Floresta de signos sombrios: introdução à Amazônia de Inglês de Sousa
1Bosque de signos sombríos: introducción a la Amazonia de Inglês de Sousa Forest of sombrian signs: introduction
to the Amazon by Inglês de Sousa
AUTOR Benjamin Rodrigues Ferreira Filho* benjamin.vix@
terra.com.br
* Doutor pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil). Professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT, Brasil).
RESUMO:
Inglês de Sousa considera a Amazônia do século XIX não a partir de um olhar lírico ou deslumbrado; descreve-a como resultado de um transcurso histórico que, começando pela violência da conquista europeia, gera pobreza e degradação, em oposição à riqueza de quem, movido pela gana econômica, alcança lucro e status. Os locais amazônicos representados na obra de Inglês de Sousa trazem sempre as marcas da desigualdade social, da precariedade de infraestrutura e da disputa política. O fator político aparece como móbil pernicioso da situação de decadência e deterioração das comunidades ribeirinhas. Este trabalho convida a refletir sobre a degradação da região como resultado de ações e processos político-econômicos registrados na história.
RESUMEN:
Inglés de Sousa no presenta la Amazonia del siglo XIX con una mirada lírica o deslumbrada; la describe como resultado de un transcurso histórico que, empezando por la violencia de la conquista europea, genera pobreza y degradación, en oposición a la riqueza de quien, movido por el afán económico, alcanza lucro y estatus. Los espacios amazónicos representados en la obra de Inglés de Sousa portan siempre las marcas de la desigualdad social, de la precariedad de las infraestructuras y de la disputa política. El factor político aparece como móvil pernicioso de la situación de decadencia y deterioro de las comunidades de la rivera.
Este trabajo invita a reflexionar sobre la degradación de la región como resultado de las acciones y procesos políticos-económicos registrados a lo largo de la historia.
ABSTRACT:
Inglês de sousa considers the nineteenth century Amazon not from a lyrical or dazzled look; he describes it as the result of a historical course which, beginning with the European’s violent conquest, generates poverty and degradation, as opposed to the wealth of those who, driven by economic gain, achieve profit and status. The Amazonian sites represented in Inglês de Sousa’s books always show the brunt of social inequality, precarious infrastructure and political strife. The political factor appears as a pernicious motive of the situation of decay and deterioration of the riverside communities. This work invites us to reflect on the degradation of the region, as a result of political and economic actions and processes recorded throughout history.
PALABRAS CLAVE Ficción; Amazonia;
sociedad.
KEYWORDS Fiction; Amazon;
society.
pseudônimo “Luiz Dolzani” e lança seus textos inicialmente em folhetins.
Todos os seus livros literários são publicados no século XIX e, depois, as ocupações políticas, jornalísticas e jurídicas suplantam, em sua vida, a carreira artística (Holanda, 2007; Olivieri, 2001;
Salles, 2004). A obra dispersa do autor de O missionário requer uma pesquisa muito específica e carece de um trabalho de reunião e divulgação; suas crônicas, segundo Marcela Ferreira (2011), são híbridas, isto é, oscilam entre ciência e literatura e estão espalhadas pelos periódicos com os quais colaborou.
Nos termos propostos por Mikhail Bakhtin (1997), podemos afirmar que os livros literários de Inglês de Sousa se inter-relacionam, constituindo, entre si, um diálogo muito específico, cujos efeitos semânticos podem ser explorados pelo leitor. O diálogo entre os livros literários de Inglês de Sousa pode ser detectado por vários níveis de relações: a interdependência textual (O coronel Sangrado é a continuação de O cacaulista); a recorrência de personagens (por exemplo, o capitão Fabrício, personagem de História de um pescador é mencionado também em Contos amazônicos); algumas características da matéria linguística da narração, que parece provir de um narrador marcado por certa personalidade (como em História de um pescador e “A feiticeira”) e por um conhecimento-sentimento bem particular da região amazônica (que pode ser verificado em todos os livros).
Se levarmos às últimas consequências essa abordagem dialógica da obra de Inglês de Sousa, poderemos verificar um fenômeno “que penetra toda a linguagem humana e todas as relações e manifestações da vida humana, em suma, tudo o que tem sentido e importância” (Bakhtin, 1997, p. 42). Assim, o dialogismo presente na obra de Inglês de Sousa, ao mesmo tempo em que interliga os seus livros, pode ser relacionado com a linguagem humana em geral, com a vida;
envolve a Amazônia (mais amplamente, o Brasil e o mundo) e todo o processo histórico que gerou o contexto do século XIX, que Inglês de Sousa toma como assunto. E nada impede que o leitor pense o tempo histórico abordado por Inglês de Sousa em relação com os dias de hoje.
Nesta consideração do dialogismo na prosa de Inglês de Sousa, podemos ressaltar, ainda, que em sua ficção as localidades se intercomunicam, de maneira que um lugar está sempre em relação com vários outros; ou melhor: com todos os outros. Assim, temos, a partir da correspondência entre Belém e Manaus, a interrelação constante entre os lugares amazônicos.
