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Turismo, fé e identidade luso-brasileira: a festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, RS

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Academic year: 2021

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*Doutor em História. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: fabiovergara@uol.com.br ** Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio

Cultural da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). E-mail: alefarinha@yahoo.com.br

Turismo, fé e identidade luso-brasileira:

a festa de Nossa Senhora dos Navegantes

de São José do Norte, RS

Fabio Vergara Cerqueira*

Alessandra Buriol Farinha**

Tourism, faith and Luso-Brazilian identity:

the feast of Our Lady of the Navigators of São José do Norte, RS

Resumo: O presente trabalho tem como objeto a Festa de Nossa Senhora de Navegantes de São José do Norte, cidade localizada na península ao sul do Rio Grande do Sul, Brasil. A festa é a mais antiga do Brasil com essa invocação mariana, ocorrendo desde o ano de 1811. Sendo assim uma referência religiosa e cultural local. A tradição da Festa de Navegantes é uma herança portuguesa, trazida pelas famílias açorianas que ocuparam a região em meados do século XVIII. O principal objetivo do trabalho é descrever a festa, destacando alguns elementos simbólicos, na perspectiva de um patrimônio imaterial luso-brasileiro, demonstrando similaridades com as festas em honra à Nossa Senhora dos Navegantes que ainda ocorrem em Portugal. O trabalho também objetiva refletir sobre as possibilidades do turismo, nesse caso, especificamente o turismo religioso, na valorização histórico-cultural local através da Festa de Navegantes, que

Abstract: This work has as object the Our Lady of Navigator’s feast of São José do Norte, a town on the peninsula at the south of Rio Grande do Sul, Brazil. The festival is the oldest of Brazil with this Marian invocation, occurring since the year 1811, thus being a local religious and cultural reference. The Navigator’s party tradition is a portuguese heritage, coming from the Azorean’s families who occupied the region in the mid-eighteenth century. The main objective of this study is to describe the party, some symbolic elements in the perspective of a Luso-Brazilian intangible heritage, demonstrating similarities to the festivities in honor of Our Lady of the Navigators that still occur in Portugal. The work also aims to reflect on the possibilities of tourism in this case specifically the religious tourism, historical and cultural value site by Navigator’s party, which gives expression and visibility fishing village every year.

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Introdução

O objeto deste estudo é a bicentenária Festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte, cidade localizada na península ao sul do Rio Grande do Sul, Brasil. A festa é a mais antiga do Brasil com essa invocação mariana, ocorrendo na tradicional vila de pescadores desde o ano de 1811. Sendo assim, é uma das mais importantes referências culturais locais envolvendo diversos elementos que perpassam a memória, a identidade e a trajetória históricas do lugar.

A tradição da devoção à Virgem Maria, que deu origem à Festa de Navegantes é uma herança portuguesa, introduzida pelas famílias açorianas que ocuparam a região em meados do século XVIII. As famílias açorianas foram trazidas, na época, por estratégia da Coroa portuguesa, tendo objetivos bem pontuais: povoar a região com portugueses legítimos, obedientes ao rei, evitando, assim, o avanço dos espanhóis e gerar riquezas através da agricultura e outras atividades. As famílias açorianas, de acordo com Amaral (1999), tinham características

dá expressão e visibilidade à vila de pescadores ano a ano. O dia 2 de fevereiro, quando se comemora a Festa de Navegantes, é a ocasião em que a cidade mais recebe visitantes, motivados principalmente pela devoção, pagando promessas, fazendo pedidos à Virgem Maria, manifestando sua fé por meio de práticas simbólicas e diferentes vivências socioculturais, que caracterizam uma data solene e peculiar na memória cultural dos habitantes de São José do Norte e região. Neste estudo, o turismo destaca-se como uma importante atividade que pode contribuir de maneira significativa para a continuidade e vitalidade da Festa de Navegantes e sua proteção como um patrimônio cultural, que consolida identidades e a memória social local.

Palavras-chave: Turismo. Fé. Festa de Navegantes. Identidade.

