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Erlotinib na segunda linha de tratamento do cancro do pulmão de não pequenas células – Caso clínico

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Academic year: 2021

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Resumo

A via de sinalização intracelular do receptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR) é hoje um alvo importante na terapêutica do cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC). Após a divulgação dos resultados do estudo BR.21, que além da sua efi-cácia mostrou também que era bem tolerado por doentes de idade avançada, o erlotinib, inibidor espe-cífico do domínio tirosina -cínase do EGFR, foi apro-vado para tratamento do CPNPC após falência de pelo menos uma linha de quimioterapia (QT). Os autores apresentam um caso clínico de uma doen-te do sexo feminino, de 63 anos, com uma história clínica de angina de peito, à qual foi diagnosticado um adenocarcinoma do pulmão. Por má tolerância do tratamento com QT, usou -se o erlotinib em segun-da linha de tratamento. Obteve -se uma boa resposta da doença, com melhoria sintomática, e os efeitos ad-versos, em grau ligeiro a moderado, foram bem tole-rados sem necessidade de ajuste posológico.

Rev Port Pneumol 2008; XIV (Supl 3): S17 -S22

Palavras -chave: Carcinoma do pulmão de não peque-nas células, adenocarcinoma do pulmão, erlotinib, tratamento de segunda linha.

Abstract

the epidermal growth -factor receptor (EGFR) and its signaling pathway have become a major target for therapy of non -small cell lung cancer (NSCLC). After the BR.21 study showed its effectiveness and its tolerability in older patients, erlotinib, a specific EGFR tyrosine -kinase inhibitor, has been approved for NSCLC therapy after failure of treatment with at least one line of chemotherapy (CT).

The authors present the case of a 63 years -old fe-male patient, with a history of angina pectoris, who was diagnosed with a lung adenocarcinoma. Because of poor tolerance to first -line CT, she had second -line treatment with erlotinib. There was a good response to therapy, along with symp-tomatic improvement. Adverse effects were light to moderate, well tolerated, and required no dose reduction.

Rev Port Pneumol 2008; XIV (Supl 3): S17 -S22

Key -words: Non -small cell lung cancer, lung adeno-carcinoma, erlotinib, second -line therapy.

Erlotinib na segunda linha de tratamento do cancro do pulmão de não pequenas células – Caso clínico Erlotinib in second-line therapy for non-small cell lung cancer – A clinical case

Alexandra Araújo1

Marta Soares2

Isabel Azevedo2

António Araújo3

1 Interna de Oncologia Médica

2 Assistente Hospitalar de Oncologia Médica 3 Assistente Hospitalar Graduado de Oncologia Médica

Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil – Centro Regional de Oncologia do Porto, EPE Correspondência:

Serviço de Oncologia Médica (Directora: Dra.Helena Rodrigues)

Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil – Centro Regional de Oncologia do Porto, EPE Rua Dr. António Bernardino de Almeida

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Introdução

O receptor do factor de crescimento epidér-mico (EGFR) faz parte de uma família de re-ceptores transmembranares, cujo domínio intracelular apresenta uma sequência com ac-tividade enzimática intrínseca do tipo tirosina--cínase. A activação do receptor induz a fosfo-rilação de proteínas efectoras, activando cascatas de sinalização intracelular envolvidas nos processos de crescimento, multiplicação, diferenciação e sobrevivência das células.1

O EGFR encontra -se sobre expresso ou apre-senta mutações somáticas activadoras em 10 a 30 % da população com cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC), pelo que se tornou um alvo terapêutico importante no tratamento desta patologia.2 O erlotinib é

uma pequena molécula capaz de inibir de for-ma específica e reversível a actividade tirosina--cínase do EGFR, bloqueando o local de liga-ção ao trifosfato de adenosina (ATP).1,2

O estudo de fase III BR.21, do National Cancer Institute of Canada Clinical Trial Group, mostrou o benefício do erlotinib em doentes com CPNPC já submetidos previa-mente a uma ou duas linhas de quimiotera-pia (QT).3,4,5 Este estudo destacou -se

tam-bém pela inclusão de doentes de idade superior a 60 anos e com ECOG 3.4,6

Em 2004, o erlotinib foi aprovado pela Food and Drug Administration dos Estados Unidos para tratamento de CPNPC em estádio avan-çado com progressão de doença após pelo me-nos uma linha de QT. A aprovação para a mes-ma indicação na Europa foi dada pela Agência Europeia de Medicamentos em 2005.1

