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Construções (coordenadas) adversativas e construções (subordinadas) adverbiais concessivas em português: pontos de contato e de constraste na língua em função

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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. RENATA MARGARIDO. CONSTRUÇÕES (COORDENADAS) ADVERSATIVAS E CONSTRUÇÕES (SUBORDINADAS) ADVERBIAIS CONCESSIVAS EM PORTUGUÊS: PONTOS DE CONTATO E DE CONTRASTE NA LÍNGUA EM FUNÇÃO. São Paulo 2010.

(2) RENATA MARGARIDO. CONSTRUÇÕES (COORDENADAS) ADVERSATIVAS E CONSTRUÇÕES (SUBORDINADAS) ADVERBIAIS CONCESSIVAS EM PORTUGUÊS: PONTOS DE CONTATO E DE CONTRASTE NA LÍNGUA EM FUNÇÃO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras, Área de Estudos Linguísticos.. ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria Helena de Moura Neves. São Paulo 2010.

(3) M327c Margarido, Renata. Construções (coordenadas) adversativas e construções (subordinadas) adverbiais concessivas em português: pontos de contato e de contraste na língua em função. / Renata Margarido. -- 2010. 188 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. Bibliografia: f. 182-188 Orientador: Maria Helena de Moura Neves. -. 1. Construções adversativas. 2. Construções concessivas. 3. Pontos de contato. 4. Pontos de contraste. 5. Teoria funcionalista da linguagem. I. Título. CDD 415.

(4) RENATA MARGARIDO. CONSTRUÇÕES (COORDENADAS) ADVERSATIVAS E CONSTRUÇÕES (SUBORDINADAS) ADVERBIAIS CONCESSIVAS EM PORTUGUÊS: PONTOS DE CONTATO E DE CONTRASTE NA LÍNGUA EM FUNÇÃO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras, Área de Estudos Linguísticos.. Aprovada por. __________________________________________ Profª. Drª. Maria Helena de Moura Neves – orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) _____________________________________________ Prof. Dr. Ronaldo de Oliveira Batista Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). _________________________________________ Profª. Drª. Maria Célia Pereira Lima-Hernandes Universidade de São Paulo (USP) ______________________________________________ Profª. Drª. Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) – suplente _______________________________________________ Profª. Drª. Maria Suely Crocci de Souza – suplente Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).

(5) AGRADECIMENTOS. À minha orientadora, Prof.ª Maria Helena de Moura Neves, pelo apoio, pelo incentivo e pelos valiosos ensinamentos.. À Prof.ª Diana Luz Pessoa de Barros, pelo apoio.. À FAPESP, pelo financiamento desta pesquisa.. À Prof.ª Maria Célia Pereira Lima-Hernandes e ao Prof. Ronaldo de Oliveira Batista, pelas preciosas sugestões dadas em Exame de Qualificação.. À minha mãe, pelo apoio..

(6) RESUMO O objetivo desta dissertação é comparar as construções adversativas e as construções concessivas presentes em editoriais. Baseia-se, aqui, na teoria funcionalista da linguagem, segundo a qual, na análise linguística, deve haver a integração dos componentes sintático, semântico e pragmático. Levando-se isso em consideração, pretende-se investigar, entre outros aspectos, as possíveis motivações para o uso de uma das construções em estudo em vez de outra em certos contextos. Os resultados alcançados mostram que, por um lado, há pontos de contato entre as construções adversativas e as construções concessivas porque elas se incluem na “lei da preferência” (GARCÍA, 1994). Por outro lado, há pontos de contraste entre essas construções devido ao fato de que cada uma delas desempenha um papel específico em certos contextos, o que é decorrente da condição particular de “margem” (LONGACRE, 2007), “satélite” (DIK, 1989; MATTHIESSEN & THOMPSON, 1988), “realce” (HALLIDAY, 2004), “guia” (CHAFE, 1984, apud DECAT, 1993), “fundo” (GIVÓN, 1990) e “tema” (GARCÍA, 1994) das adverbiais concessivas. Na análise empreendida, observou-se que muitas das diferenças entre as construções em estudo estão relacionadas ao fato de que o segmento concessivo, como margem ou satélite, pode apresentar mecanismo de antecipação, sendo produzidos efeitos de sentido particulares. Palavras-chave: construções adversativas, construções concessivas, pontos de contato, pontos de contraste, teoria funcionalista da linguagem..

(7) ABSTRACT The aim of this work is to compare adversative constructions and concessive constructions which occur in editorials. This paper is based on the theory of functional grammar, which postulates the conjunction of syntactic, semantic and pragmatic factors in the analysis of linguistic use. Taking these aspects into consideration, it intends to investigate possible reasons which motivate the use of one construction instead of the other in particular contexts. The results reached show that, on one hand, there are areas of overlap between adversative constructions and concessive constructions for the fact that they display “relation of preference” (GARCÍA, 1994). On the other hand, there are areas of contrast between these constructions due to the fact that each of them plays a particular role in certain contexts, which is resulted from the specific functions fulfilled by a concessive element, as “margin” (LONGACRE, 2007), “satellite” (DIK, 1989; MATTHIESSEN & THOMPSON, 1988), “enhancement” (HALLIDAY, 2004), “guidepost” (CHAFE, 1984, apud DECAT, 1993), “background” (GIVÓN, 1990) and “theme” (GARCÍA, 1994). In the analysis, it was observed that most of the differences between the constructions in discussion are related to the fact that specifically the concessive element, as margin or satellite, can present mechanism of anticipation, displaying particular effects. Keywords: adversative constructions, concessive constructions, areas of overlap, areas of contrast, theory of functional grammar..

(8) RELAÇÃO DE QUADROS. Quadro 1 Tipo textual nos segmentos da construção adversativa ...................................... 91. Quadro 2 Tipo textual e valores semânticos na construção adversativa ............................... 92. Quadro 3 Tipo textual nos segmentos da construção concessiva ......................................... 95. Quadro 4 Tipo textual nos segmentos da construção concessiva (córpus de controle) ........ 96. Quadro 5 Tipo textual e valores semânticos na construção concessiva ................................ 96. Quadro 6 Tipo textual e valores semânticos na construção concessiva (córpus de controle) ................................................................................................................ 97. Quadro 7 Estatuto informacional nos segmentos da construção adversativa ....................... 144. Quadro 8 Estatuto informacional nos segmentos da construção concessiva ........................ 145. Quadro 9 Estatuto informacional nos segmentos da construção concessiva (córpus de controle) ................................................................................................................ 146.