O eixo Belém-Manaus ganha destaque como em “Amor de Maria”: “A sua licença estava a esgotar- se. Dentro de três dias era esperado de Manaus o vapor que o havia de levar ao Pará, deixando muitas saudades em Vila Bela” (Sousa, 2012, p. 50); mas não restringe o espaço amazônico, como podemos perceber em O missionário: “Que faria em seu lugar um desses sacerdotes espalhados pela diocese do Pará, desde a capital até os confins de Tabatinga?” (Sousa, 2001, p. 215).
Ademais, o espaço amazônico está sempre em relação com o contexto nacional, como em O cacaulista: “No tempo do seu avô, o Amazonas era uma grande coisa; vinha gente até do Ceará e do Maranhão para Óbidos” (Sousa, 2004, p. 50). Em História de um pescador aparece um personagem peruano, o qual se desloca por longos percursos: “doutor Benevides corria constantemente de Manaus para Santarém, de Santarém para o Pará, do Pará para Óbidos sem demorar-se em parte alguma” (Sousa, 2007, p. 185), de maneira que o fato de o personagem ser peruano estende para a América a noção espacial.
Recibido:
27/06/2018 Aceptado:
03/12/2019
O espaço em Inglês de Sousa inclui, portanto, a escala internacional, como em “O donativo do capitão Silvestre”: “O governo imperial, receoso de uma luta armada com a Inglaterra, apelava para o patriotismo dos brasileiros”, pontua o narrador, “e, enquanto a intervenção dos reis de Portugal e da Bélgica procurava dar uma solução amigável à pendência, tratava o gabinete de S. Cristóvão de promover o armamento do país” (Sousa, 2012, p. 60); “O ‘bacamarte’ era uma moeda de ouro dos Estados Unidos que corria então com abundância no interior do Pará” (Sousa, 2012, p. 65).
Assim, em Inglês de Sousa, os espaços onde ocorrem as ações dos contos e romances localizam-se sempre na região amazônica; uma narrativa pode se referir a uma pequena localidade, mas o parâmetro é sempre a Amazônia; uma Amazônia, pois, ligada ao contexto nacional e à dinâmica global.
Em sua obra, Inglês de Sousa põe em foco a Amazônia da segunda metade do século XIX, uma Amazônia em que os indígenas já foram praticamente submetidos e já são vistos como empecilhos ao progresso da civilização; em que a política e a economia promovem os seus estragos soberanos e a sociedade paga o preço de sua importância inferior em relação às manobras do capital, sob a ordem imposta pelo poder e pela riqueza. Aparece uma perspectiva que encara o indígena como um entrave primitivo para o progresso; e também o pobre, o negro e o mestiço são tratados como uma escória social a ser explorada economicamente, sem culpa ou hesitação por parte dos sagazes empreendedores. O cultivo do cacau, tal como abordado nas narrativas, é uma atividade econômica unicamente preocupada com o lucro, para o latifundiário, enquanto, para o pequeno produtor, não passa de um recurso de sobrevivência. O poder dos ladinos se apropria dos cargos políticos e promove uma economia que beneficia os empossados e condena a sociedade às mazelas da pobreza e da precariedade de infraestrutura. Todas essas críticas emergem da literatura de Inglês de Sousa.
Vejamos, primeiramente, o elemento indígena encarado como um obstáculo para a civilização, um estágio humano primitivo cujos costumes e saberes atrasados devem ser suplantados pelo modo de vida ocidental.
Em O missionário temos o padre Antônio, enquanto planeja e antevê, quase em delírio, sua saída evangelista para junto da tribo indígena dos mundurucus, antecipando uma intervenção católica que não leva em conta a cultura indígena como dinâmica própria e autêntica, mas sim a subjuga como manifestação pagã, selvagem e bárbara a ser superada: “Iria levar aos mundurucus a palavra sagrada de Jesus, e Deus que lê no coração, Deus que conhece e experimenta as vocações lhe daria as forças necessárias a tão grandioso cometimento” (Sousa, 2001, pp. 106-107).
A seguir, temos, na mente cristã de padre Antônio, em oposição à suposta ignorância estúpida e selvagem do indígena, seu senso de heroísmo próprio, “combatendo com paciência evangélica os furores da ignorância, o ódio dos pajés, a vingança da raça oprimida e humilhada” (Sousa, 2001, p. 107). E, finalmente, a pena irônica do personagem Chico Fidêncio conclui que “os índios são uma raça decadente e refratária ao progresso, e que, conforme já se provou na grande República Americana, só podem ser civilizados a tiro” (Sousa, 2001, p. 186).