The 2nd day of February when we celebrate the Navigator’s party is the time of the year when the city receives more visitors, mainly motivated by devotion, paying promises by making requests to the Virgin Mary, manifesting their faith through symbolic practices and different socio-cultural experiences that characterize a solemn date on and peculiar cultural memory of the inhabitants of São José do Norte and region. In this study, tourism stands out as an important activity that can contribute significantly to the continuity and vitality of the Navegantes party and its protection as a cultural heritage, which consolidates identities and local social memory.

Keywords: Tourism. Faith. Navigator’s party. Identity.

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sacramentos, das missas, dos batismos e dos casamentos sob a supervisão de militares.

O principal objetivo deste trabalho é descrever a Festa de Navegantes de São José do Norte que ocorre atualmente, dando ênfase a alguns de seus elementos simbólicos na perspectiva de um Patrimônio Imaterial luso-brasileiro, demonstrando similaridades com as festas em honra a Navegantes que ainda ocorrem atualmente em algumas cidades de Portugal e em Macau, cidade chinesa que, tendo sido colonizada por portugueses por muitos anos, cultiva a tradição da festa. Dentre os elementos descritos, destacam-se o rito, a indumentária dos participantes, as ofertas feitas para a santa durante a festa, a diversidade de imagens de santos e devoções que se associam na festa, as relações sociais e, principalmente, familiares que ocorrem, ou seja, a transmissão geracional que dá corpo a essa festa há mais de dois séculos. De acordo com Assmann (2006), expressões, normas e valores da vida social definem significados e importâncias. A vida em comunidade dá significado e estrutura a nossas experiências que ficam no sentimento, na memória. (ASSMANN, 2006, p. 3). Buscando entender alguns dos elementos da festa, é possível compreender como e por que ela se manteve por tanto tempo e o que ela significa à comunidade local.

Além disso, o estudo objetiva ainda refletir sobre as possibilidades do turismo, nesse caso, especificamente o turismo religioso, na valorização histórico-cultural local através da Festa de Navegantes, que dá expressão e visibilidade à vila de pescadores ano a ano. O dia 2 de fevereiro, quando se comemora a Festa de Navegantes, é a ocasião do ano em que a cidade mais recebe visitantes, motivados principalmente pela devoção, pagando promessas, fazendo pedidos à Virgem Maria, manifestando sua fé por meio de práticas simbólicas e diferentes vivências socioculturais, que caracterizam essa data solene e peculiar na memória cultural dos habitantes de São José do Norte e região. A data é referência para veranistas das praias da região, que dedicam um dia do período de férias para assistirem à festa ou até para fazerem homenagens e pedidos à Virgem Maria.

Neste estudo, vemos que o turismo se destaca como uma importante atividade que pode contribuir de maneira significativa à continuidade e vitalidade da Festa de Navegantes e sua proteção como um Patrimônio Cultural, que consolida identidades e a memória social local.

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A metodologia utilizada foi qualitativa, com ênfase na observação participante – antes, durante e depois das festas dos anos de 2013, 2014 e 2015. Na pesquisa de campo foi feito o registro fotográfico da preparação e de momentos do acontecimento da festa, procurando evidenciar os símbolos, as etapas, o uso dos suportes de memória, a expressão da fé e outros aspectos da festa religiosa bicentenária. Na observação participante, com permanência na cidade antes, durante e depois da festa, foi possível aferir alguns significados, perceber como a festa interpenetra o corpo social, estando relacionada à fé, ao trabalho e à economia, bem como às relações sociais e familiares.

Identificou-se, na historiografia das Festas de Navegantes pelo mundo, similaridades entre a Festa de São José do Norte e outras de mesma invocação em outros continentes. Essas similaridades ocorrem com relação ao rito, aos símbolos, aos ornamentos, às indumentárias, aos cânticos e personagens envolvidos. Para evidenciar e analisar essas similaridades, foram selecionados alguns vídeos de festas de navegantes disponíveis na web e analisados no contexto dos mesmos elementos simbólicos presentes na Festa de Navegantes de São José do Norte, já mencionados. Foi feita uma pesquisa em sites de Prefeituras Municipais, de divulgação da cultura local de cidades europeias, principalmente portuguesas e de Macau, sobre a tradição dessa festa, de onde foram retiradas as figuras no decorrer do texto. Na análise comparativa desses vídeos foi possível observar similaridades entre os ritos, entre as festas de países distantes, que se unem na tradição da devoção à Nossa Senhora dos Navegantes, demonstrando como se materializa tal herança cultural milenar “selecionada” historicamente (ASSMANN, 2006) para ser reproduzida até os dias atuais.

