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O ecumenismo nos Padres da Igreja

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Vital Corbellini*

Resumo

O artigo mostra a importância do ecumenismo na visão dos Padres da Igreja. Eles tiveram que aprofundar as verdades cristãs diante das divisões eclesiológicas e das heresias trinitárias, desdobradas sobretudo em relação ao Filho e ao Espírito Santo. O ecumenismo foi a busca da unidade na Igreja que, nos primeiros sete séculos, possibilitava uma única visão tanto no Oriente como no Ocidente. O ecumenismo dos Padres pode iluminar a caminhada atual em vista da unidade de fé e de amor em Jesus Cristo.

Palavras-chave: Verbo Semeador. Unidade. Amor entre os cristãos. Jesus

Cristo: única pessoa e duas naturezas. Abstract

In this article is shown the importance of oecumenism in the view of the Church’s Fathers. They had to study intensively the Christian truthes concerning the ecclesiological division and the trinitary haereses, related, specially to the Son and the Holy Ghost. Oecumenism intended the unity of the Church which in the first seven centuries made possible one unique comprehensionin, East and West. The oecumenism of the Fathers may illuminate the actual situation aiming unity of the faith and the Love to Jesus Christ.

Keywords: Jesus as sower. Unity. Love among Christians. Jesus Christ: one

person and two natures.

Introdução

O ecumenismo é um dos aspectos importantes da vida eclesial, da ação da Igreja e das Igrejas, que acreditam em Jesus Cristo, Filho de Deus, Filho do Homem e Salvador da humanidade. Nessas últimas * Pe. Doutor em Teologia Patrística.

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décadas, fizeram-se grandes esforços para a busca da unidade dos

cristãos, tentando a superação das divisões, provocadas no passado pelas

inimizades, a busca do poder, a falta de testemunho de vida e amor. O

Vaticano II deu um grande realce à prática ecumênica expressado no

Decreto sobre o Ecumenismo, a Unitatis Redintegratio. Ultimamente

fala-se bastante de ecumenismo espiritual, que é a conversão do coração,

a santidade de vida, as orações privadas e públicas em vista da unidade dos cristãos. Tudo isso se constitui como a alma de todo o movimento

ecumênico o qual se chama de ecumenismo espiritual1. É na eucaristia,

o lugar privilegiado para rezar pela unidade, porque toda eucaristia

celebra a unidade. A comunhão eucarística e a comunidade eclesial estão

ligadas intimamente entre si, ainda que desacordos em matéria de fé e

os vínculos não estão plenamente restabelecidos. No entanto, progressos

significativos realizaram-se para uma comum compreensão para os elementos constitutivos da fé e também no verdadeiro significado da

ceia do Senhor2.

A prática ecumênica dos Padres da Igreja ajuda o momento atual na unidade das Igrejas de Jesus Cristo. Alguns autores cristãos

da Antiguidade dão uma luz para caminhar em direção à unidade dos cristãos tão almejada, tão rezada. Fazendo uma análise, vamos perceber o esforço dos Padres em manter a Igreja unida, superando as divisões que apareciam, ou devido à radicalização de doutrinas, ou mesmo pela busca do poder, fatores que provocaram a desunião das Igrejas.

1 As atuações de Clemente Romano, Inácio de Antioquia

e Policarpo

No primeiro século, Clemente escreveu uma carta à comunidade de Coríntio, advertindo-a à unidade, porque houve uma revolta contra os seus dirigentes, os presbíteros e os bispos, os eleitos de Deus. Se o nome

deles foi importante, no passado, agora tinha uma outra conotação3. O bispo de Roma pede o esforço de todos para a prática de toda obra boa4.

1 Cf. W. KASPER. L’Ecumenismo Spirituale. Linee-guida per la sua attuazione. Roma: Città Nuova, 2006, p. 14. Ver também: UR, 8.

2 Cf. W. KASPER. L’Ecumenismo Spirituale. Linee-guida per la sua attuazione, p. 62-64.

3 Cf. Primeira Carta de Clemente aos Coríntios 1, 1. In: Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995.

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Jesus Cristo é o protetor e o auxílio da nossa fraqueza. Mediante ele, nossa mente obtusa e obscura refloresce para a luz5. Clemente conclama

a todos à obediência e à unidade.

Outro autor que ajudou a unidade da Igreja foi Inácio de Antioquia. Ele falou nas suas cartas sobre a necessidade da unidade da Igreja na pessoa do bispo. Tudo deveria ser feito em união com ele6. Na sua visão,

os bispos são a imagem do Pai, os presbíteros a imagem dos apóstolos,

e os diáconos os servidores de Jesus Cristo7. Ele desejava que todos

trabalhassem pela unidade da Igreja diante dos gnósticos, docetas, os

judaizantes os quais buscavam a divisão na comunidade. A unidade é

dada, sobretudo, pela eucaristia onde há um só pão em Jesus Cristo, um

só cálice e um altar8. Inácio diz também ser preciso formar um só coro,

tomando na unidade o tom de Deus, cante-se a uma só voz um hino ao

Pai, como membros de Jesus Cristo. Para isso é preciso a unidade na

comunidade para participar de Deus9.