(9) SUMÁRIO 1. Introdução ………………………………………………………….. 9. 1. Pressupostos teóricos ……………………………………………. 13. 1 1. 2. Adversativas e concessivas: fluidez semântica ……………….... 17. 2.1 O compartilhamento de valores semânticos ……………………………. 17. 2.2 Bases semântico-argumentativas do cotejo …………………………….. 27. 2.3 Bases lógico-semânticas do cotejo ……………………………………. 34. 3. Adversativas e concessivas: especificidades e aproximações sintáticas e discursivas ……………………………………………... 43. 3.1 Construções adversativas e construções concessivas: visão tradicional e visão funcionalista ……………………………………………………... 43. 1 0 0. 0. 0. 3.2 A organização das construções adversativas e das construções concessivas no fluxo de informação …………………………………………………. 55. 3.3 A condução argumentativa nas construções adversativas e nas construções concessivas ……………………………………………………………. 63. 4. Procedimentos metodológicos …………………………………... 73. 4.1 Procedimentos estabelecidos para análise ……………………………... 4.2 Córpus: o editorial ………………………………………………….. 4.3 Seleção e delimitação do córpus ……………………………………... 4.4 Objetivos e critérios de análise ……………………………………….. 0. 0 0 0 73 0 78 0 82 0 83. 5. Análise das construções adversativas e das construções concessivas em editoriais: motivações de uso …………………….. 89. 5.1 Adversativas e concessivas: inserção textual, uso argumentativo e interpretação semântica …………………………………………………. 89. 5.1.1 Identidade de tipo textual nos segmentos da construção ……………….. 91. 5.1.2 Não identidade de tipo textual nos segmentos da construção ………….... 136. Considerações gerais ………………………………………………….... 140. 0. 0 0 0 0.

(10) 0. 5.2 Adversativas e concessivas: estatuto informacional …………………….. 143. 5.2.1 Identidade de estatuto informacional nos segmentos da construção ……... 147. 5.2.2 Não identidade de estatuto informacional nos segmentos da construção .... 163. Considerações gerais ………………………………………………….... Conclusões …………………………………………………………. Referências bibliográficas …………………………………………. 0 0 0 174 0 178 0 182.

(11)

(12) 9. INTRODUÇÃO O objetivo geral desta dissertação é estabelecer pontos de contato e de contraste entre as construções (“coordenadas”) adversativas com mas e as construções (“subordinadas”) adverbiais concessivas com embora. O objetivo específico é examinar a junção operada pela conjunção “coordenativa adversativa” mas e pela conjunção “subordinativa (adverbial) concessiva” embora. São objetivos intermediários: i) a investigação do estatuto funcional das classes tradicionalmente chamadas de “coordenada” e de “subordinada”; ii) a investigação do estatuto funcional das classes tradicionalmente denominadas de “adversativa” e de “adverbial concessiva”. Toma-se como base a teoria funcionalista da linguagem e se considera, em consonância com os objetivos apresentados, que os fatores semântico e sintático devem estar integrados ao componente pragmático na análise das adversativas e das concessivas. Dessa forma, observam-se os usos efetivos dessas construções, o que contribui para que se demonstrem, assim, as possíveis motivações para a utilização de uma construção em vez de outra. Para a análise das adversativas e das concessivas, selecionaram-se construções do português escrito contemporâneo. O córpus se constitui de um conjunto de editoriais dos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Optou-se por utilizar editoriais como córpus pelo fato de esse gênero discursivo ser essencialmente argumentativo, o que, em princípio, contribuiria para a frequência das adversativas e das concessivas. O interesse pelo tema aqui proposto surgiu quando foi desenvolvido (de 2005 a 2006) trabalho de Iniciação Científica intitulado “Avaliação do material de apoio usado no tratamento escolar da gramática (Ensino Fundamental: 5ª a 8ª série) em confronto com a proposta de uma gramática do português baseada nos usos”. No decorrer da pesquisa, verificou-se que grande parte das coleções de livros didáticos analisadas tratava as classes gramaticais desconsiderando, em geral, seus usos efetivos. Duas das classes tratadas nas lições didáticas como categorias “fechadas” são a “coordenada adversativa” e a “subordinada adverbial concessiva”. Observou-se, entre outros aspectos, que o tratamento tradicional dado a essas classes dificulta a contemplação tanto dos pontos de contato quanto dos pontos de contraste entre elas. Embora esta dissertação não esteja relacionada especificamente com o ensino de gramática, entende-se que, a partir da revisão do tratamento tradicional dado às adversativas e.

(13) 10. às concessivas, podem-se oferecer contribuições para que se pense nos pontos de contato e de contraste entre essas construções. A escolha do tema também se justifica pelo fato de que a relação entre as adversativas e as concessivas ainda não é ponto de consenso entre os estudiosos da língua, o que mostra que tal questão merece uma investigação acurada. Para a comparação entre as adversativas e as concessivas, colocam-se em xeque duas dicotomias usualmente determinadas nas gramáticas tradicionais: uma referente ao fator sintático (coordenação x subordinação) e outra atinente ao aspecto semântico (oposição x concessividade). Tradicionalmente se atribui às adversativas o estatuto sintático de “coordenação” e o valor semântico de “oposição” e às concessivas o estatuto sintático de “subordinação” e o sentido de “concessividade”. Essa separação rígida faz pensar que cada construção possui exclusivamente características que lhe são inerentes, não havendo aproximações entre elas. Entretanto, quando se faz uma análise das adversativas e das concessivas ligada a seus usos efetivos, verifica-se que, apesar de serem incluídas pelos gramáticos tradicionais em classes distintas, elas apresentam pontos de contato. No que diz respeito ao fator sintático, tradicionalmente se concebe que as coordenadas adversativas são independentes e que as concessivas são dependentes. No entanto, quando se considera que essas construções se encontram, como se verá, em um continuum, observa-se que seria problemático estabelecer uma separação rígida entre elas. No que se refere ao fator semântico, como se verá, “oposição” e “concessividade” não se opõem, pois a concessão pode ser incluída no grupo da oposição. Daí a possibilidade de as adversativas e as concessivas apresentarem valores semânticos semelhantes. Considerados os pontos de contato entre as adversativas e as concessivas, é possível identificar certas diferenças de uso. Como se verá neste trabalho, muitas das diferenças de comportamento entre as adversativas e as concessivas estão relacionadas ao fator pragmático. Isso mostra a necessidade de se atrelarem, na análise das adversativas e das concessivas, o componente pragmático aos componentes semântico e sintático. Levando-se em consideração essa integração de componentes, a hipótese que norteia esta pesquisa é a de que os pontos de contato entre as adversativas e as concessivas se relacionam especialmente à “lei da preferência” (GARCÍA, 1994). Por outro lado, os pontos de diferenciação entre essas construções são decorrentes da condição de “margem” (LONGACRE, 2007), “satélite” (DIK, 1989; MATTHIESSEN & THOMPSON, 1988), “realce” (HALLIDAY, 2004), “guia” (CHAFE, 1984, apud DECAT, 1993), “fundo”.

