• No se han encontrado resultados

Estádio do Maracanã: dos alicerces ao colosso do derby

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estádio do Maracanã: dos alicerces ao colosso do derby"

Copied!
7
0
0

Texto completo

(1)

www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

Estádio

do

Maracanã:

dos

alicerces

ao

colosso

do

derby

Ana

Beatriz

Correia

de

Oliveira

Tavares

a,∗

e

Sebastião

Josué

Votre

b

aInstitutoFederaldeEducac¸ão,CiênciaeTecnologiadoRiodeJaneiro(IFRJ),RiodeJaneiro,RJ,Brasil

bProgramadePós-Graduac¸ãoemCiênciadoExercícioeEsporte,InstitutodeEducac¸ãoFísicaeDesporto,UniversidadedoEstado

doRiodeJaneiro(Uerj),RiodeJaneiro,RJ,Brasil

Recebidoem8defevereirode2012;aceitoem23demarçode2012 DisponívelnaInternetem1deagostode2015

PALAVRAS-CHAVE

História; Futebol; Estádio; Representac¸ão

Resumo Asconstruc¸õesesportivas,verdadeirostemplosdoesporte,sãoexemplosdelugares comsignificadossimbólicos,culturaiseemocionais.Lugaresqueformamumaconsciênciaque perpassagerac¸ões econstroem uma memóriasocial repleta derepresentac¸ões.Opresente artigotemcomoobjetivoanalisarreportagensveiculadaspeloJornaldosSportssobreoEstádio JornalistaMário Filho--- Maracanã,desdea épocadas discussõesdo projeto inicial atésua inaugurac¸ão.Procurandoinferir,pormeiodaanálisedoconteúdo(Bardin,2011),comoessas notíciascontribuíramparaqueoestádiotenhasetornadoumsímbolonacional.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados. KEYWORDS History; Soccer; Stadium; Representation

Maracanãstadium:thefoundationstotheColossusofDerby

Abstract Thesportsconstructions,whicharegenuinetemplesofthesport,areexamplesof placeswithsymbolicmeanings,culturalandemotional.Placesthatmakeupaconsciousness thatcrossesgenerations,buildingasocialmemoryfullofrepresentations.Thisarticleaimsto analyzethereportspublishedontheJournalofSportsabouttheJournalistMarioFilhoStadium --- Maracanã,fromthetimeoftheinitialprojectdiscussionsuntilhisinauguration,realizing, throughacontentanalysis(Bardin,2011),howthesereportsweresignificantintransforming thestadiumintoanationalsymbol.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.

Autorparacorrespondência.

E-mail:ana.tavares@ifrj.edu.br(A.B.C.O.Tavares).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2012.03.001

(2)

PALABRASCLAVE

Historia; Fútbol; Estadio; Representación

EstadiodeMaracanã:lasbasesparaelcolosodelDerby

Resumen Losedificiosdeportivos,quesonimportantestemplos deldeporte, sonejemplos delugaresconsignificadossimbólicos,culturalesy emocionales.Localidadesqueconforman unaconcienciaqueatraviesalasgeneraciones,creandounamemoriasocialplenade represen-taciones.EnesteartículosepretendeanalizarlosinformespublicadosenelJornalofSports sobreelestadioPeriodistaMarioFilho---Maracaná,desdeelmomentodeladiscusióninicialdel proyectohastasuinauguración,demodoque,atravésdeunanálisisdesucontenido(Bardin, 2011),podemosdescubrircómoestasnoticiascontribuyeronaqueelestadiosehaconvertido enunsímbolonacional.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.

Introduc

¸ão

A cidade, exemplo de construc¸ão do homem, nos mostra que, à medida que avanc¸amos no tempo, as sociedades vão se modificando, as paisagens naturais vão perdendo espac¸o para as obras construídas. De acordo com Santos (2008, p. 62): ‘‘Cria-se uma configurac¸ão territorial que é cada vez maiso resultado deumaproduc¸ão históricae tende auma negac¸ão danatureza natural, substituindo-a por umanatureza inteiramente humanizada’’. E é nessas cidadeshumanizadasquetodaumadinâmicasocialvai acon-tecendo,ondesebuscaumentendimentodasrelac¸õesentre as pessoas, de seus comportamentos, bem como de seus sentimentosedaprópriahistóriadesseslugares.

Exemplo então de produc¸ão artificial, a cidade vai sendoaospoucosconstruída,comvárioslugares,cadaqual com suas características e func¸ões que os tornam singu-lares. Aexperiência nos locais em que circulamos, sejam locaisdetrabalho,delazer,dolar,transformaosespac¸os, escuros, indeterminados, desconhecidos em lugares cla-ros,determinados, conhecidos, que viramumareferência de pertencimento e identidade. É um lugar humanizado, provido de valor, de afetividade e de simbolismos (Tuan, 1983).

Esseslugares,somatóriosdedimensõessimbólicas, cul-turais e emocionais, vão formando uma consciência que perpassa gerac¸ões e que vai se solidificando, construindo umamemóriasocial.Dentreesseslugaressingularestemos oslugarespúblicos,elementosimportantesnaconsolidac¸ão deumacidade,quesegundoArantes(1995)sãoduradouros, ao contrário doque sucedecom osedifícios particulares. Esses espac¸osrepresentam a comunidade na qual eles se integram, sãoo localonde manifestac¸ões,práticas, iden-tidadessociaiseimagens sãocriadaserecriadas atodoo momento.Oespac¸oéaprópriasociedade(Santos,2008).