A principal justificativa para a elaboração deste estudo é dar visibilidade à Festa de Navegantes de São José do Norte, vista como fenômeno sociocultural religioso, importante expressão da identidade social-local. Outra motivação relaciona-se a exponenciais investimentos em obras portuárias em curso e as subsequentes expansão demográfica, transformações no território, criação de novas atividades, empregos, que estão gerando impactos na tradicional vila de pescadores. Nesse caso, o “progresso” também pode ocasionar o desaparecimento de referências e a diluição das identidades. (CANDAU, 2011, p. 10). Considerando a situação de vulnerabilidade deste bem cultural, justifica-se a necessidade

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de pesquisar a memória da festa, interpretando algumas de suas representações e sua importância à comunidade.

“Viva Nossa Senhora, Viva!”: memória e tradição luso-brasileira

na festa da padroeira dos trabalhadores do mar

São José do Norte encontra-se cerca de 370 quilômetros de Porto Alegre. Faz parte de uma península situada entre o oceano Atlântico e a lagoa dos Patos. A maioria do território é constituída por campos, com vegetação rasteira e herbácea, típica da costa do Litoral sul. (COSTAMILAN; TORRES, 2007, p. 13). O principal fluxo de ocupação do lugar foi feito por portugueses oriundos do arquipélago dos Açores.1 A população é

estimada em, aproximadamente, 25 mil habitantes. (IBGE, 2010). A economia ampara-se na pesca e na agricultura. A tradição portuguesa herdada da cultura açoriana é viva na cidade, principalmente no que tange à religiosidade, ao trabalho rural e à pesca.

A tradição da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes começou em São José do Norte, antes mesmo da instalação do município. A primeira Festa de Nossa Senhora dos Navegantes ocorreu no ano de 1811. Foi idealizada por trabalhadores do mar, operadores de embarcações denominadas catraias, responsáveis pelo transporte de carga e descarga de navios atracados, pescadores e suas famílias, dentre outros, os quais iniciaram nesse ano um movimento de festividades religiosas em veneração à Virgem dos Navegantes, para pedir sua proteção e, ao mesmo tempo agradecer pelo sustento que as águas propiciavam. Desde aquela época, quando o tempo, permitia, a procissão marítima de Navegantes dirigia-se a Rio Grande, pelo canal do Norte, onde os devotos embarcados recebiam a bênção litúrgica e após regressavam a São José do Norte.

A Festa de Navegantes permanece ocorrendo na cidade anualmente, no dia 2 de fevereiro. Sendo assim, é a mais antiga do estado. Desde o ano de 2008, é considerada por lei estadual um patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul.2

Em observação participante, efetuada durante as Festas de Navegantes de 2013, 2014 e 2015, foi possível acompanhar as diversas fases que a compõem e, assim, registrar os elementos simbólicos e similaridades dessa festa luso-brasileira com as festas sob essa invocação mariana que ainda ocorrem em cidades de Portugal e em Macau, na China.

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Em São José do Norte, nos nove dias que antecedem a festa (do dia 24 de janeiro ao dia 1° de fevereiro) ocorre a chamada novena, ou seja, nove dias de missas diárias na Matriz São José, congregando as lideranças, os devotos, a comunidade em geral e preparando o grande festejo do dia 2. As missas começam às 21h, a igreja fica repleta de devotos e, na fala popular, há a compreensão de que essas celebrações são milagrosas, ou seja, que Nossa Senhora dos Navegantes concede graças aos fiéis durante as missas. Conforme dito, essa intensa devoção também pode ser verificada nas festas em honra à Nossa Senhora dos Navegantes em Viana do Castelo, Cascais, Ericeira (Portugal) e em Macau (China).