(14) 11. (GIVÓN, 1990) e “tema” (GARCÍA, 1994) das adverbiais concessivas, em contraste com as adversativas. A partir dos resultados de análise deste trabalho, observou-se que a principal particularidade das concessivas, resultante de sua natureza de margem, de satélite, é que a maioria dos segmentos adverbiais vem na posição anteposta. Devido a isso, no decorrer da análise, procurou-se chamar mais atenção para os diferentes efeitos de sentido produzidos nas concessivas com segmento adverbial anteposto em relação às adversativas. A seguir, trata-se de aspectos relacionados à estrutura deste trabalho. No que se refere à organização, há 3 capítulos teóricos, 1 capítulo sobre os procedimentos metodológicos e 1 capítulo de análise. No capítulo 1, expõem-se os principais pressupostos gerais da teoria funcionalista da linguagem e os postulados dessa teoria que dizem respeito especificamente ao fluxo de informação, um dos aspectos que, neste trabalho, será relacionado às adversativas e às concessivas. No capítulo 2, trata-se, sobretudo, da fluidez semântica existente entre as adversativas e as concessivas. Partindo-se das considerações da gramática tradicional, inicia-se a discussão no tópico 2.1, que trata do compartilhamento de valores semânticos entre essas construções. Em seguida, é vista a aproximação entre elas considerando-se, no tópico 2.2, o aspecto semântico-argumentativo e, no tópico 2.3, o aspecto lógico-semântico envolvido no cotejo, sendo este último aspecto voltado especialmente para as concessivas. No capítulo 3, trata-se, sobretudo, das especificidades sintáticas e discursivas das adversativas e das concessivas. No tópico 3.1, apresenta-se a visão tradicional (coordenação x subordinação) e a visão funcionalista (parataxe x hipotaxe) das construções em estudo. Na seção 3.2, discorre-se sobre a organização das adversativas e das concessivas no fluxo de informação, com o tratamento, por exemplo, da questão da distribuição de informação (par informação conhecida/ informação não conhecida) e do relevo informativo (par figura/fundo). No tópico 3.3, trata-se do uso argumentativo das construções em questão, que envolve, necessariamente, o aspecto discursivo. No capítulo 4, trata-se da metodologia utilizada, com a indicação dos critérios estabelecidos para a seleção e delimitação do córpus e dos grupos de critérios utilizados na análise das construções em estudo. Nesse capítulo, discorre-se, ainda, sobre as características do editorial, gênero que constitui o córpus deste trabalho. No capítulo 5, apresenta-se a análise das adversativas e das concessivas em editoriais, observando-se as possíveis motivações de uso de cada construção. Na seção 5.1, investigam-.

(15) 12. se os tipos textuais (e as funções) presentes nos segmentos das adversativas e das concessivas. Nesse exame, inclui-se a interpretação semântica dessas construções: relacionam-se os tipos textuais presentes nelas com os seus valores semânticos. Além disso, considera-se o uso argumentativo das adversativas e das concessivas, e se observam, por exemplo, as possíveis estratégias argumentativas utilizadas pelo locutor. No tópico 5.2, por sua vez, trata-se do estatuto informacional dos segmentos das construções adversativas e das concessivas. Em todos os tópicos de análise, procura-se investigar de que forma as particularidades das adverbiais concessivas influem para determinar diferentes efeitos de sentido. Por fim, apresentam-se as conclusões desta dissertação..

(16) 13. 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Algumas posições funcionalistas que sustentam a investigação que aqui se faz apresentam-se a seguir, com recurso a propostas da teoria funcionalista da linguagem assentadas em Halliday (1978), Dik (1989) e Givón (1995) e desenvolvidas em Neves (2004) e em Cunha et al. (2003). Neves (1997) diz que os desenvolvimentos mais significativos do funcionalismo são associados, frequentemente, às concepções da Escola Linguística de Praga, para a qual a linguagem possibilita ao homem referir a realidade extralinguística. Afirma Halliday (1978) que a língua se desenvolveu para atender a certas funções chamadas de “funções sociais”. Como o autor aponta, tais funções são os contextos significativos, na medida em que o homem é capaz de especificar parte do potencial de significado que está associado a ele. Como mostra Neves (2004), o funcionalismo se preocupa com as funções dos meios linguísticos de expressão. Assim, diz a autora, o estudo da língua se dirige para uma consideração das estruturas linguísticas exatamente pelo que elas representam de organização dos meios linguísticos de expressão das funções a que serve a linguagem. Para a verificação do que tais estruturas representam em relação à organização desses meios linguísticos, consideram-se os contextos de uso da língua, pois, como apontam Cunha et al. (2003), em um tratamento funcionalista procura-se explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua a partir da observação das condições discursivas em que se dá esse uso. O funcionalista Dik (1989), propondo um modelo de interação verbal, mostra o papel do componente pragmático (referente às condições discursivas) no processo comunicativo. Nesse modelo, observa-se que, para construir o enunciado linguístico, o falante antecipa uma possível interpretação do ouvinte, ao passo que, para interpretar esse enunciado, o ouvinte reconstrói a intenção comunicativa do falante. Assim, para Dik (1989), no processo de interação verbal, o ouvinte interpreta os enunciados por meio das informações contidas nas expressões linguísticas e, também, por meio de sua informação pragmática 1, enquanto o falante produz seu enunciado levando em consideração a imagem que faz sobre a informação de que o ouvinte dispõe no momento do processo de comunicação.. 1. Dik (1989) dá a seguinte definição para “informação pragmática”: o repertório de conhecimento, crenças, inferências, opiniões e sentimentos de um indivíduo em algum ponto da interação verbal..

(17) 14. Dik (1989) afirma que, em uma abordagem funcional da linguagem, a pragmática se integra com os demais componentes presentes nas análises linguísticas, o sintático e o semântico. Assim, tais fatores são interdependentes, sendo a pragmática o componente que engloba os demais. Dessa forma, diz o autor, a sintaxe serve para que os usuários da língua formem expressões (complexas) a fim de expressar sentidos (complexos), e esses sentidos servem para que as pessoas se comuniquem de formas diferentes. No modelo proposto por Dik (1989), fica evidenciado, assim, que não se pode desconsiderar o papel que os usuários da língua cumprem na construção dos enunciados. Como bem diz Givón (1995), é consenso entre os autores funcionalistas que a língua não é autônoma, pois ela deve ser vista segundo parâmetros como cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução. Isso mostra que a língua está sujeita a pressões de uso, estando implicada, portanto, a situação comunicativa em que se produzem os enunciados linguísticos, incluindo o contexto de uso e também os usuários da língua. A partir disso, objetiva-se mostrar, neste trabalho, que os usos efetivos das construções adversativas e das construções concessivas são contemplados considerando-se a situação comunicativa na qual elas ocorrem. Tendo isso em vista, em primeiro lugar observa-se que, embora cada construção seja incluída tradicionalmente em uma classe particular, por vezes uma construção pode ser empregada em vez de outra em certos contextos. Nesse caso, está envolvida a questão da prototipia, tal como é definida por Taylor (2003). O autor afirma que o protótipo é um tipo específico de entidade visto como exemplar em um grupo. A associação de membros a esse grupo se dá pela semelhança que eles têm com o protótipo: quanto mais próxima do protótipo estiver uma entidade, mais central é o seu status dentro da categoria. Isso mostra que as categorias não são “fechadas”, pois certos membros do grupo são tidos como mais exemplares que outros. Dessa forma, Taylor (2003) questiona a teoria clássica da categorização, segundo a qual as categorias são definidas em termos de condições necessárias e suficientes, que exibem limites claros, havendo, assim, apenas dois graus de associação ao grupo: membro ou não membro do grupo. Para o autor, não é possível estabelecer essa dicotomia rígida, visto que os limites entre as categorias de um grupo são fluidos. Considerando isso, não é de estranhar que as adversativas e as concessivas apresentem fluidez semântica, podendo ser, portanto, intercambiáveis..