Hannah Arendt (2007) conceitua como público tudo aquiloquepodeservistoeouvidoportodosepornós mes-mos. Essa aparência constitui a realidadee a visibilidade proporcionadaporessa aparência garantea nossaprópria realidadeearealidadedomundo.Essaesferapúblicaque é o próprio mundo reúneos indivíduos e estabelece uma relac¸ão entreeles, mas ao mesmo tempoevita uma coli-são.A esfera públicanão deveser vistacomo umespac¸o

limitadoondeosindivíduosapenashabitam,massimcomo umespac¸odeinterposic¸ãoentreoshomensqueconstroem e habitam o mundo. Arendt fala ainda que esse mundo, comseusespac¸os,devetranscenderadurac¸ãodavidados homens para que gerac¸ões futuras possam usufruir dele, constituindo-se assim a memória de uma sociedade. Sem essatranscendência a esfera pública,com seusespac¸ose suashistórias,setornainviável.

Aconvivênciacomessesespac¸oscrianosindivíduosum sentimentode pertencimento ao lugar, que é solidificado não só pelo projeto inicial de construc¸ão, mas também peloseventosqueocorrem emseu interior.Teruma com-preensão do projeto inicial, das discussões em torno de umaconstruc¸ão,decomoeramveiculadasasinformac¸ões paraa populac¸ão é fundamental parao entendimento do próprioespac¸o, dos significados atribuídos a ele e conse-quentementedenossasociedade.Olharolugardepertoe dedentroéimportante paraentendermosarelac¸ãoentre espac¸o,cidadeesociedade(Magnani,2002).

Entreoslugaresdeumacidade,o estádiodefutebolé umaobraarquitetônicaquesedestaca.Éumlocaldegrande importâncianomundoesportivo,cenáriodeinúmerosjogos, quereúnemilhares deindivíduos.Menezes(2009)destaca queaorganizac¸ãofísicaearquitetônicadoterritório, junta-mentecomaspráticasdeusoeapropriac¸ãodeumespac¸o, éumelementoconstituintedasimagensculturaiseurbanas deumacomunidade.

Construc¸ãodacidade,quetemumalinguagemespecífica eumdiscursopróprio,oestádioéummarcovisualna paisa-gemurbana.Paraaarquitetura,nãoexistedúvidasquanto ao‘‘lugar’’constituirumconjuntoanalisáveldesignos.São lugaresque proporcionam umavista exteriorque é a pri-meiraexperiênciaquetemosdoqueaconteceránointerior eondeseestabeleceumdiálogocomesseespac¸o.

Paraentenderosenso,aatmosferadolugarque quere-mosabordar,seussentidosesignificados,devemosprimeiro contextualizá-lonotempo. Analisarcomo umaconstruc¸ão foi idealizada e realizada ajuda na compreensão de seu valor e de sua singularidade. Tudo comec¸a no evento da construc¸ãoetambémnasuaformaefunc¸ão.Pormeio des-sasanálises,podemospercebercomoosindivíduosusame representamesselugarecomoelesetornaumíconepara umasociedade(VertinskyeBale,2004).

(3)

Decisões

metodológicas

Ametodologiausadafoiaanálisedoconteúdopropostapor LaurenceBardin(2011,p.48),queadefinecomo

umconjunto detécnicasdeanálise dascomunicac¸ões, visando a obterpor procedimentos sistemáticos e objeti-vos de descric¸ão do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentorelativoàscondic¸õesdeproduc¸ão/recepc¸ão (variáveisinferidas)dessasmensagens.

Paraalcanc¸arnossoobjetivo,escolhemoscomofonteo JornaldosSports,porserumjornalespecíficodaárea espor-tiva.Operiódicofoifundadoem13demarc¸ode1931por ArgemiroBulcãoesomenteem1936foicompradoporMário Filho,queodirigiuaté1966.Asedic¸õesdiáriassónãoeram publicadasemalgumassegundas-feiras,quandoos trabalha-doresdagráficaeramimpedidos detrabalharnodomingo pelosindicato(Couto,2010).Ojornalencerrousuas ativi-dadesem2010.Sobreafonteusada,BauereGaskell(2008)

ressaltamqueaspesquisassociaisapoiam-seemdados soci-aisquesãoconstruídosnosprocessosdecomunicac¸ão.Esses processospodemusarmodelosinformaiseformais.Nonosso caso,optamospelascomunicac¸õesformaisconstruídaspor meiodostextosdejornais.

Seguindoametodologiadaanálisedoconteúdo, defini-mosotemacomounidadederegistro,poissegundoBardin (2011,p.135)‘‘fazerumaanálisetemáticaconsisteem des-cobriros‘núcleosdesentido’quecompõemacomunicac¸ão e cuja presenc¸a,ou frequênciade aparic¸ão, pode signifi-caralgumacoisa’’.Analisamos asmanchetese asnotícias veiculadasnaprimeirapáginaporatingirummaiornúmero depessoas,pois mesmoosquenãocompravamosjornais tinhamapossibilidadedeacompanharàsnotíciasaopassar peloslocaisdevendas.Asreportagensinternasforam defi-nidascomounidadesdecontexto,analisadascomosuporte paraumamelhorcompreensãodotemaestudado. Selecio-namosoperíodocompreendidoentre1947,anoemquese iniciamasdiscussõessobreanecessidadedaconstruc¸ãode umestádioparareceber osjogosdaCopa doMundo, até 1950,anodasuainaugurac¸ão.

Apartirdasleituras,categoriasdeconsensoforam apare-cendocomcertafrequência.Comoveremos,numprimeiro momentoasnotíciastraziamideiasdenacionalismo,pátria epovo.Enumsegundomomentoasreferênciaseram mag-nitude,grandiosidade,belezaeatémesmoforc¸aepoderde sefazerumaobradetamanhaproporc¸ão.

Análises

Oestádioé então umespac¸o singularde umacidadeque trazemantém amemóriadeumacomunidade,elesegue padrõesqueacompanhamnossahistória.Sobreessasfases históricas, Cereto (2004) afirma que no Brasil, num pri-meiromomento,asconstruc¸õesdeestádiosacompanharam oiníciodasdiscussõessobreanecessidadedascidades brasi-leirasconstruíremessesespac¸os,ideiaatreladaàdivulgac¸ão doesportenoBrasil.