Vemos, pois, na prosa crítica aqui considerada, que sequer aparece uma perspectiva favorável aos indígenas. O invasor europeu irrompe e traz consigo uma violência implacável, cuja razão instrumental submete as populações do novo mundo (Casas, 1984; Chaunu, 1984). As grandes conquistas que abrem a Idade Moderna apresentam uma ação econômica, fundada no mercantilismo, que se expande sem respeitar limites: “Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo terrestre. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte”
(Marx & Engels, 1998, p. 43). Sob a força do invasor, a cultura indígena é subestimada, desconsiderada, desqualificada; seus povos são atacados e dizimados; sua assimilação a desfavorece. No Brasil, o massacre operado pelos europeus e, depois, pelos próprios brasileiros, é considerado como necessário e até aceito como “normalidade”, como vimos logo acima.
Quanto à primazia de uma economia oportunista, cega e inconsequente que devora ou atropela tudo sem hesitação e que vence tudo quanto se opõe a seus escrúpulos, vejamos, em O cacaulista, a apresentação do personagem João Faria:
Tendo vindo, como tantos outros filhos de Portugal, engajado para a malfadada colônia militar de Óbidos, que devia morrer em breve pela negligência do governo e má gerência dos diretores, cedo conheceu que não lhe convinha continuar ali; e por isso logo que pôde obter o dinheiro para seu resgate e algumas mercadorias, a crédito dos seus patrícios já estabelecidos no Amazonas, começou a fazer o comércio de regatão, comércio que antigamente dava alguns lucros, mas que hoje está completamente caído (Sousa, 2004, pp. 29-30).
Notemos que “malfadada colônia militar de Óbidos” faz referência a um empreendimento que deveria desenvolver a vila; a “negligência do governo” e a “má gerência dos diretores” levam a um termo infeliz a empresa. É o esforço de sobrevivência e de estabelecimento econômico que prevalece sobre tudo, num contexto em que os conflitos e as disputas conformam verdadeira guerra.
Vejamos como este quadro econômico prefigura tanto a história de Óbidos, como, mais amplamente, a história da Amazônia, a história do Brasil, a história do mundo. A escala nacional e a escala internacional, como notamos, estão no próprio Inglês de Sousa. A Cabanagem (escalas regional e nacional) e a Guerra do Paraguai (escala internacional) são temas de Contos amazônicos. Lembrando que a Cabanagem é compreendida como “um movimento tão vasto e complexo que só pode ser entendido dentro de uma perspectiva internacional” (Ricci, 2007, p. 28).
Óbidos, como Belém e todas as primeiras localidades da Amazônia durante a colonização portuguesa, surgiu de um contexto de ocupação militar (Amaral, 2004; Tavares, 2008). Os municípios amazônicos foram inicialmente fortes de defesa. Os portugueses, para expulsar os estrangeiros, que comerciavam com os índios e que chegaram a estabelecer entrepostos no Brasil, montaram expedições armadas que visavam garantir a possessão lusitana.
Uma angustura detectada no rio Amazonas, logo pensada como ponto estratégico, que depois foi, de fato, fortificada, é que deu origem ao povoado que hoje é o município de Óbidos (Reis, 1979; Tavares, 2008). Este forte, o presídio de Pauxis, nome de uma tribo que vivia na região, foi, de fato, construído; e logo começou a apresentar problemas; ao longo da história de Óbidos, sempre enfrenta dificuldades de infraestrutura e de funcionamento e sua decadência chega a paralisá-lo (Reis, 1979).
Enquanto isso, a dominação do espaço segue, a exploração dos trabalhadores continua, a organização das cidades é sofrível. A lida por riqueza e poder é determinante e a luta pela sobrevivência exige grande esforço.
Vemos, portanto, que a labuta do personagem João Faria para se estabelecer economicamente é a reação a uma espécie de “lei do mais forte”, que obriga todos a uma peleja colossal, sendo que os derrotados vão sendo rebaixados na hierarquia social. Essa determinação econômica, como podemos deduzir da decadência do forte, está acima do planejamento urbano, do zelo pela localidade e da necessidade pública;
a organização da cidade para o bem-estar do cidadão nunca foi prioridade para a administração política que prevalece no Brasil (sempre que a ação política manifestou preocupação social, houve golpe de Estado ou algum tipo de reação violenta de fortes grupos de poder).
No âmbito da história da Amazônia, em uma perspectiva continental, Márcio Souza aponta a complexidade da organização social dos indígenas, de que o Ocidente desdenha ao longo dos tempos; ao lado disso, o histórico genocídio promovido pelos europeus e em seguida pelos brasileiros prolonga, até os dias de hoje, os seus estragos:
Quando os europeus chegaram, no século XVI, a Amazônia era habitada por um conjunto de sociedades hierarquizadas, de alta densidade demográfica, que ocupavam o solo com povoações em escala urbana, possuíam sistema intensivo de produção de ferramentas, cerâmica, agricultura diversificada, uma cultura de rituais e ideologias vinculadas a um sistema político centralizado e uma sociedade fortemente estratificada. Essas sociedades foram dizimadas pelos conquistadores e seus remanescentes foram obrigados a buscar o isolamento ou a aceitar a subserviência. O que havia sido construído em pouco menos de dez mil anos foi aniquilado em menos de cem anos, soterrado em pouco mais de 250 anos e negado em quase meio milênio de terror e morte (Souza, 2001, p. 23).
