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A Renovação Carismática na Diocese de Santo Amaro : uma experiência de reavivação em tempos de modernidade

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA - CEFT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DA RELIGIÃO. BENEDITO CARLOS ALVES DOS SANTOS. A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA NA DIOCESE DE SANTO AMARO: UMA EXPERIÊNCIA DE REAVIVAÇÃO EM TEMPOS DE MODERNIDADE. São Paulo 2017.

(2) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA - CEFT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DA RELIGIÃO. BENEDITO CARLOS ALVES DOS SANTOS. A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA NA DIOCESE DE SANTO AMARO: UMA EXPERIÊNCIA DE REAVIVAÇÃO EM TEMPOS DE MODERNIDADE. Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte das exigências do Programa de PósGraduação em Ciências da Religião, para a obtenção do título de Mestre.. ORIENTADOR: Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos. São Paulo 2017.

(3) S237r. Santos, Benedito Carlos Alves dos A Renovação Carismática na Diocese de Santo Amaro: uma experiência de reavivação em tempos de modernidade / Benedito Carlos Alves dos Santos – 2017. 248 f.; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017. Orientador: Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos Bibliografia: f. 234-248 1. Renovação Carismática 2. Modernidade 3. Comunidades emocionais I. Igreja Católica Apostólica Romana II. Título LC BX2350.57.

(4) BENEDITO CARLOS ALVES DOS SANTOS.

(5) Aos meus genitores que sempre apostaram em mim; a todos os leitores que como eu apreciam esse assunto e acreditam que esse trabalho possa agregar algo ao meio acadêmico..

(6) AGRADECIMENTOS. A Deus, por me criar e me capacitar criar “imitando” um pouco seu “modo de fazer sempre novas todas as coisas”. À todos os Professores Doutores do Curso de Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie que ajudaram a despertar em mim o gosto pelos estudos das Ciências da Religião, colaborando com seus conhecimentos. À todos os Professores Doutores componentes da Banca examinadora que desde o processo de Qualificação do Projeto se colocaram sensíveis ao tema, dando-me pistas para a produção de uma seria Dissertação de Mestrado. Ao CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior), por ter me concedido bolsa para que pudesse concluir esse curso de Mestrado em Ciências da Religião. Ao meu Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos, que se empenhou na orientação desta Dissertação, ajudando no discernimento da escolha e definição do tema, bem como acompanhando cada etapa desse trabalho, sempre dando pistas que possibilitaram para que o mesmo chegasse à sua conclusão..

(7) Eu não sei, quem deixou no varal todo céu, pendurado no azul. Eu não sei quantas formas tem Deus, quantos véus, quantos anjos são seus. Quantos andam nus? Quantas luzes são? Pra fazer São João do Carneirinho? Tecem suas lãs, nascem seus natais, brincam nos quintais os passarinhos, dentro dos olhos teus, dentro dos olhos meus, dentro dos olhos teus, dentro dos olhos (Almerio)..

(8) RESUMO. “A Renovação Carismática na Diocese de Santo Amaro: Uma experiência de reavivação em tempos de modernidade” é a proposta de um estudo sobre o fenômeno pentecostal católico que se desponta a partir da segunda metade do século XX na Igreja Católica Apostólica Romana como uma proposta de reencantamento religioso. Hoje não é possível ignorar o fato de que o referido movimento tem se destacado, juntamente com os neopentecostais, no campo religioso brasileiro, vindo a aumentar sua expansão nas últimos três décadas. Nascido em 1967, em Pittsburg, Estados Unidos, a partir de uma experiência de um grupo de leigos da Universidade Duquesne, a Renovação Carismática chega ao Brasil dois anos mais tarde (1969), trazendo em suas bases fundacionais grande similaridade com os movimentos pentecostais de origem protestante. Com o surgimento desse movimento a Igreja Católica tem conseguido arrebanhar grande número de fiéis, com seus grupos de oração, louvores, missas para cura e libertação e megaeventos. Neles destacam-se ainda os padres cantores e cantores leigos que seguem a linha gospel. Na visão de alguns especialistas no estudo da religião, esse movimento surge com a intenção de segurar fieis dentro da próprio Igreja Católica, não os perdendo assim para o concorrente. Para outros esse movimento nasce de uma necessidade da própria Igreja Católica em se adequar a um projeto novo de evangelização já idealizado no Concílio Vaticano II, com o Papa João XXIII que propõe um aggiornamento. Este trabalho é feito com base em levantamento de dados bibliográficos, bem como de uma observação a partir de como a Renovação Carismática Católica atua na Diocese de Santo Amaro, São Paulo. Foi possível observar que a Diocese de Santo Amaro vem se apresentado como um forte polo carismático no século XXI, conquistando forte espaço na mídia. Em grande parte isso se deve ao seu grande expoente midiático padre Marcelo Rossi, seguido de outros padre cantores, com as famosas missas para louvor e cura, conseguindo arrebanhar multidões. Na Igreja Católica Apostólica Romana, paralelo à Renovação Carismática Católica vimos que surgiram outros movimentos católicos, mas nenhum conseguiu se fixar e ganhar tamanho campo de atuação e reencantamento como ela. Isso levanos a acreditar que isso possa ser resultar de sua tendência de uma religião de comunidades emocionais.. Palavras-chave: Renovação Carismática Católica, modernidade, comunidades emocionais..

(9) ABSTRACT. "The Charismatic Renewal in the Diocese of Santo Amaro: An Experience of Revival in Times of Modernity" is the proposal of a study on the Catholic Pentecostal phenomenon that emerges from the second half of the twentieth century in the Roman Catholic Church as a proposal of Religious re-enchantment. Today it is not possible to ignore the fact that this movement has stood out, together with the neopentecostais, in the Brazilian religious field, increasing its expansion in the last three decades. Born in 1967, in Pittsburg, United States, from an experience of a group of laypeople from the Duquesne University, the Charismatic Renewal arrives in Brazil two years later (1969), bringing in its foundational bases a great similarity with the Pentecostal movements of Protestant origin. With the emergence of this movement the Catholic Church has managed to gather large numbers of faithful, with their prayer groups, praises, masses for healing and liberation and mega events. In them, the singers and singers who follow the gospel line stand out. In the view of some specialists in the study of religion, this movement arises with the intention of holding believers within the Catholic Church itself, not losing them thus to the competitor. For others this movement is born of a need of the Catholic Church itself to adapt to a new project of evangelization already idealized in the Second Vatican Council, with Pope John XXIII proposing an aggiornamento. This work is based on a survey of bibliographic data, as well as an observation based on how the Catholic Charismatic Renewal operates in the Diocese of Santo Amaro, São Paulo. It was possible to observe that the diocese of Santo Amaro has been presented as a strong charismatic pole in the XXI century, gaining strong space in the media. To a great extent this is due to his great media exponent, Marcelo Rossi, followed by other priest singers, with the famous Masses for praise and healing, managing to gather crowds. In the Roman Catholic Church, parallel to the Catholic Charismatic Renewal, we have seen that other Catholic movements have emerged, but none have been able to establish themselves and gain the same field of action and re-enchantment as she does. This leads us to believe that this may be the result of their tendency to a religion of emotional communities.. Keywords: Catholic Charismatic Renewal, modernity, emotional communities..