Posteriormente,opaíspassapelomomentodeafirmac¸ão donacionalismo.Épromovidaentãoumaavalanchede está-diosem todososcantos do país,estádios com dimensões grandiosasque contribuíamparauma imagemdo maiore melhorpaísdomundo.

Masésomentenumaterceirafasequeaexcelênciachega àsproduc¸ões brasileirase serve de referência internacio-nal. Oexemplomaisimportantedessafaseé oMaracanã, que aparece com um espac¸o exclusivo para o futebol e mostra a preocupac¸ão de estabelecer uma ligac¸ão entre estádio e cidade, propor um espac¸o que ultrapasse o esporteesirvatambémparaoentretenimentoelazerdos indivíduos.

A história do Maracanã se inicia em 1938 com a ida, comodelegadobrasileiro,dojornalistaCélio deBarrosao XXIV Congresso da Fédération Internationale de Football Association(Fifa),duranteaCopadoMundoemParis.Aideia eraapresentaracandidatura doBrasilparasediar aCopa doMundode1942;nessemomentoaquestãodoestádiojá seconfiguravaumproblemaaserpensadopelosdirigentes, poisnenhumdosestádiosbrasileirosapresentavacondic¸ões dereceberosjogos.OestádiodoVascodaGamaeraoque tinhamaiorcapacidade,40milpessoas,eoestádiodo Paca-embu,naépoca,erasóumprojeto,aindaseriaconstruído, eporissoacandidaturadoBrasilnãoerapromissora.

Mas,com a interrupc¸ão das Copas de 1942 e 1946 em virtude da Segunda Guerra, a candidatura do Brasil só seriarelanc¸ada,pelomesmoCéliodeBarros,em1946,no XXVCongressodaFifa,emLuxemburgo.ComaEuropa des-truída, o Brasil levou vantagem e teve sua candidatura aprovada (Bueno et al., 2010). A partir desse momento, outros dirigentes chamaram atenc¸ão para o fato de que eranecessáriooBrasil terumgrande estádio,àalturade receberumeventointernacional.

As discussões se iniciam e os meios de comunicac¸ão acompanham e informam a populac¸ão por meio de seus noticiários.EstampadasnasprimeiraspáginasdoJornaldos Sports, asnotícias ganhamespac¸o com aproximidade da CopadoMundo de1950,quandoo presidenteEurico Gas-parDutradecideencamparumprojetoparaseconstruirum estádionacionalnacapitalfederal,RiodeJaneiro,queaté entãotinhacomoprincipalpalcoesportivooEstádiodeSão Januário.

Nesseprimeiromomento,retratadopelosjornais publi-cadosem 1947,oassunto erapolêmico,nãosesabiasea empreitadaparaosjogosmundiaisseriaconstruirumnovo estádiooureformarodeSãoJanuário,aumentarsua capaci-dadeeurbanizarasáreasadjacentes.NoJornaldosSports de 14 demaio de 1947 o que circulava eraa impossibili-dadedaconstruc¸ãopelafaltadetempoe umacertezana reforma,o quegeravaoutra polêmicasobrequem arcaria comosgastos,seaConfederac¸ãoBrasileiradeDesportosou oClubeVascodaGama.

Exemplo dessaincerteza acompanhada pelapopulac¸ão eraojornaldodiaseguinte,15demaio,que,aocontráriodo diaanterior,anunciavaapossibilidadedaconstruc¸ãodentro doprojetodopresidenteDutra,quedefendiaaideiadeque oBrasildeveriaserdotadodeprac¸asesportivasespalhadas pordiferentesregiõesdoterritório.

Voltaoassuntoàordemdodia,agoracomampla intensi-dade,dadaaaproximac¸ãodaépocaassentadaparaomagno certameinternacional. Etodasasvozesapontamcomode inadiávelrealizac¸ão,clamamparaquesenãonegueànossa Pátriaodireito dedemonstraratodosospovosdomundo oaltograudeculturaquedevotamosàscoisasdoesporte, inegavelmenteo maiorfatorparaadifusão dosprincípios cívicoseeugênicosdanossagente(Estádio,1947,p.1).

(4)

Deacordocomasleiturasdoreferidoperiódico, inferi-mosqueaconstruc¸ãodoestádioeraumassuntoquetinha comomotorprincipalosjogosdacopa,masatreladoaisso vinhamtodasasquestõesdeinteressespolíticosdaépoca, como sermos o maior, termos uma sociedade saudável e obedienteàpátriapormeiodoesporte.

A partir dessa ideia o Conselho Nacional de Despor-tosteveaprerrogativadeconstituircomissõesparatratar daconstruc¸ão deprac¸as esportivase doestádionacional. Inicia-se a campanha para o estádio nacional, campanha necessáriadevidoàsinúmerascontradic¸õeseoposic¸õesque otemalevantava.Apesardacalmacomqueoassuntovinha sendotratado,aproximidadedosjogosobrigouqueos par-lamentaresdaCâmaradosDeputadosdiscutissemotema.

Nomesmoperíodo,osjornaismostravamque,noâmbito municipal,asdiscussõesversavam sobrea reformadeSão Januário oua construc¸ão de umestádio municipal, ideia que continuava em cogitac¸ão, apesar deo tempo para a construc¸ãoafimdereceberosjogosdaCopadoMundoser cadavezmaisexíguo.