Policarpo, bispo de Esmirna, martirizado em 156, admoestava as comunidades cristãs, para que evitassem os ensinamentos falsos. “Quem não confessa que Jesus Cristo veio na carne é anticristo; aquele que não confessa o testemunho da cruz é do diabo; aquele que distorce as palavras do Senhor, segundo seus próprios desejos, e diz que não há

ressurreição, nem julgamento, esse é primogênito de satanás”10. No seu

tempo, alguns grupos possuíam doutrinas contrárias àquelas provenientes da tradição eclesial, as quais provocavam divisão na comunidade. Ele

realça o amor fraternal como caminho para a superação das divisões dos grupos formados. O seguimento de Jesus Cristo aponta para o amor à fraternidade, a união na verdade, a superação do desprezo das pessoas11. O bem deve ser realizado sempre, não o deixando para depois, de modo

que Deus seja louvado pelas boas obras12.

5 Cf. Ibidem, 36.

6 Cf. Inácio aos Esmirniotas, 8, 1. In: Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995. 7 Cf. Inácio aos Tralianos, 3, 1.

8 Cf. Inácio aos Filadelfienses, 4. 9 Cf. Inácio aos Efésios, 4, 2.

10 Policarpo aos Filipenses, 7, 1. In: Padres Apostólicos. 11 Cf. Idem, 10, 1.

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2 A Carta a Diogneto, Aristides e Atenágoras de Atenas,

Justino e Ireneu de Lião

Traços de ecumenismo puderam notar-se também no II século. A carta a Diogneto sempre impressionou os autores antigos e modernos

pela conotação objetiva dos cristãos. As formas como esses viviam

possibilitavam um testemunho de vida social admirável. Eles não queriam

a divisão na comunidade, mas a fraternidade. Por isso, esse escrito diz que os cristãos “vivem na sua pátria, como forasteiros; participam de tudo

como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira

é pátria deles, e cada pátria é estrangeira”13. Eles estão, não num único

lugar, mas em diversos; assim como a alma está nas partes do corpo

humano assim também os cristãos estão nas cidades do mundo14.

Aristides de Atenas coloca a prática dos cristãos diante dos pagãos,

pela acolhida das pessoas, a realização do bem aos inimigos, a superação do desprezo da viúva e do órfão. Os cristãos “estão dispostos a doar a vida por Cristo, pois guardam com firmeza os seus mandamentos, vivendo santa e justamente conforme ordenou o Senhor Deus, dando-lhe graças

em todo momento pela comida, bebida e os outros bens”15. Outro autor

da mesma cidade, Atenágoras, refere a unidade dos cristãos, por viverem-na diante do politeísmo. Esse tem presente a afirmação da fé monoteísta: “Admitimos um só Deus, incriado, eterno e invisível, impassível,

incompreensível, e imenso”16. Os cristãos não são ateus, mas acreditam

no Deus uno e trino: “Quem não se surpreenderá ao ouvir chamar de

ateus indivíduos que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito

Santo, que mostram seu poder na unidade e sua distinção na ordem?”17.

Ainda no II século, Justino falava das sementes semeadas aos gregos, isto é, os filósofos: o Lógos Spermatikós onde o Verbo semeou, antes da sua vinda ao mundo, coisas boas em meio aos pagãos. Eles não

viram tudo, porém perceberam alguma coisa de significativo que deveria ocorrer no futuro. A semente do Verbo encontra-se no interior, ingênita

no gênero humano, de modo que muitos viveram com o Verbo, ainda que

não tivessem um conhecimento maior da revelação18. Ele também fala

13 Cf. Carta a Diogneto, 5, 5. In: Padres Apologistas. São Paulo: Paulus, 1995. 14 Cf. Idem, 6, 2.

15 Aristides de Atenas. Apologia, 15, 8. In: Padres Apologistas.

16 Atenágoras de Atenas. Petição em favor dos cristãos, 10. In: Padres Apologistas. 17 Idem, 10.

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da conformidade cristã em relação à paz entre os povos. “Somos vossos melhores ajudantes e aliados para a manutenção da paz, pois professamos doutrinas, como a de que não é possível ocultar de Deus o malfeitor, o

avaro, o conspirador ou o homem virtuoso, e que cada um caminha para

o castigo ou salvação eterna, conforme o mérito de suas ações”19.

Justino manteve contatos com o judaísmo do qual o cristianismo

provinha de Jerusalém. O rabino Trifão, como também o próprio

judaísmo, levantavam dúvidas em relação à encarnação do Verbo.

Trifão diz a Justino: “Estás tentando demonstrar algo incrível e pouco

menos que impossível, isto é, que Deus poderia suportar nascer e tor-

nar-se homem”20. Justino a esse dado do rabino responde pelas próprias

Escrituras. Os judeus as citavam, falavam dessas coisas. “Se lhes citamos

Escrituras que demonstram expressamente que o Cristo há de ser ao mesmo tempo passível e adorável e Deus – são essas que citei a vós –,

concordam que se referem a Cristo”21 o qual se encarnou e entrou na história humana. Ecumenismo é o diálogo com o diferente em vista da

unidade, e o único Salvador é Jesus Cristo.