Quanto à brutalidade do modo econômico de funcionamento das sociedades, em escala nacional, Darcy Ribeiro (2007, p. 160) usa a expressão “empresa Brasil” para mostrar que a história do nosso país é, afinal, uma história de negócios invasivos e hostis:
No plano econômico, o Brasil é produto da implantação e da interação de quatro ordens de ação empresarial, com distintas funções, variadas formas de recrutamento da mão-de-obra e diferentes graus de rentabilidade. A principal delas, por sua alta eficácia operativa, foi a empresa escravista, dedicada seja à produção de açúcar, seja à mineração de ouro, ambas baseadas na força de trabalho importada da África. A segunda, também de grande êxito, foi a empresa comunitária jesuítica, fundada na mão-de-obra servil dos índios. Embora sucumbisse na competição com a primeira, e nos conflitos com o sistema colonial, também alcançou notável importância e prosperidade. A terceira, de rentabilidade muito menor, inexpressiva como fonte de enriquecimento, mas de alcance social substancialmente maior, foi a multiplicidade de microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra, que iam de formas espúrias de parcerias até a escravização do indígena, crua ou disfarçada2. Ao longo de sua história, o Brasil vai se desenhando como efeito das ofensivas desses empreendimentos competitivos, preocupados unicamente com lucro, não com a construção de uma sociedade equilibrada. Das imposições econômicas vêm os grupos de pressão e as elites oligárquicas que dominam e prejudicam o país.
Assim como apontamos as interrelações entre os livros de Inglês de Sousa e vimos que Mikhail Bakhtin indica o dialogismo presente em toda a linguagem humana, também podemos pensar em um diálogo dos tempos históricos; e a história é constituída por pressões, crises, conflitos e guerras:
Esses acontecimentos de ontem explicam e não explicam, por si sós, o universo atual. De fato, em graus diversos, a atualidade prolonga outras experiências muito mais afastadas no tempo. Ela se nutre de séculos transcorridos, e mesmo de toda “a evolução histórica vivida pela humanidade até os nossos dias”. O fato de o presente implicar semelhante dimensão de tempo vivido não deve parecer-lhes absurdo, muito embora todos nós tendamos espontaneamente a considerar o mundo que nos circunda apenas na brevíssima duração de nossa própria existência e a ver sua história como um filme acelerado em que tudo se sucede ou se atropela: guerras, batalhas, conferências de cúpula, crises políticas, jornadas revolucionárias, revoluções, desordens econômicas, ideias, modas intelectuais, artísticas... (Braudel, 1989, p. 18).
Destarte, Fernand Braudel aponta o diálogo entre os tempos históricos, o prolongamento do passado no presente. A jornada de conquista justificada religiosamente pela salvação das almas pagãs, que invade territórios habitados e dizima populações inteiras, atravessando a história como medida civilizadora e espalhando o modus operandi ocidental, como força modernizadora, será vista em geral como fluxo “normal” do tempo histórico.
Quanto à fé aliada ao colonialismo, são famosas as palavras de Pero Vaz de Caminha (2003, p. 116) sobre a Terra de Santa Cruz: “Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente.
E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar”. Também assinalam o cálculo econômico amalgamado ao cristianismo duas passagens do capuchinho francês Claude d’Abbeville, sobre a ilha de São Luís, no Maranhão: “é muito bonita e agradável, com uma das melhores terras que se conheçam, naturalmente vigorosa, extremamente fértil e capaz de produzir grande variedade de produtos e de dar grandes lucros” (Abeville, 1975, p. 47); “derramavam todos lágrimas de alegria pelo fato de sermos os primeiros a gozar dessa felicidade de entrar com confiança na terra dos infiéis, e a tomar posse desse novo reino” (Abeville, 1975, pp. 55-56).
A Igreja participa do planejamento e da execução violenta da expansão. Com a chegada dos europeus ao Brasil, cabe perfeitamente a ironia: “A piedade católica logo vai se espraiar sobre a costa invadida” (Ferreira Filho, 2009, p. 70) A pretensão do Ocidente, de acordo com o que convém a sua ambição econômica e racional, é moldar o Novo Mundo, e o mundo inteiro.
É preciso considerar esse longo processo; e levar em conta o prolongamento de experiências afastadas no tempo. No Brasil imperial e escravocrata de Inglês de Sousa, ainda sangram as feridas da época colonial. Os dias de hoje herdam os ferimentos de todos os tempos passados. No mesmo livro, Fernand Braudel expõe o teor da agressividade econômica:
Ao abrigo do surto prodigioso do algodão, a Inglaterra submerge o mercado mundial com as mais diversas mercadorias. Desse mercado mundial ela exclui os outros países. Um governo agressivo, belicoso sempre que necessário, reserva à indústria inglesa um vasto domínio em que a expansão parece não ter mais limites (Braudel, 1989, p. 348).