A Festa de Navegantes de São José do Norte costuma começar às 7h, no dia 2 de fevereiro, quando ocorre a primeira missa, já com a igreja repleta de fiéis. A cidade, como também foi verificada nas festas portuguesas, prepara o espaço público, demarcando e fechando as principais ruas para a procissão, mobilizando policiais e outros agentes públicos, ambulâncias e outros.

A outra missa, mais solene, com a presença do bispo diocesano, ocorre às 10h30min, com a igreja absolutamente lotada. Nessa celebração, há um empenho em demonstrar como a comunidade entrega sua vida à Virgem Maria, por meio de oferendas dispostas no altar, elementos que se relacionam com as atividades laborais de onde muitas famílias da comunidade tiram seu sustento, tais como: redes de pesca, barcos, frutos da terra como cebolas, hortifrutigranjeiros e outros ornados com flores e terço. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, embarcada em um andor em forma de barco para esse dia, é decorada com flores, algo que foi possível verificar em São José do Norte (Figura 1), em Macau, China (Figura 2) e em demais localidades estudadas.

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Figuras 1 e 2 – (a) Imagem de Nossa Senhora dos Navegantes ornada com flores em São José do Norte (Brasil) e, (b) imagem de Nossa Senhora dos Navegantes ornada com flores em Macau (China)

Fonte: Acervo da autora. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=FWURLvkY3gA>.

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Esta missa se estende até às 12h, quando há um almoço no salão paroquial. Logo após o almoço, às 14h, os fiéis são convidados a se dirigir aos barcos para a procissão marítima. A procissão marítima, ato de conduzir a santa às águas e navegar com ela é uma ação simbólica que ocorre em todas as Festas de Navegantes estudadas para a elaboração deste texto. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes é então conduzida em andor ao barco, juntamente com as imagens de São José (padroeiro da cidade), São Pedro (o “apóstolo-pescador”) e do Sagrado Coração de Jesus. A congruência de imagens na Festa de Navegantes também foi um elemento simbólico observado em Festas de Navegantes atuais em Portugal.

Outra similaridade da festa de São José do Norte com as festas portuguesas hodiernas é a solenidade com que é conduzido esse momento. Enquanto os fiéis conduzem a imagem da santa ao mar, acompanhados por centenas, talvez milhares de devotos, há o entoar de cânticos marianos por bandas, compostas, em sua maioria, por homens devidamente uniformizados. As Figuras 3 e 4 demonstram esse ritual em São José do Norte e em Portugal, respectivamente.

Em São José do Norte, cada imagem ocupa uma embarcação diferente. Embarcam, também, o pároco, representantes da Igreja, a banda da Prefeitura Municipal, dentre centenas de fiéis que se dividem nas embarcações oficiais, mediante o uso de coletes salva-vidas e apresentação das devidas senhas de identificação fornecidas semanas antes pela secretaria paroquial.

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Figuras 3 e 4 – (a) Abanda “Democratas” se apresentando na procissão terrestre da festa de Navegantes de São José do Norte (Brasil) e (b): banda se apresentando na procissão de Navegantes em Cascais (Portugal)

Fonte: Acervo da autora.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= KOo2ydGjA4A>.

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A procissão marítima é acompanhada por dezenas de embarcações menores, enfeitadas, às vezes, com famílias inteiras embarcadas, buzinando, fazendo a “sua” festa particular. Acompanham também embarcações oficiais da Polícia Federal e da Marinha do Brasil, do Exército, dos Bombeiros e outros. A procissão percorre as águas da lagoa dos Patos em direção ao oceano Atlântico, até a ilha da Marinha, fazendo o contorno dessa e passando por todo o cais do porto antigo de Rio Grande, onde centenas, talvez milhares de pessoas se amontoam para prestar homenagens, jogando flores, cartas, moedas e outras oferendas aos barcos das imagens.

A intensa participação popular nos barcos e botes na procissão marítima de Navegantes foi fato recorrente em todas as festas das localidades analisadas, em São José do Norte e em Cascais. Pode-se aferir que a devoção de Navegantes no Brasil é ligada à tradição do catolicismo popular, comum nas classes economicamente desfavorecidas, de devoção a vários santos, sendo sincrética com relação ao Orixá Yemanjá e, ao mesmo tempo, uma herança legitimamente portuguesa que se manteve por mais de dois séculos na vila de pescadores, uma tradição transmitida por gerações de pescadores, trabalhadores do mar, que durante o ano arriscam sua vida para tirar o sustento das águas oceânicas e na lagoa dos Patos.