Ireneu de Lião aparece no final do II século o qual se confrontou

com os sistemas gnósticos que mantinham a dualidade nas concepções das coisas e dos seres: céu e terra, espiritual e material, Deus e mundo,

alma e corpo, luz e trevas, de modo que uma coisa não tinha nada a ver

com a outra. O gnosticísmo estava sempre em busca de prosélitos junto

às comunidades cristãs, fator que provocava a desunião na comunidade. Esse autor fala da unidade em Deus Pai, Criador de tudo, pelo qual fez todas as coisas no seu Verbo e que, nesses últimos tempos, se fez homem entre os homens, para unir o fim ao princípio, a criatura com

Deus e na união do Espírito Santo o ser humano tenha acesso à glória

do Pai22. Ele tem presente a unidade das Escrituras, do Antigo com o

Novo Testamento. “Com o Novo Testamento, previsto e anunciado pelos profetas, era indicado aquele que o teria atuado segundo o desejo do Pai; era manifestado da maneira que Deus quis, de modo que os que acreditariam nele pudessem sempre progredir e amadurecer a perfeição

da salvação por meio dos dois Testamentos”23.

19 Idem, I Apologia, 12, 1. 20 Idem, Diálogo com Trifão, 68, 1. 21 Idem, 68, 9.

22 Cf. Ireneu de Lião, IV, 20, 4. São Paulo: Paulus, 1995. 23 Idem, IV, 9, 3.

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Diante daqueles que se diziam os verdadeiros protagonistas da doutrina cristã e dos heréticos, ele reforça o valor da tradição que tem origem apostólica: “Eles primeiro pregaram e, depois, pela vontade de Deus, transmitiram nas Escrituras, para que fosse para nós fundamento e coluna da nossa fé”24. Dessa forma, ele afirmou a unidade também presente na Sagrada Escritura: “O Verbo, artífice de todas as coisas,

que está sentado acima dos querubins e mantém unidas todas as coisas,

quando se manifestou aos homens, nos deu um evangelho quadriforme,

sustentado por um único Espírito”25.

3 As figuras de Tertuliano, Orígenes, Cipriano

No início do III século, Tertuliano fala da unidade dos cristãos

diante dos pagãos. Ele tem presente o culto e a celebração eucarística

na sua comunidade como pontos fundamentais pela unidade. Eles se encontravam juntos para ler as Escrituras e fazer os comentários. As

palavras da Sagrada Escritura tornam-se alimento para as suas vidas, para

melhor viver a fé, a esperança e a caridade26. O amor fraterno entre os

cristãos os tornava solícitos um ao outro. Deles os pagãos comentavam:

“Vejam, esses diziam, como se amam entre eles” (Videte, inquiunt, ut invicem se diligant)27.

A unidade da doutrina cristã necessita de reforços, de progressos

contra os heréticos, porque esses se achavam os únicos herdeiros das

palavras de Cristo. O autor africano diz que essa não se faz através de pessoas privilegiadas mas com os que estão em profunda união com as Igrejas fundadas pelos apóstolos, os apóstolos de Cristo e Cristo de Deus. Será considerada falsa toda a doutrina que for contra a unidade

das Igrejas, dos apóstolos, de Cristo e de Deus28. Tertuliano também diz

que está em comunhão com as Igrejas apostólicas, porque a doutrina

pregada por ele e pelas Igrejas não é diferente deles29.

Segundo Tertuliano, a participação na vida comunitária é bem ampla dada por todos os tipos de pessoas. Na comunidade há uma caixa

24 Ibidem, III, 1, 1. 25 Ibidem, III, 11, 8.

26 TERTULLIANO. Apologetico, XXXIX, 3-4. A cura de A. R. BARRILE. Bologna: Arnoldo Mondadori Editore, 1992.

27 Idem, XXXIX, 7.

28 Cf. TERTULLIANO. Contro gli eretici, XXI, 3. Introduzione, Traduzione e Note a cura di C. MORESCHINI. Roma: Città Nuova, 2002.

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comum (arcae genus) para a qual cada um traz, quando quer e pode, a sua modesta contribuição mensal, porque cada um oferece espontaneamente e ninguém é obrigado a fazê-lo. Este dinheiro da comunidade servia para

dar alimento aos necessitados, socorrer meninos, meninas, privados de sustentação e abandonados pelos seus pais, sepultar os mortos, e também

ajudar pessoas idosas e náufragos. A comunidade cristã socorre, na

medida do possível, os condenados às minas, ou deportados nas ilhas ou

relegados nos cárceres (conflictantur, alumni confessionis suae fiunt)30.

A unidade dos cristãos possibilita a fé em Jesus Cristo, o Salvador da

humanidade.

Orígenes também trabalhou pela unidade dos cristãos, da doutrina que vinha dos apóstolos e de Cristo diante de pagãos e heréticos. Ele

dizia que a divina doutrina (o cristianismo) é para “pessoas simplórias,

vulgares, estúpidas, escravos, mulheres incultas e crianças”31. A promessa

do Senhor Jesus de estar em meio aos seus discípulos pela qual a missão não se perde com o tempo proporcionou a alegria aos missionários:

“Eis que eu estou em meio a vocês todos os dias até ao fim dos séculos”

(Mt 28, 20). Tais palavras concebem a presença do Senhor para a

produção de bons frutos na verdadeira videira, o Cristo de Deus32.