Catequese, conquista de territórios e avanço de mercado são facetas da operação econômica, cuja voracidade não hesita em destruir e matar. Voltando à Amazônia, sobre a exploração do cacau como recurso (parco) de sobrevivência, temos o exemplo da personagem Rosa, da narrativa “Voluntário”, de Contos amazônicos:
A velha tapuia Rosa já não podia cuidar da pequena lavoura que lhe deixara o marido. Vivia só com o filho, que passava o dia na pesca do pirarucu e do peixe-boi, vendidos no porto de Alenquer e de que tiravam ambos o sustento, pois o cacau mal chegava para a roupa e para o tabaco (Sousa, 2012, p. 17).
A abordagem do cacau como atividade lucrativa, em que o latifundiário explora o trabalhador rural e enriquece com a produção, pode ser detectada em O cacaulista, na exposição que faz o narrador do sucesso do tenente Ribeiro, que, aliás, recebe o apelido de “Apanha-tudo”:
Passava Ribeiro grande parte do dia na rede, e o dia inteiro em casa; só em algumas tardes, quando o céu não ameaçava chuva, dava ele o seu passeio, a visitar os cacauais ou a inspecionar o milho. De mês em mês, salvo as ocasiões extraordinárias, ia a Óbidos liquidar os seus negócios com o correspondente, e receber notícias mais circunstanciadas, do que aquelas que lhe davam os regatões, da Capital ou de Manaus. Mas como não lhe agradava a estada em Óbidos, voltava mais cedo que podia, e metia-se de novo na rede a conceber meios de despojar astuciosamente os vizinhos (Sousa, 2004, p. 92).
Sobre a relação entre a política e a busca por mando/desmando, propriedade e status, ou seja, sobre o latejar e a explosão de “maior ou menor desejo de poder, de riqueza, de saber e de honra” (Hobbes, 1979, p. 46), sobre a emergência e o avanço desses componentes da dinâmica política hobbesiana, já nos diz tudo a atuação do coronel Sangrado dentro do partido conservador, de que ele se orgulha de ser uma das principais influências. Sua morte, no final, por pura decepção, por se achar traído e derrotado, é um sinal de quanto é primordial para ele a referência como líder (ele, que, afinal, se revela um oportunista fracassado e ridículo). Este personagem, cujo nome dá título ao romance, O coronel Sangrado, é assim caracterizado pelo narrador:
Era o coronel Sangrado possuidor de um bom cacaual na costa fronteira, nas proximidades do Igarapé de Alenquer, tratado de meias pelo português Gonçalo Bastos, e de algumas casas na cidade, além de uma pequena fazenda de gado que tinha no lugar Maria Pixi, a que ele chamava Ilha d’Elba, apesar de ser no continente, por lá ter estado por muito tempo, quando caíra no desagrado do coronel Gama.
Com um posto elevado, presidente da câmara municipal, e reconhecido chefe do partido conservador de toda a comarca de Óbidos, era Severino respeitado de todos e em toda parte recebido com acatamento (Sousa, 2009, p. 15).
A Amazônia de Inglês de Sousa é o resultado acidental de um processo histórico que inclui: a presença anterior de indígenas nas terras conquistadas pelos europeus, que depois são nomeadas como “América”;
a violência brutal cometida contra essa população, um genocídio que se prolonga até os dias de hoje; a colonização progressiva da região; e as transformações advindas dessas operações políticas e econômicas.
Nas observações de Darcy Ribeiro (2007, p. 288), “Ao longo de cinco séculos surgiu e se multiplicou uma vasta população de gentes destribalizadas, deculturadas e mestiçadas que é o fruto e a vítima principal da invasão europeia”. O ataque racional aos índios, regido pelo processo civilizador, inviabilizou as suas sociedades, confinou cada vez mais as aldeias resistentes e tentou dissolver os grupos “selvagens” na nova corporação colonial, produtiva e comercial:
No curso de um processo de transfiguração étnica, eles se converteram em índios genéricos, sem língua nem cultura próprias, e sem identidade cultural específica. A eles se juntaram, mais tarde, grandes massas de mestiços, gestados por brancos em mulheres indígenas, que também não sendo índios nem chegando a serem europeus, e falando o tupi, se dissolveram na condição de caboclos (Ribeiro, 2007, pp. 288-289).
É pertinente pensar a colonização como uma ação “civilizadora” e perceber em sua empresa um plano político com fins econômicos (e não sociais). Nos Estudos de história paraense, de J. Lucio de Azevedo (1893, p. 94), podemos bem ver a política colocada à disposição da economia, com prejuízo para a sociedade: “N’essa ocasião, parece, era periclitante o estado dos negócios, e realisavam-se as previsões, attribuidas ao padre Bento da Fonseca. A receita não cobria as despezas, e só os directores ganhavam nas illicitas transações”3.