Asnotícias,nesse1947,eramquasequediárias.Comisso asociedadeacompanhavatodoesseprocessoinicialepodia formularsuasopiniõeserepresentac¸õessobreoassunto.A ideiacentralveiculadanamídiaeraadequeoBrasil preci-savadeumestádioàalturadeumpaísforteparaabrigaros jogosinternacionais,masissodemandariatempoedinheiro, alémdetodaumalogísticanaconstruc¸ãodetal empreen-dimento,como casasdesapropriadas,urbanizac¸ãoetc. Os defensores da construc¸ão lembravam os benefícios que o estádiotrariaparaapopulac¸ão,tantonocampodasaúde públicacomonaáreadapráticadesportiva.Aopinião con-trária,porsuavez,eraadequetalempreendimentousaria verbas públicasque deveriam servirparaa construc¸ão de hospitais eescolas. Essasdiscussões apareceramportodo períodoinicialatéavotac¸ãofinalquedefiniriaseseriaou nãoconstruídoumestádio.

OtrabalhodascomissõesinstituídaspelaConfederac¸ão seintensificaemproldaconstruc¸ãodeumestádio.Coma apresentac¸ão deumamaquete,em umareuniãono Minis-tério da Educac¸ão, o jornal publica na capa de 21 de maio ‘‘Será o maior domundo!’’ e ainda no texto regis-tra:‘‘Iniciadasasatividades paraaconstruc¸ãodoestádio nacional---lotac¸ãopara160.000pessoas---aconcepc¸ãoque supera o Coliseu, contém o que há demais moderno em superestruturadeconcreto’’(Será,1947,p.1).

Deacordocomasnotíciasveiculadaspelojornal,nofim demaioacomissãosereúnecomoprefeitodoDistrito Fede-ral para averiguar com esseo interessena construc¸ão do estádio.HildebrandodeGóes,entãoprefeito,semostra bas-tantesimpáticoàideiadeumaprac¸aesportivanacapital, pois julgava estar satisfazendo um interesse da coletivi-dade.Ficaresolvido,apartirdasconsiderac¸õesfeitasnessa reunião, que o prefeitoenviaria à Câmarade Vereadores umamensagemsolicitandoavotac¸ãodocréditojá devida-mentecalculadoparaoinícioimediatodasobras.Restaria oimpassedacessãodeumterrenopelaprefeitura paraa obra,pontoquedependeriadeaprovac¸ãodoLegislativo.

Questõesadministrativasresolvidas,asnotícias publica-daseramsempre adeque o Brasilprecisavadeumlugar à altura para receber a competic¸ão internacional. Como exemploamanchetededia1◦dejunho:‘‘Queocampeonato domundoencontreumcenáriocondigno’’(Que,1947,p.1).

Masasquestõesfinanceirastambémpoderiamsetornarum impasseparatalempreitadae,atreladoaisso,surgiuuma discussãoquantoànaturezamunicipaloufederaldoestádio, oque evidentemente iria determinar o órgão responsável peloseufinanciamento. Interessante éque essadiscussão sobreasesferasfederalemunicipalfoiocombustívelpara queseiniciassem posicionamentosnacionalistase, conse-quentemente, notícias de que essa discussão deveria ser superada,poisoestádio,necessárioparareceberaCopado Mundo,seriadopovo,seriadoBrasileeraumcompromisso internacional que deveria ser honrado pela nac¸ão. Esses eramdiscursos importantes que o Jornal dos Sports mos-travaemsuasnotíciasapartirdessemomento.Napossedo novoprefeitoÂngeloMendesdeMorais,apósaexonerac¸ão deHildebrandodeGóes,otextopublicadoem7dejunho exemplificaessafase:

Não há como, pois,fugir do dilema que nãoé de nin-guém,masdetodososbrasileiros:construa-sejáoestádio, ou confesse-se a falência da nossa a capacidade organi-zadoratransferindo aoutrema oportunidade deaparecer comopaíssededoeventoqueconcentrará asatenc¸õesdo mundo(Entusiasta,1947,p.1).

OprojetofoiplenamenteapoiadoporMendesdeMoraes, queescolheucomolocalparaconstruc¸ãoaáreadoantigo DerbyClube,umaarenaparacorridadecavalos,nobairro daTijuca.Oapoiodoprefeitorendeualgunsmesesnosquais asnotíciaseramsempreotimistas.As manchetes anuncia-vama grandiosidadeda obra esperada por todosapós as discussõesiniciaisacompanhadasdepertopelapopulac¸ão. ‘‘Capacidade para 200 mil torcedores. Iniciado o estudo dos planos para a construc¸ão do estádio noDerby Club’’ (Capacidade,1947,p.1).Oprojetoaindapreviasoluc¸ãode problemasurbanísticos,comoinundac¸õesnaregião,oque faziadapopulac¸ãoumamassa deadmiradoresem proldo empreendimento.

Talvez esse tenha sido um importante momento na construc¸ãoderepresentac¸õessobreoestádio.Quando final-mentechega-seàconclusãodequeseriamunicipal,coma esferafederal auxiliandonoque precisofosse, asnotícias versavamsobreoestádiocomoummonumento, ‘‘perfeito emelhorcondizentecomasúltimasconquistasdamoderna arte de construc¸ão e os grandesadiantamentos feitos na armac¸ão de estruturas monumentais’’ (Reuniu-se, 1947, p.1);‘‘Omaisperfeitodaatualidade’’(Omais,1947,p.4). Em16dejulhooJornaldosSportspublicaosquesitosque osarquitetosinteressadosnaobradeveriamcumprir: está-diofechado,curvaperfeitaemformadeelipse,movimento dopúblico por meio de rampas; perfildas arquibancadas emparábolapara balanceara visão; lotac¸ãomínima para 120.000espectadoressentadose30.000depé,entreoutras considerac¸õesqueseriamapresentadaspeloprojetofinal.