Orígenes tem presente o plano de Deus para com a humanidade diante de Celso que não levava em conta a ação do Salvador no meio da

humanidade. “Deus foi enviado aos pecadores”. Um médico foi enviado

às pessoas humanas por um rei cheio de humanidade. O Deus Lógos

foi enviado como médico para todos os pecadores e como mestre dos

divinos mistérios33.

Cipriano lutou muito, após a segunda metade do terceiro século, em vista da unidade da Igreja. Dois grandes problemas tinham surgido: os lapsi, aqueles que negaram a fé na perseguição de Décio, e o cisma de

Novaciano, em Roma, sendo apoiado por Novato em Cartago. A unidade

na vida da Igreja conquista-se pela ação em conjunto pelos cristãos: “É

impossível ter Deus por Pai, se não se tem a Igreja por mãe (habere non

potest deum patrem qui ecclesiam non habet matrem)”34. Dessa forma, ele diz que a pessoa separada da Igreja priva-se das promessas da mesma 30 Cf. TERTULLIANO. Apologetico, XXXIX, 5-6.

31 ORÍGENES. Contra Celso, III, 49. São Paulo: Paulus, 2004. 32 Cf. Idem, II, 9.

33 Cf. Ibidem, III, 62.

34 CYPRIEN DE CARTHAGE. L’Unité de L’Église, 6 (SCh 500). Apparats, Notes, Appendices et Index, P. MATTEI. Paris: Les Éditions du Cerf, 2006.

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(Igreja) e de Cristo no qual se torna um estrangeiro, um profano, um

inimigo35.

Esse autor compara a Igreja com a arca de Noé na qual ninguém,

fora dela, se salvou, de modo que também fora da Igreja não há vida e

salvação (vitam non tenet et salutem)36. É claro que essa expressão deve

ser compreendida no tempo, porque a Igreja estava ameaçada pelos

cismas. Assim o bispo de Cartago frisou a unidade da Igreja, que deve se realizar ao redor da eucaristia, do bispo e da própria Igreja que reúne

a todos.

4

Regula fidei

Diante das diversas concepções doutrinais, que dividiam os cristãos e as suas comunidades, apareceram, no II e III séculos, as regras de

fé como confissões que possibilitavam a unidade dos seguidores de

Jesus.

Ireneu de Lião fala da presença da Igreja em diversos lugares, onde ela manifesta a fé num único Deus, Criador do céu e da terra, em um

só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação, e no

Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus e o

nascimento pela Virgem, e a sua vinda dos céus na glória do Pai para

recapitular as coisas e ressuscitar toda carne do gênero humano37.

Tertuliano diz que a regula fidei é a especificação das verdades sobre Deus a respeito de todas as coisas, o qual fez as coisas do nada

pelo seu Verbo, gerado antes de todas as coisas. É por meio do Filho que o Pai cria o universo. O Verbo é chamado Deus, o qual apareceu

aos patriarcas e profetas e, enfim, pelo Espírito Santo, desceu na Virgem Maria, fazendo-se carne no seu ventre, e nascido dela, viveu qual Jesus Cristo. Fez grandes prodígios, foi crucificado e no terceiro dia ressuscitou dos mortos e sentou-se à direita do Pai. Mandou no seu lugar o poder do Espírito Santo para guiar os fiéis e deverá voltar para julgar os vivos e

os mortos. Essa regra ensinada por Cristo não é submetida a nenhuma

indagação38. As regras contribuíram para a unidade da doutrina e de fé

em Jesus Cristo, o Salvador da humanidade.

35 Cf. Idem, 6. 36 Cf. Ibidem, 6.

37 Cf. Ireneu de Lião, I, 10, 1.

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5 A questão donatista e ariana e pneumatômaca

O século IV foi um período de muitas controvérsias doutrinais.

Tudo isso gerou divisões na própria comunidade cristã, partidos de um

lado e de outro lado. A divisão na Igreja não trazia alegrias profundas para a vida cristã. Era preciso a unidade. Ao estabelecer a paz com

o cristianismo, Constantino interveio nas questões internas da Igreja, porque percebia que a divisão na comunidade eclesial era também divisão no Império romano. A Igreja, através de seus líderes, também

se esforçou em vista da unidade.

No início do século IV, surgiu no Norte africano a questão donatista, porque havia dois bispos em Cartago; um, ligado à Igreja de Roma, Ceciliano, e o outro à Igreja fundada por Donato. Dessa forma, o imperador solicitou ao Bispo de Roma, Melcíades, para que convocasse um Sínodo, a fim de analisar a problemática suscitada, pois a comunidade cristã não deveria sofrer as conseqüências da divisão. No final de sua carta, ele manifesta à Igreja católica o devido respeito, para que assim

não se suscite em nenhum lugar um cisma ou alguma desavença39. Dois

Sínodos foram realizados, um em Roma e o outro em Arles e todos deram razão a Ceciliano, à Igreja ligada ao bispo de Roma.