Adorno e Horkheimer indicam como a solidariedade se perde e como a opressão de uma minoria consegue se estabelecer e se manter sobre a grande maioria: “Aquilo que acontece a todos por obra e graça de poucos realiza-se sempre como a subjugação dos indivíduos por muitos”, ou seja, “a opressão da sociedade tem sempre o caráter da opressão por uma coletividade”; e o que importa, afinal, é “a unidade de coletividade e dominação”; não é “a universalidade social imediata, a solidariedade, que se sedimenta nas formas do pensamento” (Adorno & Horkheimer, 1985, p. 35). Nem do pensamento, nem da ação.
A dominação, portanto, é que é viabilizada; e não a solidariedade. Os torneios econômicos não buscam o benefício social. E é porque a dominação suplanta a solidariedade que os próprios sacerdotes, que deveriam, como “piedosos”, opor-se ao massacre, apoiam e abençoam a diligência ocidental contra os “bárbaros”;
e a própria população resultante do processo de expansão, sob o engodo da necessidade civilizacional progressiva, aceita até mesmo como necessário o arrasador empreendimento colonialista.
“Com a difusão da economia mercantil burguesa, o horizonte sombrio do mito é aclarado pelo sol da razão calculadora, sob cujos raios gelados amadurece a sementeira da nova barbárie”, pensam Adorno e Horkheimer (1985, p. 43). A civilização, por suas violências sutis ou ostensivas, é, portanto, bárbara. E é tão voraz, que chega a ser autodestrutiva, pois, como aponta Friedrich Nietzsche (2000, p. 272), a civilização corre perigo de se destruir por seus próprios meios. Há pretensões e ludíbrios, “Há valores, interesses, mentiras, violências, ilusões e outros agravos ocultos sob a fantasia da civilidade” (Ferreira Filho, 2008, p. 9).
A ótica de Inglês de Sousa se lança sobre o século XIX e o compreende como resultado fortuito de um processo histórico a ser detidamente considerado. A colonização portuguesa da Amazônia dá-se como continuação da colonização do Brasil iniciada em 1500 com a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral. É a chamada expansão territorial (Holanda, 2003).
A presença de estrangeiros, sobretudo ingleses, holandeses e franceses, é uma ameaça que, já no século XVI, leva a uma tentativa de estabelecimento na Guanabara, por parte dos franceses. De fato, o empreendimento da França Antártica chega a constituir uma praça, no Rio de Janeiro, que os portugueses logo querem eliminar (Léry, 2007). A seguir, agora no Nordeste, os franceses voltam a tentar se estabelecer no Brasil e são novamente expulsos (Abeville, 1975; Amaral, 2004; Garcia, 1975).
Com a decisão de expulsar os estrangeiros do Norte e ocupar a Amazônia, os portugueses se lançam aos rios setentrionais, erguendo, como vimos, os fortes que, no futuro, se transformarão em vilas e municípios (Amaral, 2004; Tavares, 2008). Óbidos, cidade natal do autor e um dos principais espaços da ficção de
Inglês de Sousa, surge daí, como Pauxis (Reis, 1979; Tavares, 2008). Surge e se desenvolve. E sua história não será diferente das histórias das problemáticas cidades brasileiras, todas elas apresentando graves problemas sociais.
O espaço amazônico, portanto, recebe especial atenção na prosa de Inglês de Sousa. Textos como Roteiro da viagem da cidade do Pará até as últimas colônias do sertão da província (Noronha, 2006), escrito em 1768, e Breve história da Amazônia (Souza, 2001) oferecem úteis panoramas para a reflexão sobre a questão espacial. Manaus (Amazonas), Silves (Amazonas), Parintins (Amazonas), Óbidos (Pará), Alenquer (Pará), Santarém (Pará), Monte Alegre (Pará) e Belém (Pará) são localidades consideradas pelas narrativas; e esses lugares, como vimos, mantêm entres si constantes relações.
Manaus (Amazonas), mencionada em diversos momentos, é a cidade natal do sacristão Macário de Miranda Vale, personagem de O missionário: “Pai não conhecera, e fora-lhe mãe uma lavadeira, tristemente ligada a um sargento do corpo policial de Manaus, desordeiro e bêbado” (Sousa, 2001, p. 15); “Macário estava em brasas, não por si, afinal era filho de Manaus, duma capital, estava acostumado a ver gente, mas pelos companheiros – coitados!” (Sousa, 2001, p. 22).
Silves (Amazonas), uma pequena cidade, situada a aproximadamente duzentos quilômetros de Manaus, é o espaço principal de O missionário: “O porto, a vila e o lago achavam-se quase desertos àquela hora.
Silves cedia à melancolia profunda das povoações sertanejas, agravada agora pela ausência de muitos habitantes” (Sousa, 2001, p. 90).