Umgrupo dequatroarquitetosresolveu se unirparaa feituradoprojeto.Segundoojornal,elesdeixariamdeser concorrentesparatratardoassunto‘‘deformamais patrió-ticapossível’’(Nacional,1947,p.1).Enquantoasnotícias continuavamacircularcomasideiasdepatriotismo, está-diodopovo,grandiosidade,monumentalidade,afaseerade decisõesfinaiscomofinanciamentodaobra,urbanizac¸ãoda área,permutadeterrenoseoutrosassuntos,paraque final-mentefosseoprojetoaprovadoeseiniciasseaconstruc¸ão. O prefeito, na carta enviada à Câmara com o projeto doestádio,expõe osobjetivos daconstruc¸ão emais uma

(5)

vez podemos perceber a ligac¸ão entreestádio, esporte e opovo.Algunstrechosdacartapublicada em9deagosto demonstramarelac¸ãoquesepretendiacomaconstruc¸ão:

opovocariocarealizanodesportoosaudávelderivativo queafugentaouamorteceafadigadotrabalho[...]a ati-vidadeesportivafavoreceoclimadecomunhãonecessário àvidadospovos[...]ajuventudequefrequenta oestádio fazaculturadavida,oestádioéescolaantesdeserteatro (Nãohaveria,1947,p.4).

Nofimdacartaapareceoconviteàpopulac¸ãoparaque semobilize,sesolidarizeejunteforc¸asnaempreitadaque sótrariaorgulhoparaanac¸ão.

EsseprojetodeMendesdeMoraesfoiduramente questio-nadopeloseuprincipalinimigopolítico,odeputadofederal CarlosLacerda,quereclamavanãosódosgastos necessá-riosparamobilizar aconstruc¸ão doestádiocomo também dolocalescolhidopeloprefeito,alegandoqueseriamelhor paraacidadeseaconstruc¸ãofossefeitanaZonaOeste,mais especificamentenobairrodeJacarepaguá.Quantoaolocal, todos sabiam dos inevitáveis impasses que a construc¸ão traria para os moradores da Zona Norte, como seria em qualqueroutrapartedacidade.

Osdebates separavamaspessoasem gruposcontraea favordaobraeprincipalmenteconstruíamrepresentac¸ões sobreo estádio.Para os defensores, o gastocom esporte nãointerfeririaemoutrosgastos,oestádioseriaautônomo, comoosclubes,eosgastosseriamposteriormente ressarci-dosaoPoderPúblico.Logo,nãohaveriaprejuízosnoâmbito social.

Exemplos desses posicionamentos antagônicos são as entrevistasconcedidasaojornalquedurantealgunsmeses publicouumaenquetecomosvereadoressobreotema.Em5 desetembroojornalpublicavaemsuacapa:‘‘Quevenhaum emaisestádios,masqueascrianc¸aseoshumildespossam tambémdesfrutar os seus benefícios’’ (Que venha,1947, p. 1).Essa declarac¸ão davereadora Sagramorde Seuvero mostraaclarapreocupac¸ãocomquefosse umespac¸oque tambématendesseàsgrandesmassas.Esseposicionamento atrelavaovotoafavordaconstruc¸ãocomafinalidadeque teria esse estádio pós-Copa do Mundo. A vereadora que-riaumgrandeplanoqueentrosasse,dentrodasfinalidades públicas que teria o empreendimento, benefícios não só paraosquepudessemcompraroingressodeentradapara umjogo defutebol, ‘‘mastambémpara que ascrianc¸as, jovense velhosdos subúrbios,morros, favelas e casasde cômodotivessem seulugar aosolnoconcertoesportivoe socialdametrópole’’(Quevenha,1947,pg.1).Essediscurso colaboravaparaaideiadequeseriaumestádiodopovoe paraopovo.Oassuntoeratãoconturbadoqueessamesma vereadora,queeraafavordaconstruc¸ão,nomomentode discussãonaCâmaravotoucontra.

TambémparticipoudareferidaenqueteovereadorLeite deCastro,essequeseachavaaprimeiravoznaaprovac¸ão dasobrasnãopoderiaseposicionarcontraporseruma espé-cie de representante dos esportistas do Rio de Janeiro e detodoBrasil. Para eleaconstruc¸ãoeraumaquestão da cidade,enãodegrupospolíticosoudegruposdapopulac¸ão. Em6desetembrooJornaldosSportspublicaaentrevista comaopiniãodovereador:

A questão é da cidade e não foi criada por ninguém, poiscomoimpõeocrescimentodaurbinasobraspúblicas de vulto, tais como abertura e alargamento de ruas,

empreendimentosdeassistênciasocialetc.,assimtambém urge, como corolário desse determinismo urbanístico, a instalac¸ão de prac¸as esportivas para o cumprimento da inapelável necessidade mental e corporal que o esporte significaparaopovo(Opensamento,1947,p.4).

Essedebate,mostradopeloperiódico,erapraticamente diárioeexaustivoedeacordocomorelatodealguns políti-cosacabavaocupandoumtempoeumespac¸oquedeveriam servirparadiscussõesdeoutrasquestõesmaisimportantes dasociedade.Porém,comaproximidadedaCopadoMundo de1950,eraimprescindívelqueseultrapassasseessafase paraqueenfimoestádiopudesseserreerguido.Ojornal aca-bavaservindoparapassarasreflexõeseosposicionamentos dosvereadoresparaasociedadeeassimcontribuíaparaa formac¸ão deum imaginário sobreas polêmicas e sobre o próprioestádio.

OJornaldosSports,quetinhacomodiretorumgrande defensor daobra, ojornalista Mário RodriguesFilho, aca-bava nãoficandoneutronessadisputa.Tamanhaseramas discussõessobreotemaqueojornalcriouumacoluna cha-madaBatalhadoEstádio,queem9desetembropublicava na capa:‘‘Obstruem ostrabalhososinimigos doesporte’’ (Batalha,1947,pg.4).Manchetequemostratambémqueas disputasiamalémdasimplesconstruc¸ão,eramembatesno campo político, que refletiam interesses diferentes nesse cenárioe nosquais aobstruc¸ãodaobraeratambémuma formadeoposic¸ãopolítica.