A doutrina donatista insiste na natureza da verdadeira Igreja, considerando-se os continuadores da Igreja da África que existia antes de Diocleciano. Na realidade, permanecem fundamentalmente uma fraternidade, cujo dever principal é o combate ao demônio. Aspiram ao

martírio também voluntariamente procurado.

Este movimento dava um grande valor à figura episcopal, porque

ele é intermediário entre o povo cristão e Deus. O bispo é um homem bíblico, que deve ter sempre o evangelho em sua boca e lábios, e o martírio no coração.

Os pontos-chaves dessa doutrina são: a) a Igreja é uma sociedade

de santos: são excluídos os pecadores; b) os sacramentos são válidos

só se administrados por ministros santos, isto é, pertencentes à Igreja donatista.

Entre as parábolas usadas para demonstrar as teses dos donatistas,

preferem aquela do banquete nupcial (cf. Mt 22, 14): o convidado sem a veste, isto é, o não-santo, também se pertencente à Igreja, é o católico

que vem jogado fora. A Igreja católica reagiu contra o donatismo. 39 Cf. EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica, X, 5, 18.

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Optato coloca que esses (os donatistas), embora adversários, são sempre

irmãos: “Vós sois nossos irmãos”40. Ele diz também que a Igreja dos donatistas não se compreende nas Igrejas de fundação apostólica41. Eles não estão no início, porque se formaram nestes últimos anos. Constantino tinha procurado, segundo Optato, a paz com os donatistas, porque até o momento, isto é, o início do IV século, não havia ainda cismas. “A paz, tanto agradável a Deus, habitava junto aos povos cristãos”42. Para Optato, a parábola importante é aquela do joio e do trigo (cf. Mt 13, 24-30). O campo recebe boas e más sementes pela própria diversidade de sementes. Nem os discípulos podem separar o joio e o trigo, quando crescem, até que Deus em Jesus Cristo separará uns dos outros. Cristo mesmo deixou que crescessem as sementes boas e aquelas semeadas por

outros. Quando chegar o tempo da colheita, o Filho de Deus sentar-se-á

para julgar e separar o joio e o trigo. Neste mundo a Igreja é permixta,

por vontade de Cristo, e somente no final haverá a separação, entre justos

e injustos43. O alcance da unidade deve superar todos os obstáculos. A

Igreja deve abrir-se aos pecadores e esses estão tanto nos católicos como nos donatistas44.

Agostinho também trabalhou pela unidade, na Igreja africana,

diante dos donatistas. Em suas cartas, ele insiste para que as duas

Igrejas não estejam em continuo confronto entre elas, mas que haja a reconciliação. O fato era que os donatistas batizavam aqueles que vinham do catolicismo. Isso manifestava a exclusividade dos donatistas

como a Igreja de Cristo. O bispo de Hipona não permanece em silêncio,

porque batizar de novo não anda conforme a tradição da Igreja, uma vez que essa procura a unidade em Cristo. O bispo africano tem medo

da atuação dos circunceliões, aliados dos donatistas, que eram um bando de pessoas perigosas, atacavam os católicos, arrasavam as suas Igrejas. Ele convida os donatistas, para que se sentem juntos e discutam

as questões, e não através da violência45. Agostinho discutiu com os

donatistas a respeito do cisma ocorrido. Ele se encontrou em Cirta com

o bispo Fortúnio, donatista. Ele mesmo foi ao seu encontro para o debate 40 OTTATO DI MILEVI. La vera Chiesa, I, 3. Introduzione, Traduzione e Note a cura

di L. DATTRINO. Roma: Città Nuova, 1988. 41 Cf. Idem, II, 6.

42 Cf. Ibidem, II, 15. 43 Cf. Ibidem, VII, 2. 44 Cf. Ibidem, VII, 3.

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das questões na África. O bispo de Hipona sempre teve uma atitude

de acolhida pelas pessoas daquela Igreja, no entanto não negava a sua identidade. Ele disse a Fortúnio qual era a Igreja segundo as Escrituras

que está em todo mundo e não numa parte da África ou dos africanos. Ele achava que era a sua Igreja, a donatista. No entanto, Agostinho diz se ele e os seus seguidores fossem humildes, teriam dito que é a católica, a verdadeira Igreja, porque fundada desde os tempos apostólicos. Eles discutiram também a questão do cisma com tanto zelo religioso para a

busca da unidade46.

Agostinho procurou acolher os sacerdotes provenientes do dona-

tismo, que desejavam assumir o catolicismo. Em uma de suas cartas, diz

que nos donatistas detesta a sua discórdia na qual se tornaram cismáticos ou heréticos, porque não conservam nem a unidade nem a verdade da Igreja católica. Por essas atitudes, há a condenação, por não manterem a

paz com o povo de Deus e que está em toda a face da terra e também pelo fato de não reconhecerem o batismo de Cristo nas pessoas já batizadas.

Se há uma admoestação na parte deles, Agostinho reconhece o mesmo Deus que eles honram e por isso desejava ganhá-los para Deus, mediante

a caridade de Cristo, a fim de que os sacramentos, que foram dados fora da Igreja (batismo e sacerdócio), na paz da Igreja os tenha para a salvação. Desta forma, ele almejava que a paz de Cristo reine nas

pessoas através da caridade47. Assim o bispo africano foi um homem

que trabalhou pela unidade da Igreja no norte africano.