(10) LISTA DE ABREVIATURAS. AA ASETT/EATWOT CEB’s CELAN CENPLA CNBB COESPOES COMIDI CONCCLAT CRB EC ECC GOU IAM ICAR ICCRO ITD IURD MJ MURs NN PASCOM PHN PUCRS RCC TLC TL TVCN UNE. Alcoólicos Anônimos Associação Ecumênica dos Teólogos de Terceiro Mundo Comunidades Eclesiais de Bases Conselho Episcopal Latino-Americano Centro de Planejamento Familiar Conferência Nacional do Bispos do brasil Curso de Oração e Estudo sobre o Espírito Santo Conselho Missionário Diocesano Conselho Latino-americano Conferência dos Religiosos do Brasil Encontro com Cristo Encontro de Casais com Cristo Grupo de Oração Universitário Infância e Adolescência Missionária Igreja Católica Apostólica Romana Internatinal Catholic Charismatic Office Instituto Tecnológico Diocesano Igreja Universal do Reino Deus Ministério Jovem Ministério Universidades Renovadas Narcóticos Anônimos Pastoral da Comunicação Por Hoje Não Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Renovação Carismática Católica Treinamento de Lideranças Cristãs Teologia da Libertação TV Canção Nova União Nacional de Estudantes.

(11) SUMÁRIO INTRODUÇÃO. .......................................................................................... 11. Capítulo I COMPREENDENDO AS MOTIVAÇÕES DO NASCIMENTO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA (DA REFORMA PROTESTANTE AO CONCÍLIO VATICANO II) .............................. 30. 1.1 – Antecedentes históricos ................................................................ 1.1.1 - A Reforma Protestante (1517) .................................................... 1.1.2 - A Contra-Reforma: O Concílio de Trento (1545-1563) ................ 1.1.3 - O Concílio Vaticano I (1846-1878) ..................................................... 31 31 32 33. 1.2 – Uma nova teologia e um novo “jeito de ser Igreja” ................ 1.2.1 - Definição de Teologia da Libertação: origens e limites ................ 1.2.2 - Comunidades Eclesiais de Bases (CEB’s): origens e limites ............... 36 36 39. 1.3 - O Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) ........................... 1.3.1 - A demanda por mudanças ............................................................... 1.3.2 - A Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil ........................... 1.3.3 - A surpresa de um novo Concílio .................................................... 42 43 45 51. 1.4 - Inovações trazidas pelo Concílio Vaticano II ........................... 1.4.1 – Movimentos de renovação .............................................................. 1.4.2 – Documentos do Concílio: Constituições, Decretos e Declarações ... 1.4.3 - A revitalização do catolicismo: Aggiornamento ................................. 52 53 54 56. Capítulo II O MOVIMENTO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA .................................................................................................. 60. 2.1 – Movimentos Novos: cenário pós-Vaticano II ................................ 2.1.1 – A RCC: um movimento revivacionista ............................................ 2.1.2 – O Espírito Santo: unidade na diversidade ...................................... 61 61 67. 2.2 – Fundamentação de alguns elementos estruturais da RCC ........... 2.2.1 – Os dons carismáticos na RCC ................................................ 2.2.2 – A “Teodiceia” na RCC ............................................................ 2.2.3 – A Virgem Maria na RCC ............................................................. 72 72 81 84. 2.3 – Católicos renovados e pentecostais no campo brasileiro ............... 2.3.1 – A hegemonia católica no Brasil (1500-1900) ........................ 2.3.2. - Pentecostais no Brasil (a partir de 1910) .................................... 2.3.3 – A chegada da RCC no Brasil (a partir de 1969) ....................... .. 89 89 93 97. 2.4 – RCC, carisma versus instituição ............................................ 2.4.1 - Estrutura organizacional da RCC ............................................ 2.4.2 – Secretarias, projetos e a padronização do ensino ..................... 2.4.3 - A RCC, sociedade e política ......................................................... 102 103 107 114.

(12) 2.4.4 – A RCC, Juventude e mídia. ......................................................... 120. Capítulo III A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NA DIOCESE DE SANTO AMARO .................................................................... 126. 3.1 - Diocese de Santo Amaro .................................................................. 3.1.1 A terra das “botinas amarelas” ......................................................... 3.1.2 Arquidiocese de São Paulo ....................................................... 3.1.3 - Os desafios de um começo ....................................................... 3.1.4 - Padre Marcelo Rossi, um modelo que atrai ................................. 127 127 130 134 139. 3.2 – O rosto carismático da Diocese de Santo Amaro .................... 3.2.1 – A formação do clero ................................................................... 3.2.2 - Os novos movimentos na Diocese de Santo Amaro .................... 3.2.3 - Missionários leigos com espiritualidade carismática ..................... 143 143 147 152. 3.3 – A organização da RCC na Diocese de Santo Amaro ......... 3.3.1 – Um modelo laico carismático de ser Igreja ................................ 3.3.2 – Os Grupos de Oração ................................................................... 3.3.3 – Ministérios da RCC na Diocese de Santo Amaro .................... 3.3.4 – Projetos da RCC na Diocese de Santo Amaro ..................... 159 159 162 164 167. Capítulo IV A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NA DIOCESE DE SANTO AMARO: UMA AVALIAÇÃO ................................... 171. 4.1 – A RCC como um constructo religioso do homem do século XXI 4.1.1 - Religião e coletividade em Durkheim (1858-1917) .................... 4.1.2 - A religião como arquétipo em Jung (1875-1961) .................... 4.1.3 – O homem na pós modernidade: seus encantos e desencantos....... 172 172 176 177. 4.2 – A RCC: uma religião em tempos de modernidade ...................... 4.2.1 - Modernidade, secularização e desencantamento .................... 4.2.2 – Autonomia, heteronomia e teonomia na compreensão da religião 4.2.3 – Integrismo, fundamentalismo e tendências católicas ......... 187 197 197 200. 4.3 - RCC na Diocese de Santo Amaro: à guisa de avaliação .......... 4.3.1 - A religião de comunidades emocionais ................................ 4.3.2. – RCC, TL e CEBs no século XXI ............................................ 4.3.3 – A RCC e o pentecostalismo: convergências e divergências ........ 4.3.4 – RCC na Diocese de Santo Amaro: uma avaliação ....................... 203 203 213 218 222. CONSIDERAÇÕES FINAIS. ........................................................ 227. BIBLIOGRAFIA. ................................................................................ 234. DOCUMENTOS. ................................................................................ 247.

(13) INTRODUÇÃO. A perda de força da observância, o desenvolvimento de uma religião “a la carte”, a proliferação das crenças combinadas a partir de várias fontes, a diversificação das trajetórias de identificação religiosa, o desdobramento de uma religiosidade peregrina: todos esses fenômenos são indicadores de uma tendência geral à erosão do crer religioso institucionalmente validado (HERVIEU-LÉGER – 1999).. Esse trabalho dissertativo consiste em uma observação da trajetória da Renovação Carismática Católica desde seu nascimento até os dias atuais, fazendo um recorte específico de sua atuação na Diocese de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, apontando-a como um movimento que nasce no século XX, com forte manifestação nas últimas 4 décadas. A RCC parece responder ao que define Hervieu-Léger (1999), como uma “religiosidade peregrina: uma metáfora do religioso em movimento”. O tema que engloba a RCC é bastante pertinente aos olhos da Ciência das Religiões em tempos atuais, pois proporciona grande abertura para o campo de pesquisa. Desta feita, segue como objetivo da dissertação investigar, a partir da Diocese de Santo Amaro, se há relação entre o movimento da RCC e o esforço de recatolicizar e fidelizar os católicos (especialmente os nominais) no âmbito da ICAR; investigar como nasceu a RCC e quais são as características similares existentes entre ela e os movimentos pentecostais e neopentecostais; tentar entender, a partir da observação da RCC na Diocese de Santo, como o movimento conseguiu sua expansão, diferente de outros movimentos que acabaram se diluindo no processo histórico; importante ainda aqui entender como o movimento atua na Diocese de Santo e, por fim, analisar o perfil das motivações da RCC da Diocese de Santo Amaro em termos do reavivar religioso..