Parintins (Amazonas) é aludida como Vila-Bela, como se chamava na época. Em O coronel Sangrado, um personagem atua profissionalmente em Vila-Bela: “Aquele patife tem estado muito atrevido, principalmente depois que o genro foi nomeado subdelegado de Vila-Bela, que eu também não sei como aquela gente de Manaus caiu nessa esparrela” (Sousa, 2009, p. 16).
Óbidos (Pará), terra natal de Inglês de Sousa, bastante recorrente em sua obra, é o espaço principal de O coronel Sangrado: “Tendo passado Alenquer viajamos ainda uma noite, e ao alvorecer avistamos a colina em que está situada Óbidos” (Sousa, 2009, p. 20); “Olhem que Óbidos já é uma cidade civilizada; é preciso que os nossos vereadores se lembrem disto” (Sousa, 2009, p. 100).
Alenquer (Pará) é descrita em História de um pescador: “É Alenquer uma pequena vila, situada em uma extensa planície, à beira do Igarapé que tem o seu nome, e que não é senão um braço do Amazonas” (Sousa, 2007, p. 201); é também uma referência espacial constante: “À beira do Amazonas, algumas milhas acima de Alenquer, em um lugar em que a margem do rio fazia uma ponta que se adiantava pela água adentro em forma de cabo, existia e talvez ainda exista hoje o cacaual de ‘Santa Maria’” (Sousa, 2007, p. 177).
Monte Alegre (Pará) é assinalada em História de um pescador: “Este entusiasmo poderá dar uma ideia do que seja o Lago Grande. Aí reúne-se todos os anos a quase totalidade dos cacaulistas-pescadores dos arredores desde Vila-Bela até Monte Alegre” (Sousa, 2007, p. 110); e também em O coronel Sangrado: “Monte Alegre, donde se goza do mais admirável panorama, e onde se bebe excelente água” (Sousa, 2009, p. 20).
Santarém (Pará), importante cidade do eixo amazônico coberto pela ficção inglesiana, é sempre mencionada como um influente centro político regional. Em “A quadrilha de Jacó Patacho”, de Contos amazônicos, a comunicação comercial interliga os locais: “Vinham de Santarém e iam a Irituia, à casa do tenente Prestes, levar uma carga de fazendas e molhados por conta do negociante Joaquim Pinto” (Sousa, 2012, p. 84).
Belém (Pará) é referida repetidamente como Pará. Em O coronel Sangrado, a partir da perspectiva de quem está a bordo do vapor Madeira, “dobrando galhardamente as muitas ilhas que fecham a entrada de Belém”, a capital reluz sua elegância de sede ribeirinha: “O convés estava cheio de passageiros. A noite estava escura; miríades de estrelas brilhavam, porém, no céu, e as luzes da cidade adormecida refletiam-se nas águas da baía do Guajará” (Sousa, 2009, p. 19).
Há uma ciranda espacial, um emaranhado de correspondências entre os locais. Vemos, assim, que os livros de Inglês de Sousa, relacionados entre si, consideram um amplo espaço regional, a Amazônia. O espaço, na ficção de Inglês de Sousa, em geral, diz respeito, principalmente, ao eixo Manaus-Belém, concentrando-se o mais das vezes em Óbidos e sua circunvizinhança; mas nunca deixa de considerar a Amazônia como um todo, representada pela metonímia da fórmula “cenas da vida do Amazonas”4, o rio Amazonas (e toda a sua bacia) como manancial de sentidos históricos, geográficos, sociais, políticos, econômicos, humanos, enfim.
Todas as localidades que são consideradas na ficção de Inglês de Sousa também se relacionam entre si, ou seja, assim como há um diálogo entre os cinco livros do autor, também os espaços dialogam. Surge daí a necessidade de uma visão histórica e geográfica e de uma consideração sobre os rios e as águas, pois as pessoas interagem com águas e rios de muitos modos, entre os quais um modo afetivo de convivência, como o que Caetano Veloso (s.d., f. 2) expressa na canção “Onde eu nasci passa um rio”, do disco Domingo (gravado em 1967):
Onde eu nasci passa um rio Que passa no igual sem fim
Igual, sem fim, minha terra passava dentro de mim Passava como se o tempo nada pudesse mudar Passava como se o rio não desaguasse no mar O rio deságua no mar
Já tanta coisa aprendi Mas o que é mais meu cantar É isso que eu canto aqui
Hoje eu sei que o mundo é grande E o mar de ondas se faz
Mas nasceu junto com o rio O canto que eu canto mais O rio só chega no mar Depois de andar pelo chão O rio da minha terra Deságua em meu coração.
