CARACTERIZAÇÃO DO LEUCOGRAMA EM AMOSTRAS DE CANINOS COM ANEMIA E ERITROCITOSE
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(2) CARACTERIZAÇÃO DO LEUCOGRAMA EM AMOSTRAS DE CANINOS COM ANEMIA E ERITROCITOSE 1. INTRODUÇÃO Os eritrócitos são células circulantes constituídos basicamente por hemoglobina. Sua função é carregar oxigênio aos tecidos. Os eritrócitos apresentam uma meia vida longa na circulação (aproximadamente 90 a 110 dias nos caninos) sendo produzidas na medula óssea a partir de uma linha celular de origem mielóide que é comum com os leucócitos. (WITTWER, 2012) A anemia é uma alteração frequentemente observada em caninos, sendo caracterizada por uma contagem eritrocitária, concentração de hemoglobina e/ou hematócrito abaixo dos valores de referência para a espécie (GONZÁLEZ E SILVA, 2008). As anemias podem ser classificadas etiologicamente (hemorrágica, hemolítica e displástica), morfologicamente (pelo volume corpuscular médio e concentração de hemoglobina corpuscular média), assim como pela resposta medular (regenerativa ou degenerativa). Por outro lado, o aumento da contagem eritrocitária, concentração de hemoglobina e/ou hematócrito acima dos valores de referência caracterizam uma eritrocitose, também conhecida como policitemia. A eritrocitose pode ser relativa ou absoluta (KRÜGER, 2007). A relativa ocorre em situações de diminuição do volume plasmático sanguíneo. Enquanto a absoluta é produzida por um aumento da eritropoiese. Tanto as anemias como as eritrocitose são transtornos frequentes na clínica veterinária, porém raramente são transtornos primários. Devido à cinética medular da eritropoiese compartilhar precursores de leucócitos se faz necessário avaliar leucograma de animais com transtornos de leucócitos. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi determinar a ocorrência de anemia e eritrocitose em amostras de caninos e caracterizar o leucograma destes animais. 2. METODOLOGIA Para o estudo utilizou-se os dados de 811 hemogramas de caninos, processados entre 2015 a 2016 no laboratório de Análises Clínicas Veterinárias (ACVet) do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pampa. Utilizaram-se os valores de volume globular aglomerado (Hematócrito [Ht]) para classificar as amostras como Anemia: Ht <37%; Normal: Ht 37-50% ou Eritrocitose: Ht >50%. O Ht foi determinado pela técnica do microcapilar centrifugado por 10 minutos em microcentrifuga. Registrou-se em planilha excel a contagem leucocitária, que foi realizada no analisador hematológico veterinário SYSMEX, modelo pocH±100iV Diff, e a contagem diferencial de leucócitos foi realizada no esfregaço sanguíneo corado com corante tipo Rovanowsky - Panótico rápido (WITTWER, 2012). Calculou-se o cociente entre neutrófilo e linfócito (N:L). Também se registrou os valores da proteína plasmática total (PPT) por técnica de refratometria, sendo considerados hiperproteineimia valores acima de 7,5 g/dL, indicativo de desidratação. Os valores do diferencial de leucócitos e proteinemia dos caninos dos 3 grupos foram comparados mediante o teste de Kruskall- Wallis, e a porcentagem de hiperproteinemia, leucocitose (>17.000/ / OHXFRSHQLD / neutrofilia.