(14) O tema/problema foi delimitado em pensar a RCC como parte do fenômeno relacionado ao crescimento dos novos movimentos, apresentando grande similaridade com os movimentos pentecostais e/ou neopentecostais. Com o Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja Católica intuiu a necessidade de uma renovação da Igreja e em 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA), nasce a Renovação Carismática Católica. Procura-se, então, uma resposta para a seguinte indagação: O Movimento da Renovação Carismática Católica é um mero revidar da Igreja Católica à perda de fieis para os movimentos pentecostais e neopentecostais ou ele têm sua originalidade? Seria possível, já que os carismáticos se apresentam como tradicionalistas, entender o rumo para onde caminha a religiosidade no mundo contemporâneo? Seria viável analisar estas tendências do catolicismo na Diocese de Santo Amaro e aplicá-las em âmbito não só nacional, mas também internacional? Seria viável fazer uma compreensão da RCC como um movimento de reavivação dentro da ICAR que ao mesmo tempo em que vêm ganhando vários adeptos, despertou algumas críticas dentro da própria Igreja? Seria viável concentrar-se em identificar as diferenças de pensamentos dentro da ICAR, isto é, como a Igreja Católica lida com o novo? Assim podemos dizer de nossas hipóteses: O fenômeno RCC, um movimento internacional que teve início nos EUA em 1967, tem sua originalidade e razão de ser e, não é mera estratégia para segurar fieis dentro da ICAR; a RCC responde a uma necessidade histórica social da ICAR e, por isso consegue se expandir; a RCC enfrentou algumas rejeições no início, vindo assim a ganhar afeição a partir do momento em que se adequa às normas da hierarquia; a RCC, como pentecostalismo católico, se adequa ao conceito da religião de comunidades emocionais e das religiões a la carte..

(15) Além do levantamento bibliográfico, a pesquisa tem como suporte o recorte temporal, analisando a RCC na Diocese de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Assim sendo, esse projeto se delimita a um espaço específico da atuação do RCC no Brasil. São vários os referenciais teóricos que puderam contribuir para a construção desse projeto de dissertação que tem como tema a Renovação Carismática na Diocese de Santo Amaro: uma experiência de reavivação em tempos de modernidade. Primeiramente podemos falar de Jean-Paul Willaime (2012), quando em seu livro Sociologia das Religiões, refere-se à modernidade e seus efeitos dissolventes sobre a cultura religiosa. Nesse perspectiva Willaime, leva-nos a pensar o quanto a Renovação Carismática Católica, analisada na Diocese de Santo Amaro, pode ser uma forma de resgate do sentido do sagrado perdido. Na olhar de Willaime, a secularização contribui para uma reespiritualização do religioso. Segundo Hervieu-Léger (2008), no livro O peregrino e o convertido, toda religião implica uma mobilização da memória coletiva, constituindo-se num dispositivo prático, simbólico e ideológico a partir do qual a consciência individual e coletiva de pertença a uma linha de crença é constituída, estabelecida e controlada. Com isso, pode-se dizer que os processos secularizantes enfraquecem os controles institucionais, fazendo com que novos processos de crer e pertencer se efetivem: crer sem tradição e pertencer sem crença. Seguindo a linha de pensamento ainda de Hervieu-Léger, temos Barrozo (2014), com Modernidade religiosa – Memória, transmissão e emoção no pensamento de Daniéle Hervieu-Lêger. Barrozo, retomado Hervieu-Léger, contribui para a compreensão de temas como “religião e modernidade”, “secularização e religião”. Contribui ainda em muito o autor Tank-Storper (2011), no livro Sociologia das Religiões, quando afirma que a secularização designa a transferência de uma propriedade eclesial para mãos seculares ou a passagem do religioso para a vida secular (secular remete a “no século”, por oposição ao sagrado, intemporal). Segundo Tank-Storper (2011), o principal fator da secularização é a passagem da comunidade para a sociedade. Em uma comunidade baseada em princípios comunitários a religião tem papel primordial, com vínculos afetivos fortes. Nesse sistema os bens da salvação se apresentam ligados à força de controle social, integração social, legitimação das finalidades do grupo, de canalização das emoções e da interpretação do mundo e outros. Do contrário, em uma sociedade onde reina a técnica e o.

(16) cientificismo, começam a reinar o individualismo racionalizado e com isso resulta na perda do poder religioso. Pode-se ainda olhar o sentido de carisma e instituição na compreensão do tema da RCC como uma abertura ao espírito em tempos em que o mundo se seculariza. A institucionalização em grande parte tem favorecido a perda do encantamento religioso e o carisma sempre tem lutado para se submergir. Pode-se buscar em Bourdieu um referencial teórico bastante rico que nos justifique esse pensamento. Produto da institucionalização e da burocratização da seita profética (com todos os efeitos correlatos de “banalização”), a Igreja apresenta inúmeras características de uma burocracia (delimitação explicita das áreas de competência e hierarquização regulamentada das funções, com a racionalização correlata das remunerações, das “nomeações”, das “promoções” e das “carreiras”, codificação das regras que regem a atividade profissional e a vida extraprofissional, racionalização dos instrumentos de trabalho, como o dogma e a liturgia, e da formação profissional etc.) opõe-se objetivamente à seita assim como a organização ordinária (banal e banalizante) opõe-se à ação extraordinária de contestação da ordem ordinária (BOURDIEU, 2011, p. 59-60). Peter Berger (2011), também apresenta esse mesmo conceito de secularização e pode em muito embasar o tema da Renovação Carismática Católica como uma nova proposta de reencantamento. Para Peter Berger o fenômeno do “pluralismo” é uma consequência socioestrutual de secularização da consciência. Fator esse fortemente relacionado ainda à crise de credibilidade na religião. Assim sendo, Peter Berger ajuda numa possível compreensão de como acontece a disputa religiosa em relação aos novos movimentos na sociedade brasileira. Entre RCC e demais movimentos pentecostais. Um outro autor que em muito pode ajudar no aprofundamento dessa dissertação como abordagem teórica é João Batista Libanio com a obra Cenários da Igreja (1999), quando identifica quatro cenários factíveis de percepção dentro da ICAR: a Igreja da instituição, a Igreja da pregação, a Igreja da práxis libertadora e a Igreja carismática. Leonardo Boff, Igreja: Carisma e poder (1994), na mesma linha de Libanio, apresenta quatro modelos de Igreja: Igreja como totalidade, Igreja moderna, Igreja a partir dos pobres e Igreja mãe e mestra. Assim sendo, podemos buscar nesses autores e outros, boas referências para essa pesquisa de dissertação de mestrado..

(17) A religião de comunidades emocionais é uma temática muito comum entre os pesquisadores das Ciências da Religião das últimas décadas. Trata-se de um tema atrelado ainda a outras referências contemporâneas, como secularização e desecularização, encantamento e desencantamento, profano e sagrado, expressando uma linguagem representativa do mundo religioso na modernidade. Como visto acima, Jean-Paul Willaime (2012, p. 101) e Bobineau e Tank-Storper (2007, p. 101), falam de uma religião à la carte, onde o que importa é o do it yourself, como um mercado religioso que expressa o campo atual da crença moderna. Percebe-se que não existe mais uma religião com poder hegemônico e com isso pode-se falar de pluralismo religioso. Fala-se ainda das religiões que têm enfatizado o emocionalismo em suas práticas de culto. Daí o consenso entre os estudiosos da religião de que o século XXI apresenta novos desafios para os estudos da religião. Inclusive para o estudo de fenômenos como o pentecostalismo protestante e a renovação carismática católica. Nesse contexto a RCC na Diocese de Santo Amaro se tornou um atraente e ainda inexplorado tema para se pesquisar. A pesquisa buscou compreender a Renovação Carismática Católica (RCC), como um fenômeno religioso que nasce a partir do século XX como forte expressão pentecostal e que no século XXI tem respondido aos anseios religiosos do catolicismo mundial e em especifico brasileiro. Sendo assim, não seria possível fazer a compreensão do movimento da RCC sem antes fazer uma compreensão histórica sobre o mesmo. De acordo com Harold Rahm(1974), o chamado “Movimento Pentecostal” foi considerado um fenômeno do mundo não católico, e que nestes últimos tempos tem tido sua explosão entre os católicos de muitos países. Robert C. Walton (1986, p. 78), faz uma apresentação da história da Igreja a partir do segundo século da era cristã até o século XXI. Sua apresentação denota um efeito pêndulo, hora enfatizada por movimentos de características marcadamente emocionais e hora enfatizada por movimentos de cunho radicalmente intelectual. Assim sendo, no II século vemos destacar o Montanismo (emocional), seguido pelo Gnosticismo (racional) que perpassa o II e III séculos. Do II ao X século evidencia-se o Monasticismo (emocional). Do XI ao XIV séculos prevalece Escolasticismo (racional). Do XIV ao XV século vemos despontar o Misticismo (emocional), substituído pela Reforma Ortodoxa(racional) nos séculos XVI e XVII. Os dois séculos seguintes VII e VIII são marcados pelo Pietismo e Metodismo (emocional). Os séculos XIX e XX são representados pelo Liberalismo (racional). No século XXI vemos que se destacam o Pentecostalismo, neopentecostalismo e Movimentos.