Caso clínico

Mulher de 63 anos, de raça negra, não fuma-dora, com antecedentes de hipertensão

arte-rial, dislipidemia e angina de peito, em Se-tembro de 2006 procurou o seu médico assistente por apresentar dor no hemitórax esquerdo e sintomas constitucionais (astenia, anorexia e emagrecimento não quantifica-do), com cerca de 6 meses de evolução. En-tre os exames complementares de diagnósti-co realizados, destaca -se uma TAC torácica que mostrava (Fig. 1)retracção do campo pulmonar esquerdo associada a espessamen-to pleural concêntrico difuso, com sinais de paquipleurite, e uma massa parcialmente calcificada no lobo inferior esquerdo (com dimensões máximas de 66x58 mm), com presença de pequenas imagens nodulares na sua periferia.

Perante esta informação, a doente foi referen-ciada para o Instituto Português de Oncologia – Centro do Porto, pelo médico assistente. À data da primeira observação nesta instituição, em Outubro de 2006, encontrava -se emagreci-da mas com razoável estado geral, ECOG ( eas-tern cooperative oncology groupperformance sta-tus) 1, com queixas de tosse seca e dispneia para esforços médios, e à auscultação apresentava di-minuição do murmúrio vesicular na metade inferior do hemitórax esquerdo. Não apresenta-va outros achados de relevo ao exame físico. Para completar o estudo da doença foi efec-tuada citologia aspirativa transtorácica da lesão pulmonar, que mostrou tratar -se de um adenocarcinoma primário do pulmão (TTF1+ / calretinina–). Fez uma PET scan

que, para além de evidenciar uma volumosa lesão hipercaptante na dependência da cisu-ra interlobar esquerda e envolvimento difu-so da pleura, revelou atingimento ganglionar mediastínico e supraclavicular homolateral. A doença foi estadiada como T4N3M1. Por este motivo, foi proposto iniciar QT pa-liativa com carboplatina e paclitaxel. O

pri-O estudo de fase III BR.21 mostrou o benefício do erlotinib em doentes com CPNPC já submetidos previamente a uma ou duas linhas de quimioterapia

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meiro ciclo de QT, realizado a 6 de Dezembro de 2006, decorreu sem complicações. A 27 de Dezembro de 2006, durante a realização do segundo ciclo, a doente teve vários episó-dios de dor pré -cordeal, de tipo anginosa, que desapareceram com a suspensão da per-fusão de QT. Após avaliação por cardiologia, foi decidido interromper o protocolo de QT e manter a doente em vigilância clínica. Dois meses após suspensão da QT, a TAC torácica de reavaliação (de 27 de Fevereiro de 2007) mostrou progressão a nível pleu-ral, com aumento do espessamento pleural (Fig. 2). A doente estava sintomática (com toracalgia à esquerda, tosse seca e dispneia para esforços médios), mas sem agravamen-to das queixas. Dada a inagravamen-tolerância prévia da doente à QT de primeira linha, foi pro-posto tratamento em monoterapia com er-lotinib, que a doente aceitou.

Desde Março de 2007 está medicada com erlotinib, 150 mg/dia, por via oral. Na rea-valiação clínica, um mês após o início do tratamento, referia melhoria da astenia, da

dispneia e da dor torácica, mantinha ainda alguma tosse irritativa e apresentava um

rash acneiforme pruriginoso, grau 1 (do

National Cancer Institute – Common Termi-nology Criteria v3.0), na face, pescoço e tronco (Fig. 3).