A interligação vital entre os habitantes de um lugar e as águas (de rios, igarapés, lagos, chuvas) é tema de uma tese de doutorado (Almeida, 2010) sobre Belém e sua umidade. O afeto pela Amazônia, somado ao domínio acadêmico, pode ser percebido no trabalho de um geógrafo (Trindade Junior, 2016). São questões que envolvem tempo, espaço e pessoas, pertencentes ao macrodomínio da Amazônia brasileira (Ab’Sáber, 2012), cujos problemas sociais e ambientais são tão imensos como as vastas terras, florestas e águas que a compõem, e que correm grande perigo (Nitsch, 2010).
A leitura de Inglês de Sousa aqui proposta requer que sejam consideradas as calamidades históricas que levaram à configuração da Amazônia (e do Brasil e do mundo) existente na segunda metade do século XIX e tematizada pelo ficcionista paraense. Esta configuração não é exatamente um resultado lógico, esmerado, razoável; ela é contingencial. É possível, pelas sendas da literatura, da história, da geografia, contemplar alguns elementos de seus desastres.
Tanto nos textos introdutórios de seus livros como nos manuais de literatura, é usual, na crítica literária, apontar Inglês de Sousa como precursor, ou mesmo iniciador, do naturalismo no Brasil, ou pelo menos aproximá-lo, inevitavelmente, dessa tendência (Bosi, 1995; Holanda, 2007; Olivieri, 2001; Salles, 2007). Há quem reclame dessa associação restritiva (Leite, 2002, p. 40) e quem opte por outra abordagem (Corrêa, 2007; Leite, 2002).
Vicente Salles (2007, p. 19) considera a obra do autor de Contos amazônicos no âmbito da literatura social e chama a atenção para “o documento sociológico que dela emerge”. Na mesma linha, Amarílis Tupiassu (2009, p. 4) sublinha que em O coronel Sangrado “pode-se constatar as mazelas de ontem persistindo nas mazelas de hoje. As correlações são flagrantes”, afirma, “Do ponto de vista político, a cidade de Óbidos de 1870 espelha qualquer cidade deste Brasil de 2009; qualquer cidade de hoje transformada em palco de embates eleitorais”.
Os textos delimitam a perspectiva; a tradição crítica elege questões e consagra temas. A linha realista/
naturalista da ficção de Inglês de Sousa tem sido privilegiada graças à efervescência de ideias científicas da segunda metade do século XIX, base estética da escola realista e de seus desdobramentos, que contagia o autor; esta perspectiva, porém, não foi aqui discutida, devido à opção por questões históricas, sociais, econômicas, atuais no século XIX e ainda hoje.
A perspectiva de Inglês de Sousa se lança sobre a vasta terra amazônica e dispõe uma ficção crítica cuja leitura pode considerar os arroubos sangrentos das batalhas humanas ocorridas ao longo da história: a expansão marítima, o mercantilismo, as colonizações, a escravidão, a ocidentalização de partes do mundo antes desmedidamente distantes da cultura europeia e que, com o imperialismo avassalador, agora serão submetidas a uma nova lógica, a uma nova ordem, a um novo modo de vida, tudo determinado pelo atropelo das exigências econômicas.
Até que o século XIX irrompa e promova o seu próprio dinamismo. É a corrida política e econômica que promove o massacre dos indígenas do Brasil e a submissão das populações mestiças englobadas por esse campo de ação inexorável, porque armado e poderoso. A hipótese desta leitura, pois, é que a ficção de Inglês de Sousa leva em conta todo esse processo e vê de modo crítico, com laivos de ceticismo e pessimismo, a Amazônia, progressivamente afetada, empobrecida e dominada pela intrepidez do “desenvolvimento”.
Assim, Inglês de Sousa observa e descreve uma floresta banhada por rios, furos, igarapés, habitada por bichos e gentes, urbanizada em alguns pontos, uma região cujos signos sombrios indicam o avanço desenfreando da ganância econômica, a exploração, a dominação, a submissão perversa de povos inteiros ou de segmentos da população, tudo regido pelo oportunismo político, de baixa qualidade (característica maior da política nacional), que gera a decadência de cidades e cidadãos e estende até o Brasil de hoje os seus efeitos nefastos.
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NOTAS
1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 e elaborado no contexto das atividades de Pós-Doutorado desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (PPGEL) da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus de Tangará da Serra. Também está ligado ao Projeto de Pesquisa “Canto em português: literaturas lusófonas”, desenvolvido na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus de Rondonópolis, por sua vez vinculado ao Grupo de Pesquisa “As vicissitudes da civilização brasileira”, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
2 A quarta esfera empresarial é “constituída pelo núcleo portuário de banqueiros, armadores e comerciantes de importação e exportação” (Ribeiro, 2007, p. 161).
3 Foi respeitada a grafia da edição.
4 Pois “inspirando-se tão-somente na Amazônia”, escreve Vicente Salles (2007, p. 25), “principalmente Óbidos e Silves, o conjunto da pequena bibliografia de Inglês de Sousa está montado num mesmo painel, corresponde a uma narração completa, articulada pelo título geral Cenas da vida do Amazonas”.
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