A procissão marítima percorre a margem do Rio Grande até certo ponto e depois retorna a São José do Norte, para o desembarque dos fiéis e das imagens. Após o desembarque, ocorre a procissão terrestre pelas ruas do centro histórico da cidade com as quatro imagens, com paradas para bênçãos a lugares públicos, com homenagens e demonstrações de fé e intensa devoção, com pagadores de promessas, crianças vestidas de anjos, pessoas descalças e outras manifestações. As homenagens dos devotos de Nossa Senhora dos Navegantes em procissão terrestre foram identificadas em todas as localidades, em São José do Norte (Figura 5) e em cidades de Portugal, como em Cascais (Figura 6).

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Figuras 5 e 6 – (a) Criança vestida de anjo na Festa de Navegantes de São José do Norte (Brasil) e (b): crianças prestando homenagens na Festa de Navegantes em Cascais (Portugal)

Fonte: Acervo da autora. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=KOo2ydGjA4A>.

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As figuras acima demostram a presença de crianças nas festividades em honra à Nossa Senhora dos Navegantes. Simbolicamente, representam a pureza, a bondade, verdadeiros anjos, levando flores e oferecendo sua existência, às vezes fruto de milagres concedidos pela Virgem Maria, para a santa padroeira dos trabalhadores do mar. O ritual de preparação das crianças para a festa, provavelmente vestidas e enfeitadas por seus pais e/ou familiares, é um exemplo da continuidade dessa tradição milenar, feita por antepassados e repetida pelos hodiernos, bem como legada a futuras gerações.

A multidão de devotos em procissão regressa então para a Matriz São José, as imagens de Nossa Senhora dos Navegantes, São José, São Pedro e Sagrado Coração de Jesus são conduzidas para o interior da igreja, há o sorteio dos festeiros da próxima Festa de Navegantes, com comemoração e homenagens aos atuais e futuros festeiros. Encerrando a cerimônia, ocorre a bênção final do pároco e apresentações musicais.

Os diversos momentos descritos que envolvem a festa, resumidamente, são realizados com orações, louvores, cânticos, banda musical, pagadores de promessas e grande festa popular. Foi possível perceber que participam do evento, além do clero, autoridades civis e militares, trabalhadores do mar, pescadores, comerciantes, idosos, crianças, jovens e adultos de variadas idades, famílias inteiras, dentre outros agentes sociais. A segurança, tanto em terra quanto nas águas, é reforçada pela Guarda Municipal, Brigada Militar, Polícia Federal, agentes da Marinha do Brasil e servidores da Capitania dos Portos. Ao longo do dia 2 de fevereiro, a multidão ocupa as missas e os barcos da procissão, caminha pelas ruas do centro histórico e pelas adjacentes, usa as lanchas que dão acesso à cidade, vindas de Rio Grande, circula pela praça principal, frequenta as bancas de alimentação, os bares, o comércio informal, dentre outros espaços.

Em observação participante, foi identificado que a motivação não é a mesma por parte dos diferentes grupos que participam da festa. Há “festas paralelas”, com bandas de pagode ao vivo nos bares, restaurantes, rodas de conversa com cadeiras de praia na praça principal e ruas adjacentes, regadas com chimarrão ou cerveja gelada, rodas de capoeira, movimentação das vendas no comércio informal e praça de alimentação, enfim, um evento que atende a variadas motivações e que congrega públicos diferentes em um mesmo espaço/tempo. Nesse interim, também foi identificada grande movimentação de turistas, devotos de

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outras cidades, atraídos tanto pela festa católica quanto pela estrutura de atrativos gastronômicos, culturais e outros.