(18) 15. Em segundo lugar, há possíveis motivações que determinam o uso de uma construção em vez de outra, o que é observado quando se leva em consideração também o fator pragmático. Para a verificação das motivações de uso (o aspecto pragmático) das adversativas e das concessivas, observa-se, entre outros aspectos, a diferença de natureza sintática entre essas construções. Como se verá detalhadamente no capítulo 3, que tratará, entre outros aspectos, da articulação das orações, as adversativas têm natureza paratática – são, de certa forma, independentes e possuem rigidez posicional – e as concessivas são hipotáticas adverbiais – são relativamente dependentes e possuem flexibilidade posicional. Além disso, as orações adversativas realizam expansão paratática de extensão, ao passo que as orações concessivas manifestam expansão hipotática de realce. Assim, as primeiras expandem uma oração acrescentando um conteúdo, enquanto as últimas expandem uma oração qualificando-a com uma circunstância (a de concessão) (HALLIDAY, 2004). Essas observações serão consideradas na análise das adversativas e das concessivas quando se tratar, entre outros aspectos, do fluxo de informação, pois os elementos do fluxo de informação são organizados nos enunciados linguísticos de acordo com as escolhas feitas pelo falante. É ele que determina a estrutura de seu enunciado segundo seus propósitos comunicativos em relação ao ouvinte. No tratamento do fluxo de informação, consideram-se a distribuição de informação, o relevo de informação e as funções pragmáticas. Está relacionada à distribuição de informação a questão do estatuto informacional. Para o estudo dessa questão, utiliza-se, aqui, a tipologia estabelecida por Prince (1981), que propõe as categorias informação nova, informação evocada e informação inferível. A autora diz que a informação nova é a que o falante introduz pela primeira vez no discurso. Ela é tida como “totalmente nova” quando o ouvinte tem de criar uma nova entidade e é considerada “não usual” quando o falante supõe que o ouvinte tem uma entidade correspondente em seu próprio modelo e precisa, simplesmente, colocá-la no modelo discursivo. A informação evocada, por sua vez, pode ser textualmente evocada, quando o ouvinte a tinha evocado anteriormente nas porções do texto (seguindo as instruções do falante), e situacionalmente evocada, quando o ouvinte pôde evocar a informação por si próprio devido a razões.

(19) 16. situacionais. A informação é inferível quando o falante pressupõe que o ouvinte possa inferila a partir de entidades já evocadas ou outras entidades inferíveis presentes no discurso 2. Alguns autores, como Towsend (1997) e Martelotta (1998), tratam do estatuto informacional com base na tipologia estabelecida por Chafe (1987), que propõe a categoria de informação dada, referente aos conceitos que já estão ativos na mente do falante e que se supõe que também estejam ativos na mente do ouvinte, e a de informação nova, concernente aos conceitos inativos na mente do ouvinte, mas que estão ativos na mente do falante. Serão apontadas as observações de Towsend (1997) e de Martelotta (1998) para o tratamento do estatuto informacional, no entanto, a tipologia aqui adotada para a análise das construções adversativas e das construções concessivas é a de Prince (1981). Estão relacionados ao relevo de informação os conceitos de figura/fundo. Segundo Givón (1990), no processo comunicativo, a figura representa a linha principal do enunciado, ao passo que o fundo é a porção tida como satélite (adicional). Nesse caso, está envolvido o papel do falante, que é quem atribui maior relevo (o caráter de figura) ou menor relevo (o caráter de fundo) a determinadas porções do enunciado, de acordo com os objetivos que visa atingir na interação verbal. Ainda no que se refere às funções pragmáticas, podem-se apontar os pares tópico/foco. Consoante Dik (1989), a topicidade caracteriza as entidades sobre as quais a informação é requerida no discurso e a focalidade, por sua vez, diz respeito às partes da informação que são mais importantes ou mais salientes em relação às modificações que o falante deseja fazer na informação pragmática do ouvinte. Como se verá, os postulados da teoria funcionalista da linguagem apresentados neste capítulo trazem contribuições para que se estabeleçam pontos de contato e de contraste entre as construções adversativas e as construções concessivas. Assim, no decorrer desta dissertação, serão retomadas as questões tratadas neste capítulo.. 2. É importante sublinhar que Prince (1981) propõe uma outra terminologia para se referir ao que costuma ser chamado de “shared knowledge” (“conhecimento compartilhado”). Para a autora, o que está em jogo quando o falante considera algo como informação dada ou compartilhada é o que ele pressupõe que o ouvinte pressupõe. Assim, dizer que o conjunto de crenças dos indivíduos pode constituir conhecimento compartilhado é considerar que o falante é um observador onisciente. Dessa forma, a autora considera que o termo “assumed familiarity” (“familiaridade pressuposta”) é mais apropriado do que “shared knowledge”..

(20) 17. 2. ADVERSATIVAS E CONCESSIVAS: FLUIDEZ SEMÂNTICA 2.1 O compartilhamento de valores semânticos Nesta seção, mostra-se que as construções adversativas e as construções concessivas, embora sejam incluídas tradicionalmente em classes diferentes, a da “coordenação” e a da “subordinação”, respectivamente, compartilham valores semânticos. Para a investigação das aproximações semânticas das construções em estudo, parte-se das considerações feitas nas gramáticas tradicionais. A seguir, expõe-se um quadro que registra os valores semânticos atribuídos às construções adversativas e às construções concessivas em gramáticas tradicionais da língua portuguesa: AUTORES. VALORES SEMÂNTICOS ATRIBUÍDOS Construção adversativa. Said Ali (1964). Construção concessiva. Exprime-se um fato (real ou suposto) que, mesmo que possa Exprime-se contradição, contrariar a realização de outro fato restrição. principal, deixa de produzir o efeito esperado ou possível. Kury (1973) Denota-se que se admite ou Acrescenta-se uma ideia de concede um fato contrário à contraste, compensação. declaração principal, mas que não impede a sua realização. Cunha & Cintra Apresenta-se a ideia básica de (1985) oposição, de contraste e pode- Na oração subordinada, admite-se se, também, exprimir restrição, um fato contrário à ação principal, retificação, atenuação (ou mas incapaz de impedi-la. compensação) e adição. Cegalla (1994) Exprime-se contraste, ______________ oposição, ressalva. Rocha Lima (1994) Expressa-se um fato (real ou suposto) que poderia se opor à Relacionam-se pensamentos realização de outro fato principal, contrastantes. mas não frustra o cumprimento deste fato. Bechara (2003a, A oração concessiva exprime que 2003b) Marca-se oposição, contraste, um obstáculo (real ou suposto) não compensação, ressalva. impedirá ou modificará a declaração da oração principal..

