsa universalidade, exatamente por ser constituída sob a condição da exclusão das classes inferiores. Desse modo, pela própria trajetória do personagem principal do texto de Cabral, a seriedade burguesa torna-se duplo es-cárnio.

A partir dessa leitura, p o d e m o s inferir uma torção de grau mais deteriorado, uma vez que, nas condições histórico-sociais da periferia

29 O conceito encontra-se proposto em Dialética do

esclarecimento, em particular na seção "A indústria cultural: o

esclarecimento como mistificação das massas" 28 p.200

m o r t e , q u a n d o s e v e r i n a s , são u m p a r indissolúvel, pelo qual saltar para dentro da vida é já, de certa maneira, saltar para fora dela.

Sob a sombra dessa tensão final, exposta pelo n a s c i m e n t o de um Jesus " e n c l e n q u e " e "setemesinho", surge, aos olhos do leitor, uma importante discussão a respeito das relações en-tre arte e industrialização.

A reflexão sobre essas relações vai nos le-var ao desfecho do auto e da presente análise. 2.1. "O avesso da rua Imperial"

O d e s f e c h o de Morte e vida severina apresenta a m o v i m e n t a ç ã o dos habitantes do m a n g u e em torno do nascimento do Severino, que simboliza, na estrutura religiosa do poema, o menino Jesus. São n a r r a d a s , aqui, previsões, saudações e oferendas feitas para o menino que chega e que é disforme, mas "belo como um sim / n u m a sala negativa".2 8 Interessa-nos, aqui,

a n a l i s a r , p r e c i s a m e n t e , a s i m b o l o g i a d a s oferendas feitas ao menino, pois tais ofertas in-serem, no m o t o r poético d a s oposições entre moderno e arcaico, a força dos elementos cultu-rais localistas.

Assim como as referências poéticas às imagens da natureza regional (sertão, agreste, zona-da-mata, rio, p e d r a , m a n g u e , vegetação, lavouras, animais etc), constatamos, neste trecho final de Morte e vida Severina, a referência a formas de arte popular genuína, que indicam a interpretação de sua presença no texto como re-sistência.

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do Capitalismo, além de o progresso coexistir com o arcaico, dele tirar proveito perverso e, portanto, não se realizar como horizonte histó-rico na progressão rural-urbano, o próprio escri-tor não se p o d e desfazer dos meios (literários e socioistóricos) para atingir aquela falsa liberda-de dos fins.

A própria esfera de autonomia do escri-tor vê-se, assim, particularmente mutilada, por ser intrinsecamente afetada pelo atraso diferen-ciado. Enquanto poucos Severinos podem alcan-çar as m á q u i n a s e gozar o t e m p o livre como passatempo, pois mal sobrevivem ao êxodo, o poeta só se realizaria enquanto autônomo caso fosse hipócrita ou populista.

A arte leve acompanhou a arte autônoma como uma sombra. Ela é a má consciência social da arte séria. O que esta - em virtude de seus pressupostos sociais - perdeu em termos de verdade confere àquela a aparência de um direito objetivo. Essa divisão é, ela própria, a verdade: ela exprime, pelo menos, a negatividade da cultura formada pela adição das duas esferas. A pior maneira de reconciliar essa antítese é absorver a arte leve na arte séria, ou vice-versa. (Adorno-Horkheimer, 1985, p. 127) A tensão obtida por João Cabral em ne-n h u m momene-nto é resolvida. Dessa forma, o pone-n- pon-to de vista "sério" do aupon-tor-textual caracteriza uma g e n u i n i d a d e / a u t e n t i c i d a d e em que - sem a conotação intelectual-filosófica conceituai da negatividade, que possibilita à alta obra de arte fazer o tensionamento com a perda de autono-mia da arte de m a s s a - estão p r e s e n t e s e até prevalentes valores de resistência, por conotar positivamente, e emancipatoriamente, elementos que o processo de modernização periférica

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servador tenta (e realiza) aproveitar como mer-cadoria ou marca do pitoresco. Tais elementos, para o Severino, e para o leitor identificado com sua possibilidade de sobrevivência e 'renasci-mento', levam à geração e preservação, de algu-ma foralgu-ma, da identidade popular: lugar de in-clusão social e reafirmação simbólica, para além da cova ou do mangue lamacento como locais de lixo literal ou condições de vida degradadas, frente à metrópole avessa da modernização urbana.