(18) carismáticos (emocional). Essa classificação de Walton (1986) faz sentido e nos ajuda a fazer uma compreensão sobre o atual período em que estamos transitando no século XXI, em que entra em evidência o pentecostalismo, incluindo a RCC, como movimentos que resgatam o emocionalismo. Que relação há entre o RCC e os vários movimentos de avivamento ocorridos ao longo dos séculos? Percebe-se que não foram poucos os movimentos que se mostraram insatisfeitos no processo histórico da Igreja. Quem é a Renovação Carismática Católica? A palavra renovação diz muito. Renovar é trazer algo de novo, deixar de lado aquilo que não faz mais sentido. O modelo que a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) apresentava aos seus adeptos não mais respondia aos anseios religiosos. O Papa João XXIII (1881-1963), teve o discernimento do tão famoso aggiornamento, anunciando o Concílio Vaticano II (1962-1965). Para se renovar era preciso abrir-se ao carisma. Surgiu então a percepção de que a hierarquia estava inibindo as forças do Espírito Santo e, com isso, engessando o carisma. Com intenção de manter os fiéis católicos abertos à ação do Espírito Santo, nasceu a RCC, dando origem assim a um significativo movimento de renovação, um movimento aberto à moção do Espírito Santo, contribuindo para uma suposta renovação dentro da ICAR no século XXI. Isso denota, afirmam estudiosos como Oro (1996), Carranza (2000), Gonzalez (2006) e outros, que a RCC, um movimento pentecostal, nasce a partir da demanda do campo religioso moderno que precisava ser reencantado pelo sagrado, uma vez que as antigas formas institucionais não mais conseguiam responder aos seus anseios religiosos. No dia 13 de março de 1989, o Papa João Paulo II (hoje Santo João Paulo II), criava a Diocese de Santo Amaro, tendo como seu primeiro bispo Dom Fernando Figueiredo. A recém criada Diocese de Santo Amaro pertencia até então à Região Central, hoje o conhecido “marco zero” da capital, onde está localizada a Catedral da Sé. Nesse período ainda eram fortes as expressões de uma Igreja comprometida com as estruturas sociais, marcadas pelas Comunidades Eclesiais de Bases (CEB’s) e a Teologia da Libertação (TL). Este era o assim chamado rosto de Igreja. Falava-se muito das Conferências de Medellín (1968) e Puebla (1979), com a famosa expressão “opção preferencial pelos pobres”. Portanto, a nova diocese trazia os fortes traços da uma “igreja libertadora”, comprometida com os pobres. Esta realidade foi o enfretamento que o novo bispo teve que fazer, com a incumbência de segurar essas frentes, resgatando a linha conservadora da então política do Papa João Paulo II..

(19) O novo bispo Fernando Antônio Figueiredo, à frente da administração diocesana, vêse com a missão de conciliar, e talvez até frear os movimentos taxados como revolucionários, ou ainda, marxistas, com a linha conservadora a que retornou a ICAR. Para isso pôde contar com as propostas da RCC que já marcava forte presença na região. Desta feita, na Diocese de Santo Amaro desponta o padre Marcelo Rossi, como afirma Veiga (2015), que já tendo passado pela experiência dos grupos de oração da RCC, traz a proposta de uma evangelização através da música. Proposta esta que foi bem aceita nos meios católicos. Em pouco tempo o padre se tornava famoso. Os espaços para as celebrações de suas missas começam a ficar pequenos. O aumento de pessoas em caravanas vindas para suas missas, com as aeróbicas de Jesus, chamou a atenção da mídia e não tardou para que o fenômeno estourasse em redes nacionais. Juntando o útil ao agradável, no dizer popular, aproveitando-se desse efeito, não tardou ainda para que a nova Diocese tomasse um rosto além de conservador, também carismático. Os gráficos 1, 2 e três nos dão uma visão geral sobre as mudanças na Diocese de Santo Amaro desde a posse de Dom Fernando Figueiredo em 1989 até o ano da celebração do seu jubileu de prata em 2014. Graf. 1 – População total e de católicos na diocese de Santo Amaro.. 3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 POPULAÇÃO. CATÓLICOS. 1989 2014. Fonte: Erguendo Altares, vidas e comunidades: 201.

(20) Graf. 2 – Crescimento de paróquias aos cuidados de padres diocesanos, sacerdotes, diocesanos, sacerdotes religiosos, seminaristas e centros sociais na Diocese de Santo Amaro.. 12.000. 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 BATISMOS (ANO). CRISMAS (ANO). 1ª EUCARISTIA MATRIMÔNIOS 1989. 2014. Fonte: Erguendo Altares, vidas e comunidades: 2014. Graf. 3 – Batismo, Crisma e 1ª Eucaristia e matrimônios na Diocese de Santo Amaro. Fonte: Erguendo Altares, vidas e comunidades: 2014.

(21) Observando o crescimento da Diocese de Santo e a expansão a RCC, podemos perguntar: quais foram os medos e incômodos apresentados pela Renovação Carismática Católica para a ICAR enquanto instituição? Toda instituição, por mais segura que seja, sempre tem uma preocupação em relação à uma perda de controle sobre os movimentos que dela possam surgir. O nascimento do RCC também trouxe para a ICAR suas preocupações. Mas aos poucos, em nome da prudência, a ICAR conseguiu, a seu modo, institucionalizar o movimento RCC, trazendo-o para debaixo de seu controle. A renovação que a RCC pretendia era para todos os membros da ICAR e portanto, não tinha a pretensão de se tornar mais um movimento. Para que conseguisse ficar, precisou estruturar-se, de forma que sua proposta de renovação ficasse sob a égide da instituição. Em 1994 víamos nascer o Documento 53 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que em sua 32ªAssembleia Geral discutiram as questões da RCC no Brasil e delimitaram suas ordens. Ali os bispos representantes da CNBB compuseram as Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. De alguma forma, o movimento da RCC conseguiu se colocar observante à doutrina. Pelo que tudo indica, seguiram na obediência à Igreja Católica e com isso puderam manter um padrão de comportamento que não viesse a provocar heresias e desconforto à antiga instituição. Alguns grupos se desvirtuam um pouco gerando certo desconforto, mas são logo rechaçados. Há uma expectativa que os membros da RCC tenham uma experiência especial com o Espírito Santo que os pentecostais chamam de “batismo com o Espírito. Nos grupos de oração são estimulados momentos emocionais com grande espontaneidade, glossolalia, orações espontâneas e outras manifestações muito similares aos movimentos pentecostais clássicos e muitas vezes até mais próximo aos neopentecostais, diferenciando-se, no entanto, pela obediência ao Papa, devoção a Eucaristia e a Virgem Maria. Entre os membros da RCC é comum que haja ainda uma mistura a outros grupos conservadores no resgate ao uso do véu para as mulheres. Um outro ponto que os aproxima dos pentecostais está na questão da atribuição do mal a demônios ou espíritos malignos. Servem-se para isso de momentos de oração de cura com imposição das mãos. É comum assistirmos relatos de revelações pelos membros dos grupos, estimulando o indivíduo a buscar a conversão..