(21) 18. A observação das informações contidas nas gramáticas citadas permite alguns comentários. Em relação às construções adversativas, nota-se que todos os autores citados fazem referência a um valor semântico comum, o de oposição, que é chamado também de “contradição”, “contraste”, “contraposição”. Tal fato não surpreende, pois o próprio termo “adversativo”, empregado para nomear a classe das construções com mas, já sugere a ideia de oposição. Nas gramáticas tradicionais citadas, não se especifica se o valor de “oposição” das adversativas é visto em sentido lato ou estrito. No entanto, pelos exemplos presentes, observase que a oposição é vista ora em sentido estrito, ora em sentido lato. Nos trechos arrolados a seguir, há oposição em sentido estrito: 1) “Acabou-se o tempo das ressurreições, mas continua o das insurreições” (BECHARA, 2003a, p. 321) 2) Quebrou a corda, porém logo a consertaram. (SAID ALI, 1964, p. 133) 3) O mar é generoso, porém, às vezes torna-se cruel. (CEGALLA, 1994, p. 283) Nesses casos, há o que Neves (2000) chama de contraste entre elementos de significação oposta, como se verá adiante. Em 1, há oposição entre acabou-se x continua e entre ressurreições x insurreições; em 2, há oposição entre quebrou x consertaram e, em 3, há oposição entre generoso x cruel. Nas gramáticas de Kury (1973), Cunha & Cintra (1985) e Rocha Lima (1994), porém, não se identificaram construções adversativas que apresentem oposição em sentido estrito, como se vê no trecho a seguir, que é utilizado por Cunha & Cintra (1985) para exemplificar o valor de contraste: 4) Apetece cantar, mas ninguém canta. (M. Torga, CH, 44) (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 566) Isso já mostra que os valores semânticos da construção adversativa envolvem certa complexidade3, o que ficará mais evidente quando se apresentarem as contribuições trazidas pelos linguistas em geral a respeito das adversativas. Além do valor de oposição, os gramáticos em geral registram o valor de restrição (ou ressalva) (SAID ALI, 1964; CUNHA & CINTRA, 1985; CEGALLA, 1994; BECHARA, 3. Essa consideração pode ser feita a partir da consulta de gramáticas tradicionais que trazem frases de uso real, como a de Bechara (2003a) e a de Cunha & Cintra (1985)..

(22) 19. 2003a, 2003b) e o de compensação (KURY, 1973; CUNHA & CINTRA, 1985; BECHARA, 2003a, 2003b), ambos exemplificados a seguir, na ordem em que foram referidos: 5) Vai, se queres, disse-me este, mas temporariamente. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 570) 6) Uma luz bruxuleante, mas teimosa continuava a brilhar nos seus olhos. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 571) No entanto, das gramáticas tradicionais consultadas, é a de Cunha & Cintra (1985) que traz um maior leque de valores semânticos do mas. Eles indicam dois valores que não são apontados nas demais gramáticas, o de retificação e o de adição, que são aqui exemplificados. Apresentam-se, a seguir, construções adversativas trazidas por Cunha & Cintra (1985, p. 570) para ilustrar o valor de retificação do mas: 7) Eram mãos nuas, quietas, essas mãos; serenas, modestas e avessas a qualquer exibicionismo. Mas não acanhadas, isso nunca. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 570) 8) - O major, hoje, parece que tem uma idéia, um pensamento muito forte. - Tenho, filho, não de hoje, mas de há muito tempo. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 570) Observa-se que, nesses casos, há negação em um dos segmentos da construção. Em 7, a construção pode ser representada pela fórmula X, mas não Y e, em 8, pelo esquema Não X, mas Y. Como se verá na próxima seção, há a consideração de um desses tipos de construção (a que é exemplificada em 8) em Ducrot & Vogt (1980), que apontam duas funções para o mas: a retificadora e a concessiva. No excerto seguinte, apresenta-se construção concessiva trazida por Cunha & Cintra (1985, p. 571) para exemplificar o valor de adição do mas: 9) Era bela, mas principalmente rara. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 571) Neste trabalho, considera-se, entretanto, que o mas não estabelece relação aditiva, pois, como se mostrará, ele sempre marca uma desigualdade entre os segmentos que conecta. A própria estrutura argumentativa da construção com mas evidencia que o segmento adversativo não traz, simplesmente, um acréscimo de informação ou argumento, pois se acrescenta algo que se faz prevalecer. Cunha & Cintra (1985), diferentemente dos outros gramáticos citados, também parecem incluir os valores da conjunção mas, especificamente, em dois grupos, pois eles.

(23) 20. afirmam que tal conjunção apresenta, por um lado, a “ideia básica” de oposição, contraste e, por outro lado, os valores de restrição, retificação, atenuação (ou compensação) e adição. O tratamento desses autores em relação aos valores semânticos do mas também se diferencia, de certa forma, do dos outros gramáticos citados pelo fato de que eles indicam a possibilidade de ocorrência do mas em início de frase e dizem que é importante o emprego da conjunção mas “para mudar a sequência de um assunto, geralmente com o objetivo de retomar o fio do enunciado anterior que ficara suspenso” (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 571). Este é o trecho fornecido por eles para exemplificar esse caso: 10) Mas os dias foram passando. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 571) Entretanto, observa-se que nesse excerto não fica claro o papel desempenhado pelo mas como item sequenciador, já que o segmento adversativo vem isolado. Essa função exercida pela conjunção mas pode ser verificada em Neves (2000), que registra, por exemplo, esta ocorrência: 11) Nada de subjacente, nada que estivesse lá dentro como na polpa de um fruto se esconde o âmago de um duro e imprevisto caroço a determinar, sem que se saiba, o volume e a forma exterior da casca... Mas tornemos de novo à sala onde Eulália tocava valsa francesa. (NEVES, 2000, p. 769). Como se verá adiante, aqui há o que Neves (2000) chama de contraposição em direção independente, caso em que o conteúdo do segmento adversativo serve, por exemplo, para mudar foco, como ocorre em 11, ou introduzir novo tema. Em construções como esta apresentada por Neves (2000), o mas, segundo Silva (2005), tendo arrefecido seu valor contrastivo, contribui mais especificamente para a progressão textual. Isso mostra que não seria exato dizer que a construção adversativa com mas expressa, simplesmente, contraste, pois há casos em que esse valor fica menos evidente, como em 11. Além disso, existe uma grande variedade de valores semânticos que aparecem na adversativa, o que já é evidenciado na gramática de Cunha & Cintra (1985), que, como se mostrou, indica um maior leque de valores do mas, embora um desses valores (o aditivo) não seja considerado neste trabalho. Nas gramáticas citadas, procurou-se verificar, também, se alguma delas estabelecia aproximação semântica entre as adversativas e as concessivas. Um dos gramáticos citados, Rocha Lima (1994), aponta que a concessão pode ser expressa por conjunções adversativas. O.

(24) 21. autor diz que os elementos adversativos porém, todavia, contudo, entretanto e no entanto não exprimem contraste como o mas, mas uma espécie de “concessão atenuada”. Este é um dos exemplos fornecidos pelo autor: 12) Ele falou bem; todavia, não foi como eu esperava. (ROCHA LIMA, 1994, p. 185) A partir dessa informação, já se poderia pensar em uma aproximação semântica entre as construções adversativas e as construções concessivas 4, pois, como se sabe, é próprio das concessivas expressar concessão. A construção adversativa apresentada, por exemplo, teria como correspondente a seguinte construção concessiva: 13) Embora ele tenha falado bem, não foi como eu esperava. Feitas essas observações a respeito do tratamento dado nas gramáticas à construção adversativa (com mas), passa-se a discorrer sobre a construção concessiva (com embora). No que se refere às construções concessivas, como se verá a seguir, uma das noções comumente atribuída a elas pelos linguistas é a de “contrariedade à expectativa”. Das definições apresentadas no quadro exposto, percebe-se que apenas na definição trazida por Said Ali (1964, p. 158) tem-se a noção de “contrariedade à expectativa”, pois se diz que um fato “deixa de produzir o efeito esperado”. Como exemplo, fornece-se o seguinte trecho: 14) Embora protestasse energicamente, sempre acabou por submeter-se. (SAID ALI, 1964, p. 139) Nesse caso, como alguém protestava energicamente, esperava-se que essa pessoa não se tivesse submetido, mas essa expectativa é contrariada, pois essa pessoa sempre acabou por se submeter. Embora, nas demais gramáticas citadas, não se faça referência à noção de contrariedade à expectativa, os exemplos oferecidos permitem que se atribua essa noção às concessivas, como se vê a seguir: 15) Embora chova, sairei. (BECHARA, 2003a, p. 497) 16) Embora estudasse, não tirou boa nota. (KURY, 1973, p. 179) 17) Comprarei o livro, embora o ache caríssimo. (ROCHA LIMA, 1994, p. 186). 4. Adiante-se que a construção adversativa com mas também pode expressar concessão, como se apontará..