No IV século, houve também a controvérsia ariana a qual dividia

a Igreja sobretudo no Oriente. Alguns sinais de unidade se fizeram. O

Bispo Alexandre de Alexandria alertou o presbítero herético, Ário, para

que voltasse à fé da Igreja, mas não o conseguiu. Então houve o primeiro

Concílio ecumênico universal da Igreja, o de Nicéia, em 325. Ao convite de Constantino, um grande número de bispos se encontraram naquela cidade. Contra os argumentos arianos, o Concílio decidiu que o Filho não é uma criatura mas é Deus, como o Pai é Deus. Ele é consubstancial ao Pai de modo que a sua geração é compreendida na dimensão paterna,

divina. O Filho é homooúsion com o Pai, é eterno, como o Pai é eterno48.

Ainda que a controvérsia ariana continuasse por décadas, o Concílio

46 Cf. Idem, 44, 1-4.12. 47 Cf. Ibidem, 61, 1.

48 Cf. RUFINO. Storia della Chiesa, I, 5. Traduzione, Introduzione e Note a cura di L. DATTRINO. Roma: Città Nuova Editrice, 1986.

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de Nicéia sempre será um ponto de unidade entre os cristãos e a fé na

divindade do Filho de Deus.

Na controvérsia pneumatológica, perto dos anos 360, houve tentativas ecumênicas de reuniões entre os bispos, para encontrar um

ponto de referência sobre a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Os pneumatômacos negavam a divindade do Espírito Santo. Atanásio defendeu a divindade da terceira Pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo santifica as coisas e as pessoas e por isso não há dúvidas de que a sua natureza seja divina49. Nesse tempo, Basílio também defendeu

a divindade do Espírito Santo: ele é conumerado com as outras duas

Pessoas, como o Pai e o Filho. Gregório de Nazianzo coloca o homooúsion,

o consubstancial ao Espírito Santo diante dos pneumatômacos: “O

Espírito é Deus? Certamente. E então? É homooúsion? Sim. Se é

verdade que é Deus”50. No Concílio de Constantinopla (381), se dirá

que o Espírito Santo é Deus como o Pai é Deus e o Filho é Deus e todas

as três Pessoas são homooúsioi, coeternas entre elas. A unidade entre os

cristãos, a partir dessas decisões, não foi assumida por todos. Porém, era importante defender a fé cristã diante de grupos que radicalizaram certos aspectos da doutrina e que não andava em conformidade com toda

a comunidade eclesial.

6 A questão cristológica

No século V, houve a questão cristológica. A Igreja procurou a unidade entre os seus membros. Teve bons resultados, mas nem sempre

se conseguiu a totalidade. Una divisão mais profunda como aquela

de 1054 entre o Oriente e o Ocidente ainda não havia, mas algumas

pequenas divisões se faziam. Tudo isso não era bom para o rebanho de Cristo e para a unidade de todos. Mas vejamos as questões suscitadas

e a tentativa de buscar a unidade entre os membros da Igreja. Em 428, Nestório assumiu a cátedra de Constantinopla, enquanto Cirilo governava a Igreja de Alexandria. Em Constantinopla, havia dois grupos

em referência à mariologia. Um primeiro grupo defendia que Maria foi mãe do homem Jesus, e o outro defendia a sua maternidade divina. 49 Cf. ATANASIO. Lettere a Serapione. Lo Spirito Santo, I, 24, 3. Traduzione, Intro-

duzione e Note a cura de E. CATTANEO. Roma: Città Nuova, 1986.

50 GREGORIO NAZIANZENO. I Cinque discorsi teologici, orazione 31, 10. Tradu- zione, Introduzione e Note a cura de C. MORESCHINI. Roma: Città Nuova, 1999.

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Nestório preferiu uma linha intermediária, ao afirmar que Maria é mãe de Cristo. Este aspecto ia contra a tradição que afirmava: ‘Maria

é a mãe de Deus’. Este seria um primeiro ponto de sua controvérsia com Cirilo de Alexandria. Segundo: como ele era antioqueno, ele

falava abertamente da Cristologia das duas naturezas em Cristo, a sua humanidade e a sua divindade. Esse aspecto favorecia a tradição

eclesial, de sorte que ele não deveria ser condenado por essa doutrina. No entanto, o ponto que levantava dúvidas do qual os seus inimigos o agrediram era a insistência desse argumento e o pouco sentido à unidade da Pessoa de Jesus Cristo, de modo que aparecia mais a divisão do que a unidade.