(22) O Batismo no Espírito, efusão do Espírito Santo ou ainda derramamento do Espírito Santo é a palavra de ordem na RCC. Dessa experiência deve nascer o homem novo carismático, membro do movimento. Dessa efusão o indivíduo deve fazer a experiência de um nascer de novo, uma vida nova, recebendo os dons e carismas. Esses dons e carismas são usados dentro da experiência dos grupos. Pode-se falar do dom da cura, muito prometido entre os membros da RCC. A este respeito, a CNBB, no Documento 53, faz uma alerta para que entre os membros da RCC não se “adote qualquer atitude que possa resvalar para um espírito milagreiro e mágico, estranho à prática da Igreja Católica”. Orar e falar em línguas é outra prática entre os membros da RCC, seguido do dom da profecia. Pede ainda a CNBB, Documento 53, que “haja grande discernimento quanto ao dom da profecia, eliminando qualquer dependência mágica e até supersticiosa”. Assim sendo, aos poucos, a ICAR cerceia a RCC numa forma de controle. Em seus encontros de orações, os membros da RCC, numa tentativa de supervalorizar o espiritual, as orações, os dons e carismas, servem-se das música como aparato sensibilizador. Dificilmente vamos encontrar um momento de oração de membros da RCC que não tenha a música como mobilizador de sensibilidade emocional. Por isso, grande é o número de bandas de músicas católicas que nascem nas paróquias em que existe grupo da RCC. Na Diocese de Santo Amaro, percebemos o grande número de bandas religiosas, compostos por jovens. Dos trabalhos paroquiais surgem os megaeventos, com participação de bandas carismáticas. Esse trabalho tem atraído muitos jovens. Os trabalhos da Canção Nova, Cachoeira Paulista, SP, evidenciam também o quanto a música é um forte fator de evangelização da RCC. Canção Nova, um trabalho iniciado pelo padre Jonas Abib que tem por objetivo, segundo os seus organizadores, atrair os jovens para a pessoa de Jesus Cristo. Segundo Oliveira (2014, p. 123), “periodicamente, nos fins de semana, católicos carismáticos simpatizantes, entre outros, reúnem-se para grandes eventos de massa (encontro/retiro com palestras, shows, missas), a maioria deles conhecidos como acampamento”. Criaram ali uma técnica chamada PHN (Por hoje não), com bastante sucesso na evangelização dos jovens. Em linhas gerais, convocam o jovem para uma santidade radical. Os temas namoro e sexualidade são apresentados de forma conservadora, ou seja, reproduzindo os padrões morais e éticos religiosos. Termos como “ficar, preservativos e sexo antes do casamento”, são apresentados de forma a seguir os modelos impostos da Igreja Católica..

(23) Outros trabalhos ainda são percebidos emergir dentro das universidades, os chamados MURs (Movimentos Universidades Renovadas). A partir dos MURs surgem os GOUs (Grupos de Oração Universitários). Os GOUs existem com a finalidade de promover dentro das universidades encontros de oração, louvor e anúncio da Palavra. Os adeptos da RCC acreditam que ali acontecem experiências de derramento dos dons carismáticos, como aconteceu em Duquesne em 1962, provocando entre os jovens a acolhida, a vivência do perdão, sem deixar de enfatizar a promessa de curas. Enfatizam aos jovens que a “salvação vem de Jesus e o consolo do Espírito Santo”. Sendo a música uma estratégia para atrair a juventude, não ficam de lado os meios de comunicação social usados pela RCC. Conforme Barret (2009, p. 507), a força dos movimentos pentecostais/carismáticos está no fato de fazerem uso dos meios de comunicação. Os carismáticos costuma aproveitar bem as oportunidade globais do rádio, da televisão, de filmes” e outros. O bispo da Diocese de Santo Amaro, juntamente com padre Marcelo, souberam explorar os meios eletrônicos. O padre Marcelo Rossi, estudado por Carranza (2000), tendo sempre ao seu lado o bispo diocesano, foi disputado pelas grandes emissoras de rádio e televisão. O sucesso midiático foi tão grande que com a venda de suas produções musicais, Marcelo Rossi, pôde ajudar nas obras das cassas de formação da Diocese de Santo Amaro. Segundo tudo indica, como aponta Valle (2004), a RCC veio para ficar. Levando em consideração a pertinência e importância da RCC no século XXI e de como ela serviu de alavanca para Dom Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro, na reestruturação da nova diocese (1989-2016), é que veio o estímulo para essa pesquisa. Buscou-se, com base na literatura identificar o que vem a ser fenômeno pentecostal presente na RCC, e como ela responde à demanda do mercado religioso pluralista. Trazer esse tema como uma dissertação de Mestrado em Ciências da Religião é favorecer o campo científico com um olhar novo para uma tentativa de entendimento de como a história, por um período denominada de fase do “desencantamento” faz uma reviravolta para a fase do “reencantamento”, usando-se da “religião de comunidades emocionais”. Com isso pode-se trazer uma proposta nova de que a estrutura social se adapta e cria novas formas numa tentativa de resposta às demandas de sua época. A RCC na Diocese de Santo Amaro como objeto de estudo, pode ajudar na comprovação de que um movimento, em um dado momento histórico, representa uma proposta nova, e com isso não deve ser ignorado..

(24) Observa-se que muitas vezes o senso de instituição pode manter engessada estruturas que se tornam milenares. O presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema, mas contribuir para uma possível compreensão do mesmo. A religião pode ser vista como “memória coletiva”, no conceito de arquétipos apresenta por Jung, ou como uma construção do social como expressa Durkheim. Retomando o sentido a que trabalha Danièle Hervieu –Léger, tratado em especial por Barrozo (2014), os movimentos pentecostais e neopentecostais, e carismáticos para o catolicismo, respondem à busca do sentido religioso moderno. A religião passa então, conforme Barrozo (2014, p. 129), por quatro dimensões: dimensão comunitária, ética, cultural e emocional. Assim sendo, hoje vemos despontar fortemente a dimensão emocional nesses movimentos modernos. Estamos no tempo do imediatismo, do descartável, do utilitarismo e a religião teve que se adaptar e essa realidade. A modernidade não perdoa, ela atropela. A religião tornou-se a religião do self-service, ou ainda a religião à la carte. O homem moderno não quer mais pensar, não quer mais esperar. Ele quer respostas rápidas, pois para esperar não tem mais tolerância. Uma chave de leitura bastante importante para nosso tempo moderno pode assim ser entendido: excesso de passado pode nos levar à “depressão”; excesso de presente gera “estresse” e excesso de futuro nos leva à “ansiedade”. São nossas doenças modernas. Sendo assim, na concepção do homem moderno, a religião que não ajuda a despontar a sensibilidade emocional interna não contribui. Este trabalho está composto por quatro capítulos, tentando trazer uma panorâmica histórica que possibilite compreender o nascimento, desenvolvimento e atualidade da RCC no campo religioso brasileiro, especificamente na Diocese de Santo Amaro, São Paulo. O primeiro capítulo, Alguns expoentes que antecedem o surgimento da Renovação Carismática Católica, faz um resgate da história, na tentativa de sensibilizar o leitor para a consciência do descontentamentos que os adeptos da religião hegemônica, ICAR, estavam trazendo há muito tempo. A Reforma-Protestante (1517) passou a ser a mais conhecida marca desse descontentamento. Com Matinho Lutero (1483-1546) temos um termômetro desse descontentamento. Lutero deve ser interpretado como uma faísca em barris de pólvoras, prestes a explodir. Logo após os acontecimentos da Reforma-Protestante, houve uma tentativa da ICAR em se reestruturar da queda. Mas pelo que tudo indica, forma tentativas que não apresentaram mudanças na ICAR. Foi a conhecida Contra-Reforma, o Concílio de Trento (1545-1563), convocado pelo Papa Paulo III (1468-1549), expressando um fechamento da.