(25) 22. Em 15, o fato de que chove leva a pensar que alguém não sairá, mas essa expectativa é contrariada quando se diz que a pessoa sairá. Em 16, o fato de que a pessoa estudou leva a pensar que ela tirou boa nota, mas essa expectativa é contrariada quando se diz que essa pessoa não tirou boa nota. Em 17, por sua vez, o fato de que alguém acha o livro muito caro leva a pensar que essa pessoa não o comprará, mas essa expectativa é contrariada, pois se afirma que o livro será comprado. Ainda em relação às concessivas, observa-se que, em algumas gramáticas referidas no quadro, como a de Kury (1973) e a de Cunha & Cintra (1985), diz-se, em geral, que um fato contrário/oposto não é capaz de impedir a realização de outro fato. Nota-se, assim, que a noção de oposição também está presente na definição das concessivas, o que parece indicar uma aproximação entre concessão e oposição e, consequentemente, entre as construções concessivas e as construções adversativas. Essa relação entre concessão e oposição será discutida mais adiante. No que se refere às construções concessivas, observa-se, também, que, em duas das definições apresentadas, a de Kury (1973) e a de Cunha & Cintra (1985), diz-se que se concede ou se admite um fato contrário. Como diz Bechara (1954), a tecnologia gramatical emprega o termo “concessão” para indicar a concessão que o falante faz às possíveis objeções do ouvinte (negando, contudo, a consequência que daí todos poderiam esperar). Entretanto, essa ideia não fica claramente explicitada em definições oferecidas nas gramáticas dos autores referidos, como se vê aqui: as concessivas “denotam que se admite ou concede um fato contrário à declaração principal, mas que não impede a sua realização” (KURY, 1973, p. 179) / as concessivas “iniciam uma oração subordinada em que se admite um fato contrário à ação principal, mas incapaz de impedi-la” (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 572) Nas demais gramáticas consultadas, a noção de concessão também não fica clara, como se vê nesta definição: “a oração concessiva expressa um fato – real ou suposto – que poderia opor-se à realização de outro fato principal, porém não frustrará o cumprimento deste” (ROCHA LIMA, 1994, p. 276). Pode-se entender que, como aponta Gouvêa (2005), a semântica, por si só, não é suficiente para dar conta do fenômeno de concessão, havendo a necessidade de um tratamento discursivo. No capítulo 3, quando se tratar do uso argumentativo das concessivas, essa questão ficará mais bem esclarecida. Pelo que foi exposto, verifica-se que, no que se refere ao aspecto semântico, as gramáticas tradicionais, em geral, indicam simplesmente que as construções adversativas expressam basicamente contraste e que as construções concessivas exprimem um fato.

(26) 23. contrário que não impede a realização de outro. Apesar de se considerar que as concessivas expressam um fato contrário, apenas as adversativas são incluídas no grupo da oposição. Como se verá mais adiante, nas concessivas não deixa de estar envolvida certa relação opositiva. Feitas essas observações, passa-se a verificar as lições dos linguistas que se debruçam sobre o compartilhamento semântico dos dois tipos de construção em estudo, em busca de um equacionamento que contemple as similaridades e as diferenças. Sabe-se que, na área semântica de oposição, englobam-se tanto as conjunções adversativas quanto as concessivas (MONNERAT, 2001a). Da mesma forma, como mostra Gouvêa (2001), os conectivos adversativos, assim como os concessivos, veiculam a ideia de concessão, apesar de esse valor nem sempre estar presente nas adversativas. Visto isso, restaria verificar, em primeiro lugar, de que forma as definições oferecidas pelos linguistas permitem que se perceba essa semelhança entre as adversativas e as concessivas. Vilela & Koch (2001) incluem no grupo de “oposição” a conjunção embora, juntamente com os elementos tradicionalmente tidos como opositivos (mas, contudo, todavia, porém, no entanto, não obstante, antes) e “criam” o grupo da “concessão opositiva”, no qual englobam os conectivos concessivos, como embora, apesar de que, ainda que. Assim, fica sugerido aí que a concessão tem algo de oposição. Azeredo (2008), por sua vez, considera que a conjunção adversativa mas expressa basicamente uma relação de contraste entre dois fatos ou ideias, podendo o valor contrastivo consistir: - em uma simples oposição de dois conteúdos: 18) A secretária dele é antipática, mas competente. - na quebra de uma expectativa criada pela primeira proposição: 19) O lutador era magrinho, mas derrubava todos os seus adversários. (AZEREDO, 2008, p. 305) O autor mostra, também, que a construção adversativa pode expressar um valor normalmente atribuído à construção concessiva: o de “quebra de expectativa” (contrariedade à expectativa). Assim, aí também fica sugerido que a concessão tem algo de oposição. Há autores, ainda, que, além de mostrar que há aproximações semânticas entre as adversativas e as concessivas, incluem os conectivos adversativos e os concessivos em uma única classe..

(27) 24. Van Dijk (1989) inclui as construções adversativas e as concessivas no grupo das contrastivas, que indicariam: i) cursos de eventos excepcionais; ii) eventos inesperados ou indesejados; iii) a não satisfação de condições possíveis, prováveis ou necessárias. O autor mostra que podem expressar essas relações conectivos como but (mas), though (embora), although (embora), nevertheless (no entanto), in spite of / notwithstanding (apesar de). Citam-se trechos em que aparecem as conjunções but (mas) e although (embora): A) Cursos de eventos excepcionais: 20) João é muito prestativo, mas fez um trabalho ruim na pintura de sua casa.5 21) Embora tenhamos dormido tarde, conseguimos pegar o barco.6 (VAN DIJK, 1989, p. 81) B) Eventos inesperados ou indesejados: 22) Eu fui pescar, mas não consegui pegar nada.7 23) Embora Peter seja muito esperto, não é muito gentil.8 (VAN DIJK, 1989, p. 81) C) Não satisfação de condições possíveis, prováveis ou necessárias: 24) Peter quer comprar um carro, mas não tem dinheiro.9 (VAN DIJK, 1989, p. 82) Apesar de englobar tanto as construções com but quanto as com although em um mesmo grupo, Van Dijk (1989) mostra que o uso de although seria inaceitável em 22 e em 24. Assim, o autor salienta que a relação de “condição não satisfeita” parece ser diferente da relação de “consequência não satisfeita ou inesperada”, relação em que o but é semanticamente equivalente ao although. Halliday & Hasan (1997) também incluem as construções adversativas e as concessivas em um mesmo grupo e atribuem a ele a denominação de “relação adversativa”. Os autores dizem que o sentido básico desse tipo de relação é “contrariedade à expectativa” (contrary to expectation), e a expectativa resulta do conteúdo do que está sendo dito ou do processo de comunicação entre falante e ouvinte. Os autores mostram que essa relação é expressa em construções que trazem but (mas), though (embora), however (no entanto), despite this (apesar disso), como se vê a seguir:. 5. John is very handy, but he made a miserable job of painting his house. Although we slept late, we were still able to catch the boat. 7 I went fishing, but I didn‟t catch anything. 8 Although Peter is very clever, he is not very kind. 9 Peter wants to buy a car, but he does not have any money. 6.