Assim, tendo como base a observação participante, é possível aferir que a Festa de Navegantes de São José do Norte é eminentemente popular, ritualística, penitencial, com exposição pública da fé, vinculada ao território, ao labor do pescador, do trabalhador marítimo, e que envolve vários setores da sociedade. Além disso, congrega um público diversificado, atraído pela cidade por diferentes motivações, o que consolida as identidades e a sociabilidade local. A Festa de Navegantes é comemoração, no sentido literal da palavra, lembrar junto, são encontros de diversas comemorações, além de revelar a profunda religiosidade que permeia a sociabilidade local, a economia, o espaço, a história, a tradição e a memória.

A Festa de Navegantes como um Patrimônio Imaterial e a

perspectiva do turismo

O Patrimônio Cultural Imaterial aflora da vida local, são referências herdadas de antepassados, que, estando vivas na comunidade, fazem sentido para quem as legou. Essas referências culturais (celebrações, saberes, danças, rituais, lugares), hoje passivas de registro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro, não têm valor intrínseco, não valem por si mesmas. O valor lhes é atribuído por sujeitos particulares, que têm as suas identidades expressadas e, ao mesmo tempo reafirmadas, valorizadas pelo bem imaterial, assim como sua paisagem, seu trabalho, seu savoir faire, suas crenças, seus hábitos e outros costumes; (LONDRES, 2000, p. 13).

A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes de São José do Norte é uma das expressões da cultura popular local, refletindo a identidade, o trabalho, o cotidiano, as dificuldades, as relações, as crenças e outros sentimentos dos autóctones. Sendo assim, é um Patrimônio Cultural Imaterial luso-brasileiro, em território rio-grandense, que permanece vivo há mais de dois séculos. Um fato interessante dessa expressão religiosa local é que dentre as Festas de Navegantes de Portugal pesquisadas para este trabalho, não foi identificada nenhuma tão antiga quanto a Festa de Navegantes de São José do Norte.

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Conforme dito, a comemoração da festa, assim como a devoção à Virgem Maria em São José do Norte, relaciona-se diretamente com a vida, o cotidiano, o território e o trabalho de uma sociedade cuja subsistência está marcadamente ligada às águas, seja por meio da pesca ou do transporte, dentre outros aspectos sociais. Sendo assim, com perfil popular, são os pescadores, as famílias da cidade, de agricultores e de comerciários, que fazem a festa como ela se apresenta.

A festa contribui para a constituição de diferentes significações dos espaços, do território, fazendo deles suportes de memória, lugares carregados de história, que atravessam a memória viva. (CANDAU, 2011, p. 157). Pode-se afirmar que a Festa de Navegantes, assim como as festas religiosas de forma geral, adquire singularidades relacionadas aos habitantes, à história do lugar onde acontece, se transformando, descartando ou incorporando elementos lúdicos e sujeitos sociais. (PELEGRINI, 2011, p. 232). Assim, o presente estudo pretende contribuir para o entendimento da dinâmica das interfaces festa/memória/território/patrimônio.

De acordo com Funari e Pelegrini (2008, p. 84), a imaterialidade dos sentimentos religiosos associa-os de forma muito direta, ao Patrimônio Cultural Imaterial. Montenegro (2012) afirma que é da dinâmica da identidade cultural que se forma o patrimônio, e que esse não pode ser dividido em material e imaterial, pois é do equilíbrio entre o simbólico e o lugar que se constitui o que pode ser chamado de patrimônio. De acordo com a pesquisadora, é através da dinâmica da identidade que se constitui o patrimônio, são as pessoas, a paisagem, o espaço que irão definir o que é o patrimônio local. O simbólico passa a constituir o patrimônio, a memória social. De acordo com Candau (2009, p. 49), a patrimonialização desempenha um papel essencial para autenticar uma narrativa coletiva de um passado compartilhado. Na realidade, é muito mais a crença que é transmitida – crença essa compartilhada – que a propriedade propriamente dita. A função principal da autenticação da narrativa, pela patrimonialização ou pela comemoração, é de favorecer a emergência de um compartilhar real, aquele da “crença” no compartilhar, crença adotada pelos membros do grupo. (CANDAU, 2009, p. 49).