(3) QHXWUyILORV ! / QHXWURSHQLD / OLQIRFLWRVH ! / e linfopenia (<1.0 / entre grupos foi contrastada pelo teste de Qui-quadrado, com um nível de significância de 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A maior ocorrência de transtornos da linha eritróide foi a anemia (48%). A eritrocitose apresentou baixa ocorrência (5,18%). Na tabela 1 e na figura 1 estão apresentados os valores e a distribuição dos metarrubrícitos, dos indicadores do leucograma e da PPT em caninos com anemia e eritrocitose. Observou-se um aumento da contagem de metarrubrícitos e dos leucócitos totais. A alta ocorrência de leucocitose em caninos com anemia provavelmente ocorreu devido ao incremento na contagem absoluta de neutrófilos e monócitos, com redução dos linfócitos. Estes resultados são refletidos na maior porcentagem de caninos anêmicos com neutrofilia e linfopenia (P<0,05). As diferenças observadas nos leucócitos de origem medular já eram esperadas, pois perante uma anemia ocorre um estímulo na eritropoiese que acarreta um aumento da unidade formadora de colônia (UFC) mielóide, a qual é precursora tanto do buster eritróide como da UFC granulocítica-monocítica que dará origem a neutrófilos e monócitos (WITTER, 2012). Ressaltamos que uma alta porcentagem de caninos dos três grupos poderia cursar com processos inflamatórios, visto que há alta ocorrência de leucocitose de magnitude moderada e intensa (GONZALEZ, VALLE, SILVA, 2007) (Figura 1). Tabela 1. Valores (± DP) de proteínas plasmáticas totais, metarrubrícitos, leucócitos e plaquetas em amostras de caninos com anemia (Ht< 37%) e eritrocitose (Ht> 50%) Metarrubrícitos (Nº x 100 leucócitos) Leucócitos (x 103 /uL) Neutrófilos (/uL) Linfócitos (/uL) Monócitos (/uL) N:L % Leucocitose % Leucopenia % Neutrofilia % Neutropenia % Linfocitose % Linfopenia Plaquetas (x 103/uL) PPT (g/dL) % PPT > 7,5 g/dL. N:L: cociente neutrófilo/linfócitos; teste Kruskall-Wallis.. a,b. Anemia (n=389). Normal (n=380). Eritrocitose (n=42). P. 1,09 ± 4,30 a 24,82 ± 56,5 a 16.280 ± 28.500 a 2.941 ± 9.921 b 899 ± 1.799 a 11,8 ± 16,8 a 39,9 a 8,0 45,9 5,2 9,1 24,7 287 ± 177 b 7,16 ± 1,57 35,5. 0,18 ± 0,88 b 18,94 ± 65,9 b 9.685 ± 7.510 b 3.206 ± 10.770 a 585 ± 738 b 6,3 ± 9,1 b 19,6 b 2,4 24,5 2,7 0 13,3 333 ± 160 a 7,18 ± 0,95 31,3. 0,17 ± 0,58 ab 13,87 ± 9,1 ab 10.730 ± 8.775 ab 2.016 ± 1.090 ab 653 ± 726 ab 10,4 ± 19,5 ab 17,1b 4,8 29,3 0 8,0 14,6 334 ± 114 ab 7,05 ± 1,02 23,8. <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 0,0132 <0,0001 <0,0001 0,230 <0,0001 0,080 0,127 <0,0001 <0,0001 0,3680 0,2050. letras diferentes indicam diferenças entre colunas, P<0,05, no. Por outro lado, observou-se um aumento dos metarrubrícitos em caninos anêmicos, o que seria um parâmetro indicativo de uma anemia do tipo regenerativa, devido a anemias hemorrágicas e hemolíticas. (WITTWER, 2012). Por outro lado, a reduzida contagem plaquetária em caninos anêmicos (P<0,05) sugere ocorrência de anemias hemorrágicas ou displásticas por hipoplasias medulares (MORAES, TAKAHIRA, 2009)..
(4) Figura 1. Gráfico de caixa e bigodes das variáveis do leucograma, metarrubrícitos e proteínas plasmáticas totais (PPT) em caninos com anemia e eritrocitose. A proteinemia foi similar entre grupos, de modo que não podemos inferir referente aos quadros de desidratação e processos inflamatórios entre grupos..
(5) 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente estudo observou-se que animais anêmicos apresentaram maiores contagens de leucócitos devido a um aumento de neutrófilos e monócitos, assim como menor contagem plaquetária. Ressaltamos, por fim, a importância da avaliação de anemias e de eritrocitoses nos cães, visto que tais alterações são consequências de inúmeras doenças e a sua determinação direciona o clínico sob a melhor conduta para cada situação. 5. REFERÊNCIAS GONZÁLEZ, F.; SILVA, S. Patologia clínica veterinária: texto introdutório. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. 342 p. GONZALEZ, Felix H. Diaz.; VALLE, Stella De Faria; SILVA, Sergio Ceroni Da. PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA: UMA ABORDAGEM SOBRE CASOS CLÍNICOS, 2014. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wpcontent/uploads/2014/10/casos_clínicoslivro.pdf. Acesso em: 01 de out. de 2017. KRÜGER, Rosiéli. POLICITEMIA EM CÃES E GATOS, 2007. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2013/05/rosieli.pdf. Acesso em: 30 de set. 2017. MORAES, Lívia Fagundes; TAKAHIRA, Regina Kiomi. APLASIA MEDULAR EM CÃES, 2009. Disponível em: http://revistas.bvsvet.org.br/rca/article/view/35144/39515. Acesso em: 02 de out. de 2017. WITTWER, Fernando. Manual de Patologia Clínica Veterinária. 2. Ed. Valdivia-Chile: Imprenta America, 2012..
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