(25) Igreja Católica às demandas da Reforma-Protestante. Ao invés de se abrir, a ICAR se defendeu e firmou mais ainda seu instinto de poder, fechando-se numa atitude de prepotência. Ao término desse concílio já não estavam mais vivos Martinho Lutero e Paulo III. Tempos depois vemos acontecer o Concílio Vaticano I (1869-1870). Esse Concílio também não representou mudanças significativas no que tange à abertura da Igreja Católica às demandas de uma renovação religiosa significativa. Pelo contrário, declara o dogma da Infalibilidade Papal, na tentativa de defender os fundamentos da fé católica. Com isso passa a condenar os erros das três correntes modernas da época: racionalismo, materialismo e ateísmo. Pode-se perceber que entre o Concílio Vaticano I e o Vaticano II, a humanidade vê nascer o processo da modernidade. Emerge no campo religioso o “fantasma do progresso” e a Igreja Católica não quer lidar com essa questão. Pio X escreveu a encíclica Pascendi dominici gregis (1907), contra as doutrinas modernistas. As lutas contra o Estado iluminista foram inspiradas ainda na Reforma Tridentina. Lutas essas que não forma das mais fáceis. Contra os erros modernos, a ICAR se posicionou criando conhecida “Nova Teologia”, ou ainda a conhecida “nouvelle théologie”. Não foram poucas as críticas que a ICAR recebeu nessa época em relação às suas questões dogmáticas. Depois de passados praticamente 445 anos é que se vislumbra uma nova esperança para a ICAR, quando o Papa João XXIII, na tentativa de responder aos anseios da modernidade, convoca um novo Concílio, o Vaticano II (1962-1965). Um concílio que causa espanta, apesar de fazer parte de esperança de muitos. Não se pensava que depois do Dogma da Infalibilidade um papa precisasse ainda convocar um concílio. Mas João XXIII pensava em um aggiornamento dentro da ICAR. Mudanças que já eram esperadas por tanto tempo. Algumas questões já estavam tão fossilizadas que até pareciam impossíveis de serem mudadas. Novos movimentos puderam emergir dessa abertura da Igreja Católica, mas, aparentemente só prevaleceram os que se colocaram na obediência às normas conservadoras. O grande mentor dessa transição foi o Papa João Paulo II (1920-2005). A revitalização da ICAR ficou reduzida a alguns movimentos de cunho conservador. O Concílio Vaticano II apresentou uma continuidade ou uma descontinuidade com o que a ICAR era antes? Essa foi a interrogação de muitos estudiosos da religião quando olhado para a questão do Concílio Vaticano II. Concomitante aos acontecimentos do Concílio vemos que a Igreja Católica no Brasil já se organizava nas bases movimentos de luta social. Vemos ai surgir as CEB’s na Amarica Latina. Logo depois do Concílio vemos surgir a TL, numa.

(26) proposta de uma teologia sensível aos pobres, ao sofredor. Portanto, existe um desconforto entre a Teologia europeia e a Teologia Latino-americana. Já não queriam os teólogos viver uma única teologia, construir uma nova teologia com base na realidade do povo. Nesse primeiro capítulo pergunta-se ainda quem era o crente da modernidade. O Concílio tinha uma preocupação em responder às questões do sujeito enquanto fiel que se apresentava perdido no mundo da modernidade secularizada. Em 1952 é constituída a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e logo depois, em 1954 nascia a Conferência dos Religiosos do Brasil.. São dois órgãos expressivos dos. trabalhos da ICAR no Brasil. A Ação Católica esteve organizada em “setores especializados” da ICAR no Brasil e com isso pôde influenciar mais diretamente sobre o nascimento da CNBB. Todos esses acontecimentos denotam uma grande possibilidade de renovação dentro da ICAR, onde vislumbra-se a descentralização do poder em Roma. O esperado aggiornamento de João XXIII teria acontecido se as propostas de Concílio não fossem aos poucos sendo fechadas pelos sucessores de João XXIII, culminado em João Paulo II como o papa mais contribuiu para levar a ICAR ao conservadorismo. Acolheu a nova primavera, com os novos movimentos, mas fez com que se institucionalizassem aos moldes conservadores da Igreja do século XX. No segundo capítulo, O Movimento da Renovação Carismática Católica (RCC), podemos ver o surgimento dos novos movimentos dentro da ICAR. Eles nascem das demandas de mudanças da modernidade. Para se compreender os movimentos da RCC é preciso ainda fazer a compreensão do que seja um movimento. Por isso, nesse capítulo é dedicado uma atenção para autores que ajudam a compreender os Novos Movimentos Religiosos (NMR). Entre eles vemos despontas, como um sopro de renovação, a RCC no ano de 1967, logo após o evento Concílio Vaticano II. Por isso a RCC é vista como uma resposta ao pedido de João XXIII ao aggiornamento. Esse movimento surge das experiências pentecostais entre os jovens na Universidade de Duquesne (EUA). Um movimento que esteve paralelo a outros movimentos dentro da ICAR, a saber, Comunidades Eclesiais de Bases (CEB’s) e Teologia da Libertação (TL). Esses últimos movimentos para não terem conseguido se emplacar devido à sua forma laica de se colocar frente ao social, condenados por alguns, como movimentos de pouco oração. Diferentemente dos grupos que fazem frente mais social, a RCC tem características de grupos que rezam muito, deixando-se mobilizar pela presenta do Espírito Santo. A.

(27) experiência do Batismo no Espírito, ao estilo das primeiras comunidades cristãs, é o convite especial para o ingresso nos Grupos de oração da RCC espalhados por todo o mundo. Com isso enfatizam os dons carismáticos, como cura, falar em línguas e outros. A definição de mal para os carismáticos é muito similar aos costumes pentecostais, enfatizando a necessidade de negar as obras do maligno. A figura da Virgem Maria tem sido muito forte expoente de espiritualidade carismática, apresentando o diferencial com as igrejas pentecostais e em específico as neopentecostais. A RCC surge como um movimento revivacionista que adentra o século XXI, trazendo para dentro da ICAR uma experiência tipicamente pentecostal, pois ela é traduzida por seus membros como um sopro de renovação provocado pelo Espírito Santo. Conforme Hocken (2009, p. 291), falando do acontecimento de Duquesne no ano de 1967, “poucos católicos haviam sido batizados com o Espírito Santo até 1967. (...) o fim de semana na casa de retiro A Arca e a Pomba, representou oficialmente o início do movimento de renovação carismática entre os católicos”. Essa fala de Hocken deixa subentendido que a RCC é uma herança direta dos pentecostais. Em Duquesne há uma transmissão do Espírito Santo para os católicos e a renovação começa a acontecer dentro da ICAR. Os dons carismáticos passam a ser valorizados como experiência de conversão. Começam os católicos também a falar em línguas, a profetizar, a curar, ou seja, a fazer como os pentecostais. Desde a colonização (século XVI) até a instalação da República (1889) a ICAR esteve ligada ao Estado brasileiro. Porém, na segunda metade do século XX começou a haver queda crescente no número de católicos. O Brasil tornou-se um campo fértil para acolher os movimentos pentecostais. As batalhas enfrentadas pelos missionários protestantes não foram poucas. No ano de 1910, já vislumbramos os primeiros pentecostais no Brasil. Alguns autores vão dizer das três ondas dos pentecostais no Brasil. A RCC chega no Brasil, trazida pelos jesuítas Eduardo Dougherty e Harold Joseph Rahm nos anos 1969-70. Nesse segundo capítulo ainda é possível ver como que um movimento que atribui a si mesmo a unção do Espírito Santo teve que se institucionalizar para não perder seu espaço dentro da ICAR. Talvez esse tenha sido também a causa de separação entre os padres Eduardo Dougherty e Harold Joseph Rahm. O que era para ser apenas um avivamento acabou se transformando um mais um movimento, padronizando o seu método de ensino e formando suas diversos ministérios em projetos organizados em diversas secretarias de trabalho. Para uma melhor estrutura organizacional da RCC vemos nascer o documento “Ofensiva.