Nestório era um que dividiu a Pessoa de Cristo? Pode ser que sim,

pode ser que não. Ele queria fazer luz à pessoa de Cristo. Ele não queria fazer como os alexandrinos que exaltavam demais a natureza divina e davam pouco valor à natureza humana do Verbo. Nestório ressaltou a humanidade do Verbo. Se de fato ele nos salvou, ele dizia: ‘Jesus devia

ser semelhante a nós em tudo menos no pecado’. Era esta a intenção do

Patriarca de Constantinopla. Porém, o fato de ele levar em consideração esse ponto, não falou tanto da sua divindade. O que era o Verbo para

ele? Onde está a unidade da sua Pessoa? Cirilo de Alexandria que, nos

primeiros anos de seu episcopado, não valorizou tanto a alma humana

em Cristo, após perceber a doutrina de Nestório começou a levá-la em

consideração. Defendeu contra Nestório a divindade materna de Maria: Jesus é o Filho de Maria e Filho de Deus, de modo que Maria é mãe de

Deus. Ele não podia ser só um simples homem. Este título (Theotókos)

se justifica em Maria pelo fato de que ela gerou na carne o Filho de

Deus, de modo que a maternidade é divina, não que o Filho tivesse uma mãe, porque ele é desde sempre junto ao Pai e é eterno como o Pai é eterno.

O Concílio de Éfeso aconteceu em 431, que não conduziu à

unidade entre os bispos alexandrinos e os bispos antioquenos. Em 433,

aconteceu um encontro entre as duas partes, chamado ‘a fórmula da unidade’, onde os antioquenos aceitaram a doutrina de Maria como mãe de Deus, e os alexandrinos aceitaram as duas naturezas em Cristo. Essa (Fórmula de União) afirmava a fé no Filho Unigênito de Deus, perfeito Deus e perfeito homem, consubstancial ao Pai,

segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade.

Há um só Cristo, Filho, Senhor. Colocava-se a fé na Virgem santa mãe de Deus, sendo o Verbo de Deus encarnado e feito homem tendo

(14)

unido a si mesmo, o templo assumido por ela51

. A

Théotókos

havia

triunfado

52.

Na realidade, Cirilo insistia em Nestório sobre a unidade da

Pessoa de Cristo. Deve-se dizer também que Cirilo usava um linguajar

inconveniente que suscitava mal-entendidos. Ao invés de ressaltar a

unidade da Pessoa em Cristo, ele falava da unidade das naturezas em Cristo, o que era um monofisismo. A intenção de Cirilo era boa, a defesa

da unidade, mas o linguajar não possibilitava entendimentos da outra

parte; os antioquenos insistiam sobre a diversidade das naturezas. As diversas cartas foram aumentando entre os dois Patriarcas até ocorrer o Concílio que não conduziu à unidade. Teodósio II fez o possível para unir os grupos, mas não o conseguiu. Nestório foi exilado e nunca mais

voltou a Constantinopla. Ele morreu após 451.

Os últimos estudos patrísticos dizem que Nestório aceitou a Cristologia de Leão Magno, da unidade em Cristo e, é claro, as duas naturezas. Cirilo obteve o perdão do imperador e voltou à Alexandria. Essa paz acontecida em 433 durou por pouco tempo, porque, nos anos sucessivos, os alexandrinos não aceitaram as duas naturezas, aspecto

proveniente dos antioquenos. Em 448, Eutiques divulgava esta doutrina:

“Cristo tinha duas naturezas e com a união tinha uma somente, a natureza divina”. Mais uma vez o monofisismo parecia vencer no Oriente, negando dessa forma a natureza humana em Cristo. Tudo isso causou discussões,

e Flaviano, Patriarca de Constantinopla, convocou um Sínodo onde excomungou Eutiques. O monge não se submeteu às decisões e pediu a Teodósio II, que era o Imperador, que convocasse um Sínodo geral. Esse

aconteceu em 449, em Eféso, onde Eutiques, protegido por Dióscoro de Alexandria foi absolvido de heresia, e os antioquenos foram expulsos. Leão Magno disse que aquele Sínodo era de ladrões, pelo fato de não ter havido um juízo mas uma dominação da cristologia monofisista. A paz

entre as duas partes de novo estava rompida. Teodósio II morre de uma

forma inesperada, em 450, e Marciano assumiu o Império. Ao perceber

a divisão das Igrejas, esse convocou, em 451, um Concílio ecumênico

em Calcedônia. Buscava-se a unidade entre as duas partes, entre os dois

modos de ver Jesus Cristo.

51 Cf. CONCILIORUM OECOMENICORUM DECRETA, a cura dell’Istituto per le Scienze religiose. Bologna: Edizione Dehoniane, 1991, p. 69-70.

52 Cf. J. COMBY. Para ler a História da Igreja I. Das Origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1993, p. 97.

(15)

O Tomus ad Flavianum53 foi lido no Concílio, onde todos os bispos conciliares aplaudiram-no, porque colocava a cristologia conforme a

tradição eclesial. Entende-se a unidade de Pessoa, como próprio de cada

uma das duas naturezas; o Filho do Homem é aquele que desceu do céu enquanto foi o Filho de Deus que assumiu a carne da Virgem. Leão coloca o mistério da encarnação em relação profunda com o mistério

pascal. As aparições do Ressuscitado constatam que as propriedades

da natureza divina e da humana permaneciam nele; o Verbo e a carne

constituem um só Filho de Deus. Assim Eutiques deveria reconhecer

que na glória da ressurreição tem a nossa natureza. Não se pode dividir Cristo: quem o faz vai contra o próprio Cristo.