Notamos nas reportagens publicadas que a vinculac¸ão da construc¸ão não era somente com a questão dos jogos docampeonatomundialde1950,estavaatreladatambém às questões políticas, financeiras, sociais e turísticas que apareceriamcomacopaequeseperpetuariamparaa soci-edadeemgeral.Em11desetembroojornalpublicavaquea CâmaradeVereadorestinhaaprovado,emprimeira discus-são,oprojetoIguatemyRamosqueautorizariaaPrefeitura a construir um grande estádio e outras prac¸as esportivas nossubúrbios.Em2deoutubro,anotíciadeaprovac¸ãoem segunda e terceira discussãofoi dada pelo jornal como a vitóriadeumabatalhaeoiníciodeumanovaetapa,ada obra.

Mesmocomumaforteoposic¸ão,MendesdeMoraes con-seguiurealizaroprojeto,principalmentedevidoaoapoiode MárioFilho.Foiuminíciomarcanteparaoquesetornaria posteriormente umsímbolode grandiosidade,devitórias, defracassos,dealegriaseoutrossentimentosquecadaum nutrepeloquefoiumdiaomaiorestádiodomundo.

Deacordocomasnotícias,aconcorrênciapúblicapara aconstruc¸ãodoestádioocorreuaindaem1947eoprojeto vencedor previaumestádiocomcapacidadeparamaisde 155.000 pessoas, o que faria dele o maior do mundo. As obras iniciaram-seem 1948. OJornal dosSports, durante 1948e1949,continuoucobrindopassoapassoaconstruc¸ão, informandoapopulac¸ãosobrecadaacontecimento.

Comacriac¸ãodeumaautarquiaparaaadministrac¸ãodo estádio,pôde-seenfimassinaroscontratoscomas empre-sas responsáveis pela obra. Durante esses dois anos as publicac¸ões versavam sobre a impressionante capacidade de seconstruir tal empreendimento, sempreenaltecendo osbrasileirosporessaconquista.Asfotosdoestádioeram frequentesnacapadaspublicac¸õeseserviamparaos indi-víduosacompanharemcadadegraudaarquibancadaqueia surgindoecadaetapaquesefinalizava.

(6)

Em 1950 a construc¸ão entrou na reta final, a grandi-osidade, a magnitude e a beleza eram tão visíveis que autoridadesdopaís edo exteriorque visitavamo estádio parabenizavam a nac¸ão pelo feito.A fama de colosso do Derby era internacionale a inaugurac¸ão, prevista inicial-menteparamaio,foimarcadapara16dejunhode1950,com umacerimôniaparaautoridades,e nodia17paraopovo. Povoqueacaboutendoumpapelimportantenessabatalha emproldavitória,colaborandodesdeoapoioàconstruc¸ão atéaajudafinanceiracomacompradecadeirascativas.

Em16dejunhooJornaldosSportstevesuacapaquase inteiramente dedicadaà entregadoestádio,manchetese reportagensretratamomomento:

Entregadomaiorestádiodomundoaopovo!---oColosso! (...)inaugura-seomonumentododerby---OnossoEstádio! Enorme. Majestoso. Imponente. Ali está ele plantado nos terrenos do antigo Derby Clube, como um símbolo de fé nos homens do Brasil. Em sua magnificência de concreto armado, assombrando os filhos de outras terras quando informados do tempo em que foi erguido, só ele será bastante para consagrar na memória da posteridade a lembranc¸adeumaadministrac¸ão(Entrega,1950,p.1)

Eem17dejunhode1950finalmenteapopulac¸ãopôde estar presenteno estádiomunicipal.O jogo festivoentre Rio e SãoPaulo recebeu em torno de150.000 espectado-res,pessoasdetodososcantosqueacompanharamnesses quasequatroanostodasasdiscussões,polêmicas,ideiasem tornodessemonumento.Eojornalconseguiucaptartodaa atmosferadessedia,talvezamesmaatmosferaque presen-ciamosnesses60anosemdiasdejogosdentrodessetemplo doesporte.OJornaldosSportspublica:

[...]comverdadeirasmultidõessedeslocandodotodos osbairrosdacidade[...]confundidosalegremente,homens, mulheresecrianc¸asutilizando-sedetodososmeiosde trans-porteseaoseualcancetomandorumoaoestádio,rumoda maravilhaarquitetônicaquesimbolizaráeternamentea von-tade e aenergia dos brasileiros.Seguiam satisfeitos, sem lamentar as dificuldadessurgidas, certos deque todos os sacrifíciosseriamrecompensadospeloespetáculo[...]cada umcomoentrandoemsuacasa---obomhumoreasatisfac¸ão diziambemdaimportânciadaobraequantaalegriaveioela causarnoseiodamassaesportiva[...]ohomemdopovo, o operário, o estudante, o granfino,enfim todos os seto-resdavidasocialdeumagrandemetrópoledemonstravam quetudoestavaperfeito,quenãohaviareclamac¸ões.(Aos esportes,1950,p.8)

Aobra,que contouemmédiacom trêsmiloperáriose nasuaretafinalcom maisde10mil,trabalhandomanhã, tarde enoitena construc¸ãodoestádio,contrarioumuitas previsõespessimistasdaépoca,eficouprontaem665dias, atempodeabrigarosprincipaisjogosdaCopadoMundodo Brasil.Ressalte-se,entretanto,queofimdefinitivodasobras sósedeuquase15anosdepois,em1965.Emhomenagemao empenhodeMárioFilho,oestádiorecebeuonomeoficial deJornalista MárioFilho, masé conhecido mundialmente comoEstádiodoMaracanã(Sergio,2000).

Maracanã, palavra que vem do tupi, significa maracá (chocalho) com (semelhante). É um papagaio grande conhecido nonorte dopaís comoMaracanã-guac¸u. O som emitido pelaave é semelhanteao de umchocalho, daí o nomedadopelosindígenas.Habitavamemgrandesbandosa regiãodoDerby,antesdaconstruc¸ãodoestádio.Étambém

o nome do rio que passa em frente ao estádio e que dá nomeaobairroondeestálocalizado.