Então, nos vários exemplos encadeados a demonstrar a força vital desta identidade, te-mos a apresentação do extrativismo, os produ-tos-índices da natureza regional (singular) que viabilizam a alimentação (leite materno, caran-guejo, frutas), os que se referem a lugares e à fauna, como o canário-da-terra e seu canto cor-rido, a bolacha d'água de Paudalho, o artesana-to de barro de Severino de Tracunhaém, a água da bica do Rosário, em O l i n d a , e a p i t u de Gravata. A louvação altaneira dos p r o d u t o s -valor de uso físico e simbólico - configura-os como signos de identificação, identidade autôno-ma e auto-estiautôno-ma, dispostos no poeautôno-ma com ca-ráter estético do pertencimento autêntico à geo-grafia física, política e humana. Tal caráter esté-tico apresenta-se, ainda, pela singeleza irônica de usar o refugo dos letrados como cobertor: jornais velhos para cobrir de letras "quem vai um dia ser doutor".

3. Considerações finais - "para um mocambo melhor / nos mangues do Beberibe"

Estamos, portanto, diante da revelação de um Pernambuco paralelo ao espetáculo de

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30 p. 198

grande para, mais uma vez, celebrar a vida e o futuro do novo Severino, explosão de nova vida, ainda que franzina, diante da qual o poema con-flui para o fim.

Apesar de todos os tipos de adversidade histórica, persiste a pergunta na saga de Severino e no Pernambuco como totalidade real, desigual e combinada, desde o sertão primitivo presente no Recife moderno. Vale a pena seguir essa vida, ainda quando é a franzina vida severina?

A pergunta resiste, pois não é facultado ao leitor identificar-se também com o severino remediado ou adaptado, tampouco se descolar da verdadeira universalidade da realidade, em que os meios o agridem desde a paisagem física e humana do cotidiano.

A presença concreta de elementos ante-riores ao avanço da indústria cultural - fatores de entretenimento e autonomia, permeados por valores de uso, utilidade, subsistência material e cultural cotidiana -, antes de o povo do interi-or tinteri-ornar-se tendencialmente massa, possibilita ao autor do poema cantar as identidades da ter-ra. Mas, desse material, de modo algum é possí-vel ufanar-se, pois a necessidade do direito ob-jetivo, aqui, impõe ao Severino da vida de todo dia a contraditória posição de ser, ao m e s m o tempo, construtor e marginal de sua própria re-sistência.

Exatamente por não transformar esse tes-temunho paradoxal em resposta é que o poema afirma a verdade de não ser mero divertimento fúnebre, para contemplação à distância pelas "vossas senhorias", problematizando o Severino entre o povo e a massa que sustentam a liberda-de do letrado, abortada antes liberda-de nascer.

Entre a positividade e a negatividade, u m a modernização capenga e violenta, por ser

i n t r i n s e c a m e n t e m a n t e n e d o r a e até intensificadora da exclusão. O abacaxi de Goiana e o rolete de cana, mais as ostras do cais da A u r o r a (perceba-se a nota lírica dos próprios nomes a desprender u m a poesia algo agreste, rude, mas eficiente enquanto natureza vital sin-gular, ligada ao homem da terra). Tamarindos da jaqueira e jacas da tamarineira (veja-se o aspec-to formal de rimas ressaltando a contradição, a i n v e r s ã o , o c o n t r a s t e , o a v e s s o p o s t o aos Severinos, e ao leitor que deles não pode se li-vrar, pela má-consciência e ao m e s m o tempo identificação ética na concretude do sofrimento e da resistência), como noção expressa da carac-terização correspondente desse aspecto máximo do popular genuíno, ao deparar com a capital, Recife. Mangas, cajus, peixes, carne e siris "apa-nhados no avesso da rua Imperial".30

A interessante inversão implica o desper-dício dos ricos dos bairros 'nobres' do Espinhei-ro e dos Aflitos, talvez também gananciosos por vender suas mangas, sabidamente 'botadas' em profusão pelas fecundas mangueiras carregadas, que as despejam no chão, ainda que como re-fugo, p a r a não p e r d e r n a d a , lucrar sobre a mi-séria.

O contraste com a solidariedade visceral pressuposta nos goiamuns (meio típico de sobre-vivência, tornada, por venda direta ou atraves-sada, i g u a r i a p a r a os m e s m o s ' r i c o s ' , talvez freqüentadores das praias, certamente não dos mangues), desta vez dados (sem troca, portan-to) pela gente pobre dos interstícios da cidade

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p o r t a n t o , estabelece-se a narrativa-viagem de Morte e vida severina, que nada mais faz senão testemunhar, n u m a mescla muito peculiar de arte culta (instrumental crítico moderno) com arte popular (matizada, visceralmente, por ele-mentos e formas do arcaico genuíno), o avanço d o c a p i t a l g l o b a l , i m p o n d o diferenciações inarredáveis sobre as contradições tradicionais locais. Avanço este que atinge as dimensões po-líticas, econômicas e sociais de um país, cuja eli-te sonha com o desenvolvimento, mas, ao acor-dar, dá de cara com o avesso-pesadelo de seu projeto: u m a existência setemesinha, severina, que nem a religião, n e m a modernização, nem a poesia podem redimir.

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