Na realidade, a cristologia de Leão Magno foi assumida pelo

mesmo Concílio: Jesus Cristo, único com o Pai e único conosco,

em duas naturezas, humana e divina, sem confusão e sem divisão. A fórmula de Calcedônia contemplava a unidade, aspecto bem frisado pelos alexandrinos, sobretudo Cirilo, e as duas naturezas, aspecto

bem presente nos antioquenos. Parecia que tudo andava bem com as

decisões do Concílio, uma vez que essas contemplavam as duas Escolas

cristológicas. O debate cristológico continuará por mais dois séculos.

Os alexandrinos farão o possível para dizer que em Cristo há somente uma natureza. Leão Magno procurou a unidade na Igreja do Oriente: a

Communio Ecclesiaram, a comunhão das Igrejas.

7 A questão dos três capítulos

A questão cristológica prosseguiu com a condenação dos três capítulos, em 553, pelo II Concílio de Constantinopla, onde os

antioquenos, Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa, foram condenados como pessoas ligadas a Nestório, aquele que dividiu a Pessoa de Cristo. Esses três bispos, que morreram em paz com a Igreja e foram considerados ortodoxos, em seu tempo, um século mais

tarde eram heréticos. Certamente houve injustiças para esses bispos, que amaram a Igreja e o seu povo.

Facundo de Hermiane defendeu os três capítulos, isto é, os três bispos condenados. Ele interpreta a fé de Justiniano, que era também a sua, no sentido de que Maria é a Mãe do Filho de Deus. Jesus Cristo 53 Cf. XXXVIII Carta. Tomo a Flaviano. In: Sermões de Leão Magno. São Paulo:

(16)

é único com o Pai, consubstancial a ele, segundo a divindade e con-

substancial a nós, segundo a humanidade. Ele é perfeito na divindade e perfeito na humanidade. Tudo isso estava em conformidade com o Concílio de Calcedônia (451) do qual esses bispos frisavam as duas naturezas54. Se alguns queriam uma purificação de nestorianismo,

naquele Concílio, havia o perigo de colocar em dúvidas a autoridade

do próprio Concílio. Parecia mais uma vez que o monofisismo venceria as coisas, o acento que Jesus era de natureza divina em detrimento da

humana.

No século VII, há a figura de Sérgio de Constantinopla, que falava

de Cristo: uma única energia e depois única vontade. Tudo isso causou discussões até chegar ao III Concílio de Constantinopla (680/681),

onde se diz que em Cristo há duas energias e duas vontades, porque essas provêm das duas naturezas de Cristo. Tais aspectos estavam em união com o Concílio de Calcedônia, 451. A questão cristológica esteve

presente nesses séculos, que suscitou pequenas divisões, de modo que

não andavam conforme a unidade dos cristãos. A discussão sobre a Pessoa de Cristo era fundamental para chegar à verdade, como aconteceu em Nicéia e também em Calcedônia. No entanto, a radicalização dos

grupos, das Escolas não possibilitava a causa importante: a unidade dos membros da Igreja, dos seguidores do Senhor Jesus. Juliano, imperador romano de 361-363, apóstata, admirava os cristãos nas obras de caridade

para com todos, não somente aos cristãos, mas também aos pagãos; porém, dizia que a desunião não era uma coisa boa entre os mesmos. Deve-se dizer que a Igreja fez o possível para se chegar sempre ad unum consensum entre as partes separadas.

Conclusão

O ecumenismo nos Padres nos ilumina hoje para superar as divisões entre os cristãos. Eles trabalharam para a unidade dos membros em Jesus

Cristo e da fé na salvação operada por ele. Se, para eles, a divisão não possibilita elogios, encontros fraternos, menos também para nós. Assim a unidade é o fator que dá condições para sentar juntos, para a superação

de aspectos doutrinais que separam os cristãos. Ainda hoje, Cristo

reza ao Pai, para que haja um só rebanho e um só pastor (cf. Jo 10, 16),

54 Cf. F. di ERMIANE. Difesa dei tre capitoli/1, I, 3. Introduzione, Traduzione e Note a cura di S. PETRI. Roma: Città Nuova, 2007.

(17)

que é Ele mesmo. Se, nos Padres da Igreja, houve a busca da unidade, através das discussões, os Concílios, hoje nós podemos caminhar na

mesma direção. Nestes últimos anos, se fez bastante pela unidade dos

cristãos: a retirada das excomunhões entre as Igrejas, aspectos doutrinais

estão sendo feitos juntos, campanhas da fraternidade, no tempo da

quaresma, orações em comum reunindo os líderes religiosos. Se aquilo que ainda nos divide não possibilita uma união integral, no entanto o que une as Igrejas aponta para a vida, para a luta da justiça e do amor.

Uma luz aparece na escuridão da divisão nos séculos passados. Sob a luz

do Espírito de Deus, o povo de Deus, sacerdotes, bispos, podem buscar e viver em suas Igrejas a unidade como testemunho para o mundo e

aos outros cristãos. Enquanto princípio de vida ad intra e ad extra, o

ecumenismo busca a unidade como realização da vontade do Pai. VItAL CoRBELLInI

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