(28) 25. 25) Embora tenha dado o melhor de si, ela fracassou.10 (HALLIDAY & HASAN, 1997, p. 252) 26) Todo esse tempo, Tweedledee fez o possível para fechar o guarda-chuva com ele mesmo dentro ... Mas não teve muito êxito, e acabou virando e se enrolando todo no guarda-chuva, ficando somente com a cabeça para fora.11 (HALLIDAY & HASAN, 1997, p. 250-251) Além de atribuir um sentido básico à chamada relação adversativa, Halliday & Hasan (1997) apontam valores mais específicos: a relação contrastiva (contrastive relation), que é expressa por termos como but (mas), however (no entanto), on the other hand (por outro lado), in fact (de fato), actually (realmente); a relação de retificação (corrective relation), que é expressa por elementos como instead (em vez de), on the contrary (ao contrário), I mean (quero dizer); e a relação de rejeição (dismissive relation)12, que é exprimida por elementos como in any/either case event (em todo caso), in any/either way (de qualquer forma), whichever happens (o que quer que aconteça). Exemplifica-se, aqui, o primeiro tipo de relação citada, que é a que pode ser manifestada pela conjunção “coordenativa” but (mas): 27) Ele não é muito bonito. Mas é inteligente. (HALLIDAY & HASAN, 1997, p. 252) Saliente-se que Halliday & Hasan (1997), apesar de indicarem que as adversativas, assim como as concessivas, têm o valor básico de “contrariedade à expectativa”, incluem apenas as conjunções adversativas (como but e however) no grupo da relação contrastiva. Verifica-se, assim, que Halliday & Hasan (1997), assim como o faz Van Dijk (1989), incluem as construções adversativas e as concessivas em um mesmo grupo, como já se disse, mas indicam casos em que apenas um tipo de conjunção (a adversativa) pode ser utilizado. Isso demonstra a necessidade de se investigarem os possíveis contextos de uso em que se deveria optar pelo uso de uma conjunção em vez de outra. Há linguistas, ainda, como Bello (1988) e König (1985), que incluem as adversativas e as concessivas em grupos diferentes, mas não deixam de mostrar que há uma aproximação semântica entre elas. Bello (1988) aponta dois usos da conjunção concessiva aunque (embora) em espanhol:. 10. Although she‟d tried her best, she failed. All this time Tweedledee was trying his best to fold up the umbrella, with himself in it ... But he coudn‟t quite succeed, and it ended in his rolling over, bundled uo in the umbrella, with only his head out. 12 Nesse tipo de relação, indica-se que, independentemente das circunstâncias, algo ocorre. 11.

(29) 26. 28) Tenho de sair embora chova.13 (BELLO, 1988, p. 749) 29) Escreve bem, embora devagar.14 (BELLO, 1988, p. 750) O autor mostra que, em 29, diferentemente do que ocorre em 28, existe uma “transformação” da conjunção aunque (embora) em conjunção adversativa, que une toda espécie de elementos denotando certa oposição. König (1985), também tratando da conjunção concessiva, mostra que, em inglês, although (embora), além de expressar uma relação concessiva, pode apresentar uma relação adversativa. No exemplo a seguir, trazido pelo autor, a construção concessiva expressa uma relação adversativa, o que fica claro pela possibilidade de se ter uma construção adversativa correlata: 30) Embora nós não tenhamos sido derrotados, não vencemos também. 31) Nós não fomos derrotados, mas não vencemos também. (KÖNIG, 1985, p. 7) Entretanto, o autor estabelece uma diferenciação entre a relação adversativa e a concessiva. Levando em consideração que nem todas as línguas apresentam conectivos concessivos, mas todas trazem conectivos adversativos, König (1985) sugere que as relações adversativas são mais gerais e básicas, e as relações concessivas são uma variedade específica das primeiras15. García (2000) também aponta para o caráter derivado que apresentam as concessivas frente às adversativas. Para o autor, isso explica por que a propriedade mais característica de uma relação adversativa – o contraste – passe a fazer parte da definição semântica de qualquer expressão concessiva. Sendo assim, pode-se dizer que as concessivas expressam uma relação opositiva em sentido lato, o que levaria a incluí-las no grupo da oposição, juntamente com as adversativas. Pelo que foi exposto até aqui, observa-se que as construções adversativas e as construções concessivas apresentam aproximação semântica. Isso já fica sugerido em certas gramáticas tradicionais, como na de Rocha Lima (1994), mas é a partir das lições oferecidas pelos linguistas em geral que o compartilhamento semântico entre as construções referidas fica mais evidenciado, pois alguns autores, como Halliday & Hasan (1997) e Van Dijk (1989), chegam até mesmo a incluir as adversativas e as concessivas em um mesmo grupo. 13. Tengo de salir aunque llueva. Escribe bien, aunque despacio. 15 Vale comentar que, em gramáticas mais antigas da língua portuguesa, como na de Ribeiro (1885), não há o registro da relação de “subordinação” concessiva, mas apenas o da relação de “coordenação adversativa”. 14.

(30) 27. Por fim, verifica-se que o próprio fato de a relação concessiva ser uma variedade da relação adversativa, como consideram König (1985) e García (2000), mostra que existe, de fato, uma aproximação entre as construções em estudo. Na sequência, ainda se considerando a aproximação semântica entre as adversativas e as concessivas, passa-se a vê-las sob uma perspectiva semântico-argumentativa (na seção 2.2) e sob um ponto de vista lógico-semântico (na seção 2.3).. 2.2 Bases semântico-argumentativas do cotejo Como já se apontou, as adversativas e as concessivas se aproximam semanticamente. Aqui, mostra-se que, na base dessas construções, está envolvido não somente o aspecto semântico como também o argumentativo. A observação da origem da conjunção mas contribui para que se estabeleça um cotejo entre as adversativas (com mas) e as concessivas (com embora), levando a que seja contemplado também o aspecto argumentativo. Com base no fato de que a conjunção mas deriva do item linguístico latino magis (que era advérbio comparativo de superioridade), Ducrot & Vogt (1980) oferecem explicações para demonstrar a relação de sentido existente entre a conjunção mas e o advérbio que constitui o seu étimo. Os autores dizem que as línguas românicas que utilizam o derivado de magis como conjunção adversativa principal atribuem-lhe duas funções: a de masSN (correspondente ao espanhol sino) e a de masPA (correspondente ao espanhol pero). O masSN tem a função de retificar: no segmento inicial introduz-se uma proposição negativa (não-p), e no segmento iniciado por mas introduz-se uma proposição (p) que substitui a proposição negada. Por outro lado, no caso do masPA, no segmento inicial se introduz uma proposição (p) que leva a uma certa conclusão (r), e no segmento iniciado por mas introduz-se uma proposição (q) que conduz a outra conclusão (não-r), contrária à da primeira proposição. Como salientam os autores, o masPA é argumentativo em sentido estrito, diferentemente do mas SN. Estes são alguns exemplos oferecidos: 32) Ele não é inteligente, masSN apenas esperto. (DUCROT & VOGT, 1980, p. 104) 33) Ele é inteligente, masPA estuda pouco. (DUCROT & VOGT, 1980, p. 104) Em 32, há construção com masSN: um elemento presente no segmento adversativo (esperto) substitui um elemento expresso no segmento inicial (inteligente). Em 33, há construção com masPA: o argumento da oração inicial (ele é inteligente) conduz à conclusão.