A primeira TAC torácica de reavaliação após o início do tratamento (efectuada em 29 de

Fig. 1 – TAC torácica (26/9/2006): Espessamento pleural difuso e massa parcialmente calcifi cada no lobo inferior esquerdo

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Maio de 2007) mostrou uma redução do es-pessamento pleural e das dimensões da lesão nodular associada à pleura cisural (com o maior diâmetro transversal de 23 mm). À data da última observação, 8 de Maio de 2008, e após 14 meses de seguimento, a doen-te apresenta -se com estado geral mantido (ECOG 1), com melhoria da astenia e do

apetite (e ligeira recuperação de peso: 3 kg), com menos tosse e sem toracalgia. Mantém

rash de predomínio cefalo torácico, grau 1 -2 (NCI -CTC v3.0); teve um episódio transi-tório de mucosite grau 1. Não apresentou toxicidade gastrintestinal significativa. A rea-valiação com TAC seriadas mostrou estabili-dade da resposta ao tratamento (Fig. 4).

Fig. 4 – TAC torácica (8/4/2008): Estabilidade da resposta ao tratamento

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Discussão

Apesar de estar formalmente aprovado para uso em segunda linha no tratamento do CPNPC avançado, na prática clínica o erlo-tinib ainda é usado sobretudo em terceira linha.

Os autores expõem um caso de utilização do erlotinib em segunda linha que pretendem representativo da sua utilidade e tolerabilida-de. No presente caso, a doente, pela patologia cardíaca de que sofria, não tinha condições para tolerar a QT convencional em seguran-ça, não tendo concluído o tratamento de pri-meira linha proposto. O erlotinib foi uma alternativa colocada precocemente, já que a doente apresentava características que favore-ciam a possibilidade de resposta (sexo femini-no, não fumadora, tipo histológico – adeno-carcinoma). Após 14 meses de tratamento, a doente apresenta uma melhoria sintomática e sem impacto negativo sobre as comorbili-dades prévias. Os efeitos adversos ocorridos (nomeadamente o rash acneiforme), tolerá-veis, foram geridos sem a necessidade de re-dução ou suspensão do tratamento.

Os resultados do estudo BR.21 foram deter-minantes para aprovar o erlotinib como pa-drão de cuidado no tratamento do CPNPC avançado. Os doentes tratados com erloti-nib tiveram melhor resposta da doença (no global 8,9%, com duração média de 7,9 meses) do que os que receberam placebo (<1%), melhor sobrevida livre de progressão (2,2 versus 1,8 meses), melhor sobrevida global (6,7 versus 4,7 meses) e melhor quali-dade de vida e controlo de sintomas.3 Nos

doentes mais idosos (≥ 70 anos) o efeito be-néfico do erlotinib foi sobreponível, apesar da maior incidência e gravidade de efeitos adversos, que motivou mais frequentemente a redução da dose ou mesmo a suspensão da

terapêutica (12% versus 3% nos doentes com < 70 anos).6 O sexo feminino, a etnia

asiática, a ausência de história de consumo tabágico e o tipo histológico adenocarcino-ma correlacionam -se positivamente com a probabilidade de resposta (embora só a his-tória de hábitos tabágicos tenha impacto significativo na sobrevida global).2

A presença de comorbilidades é um aspecto que ainda não foi analisado em particular no BR.21, apenas se pode inferir pelos resul-tados apresenresul-tados com os doentes idosos. Com o erlotinib foi possível tratar uma do-ente que, apesar de não ser muito idosa e ter um estado geral razoável, tinha comorbili-dades limitantes para efectuar QT. Teve res-posta com redução do volume tumoral, que dura actualmente 14 meses, e está melhor sintomaticamente; tem toxicidade cutânea bem tolerada e desde o início do tratamento não houve intercorrências de relevo.

Este caso ilustra a importância de dispor de alternativas terapêuticas que além de efica-zes apresentem um bom perfil de tolerabili-dade. Em relação a outros fármacos aprova-dos para o tratamento de segunda linha do CPNPC, a meta -análise dos estudos já fei-tos mostra a não inferioridade do erlotinib em termos de resposta ao tratamento e so-brevida global, com a vantagem de ter um perfil de toxicidade mais favorável.4

Bibliografia

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3. Shepherd Frances A, Pereira JR, Ciuleanu T, Tan EH, Hirsh V, Thongprasert S, Campos D, Maoleekoonpiroj S, Smylie M, Martins R, van Kooten M, Dediu M, Findlay B, Tu D, Johnston D, Bezjak A, Clark G, Santa-bárbara P, Seymour L. Erlotinib in previously treated non -small -cell lung cancer. New England Journal of Medicine 2005; 353: 123 -32.

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