(28) Nacional” do ano de 1993. Este documento “via o crescimento qualitativo da RCC, frente à linha de Evangelização à luz da “Conferência de Santo Domingo”1 e das orientações da Igreja. A RCC, com a preocupação de se adequar às exigências da ICAR, na tentativa de não criar nenhum celeuma, buscou se estruturar cada vez mais. Com o intuito de realizar as “diversas expressões de serviços, criou, junto ao projeto de Ofensiva Nacional as diversas Secretarias de Projetos.. Ao tratar do tema sociedade e política, vemos que seguem as. Doutrinas Sociais da Igreja. Na política, coloca-se bastante conservadora e seu envolvimento com algum político se faz na busca de algum favoritismo. Nas últimas eleições houve uma melhor tentativa de um impulso para candidatos cristão católicos lançados pela própria RCC. Acreditam seus membros que o papel da Igreja é o de conscientizar o cristão e não apontar para ele esse ou aquele candidato. A juventude e os meios de comunicação são ainda dois elementos fundamentais para a RCC. Através da música buscam atrair a juventude para um caminho da santidade radical. “ou santo ou nada” é a palavra de ordem. O projeto Canção Nova, com expoentes como Jonas Abib e o cantor Dunga, passou a ser o ponto regencial da juventude. Os meios eletrônicos servem de impacto em disputa com frente aos meios de evangelização de outras denominações religiosas. No terceiro capítulo temos A Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro, onde é feito um recorte do trabalho, olhando como a RCC se coloca em um Igreja Particular. Em 1552 era erigida a capela em honra a Santo Amaro, quando o “casal português João Paes e Suzana Rodrigues”, procuraram José de Anchieta para que pudessem doar a imagem para o intento. Para compreender a Diocese de Santo Amaro é preciso antes compreender sua ligação e desmembramento da atual Arquidiocese de São Paulo. Em 1745, tempos remotos, a Diocese de São Paulo foi desmembrada da Diocese do Rio de Janeiro pelo Papa Bento XIV, com a Bula Candor lucis aeternae, e no ano de 1908, (163 anos depois), o Papa Pio X eleva a. 1. A Quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizou-se em Santo Domingo, na República Dominicana, no período de 12 a 28 de outubro de 1992. João Paulo II a convocou oficialmente no dia 12 de dezembro de 1990, estabelecendo como tema: "Nova evangelização, Promoção humana, Cultura cristã", sob o lema: "Jesus Cristo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8). Disponível in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quarta_Confer%C3%AAncia_Geral_do_Episcopado_Latino-Americano. Acesso em 16/06/2017..

(29) Diocese de São Paulo à Arquidiocese, com a Bula Dioecesium Nimiam Amplitudinem. A partir de 1967 as regiões episcopais começaram a ser organizadas na Arquidiocese de São Paulo. Em 1989 Santo Amaro foi erigida diocese, tendo como seu primeiro Bispo Dom Fernando Antônio Figueiredo. Na visão conservadora de alguns, a Diocese de Santo Amaro nasce em um contexto sócio-político bastante crítico, em que os movimentos sociais faziam frente emergindo entre o clero e bases leigas. As novas dioceses fundadas nessa época herdavam as marcas deixadas pelo trabalho do Cardeal Evaristo Arns, como um líder religioso envolvido com o lado social. Isso não deixou de influenciar a região santamarense, o que seria o futuro território onde se instalaria a nova Diocese. As CEB’s eram bastante representativas e o campo de ação da Igreja católica, envolvida com o social, fazia parte da realidade da qual o novo bispo diocesano deveria fazer sua atuação. No início de seu ministério pastoral na nova diocese, Dom Fernando Antonio Figueiredo teve que enfrentar o que chamavam de uma “igreja inserida no meio dos pobres e comprometida com o social, Igreja militante ou progressista”. Devido a resistir a esse “jeito de ser igreja”, o novo bispo foi taxado de conservador. Seu enfrentamento foi o de se colocar seguro da missão de quebrar esse esquema de igreja onde emergiam os leigos e imprimir um caráter mais clerical. Seu intento deu certo. Pôde contar com o apoiou do que veio a ser o fenômeno carismático padre cantor Marcelo Rossi. Em pouco tempo, como modelo midiático o padre começou a arrastar multidões e a atrair muitos jovens vocacionados à vida consagrada para a nova diocese. Em pouco tempo cresceram em números consideráveis os números de formandos na Diocese de Santo Amaro. Com isso foi possível também criar novas paróquias na diocese. Atualmente a Diocese de Santo Amaro conta aproximadamente 2.800.000 habitantes, sendo aproximadamente 1.900.000 católicos. Possui 112 paróquias distribuídas em 11 setores diocesanos, aproximadamente 200 padres, 170 religiosos e 190 religiosas 2. Em pouco tempo a nova Diocese, que antes era voltada ao social, aos moldes do seu antigo Cardeal Evaristo Arns, se transformando no mais famoso “polo carismático”. A Diocese criou um rosto carismático e esteve, juntamente com seu maior representante Marcelo Rossi, em ibope na mídia. A partir de 1995, de “12 seminaristas a Diocese de Santo Amaro passou para 45 em 2004”. Isso significa um crescimento de 375% que se deve à ação da RCC com grupos de 2. Disponível in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Diocese_de_Santo_Amaro. Acesso em 19/6/2017..

(30) oração de jovens, com seu incentivo às bandas juvenis, sobretudo através de festivais diocesanos de músicas carismáticas, afirma Souza (2005, p. 91). Pode-se dizer ainda, segundo as pesquisas de Souza (2005, p. 92), que em quanto a arquidiocese de São Paulo, de 1996 a 2000 ordenava 60 presbíteros, a Diocese de Santo Amaro formava 15 somente em 2001. São dados bastante relevantes para entender como Marcelo Rossi e RCC serviram de alavanca para impulsionar o avanço da Diocese. Junto a tudo isso a RCC também ganhou seu espaço e alçou voo. São várias as paróquias procuradas pelos fiéis por causa de suas missas para louvor e cura. Sem contar com as diversas comunidades de vida carismáticas ali formados ou vindas de fora recebidas por Dom Fernando. Interessante é que os leigos conseguiram se adequar a esse jeito de ser igreja que se deu em consequência das manobras tomadas. São muitos os grupos nas paróquias em que as mulheres fizeram uma volta ao uso do véu. Os seminaristas desde cedo aderem ao uso da batina. Em algumas paróquias até mesmo os croinhas passaram a usar a batina para os serviços do atar, de forma que essa função foi proibida para as meninas. No quarto capítulo procura-se fazer Uma avaliação do reavivamento da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro, trazendo primeiramente os conceitos de religião e coletividade apresentadas por Durkheim (1858-1917), numa tentativa de entender o sentido social da RCC na Diocese de Santo Amaro. Também a compreensão de religião como arquétipo de Jung (1875-1961), vem ajudar no entendimento da busca de sentido religioso que o humano tem. O homem, no percurso da história sempre deixou marcas de que é um ser religioso e que sempre buscou o sentido da religião com seu próprio sentido. Por mais que a história seja marcada entre afirmar e negação de Deus, as evidências é que só o homem social pode dar sentido ao religioso uma vez que ele marca sua própria história com os rituais. O mito é a tentativa de explicar aquilo que não tem como ser explicado, o “sagrado”. Nem tudo o homem explica, penas vivencia. A religião dá o sentido aquilo que não se pode explicar. Por isso, o sentido de religião não pode ser reducionista. “Qualquer análise do campo religioso” tem que ser “plural: história, sociologia, etnologia, filosofia, ciências políticas, etc., onde cada um possa fazer um olhar específico”. A ICAR interpretou o processo de secularização como “ateísmo” ou tentativas de uma “cosmovisão não-religiosa”. Interpreta, por exemplo, que “Buda tenta resolver o problema da dor sem apelar para Deus” e que Marx e Comte teriam feito a mesma coisa. Um outro expoente do ateísmo foi Freud, quando. Como para Marx a.