(31) 28. de que ele estuda bastante, no entanto o argumento que vem expresso na oração adversativa (estuda pouco) aponta para a conclusão contrária. Ducrot & Vogt (1980) mostram que a existência dos dois subtipos de mas representa um estilhaçamento semântico do advérbio comparativo de superioridade. Esse elemento, ilustrado pela estrutura “A mais que B”16, pode expressar desvalorização de B e valorização de A simultaneamente, enquanto, na construção com masSN (representada pela estrutura “Não-B, masSN A”), há a desvalorização de B e, na construção com masPA (simbolizada pela estrutura “B, masPA A”), há a valorização de A. Para estabelecer o cotejo entre a estrutura comparativa e as estruturas adversativas, Ducrot & Vogt (1980) utilizam-se das noções de “negação” e de “manutenção”. Em relação à estrutura comparativa, toma-se como exemplo o seguinte trecho citado pelos autores: 34) [Pedro]A é mais inteligente que [João]B.17 (DUCROT & VOGT, 1980, p. 119) [A] mais que [B] Nesse caso, pelo fato de um dos elementos comparados ser desvalorizado (B) 18, ele é negado sob o ponto de vista argumentativo. 19 A negação demonstra a presença do outro no enunciado, pois, ao negar algo, o locutor se opõe a uma afirmação de um interlocutor, mesmo que seja imaginário. Essa negação confere um peso menor ao discurso do outro. Da mesma forma, na estrutura comparativa o elemento B é mantido, e a manutenção consiste no relato do discurso do interlocutor. Sendo assim, embora seja negado, o discurso do outro é considerado no enunciado do locutor. Também na estrutura de masSN e de masPA, a negação e a manutenção dos elementos estão presentes, o que já demonstra certa relação com a estrutura comparativa. A diferença é que a negação e a manutenção possuem graus diferentes em cada caso. Retomam-se os exemplos citados anteriormente: 35) Ele não [é inteligente]B, mas [apenas esperto]A. (DUCROT & VOGT, 1980, p. 104) Não-[B], masSN [A]. 16. A magis quam B em latim. Os colchetes e termos A e B foram acrescentados à frase (e a outras frases que serão citadas mais adiante) para fins metodológicos. O esquema indicado abaixo da frase também foi acrescentado. 18 Ao se dizer que Pedro é mais inteligente que João, valoriza-se Pedro e, consequentemente, desvaloriza-se João. 19 Os autores alertam para o fato de que não se trata de negação lógica. 17.

(32) 29. 36) [Ele é inteligente]B, mas [estuda pouco]A. (DUCROT & VOGT, 1980, p. 154) [B], masPA [A] Na construção com masSN (primeiro trecho), toma-se B como tema (objetiva-se desvalorizar esse elemento que vem expresso no segmento inicial). Dessa forma, existe uma negação forte de B (pois B é refutado, o que vem marcado pela negação gramatical não) e uma manutenção fraca de B (o discurso do interlocutor é apenas registrado, havendo pouca adesão por parte do locutor). Na construção com masPA, por outro lado, toma-se A como tema (pretende-se valorizar esse elemento). Sendo assim, existe uma manutenção forte de B (faz-se uma concessão ao discurso do interlocutor – com o intuito de valorizar A) e uma negação fraca de B (a eficácia argumentativa é retirada de B). Ao explicar o funcionamento do masPA e do masSN, Ducrot & Vogt (1980) mostram que as noções de negação e de manutenção têm caráter gradual. A negação constitui uma atitude argumentativa de oposição que é suscetível de diversos graus, indo da simples recusa de argumentar ao ato de refutação. Da mesma forma, a manutenção apresenta o grau de adesão ao discurso do outro, que pode variar do simples registro à concessão. Assim, pode-se dizer que, quando a construção com mas apresenta a simples recusa de argumentar (negação fraca) e a concessão ao discurso do interlocutor (manutenção forte), ela se aproximaria do comportamento de uma construção concessiva. Para exemplificar tal fato, utiliza-se a conjunção concessiva embora em uma construção citada aqui: 37) [Embora ele seja inteligente]B, [estuda pouco]A.20 Observa-se que, nesse caso, também há uma manutenção forte de B (faz-se uma concessão como estratégia para valorizar o outro segmento) e uma negação fraca de B (a eficácia argumentativa é retirada de B). A partir dessas considerações, observa-se que a construção do tipo masPA, ao apresentar o mesmo jogo entre negação e manutenção expresso na construção concessiva (ou seja, manutenção forte e negação fraca de B), aproxima-se do comportamento semântico e argumentativo desta, pois expressa concessão. O masSN, ao contrário, não expressa concessão, o que mostra que nem todos os tipos de construções com mas se aproximam das construções concessivas.. 20. Ducrot & Vogt (1980) não comparam a construção adversativa do tipo masPA com a construção concessiva..

(33) 30. As observações feitas por Neves (2000) também permitem que se estabeleça uma comparação entre as adversativas (com mas) e as concessivas (com embora) no que se refere à questão semântico-argumentativa. Neves (2000), partindo das considerações de Ducrot e Vogt (1980), propõe o valor semântico básico de “desigualdade”21 para o mas. A autora diz que essa conjunção expressa uma relação entre dois segmentos de certa forma desiguais entre si porque cada um deles não só é externo ao outro (“coordenado”), mas, também, marcadamente diferente do outro. Levando isso em conta, Neves (2000) estabelece esta tipologia de valores semânticos para o mas: 1. Contraposição: o elemento do segmento com mas admite aquele que lhe precede (não o elimina), mas se contrapõe a ele. 1.1 Contraposição em direção oposta: o elemento do segmento adversativo vai em direção contrária ao do segmento inicial. 1.1.1 Contraste 38) Se é pecador; não sei, mas de uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo. (p. 758) 39) Vou bem. Mas você vai mal. (p. 758) 40) Muitos dos nossos homens dispuseram-se com nobreza e veemência a desfazer, aos poucos, mas constantemente, equívocos passageiros. (p. 759) Cada trecho exemplifica um tipo de contraste apontado por Neves (2000): entre elementos polares (não sei x sei), entre expressões de significação oposta (bem x mal) e entre elementos diferentes (aos poucos x constantemente), respectivamente. 1.1.2 Compensação 41) Tinha de resignar-se a tolerar, durante algumas horas, a presença de Susana, seu olhar sardônico, as vingativas perguntas que não deixaria de fazer. Mas havia o menino, conversaria com ele. (p. 759) Nesse caso, o fato de a presença de Susana ser incômoda é compensado pelo fato de que haveria o menino.. 21. Neves (1984) diz que a desigualdade é registrada em relação a várias escalas (diferença de natureza, de direção, de grau em uma mesma direção) e pode estar relacionada, ainda, a variáveis, como o tempo..

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