Oestádio,que chegoua receberpúblicoscom maisde 180.000pessoas,foirealmentedurantemuitotempoomaior domundo,porém,aolongodotempo,vemsofrendo cons-tantesreformas.Umadelasocorreuem1999/2000,quando asarquibancadasforamsetorizadas e cobertaspor assen-tosque reduziram sua capacidade quaseà metade. Essas modificac¸õesvisavamaatender àsnormas daFifa,como, porexemplo, seguranc¸ados torcedores. Mas, paraalguns pesquisadores(Cruz,2005),essasalterac¸õestambémpodem estaraservic¸odeumalógicaeconômicaquetransformaaté ojeitodeostorcedoressecomportaremnoestádio.

Atualmente ele passa por uma reestruturac¸ão como nuncafeitaanteriormente.Parasediareventos internacio-naiscomoaCopadoMundode2014easOlimpíadasde2016, a modernizac¸ão foi umaimposic¸ão para que ele pudesse receberosjogosdesseseventos.Oprojetomostraqueele entrarápara orol dosestádios maismodernos domundo, cumprindocadaumadasexigênciasdaFifa,daseguranc¸aà modernidade,passandopeloconfortodostorcedores.

Comessareestruturac¸ão,possivelmenteelepodegerar novasrepresentac¸ões,mascertamentecontinuarásendoum dosmaisemblemáticosestádiosdomundo,comsua atmos-feraespecial. A partir das experiências vivenciadas pelos indivíduos,eleserásempreumlugardememóriaparanossa sociedade.

SegundoVertinskyeBale(2004,p.37),‘‘experiênciado estádioéumacombinac¸ãodesensoedepensamento. Está-dios,eeventosqueocorrem dentrodeles,nãopodemser plenamentecompreendidosa menosquealguémos expe-rimente’’. A experiência vem dos diferentesmodos pelos quaisumapessoaconheceeconstróiarealidade.

Considerac

¸ões

finais

A construc¸ão arquitetônica, que cria linguagens, repre-sentac¸ões,comdiversossentidosparaosindivíduos,é con-siderada por Coelho Neto (2009, p. 14) ‘‘como a grande (etalvezrealmente a única)formade expressãoartística que se não é conscientemente dedicada às grandes mas-sas, é, pelo menos, aquela a que essas têm acesso do modomaisimediato possível’’. E,essa acessibilidade ime-diatapodefacilitaracriac¸ãodesímbolossignificativospara umasociedade,comoéocasodeestádiosesportivos,onde mesmoaquelesquenãoconseguementrarpodemusufruir delepormeiodavisibilidade.

Vimos então que o Maracanã é uma possibilidade de espac¸onoqualamemóriadeumasociedadeseperpetua. Desdeoprojetopolêmiconoaspectopolítico,passandopela construc¸ão, com a grandiosidade dos números envolvidos defuncionáriosemateriaisnecessários,atéoseventosque aliacontecem,comoahistóricaderrotaparaoUruguaina própriaCopade1950, sãomomentos queforamrelatados pelamídiaqueficamregistradosequesãorelembradoscom certafrequênciaevãoconstruindo,alémdamemória,um imaginário,umarepresentac¸ãosobreesseespac¸o.

O modo como os indivíduos sentem e representam o ‘‘lugar’’ tem relac¸ão direta com o tipo de espac¸o e de construc¸ão, mas também é estabelecido por meio das informac¸ões passadas pelos meios de comunicac¸ão sobre todooprocesso.Pormeiodaanálisedoconteúdo(Bardin,

(7)

2011)inferimosque,emumprimeiromomento,oobjetivo erafazeraparecerumespíritonacionalista,palavrascomo ‘‘dopovo’’,‘‘nacional’’,‘‘nossanac¸ão’’bombardeavamas capas do jornal. A populac¸ão deveria contribuir para tal empreitada,sejaacompanhandoasdiscussões,seja financi-andopormeiodacompradecadeirascativas.Apósavitória desseprimeiromomento,com adefinitivapermissãopara oiníciodasobras, surgem asexpressões degrandiosidade emagnitude.‘‘ColossodoDerby’’,‘‘viascolossais’’,‘‘obra majestosa’’e‘‘omaiordomundo’’ sãomanchetes ampla-menteusadaspeloJornaldosSports,quealémdecontribuir paraaconstruc¸ãodeumarepresentac¸ãopositivasobreesse símbolo nacional tambémmostrama forc¸ado Brasile do povobrasileiro.

SegundoAugé (1994),pode-se destruirouconstruirum espíritocomunitário,umsentimentodeidentificac¸ãoe per-tencimentodeacordocomoespac¸ofornecido.E também comasinformac¸õesveiculadaspelosmeiosdecomunicac¸ão. Notamosque umestádio,nocaso o Maracanã,com todas assuaspeculiaridades,instalac¸ões,seuacessoesuaforma podecontribuirparasentimentos,porexemplo,dealegria, identidade,comoc¸ãoepoder.Aspessoassemostram satis-feitas,alegres,quandosemovimentamporespac¸osabertos. SegundoCoelhoNeto(2009,p.50),‘‘nãohácomonegar:o espac¸olivreéolugardelibertac¸ãodohomem,umespac¸o defesta’’.

Entender como os torcedores representam o estádio, quaisossentidosesignificadosdoMaracanã,nummomento dereestruturac¸ãonoqualumnovoestádiovaisurgir,será objetivodeumestudoposteriorquenosauxiliaráno enten-dimentodasrelac¸õesentreespac¸oeindivíduo,relac¸ãoessa querefletenossaprópriasociedade.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Referências

AosesportesdoBrasilocolossodacidade.JornaldosSports,Riode Janeiro,pg.8.17jun1950.