(31) religião seria “ópio do povo”, um meio de acalmar e de controlar, para Freud a religião seria poderia ser uma ilusão, expressão de uma neurose e imaturidade psíquica (regressão), segundo Küng (2010, p. 66). Ainda nesse capítulo é possível fazer uma compreensão dos termos secularização e desencantamento, sagrado e profano apresentados em estudos das Ciências da Religião. Segundo alguns autores, a secularização tem tudo a ver com o processo de emancipação do homem moderno. É um processo em que homem fica adulto e não mais precisa de algum que lhe segure as mãos. Essa independência pode fazer bem e outras vezes pode também maltratar. É como a adolescente. Ao mesmo tempo que quer se auto afirmar, não consegue se distanciar dos pais. Sendo assim, traz suas consequências. Ganhos e perdas estão envolvidos no processo de maturação, seja ela qual for. A secularização é o processo laico do Estado, ou como vão dizer Olivier Bobineau e Sébastien Tank-Storper (2011, p. 11), “portadora de duma fé na onipotência, as luzes do século XVIII abrem a possibilidade de uma história humana emancipada da tutela divina”. Assim a secularização possibilitou o pluralismo religioso, por mais que ainda tenhamos os integristas e os fundamentalistas. O trabalho de burocratização das instituições tendem a fazer uma busca pelo marketing como necessidade de manutenção de seu capital. O pluralismo religioso demanda de um trabalho de Marketing. O mercado simbólico precisa ser perpetuado. Na composição desse trabalho pudemos avaliar o que escreve Bitun no seu livro Mochileiros da fé (2011), a respeito do “peregrino” da sociedade de hoje que busca os diversos mercados religiosos. A esse visão apresentada por Bitun, faz-nos ainda pensar Bourdieu (2015, p. 59), quando escreve sobre o tema “autonomia relativa do campo religioso como mercado de bens de salvação”. Para Bourdieu não seria possível hoje negar a necessidade de uma “gestão do depósito de capital religioso (ou sagrado) produto do trabalho acumulado” nas instituições religiosas. A RCC se estruturou com seus diversos ministérios (serviços), fazendo assim com que toda a Diocese de Santo Amaro recebe-se um rosto carismático. A pesquisa aponta que ao todo são 68 paróquias que na Diocese têm seu grupo de oração. Não se pensa o clero sem a dinâmica carismática. Poderíamos então nos perguntar: que condicionamentos isso traz para a Diocese? Ou seja, uma atuação tão marcadamente carismática, poderia ser limitante para a atuação global da Diocese de Santo Amaro? Poderíamos perguntar ainda: como ficam os.

(32) outros movimentos ou frentes de trabalhos pastorais da Diocese? São questões que merecem um olhar crítico. Por fim, buscou-se fazer um breve olhar para o conceito de religião de comunidades emocionais, características marcantes dos pentecostais e do movimento da RCC. São grupos fortemente marcados por uma religião voltada para o despertar emocional do indivíduo, fazendo com que ele não precisa pensar seus problemas, mas deixar apenas se levar pelas momentos de louvor e adoração proporcionado pelos atuais grupos de oração. A música tem sido o forte aliado para esse dinâmica de oração e modo de ser religioso. Pode-se ainda pensar sobre as religiões à la carte que respondem ao desejo religioso do homem moderno imediatista que quer tudo para ontem, sem querer sofrer as demoras do curso natural da vida. Assim gerou-se mercado religioso de oferta e de procura.. Cap. I COMPREENDENDO AS MOTIVAÇÕES DO NASCIMENTO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA (DA REFORMA PROTESTANTE AO CONCÍLIO VATICANO II). Varinha mágica que faz as coisas aparecerem por encanto só em contos de fada. A vida reage ao “estímulo” de uma ação. Antes de colher é necessário plantar. Para fazer é preciso tentar. Tentar é ter espírito aberto e criativo, isto é, disposto a não perder oportunidade. Desta forma nunca fica na espera de algo, antecipa sua realização por estar atento, ou seja, provoca a situação para fazer a coisa acontecer. Quem age assim prefere fazer a encontrar pronto. Quem nunca tenta, nunca vai saber se é capaz. (Nenevê – 2007).. Introdução Esse primeiro capítulo tem como fundamento buscar compreender que sinais históricos dentro da ICAR apontaram para um descontentamento religioso capaz de receber a.

(33) proposta da RCC, possibilitando sua atuação a ponto de ocupar significativo campo religioso no século XXI como uma proposta de reavivação. Entre eles podemos citar a Reforma Protestante, a Contra Reforma, também compreendida como Concílio de Trento e o Concílio Vaticano I. O Concílio Vaticanos II foi o principal expoente na ajuda de compreensão de um cenário do mundo religioso católico capaz de acolher o movimento da RCC, quando João XXIII interpreta o momento histórico como a necessidade de um aggiornamento para a ICAR do século XX. Nesse período vemos ainda se destacar a Teologia da Libertação (TL) e as CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) como um jeito de ser Igreja na Amarica Latina. Esses movimentos, no Brasil, significavam uma Igreja militante, de base. Em um mundo em evolução, vemos emergir a modernidade, provocando mudanças no campo religioso.. 1.1 – Antecedentes históricos 1.1.1. - A Reforma Protestante (1517). Quando a Reforma Protestante teve início (1517), havia um antigo descontentamento dentro da Igreja. Por isso a Reforma se tornou um acontecimento histórico marcante, demostrando sinal de descontentamento e, por sua vez, uma necessidade de mudança na Igreja. Sendo assim, não há como negar que a Reforma Protestante foi um divisor de águas na história da Igreja. A ele segue ligado um nome bastante forte, Martinho Lutero (1483-1546). Isso não significa que não possamos citar ainda outros fortes expoentes que aparecem ligados aos gritos de necessidade de reforma da Igreja. Na literatura, segundo Jaime de Barros Câmara (1957, p. 11), John Wycliff (1328-1384)3 e Jan Huss (1369-1415)4, são dois fortes expoentes dessa afirmação. Mais ou menos 200 anos antes de Martinho Lutero, Wycliff e Huss agitavam a ideia de uma reforma religiosa. Eles ansiavam por mudanças religiosas e,. 3. John Wycliff (1328-1384), aluno brilhante de Oxford, filósofo e teólogo, era muito mais um intelectual do que condutor de homens. Entre outras ideias, colocava-se fortemente desfavorável aos abusos da Igreja e à depravação do clero. Na sua visão, o clero estava muito apegado às coisas materiais. Por tocar em assuntos tão polêmicos, teria facilmente admiradores (DANIEL-ROPS – 1996: 151). 4 Jan Huss (1369-1415), abreviado para João Huss, órfão de pai e mãe, sempre fora muito bem nos estudos. Foi confessor da rainha Sofia (Boêmia). Como bom orador começou a propagar as ideias de Wycliff, colocando-se contra as riquezas do clero que causavam escândalo. Chegou a denunciar o fisco pontifício. Por último, dizia que a fé deveria ter como única base a Sagrada Escritura, criticando a Tradição como Anticristo. Rejeitou a confissão, confirmação e unção dos enfermos. Não admitia as indulgências e ensinava a predestinação (DANIEL-ROPS – 1996: 154-156)..

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