ArantesO.Olugardaarquiteturadepoisdosmodernos.SãoPaulo: Edusp;1995.

ArendtH.Acondic¸ãohumana.RiodeJaneiro:ForenseUniversitária, 2007.10aedic¸ão,2007.

AugéM.Nãolugares.Introduc¸ãoaumaantropologiada supermo-dernidade.In:Campinas.SP:Papirus;1994.

BardinL.Análisedoconteúdo,70.SãoPaulo:Edic¸ões;2011.

BatalhadoEstádio.JornaldosSports,RiodeJaneiro,pg.4.9set 1947.

BauerM,GaskellG.Pesquisaqualitativacomtextosimagensesons: ummanualprático.Petrópolis,RJ:Vozes;2008.

BuenoF,BuenoE.Maracanã60anos:1950-2010.PortoAlegre: Bue-nasIdeias;2010.

Capacidade para 200 mil torcedores. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro,pg.1.1jul.1947.

Cereto MP. Arquitetura de massas: o caso dos estádios brasilei-ros.2004.113f.Dissertac¸ão(Mestrado)---CursodeArquitetura, UFRGS,PortoAlegre,2004.

CoelhoJT.Aconstruc¸ãodosentidonaarquitetura.SãoPaulo: Pers-pectiva;2009.

CoutoA,Umaarenadenotícias:afundac¸ãodoJornaldosSportse osseusprimeiroseditoriais.In:EncontroregionaldaAnphur-Rio, 14., 2010, Riode Janeiro. Anaiseletrônicos. Riode Janeiro: UNIRIO,;1;2010. [Acessoem:29marc¸o2012].Disponívelem: <http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/ 1276705454ARQUIVOTextoAnpuh2010.pdf.>.

CruzAHO.Anovaeconomiadofutebol:umaanálise doprocesso de modernizac¸ão de alguns estádios brasileiros. 2005. 114f. Dissertac¸ão(Mestrado)-Pós-graduac¸ãoemAntropologiaSocial, MuseuNacional,UFRJ,RiodeJaneiro,2005.

Entregadomaiorestádiodomundoaopovo.JornaldosSports,Rio deJaneiro,pg.1.16jun1950.

Entusiastadaconstruc¸ãodoestádio: onovo prefeito.Jornaldos Sports,RiodeJaneiro,pg.1.7jun1947.

EstádioNacional.JornaldosSports,RiodeJaneiro,pg.1.15demai 1947.

Magnani JGC. De perto ede dentro: notaspara umaetnografia urbana.RevBrasCiSoc2002;17(49):11---29.

MenezesM.Aprac¸adoMartimMoniz:etnografandológicas socio-culturaisdeinscric¸ãodaprac¸anomapasocialdeLisboa.Revista HorizontesAntropológicos,PortoAlegre,vol.15,n.32,jul./dec, 2009.

Nacionalde arquitetosparao estádio.Jornal dosSports, Riode Janeiro,pg.1.6ago1947.

Nãohaveriaharmonianapolíticasocialqueaumentasseonúmero de hospitaisereduzisseo dasprac¸as desportivas.Jornal dos Sports,RiodeJaneiro,pg.4.9ago1947.

Omaisperfeitodaatualidade.JornaldosSports,RiodeJaneiro, pg.4.17jul1947.

OpensamentodovereadorLeitedecastrosobreaprac¸aesportiva paraocampeonatomundial.JornaldosSports,RiodeJaneiro, pg.4.6set1947.

Queocampeonatodomundoencontreumcenáriocondigno.Jornal dosSports,RiodeJaneiro,pg.1.1jun.1947.

Quevenhaumemaisestádios.JornaldosSports,RiodeJaneiro, pg.1.5set1947.

Reuniu-seacomissãoespecialdoprojeto.JornaldosSports,Riode Janeiro,pg.1.11jul1947.

SantosM.Anaturezadoespac¸o:técnicaetemporazãoeemoc¸ão. SãoPaulo:Edusp;2008,4edic¸ão.

Seráomaiordomundo.JornaldosSports,RiodeJaneiro,pg.1.21 mai1947.

SergioR.Maracanã,50anosdeglória.RiodeJaneiro:Ediouro,2000. TuanYF.Espac¸oelugar:aperspectivadaexperiência.SãoPaulo:

Difel;1983.

VertinskyP,BaleJ.Sitesofsports,placeexperience.Londonand NewYork:Routledge;2004.

Referencias

Documento similar

A maioria dos estudos foi realizada no continente americano (56%) seguido do continente europeu (22%), evidenciando o nível deficitário de conhecimento dos adolescentes

Natural de Ourense e alumna do instituto As Lagoas, o primeiro correo que enviou en canto foi nomeada decana da Facultade de Matemáticas da Universidade de Santiago foi ao

13 A autorização para a realização do ofício religioso por parte dos irmãos da Misericórdia de Ponte de Lima para os presos da cadeia da vila foi concedida no ano de 1590,

1) «Os cursos sejam organizados a partir de módulos, permitindo ao estudante que realize a sua formação num percurso resultante da sua vocação, do seu talento, dos

Alguns dos objetivos específicos do projeto foram: (i) digitalizar todo o acervo do Projeto NURC/Recife, incluindo não apenas os arquivos de áudio, mas também as

Também engajado com estes estudos, Miles (2005) foi um dos responsáveis pelo fundamento principal na estruturação do conceito de interatividade existente num produto audiovisual,

Considerando essa perspectiva, temos como principal objetivo neste trabalho realizar um estudo descritivo sobre o desempenho dos cursos de graduação da Universidade Federal do

Exist en dos ti pos de nudos : el nudo turco que presenta una al- fomb ra más gruesa y esponjosa , y el nudo español en do nde la alfombra tiene el pelo más corto, pero más apr eta