É possível aferir que a devoção, o ritual e a festa devem ser tomados como elementos da cultura material e imaterial que resistem à passagem do tempo, pois guardam sentidos de pertencimento entre os membros da comunidade. (PELEGRINI, 2011, p. 252). Porém, como dito, esses

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elementos estão em situação de vulnerabilidade, pois a vida que inspira e garante a continuidade da Festa de Navegantes está mudando com a modernização. A poluição da lagoa dos Patos, do oceano Atlântico, novas vagas de empregos em obras portuárias, em florestas de pinus e outros fatores colocam em risco a pesca artesanal como principal atividade econômica local que se vincula diretamente à motivação da Festa de Navegantes. A transmissão geracional da cultura da pesca artesanal corre risco eminente. Assim, a permanência do bem cultural encontra-se também sob risco.

O turismo religioso, nesse sentido, pode ser uma proposta que vem contribuir com a economia, ao inserir as famílias dos pescadores na atividade, assim como no conhecimento da Festa de Navegantes, de sua história e das relações com a etnicidade portuguesa, com a memória social e atividades laborais locais. Evidentemente, o planejamento turístico pode minimizar a descaracterização e os impactos negativos na comunidade autóctone, algo previsto em quaisquer projetos bem-concebidos de incentivo ao turismo. A proposta seria o conhecimento das atividades tradicionais locais, das belezas naturais, da gastronomia baseada em frutos do mar, das expressões da cultura portuguesa, não apenas representadas pela Festa de Navegantes, mas pela união familiar, demais devoções católicas, arquitetura, costumes, dentre outros fatores. Atualmente, a tendência é que o turismo de frivolidade e consumo deixe de ser incentivado por gestores da atividade, que seja menos recorrente nas sociedades, visto os malefícios ambientais, sociais e culturais que geram. Resorts, hotéis luxuosos, por exemplo, são considerados não lugares, onde não é possível perceber ícones da cultural local, das raízes étnicas tradicionais do lugar. As viagens, cada vez mais, estão sendo consideradas um tempo propício para o conhecimento, o aprendizado das diversas culturas encontradas nos destinos.

O contato direto com a realidade, com o idioma, com as tradições das populações locais está sendo valorizado no turismo, e, assim, as manifestações culturais genuínas das comunidades ganham status de atrativo turístico ímpar, importantes, inclusive, na escolha do destino turístico, como previa Avighi: “Saem de cena o consumista da zona franca, o turista ostentatório, os roteiros clássicos. O ‘viajante de vanguarda’ busca a realização interior e dá ênfase ao meio ambiente e à compreensão da cultura e da história dos outros lugares, quer conhecer povos e se enriquecer culturalmente”. (2000, p. 102).

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A Festa de Navegantes como um atrativo turístico, pode propiciar esse contato com a população autóctone, além de reforçar a importância das atividades tradicionais de subsistência, demonstrar o legado da religiosidade, de como essa faz parte da vida cotidiana local. A festa também corrobora o respeito pelo diferente, pela diversidade cultural, pois, além do rito sacramental, penitencial, representado pelas procissões terrestre e marítima, há espaço para a oferenda umbandista, para a embriaguez, para o samba, para o “profano”, em um mesmo espaço/ tempo.

De acordo com Figueiredo (2005, p. 47), é preciso esclarecer qual é o principal produto que deve ser oferecido no turismo cultural, o que pode ser estendido também ao segmento de turismo religioso. No caso de São José do Norte, é possível aferir que é a originalidade, a história da imigração açoriana de meados do século XVIII, que deram início à ocupação do Estado do Rio Grande do Sul, e que deixou heranças portuguesas arraigadas ao território, à cultura, à vida social local, através da memória.

A Festa de Navegantes é apenas um exemplo desses elementos luso-brasileiros que podem ser considerados importantes atrativos turísticos, e que se integram à história e memória do lugar. Dentre outros atrativos a serem proporcionados aos visitantes, estão vestígios arqueológicos de indígenas que habitaram a região, pesca artesanal, sincretismo religioso, passeio de botes guiados por pescadores e/ou seus familiares, roteiros que incluíssem o interior do município e que contemplassem outras vilas de pescadores, suas formas de organização, sua rica gastronomia, dentre outros aspectos. São elementos peculiares de São José do Norte, de sua posição geográfica estratégica, banhada pelo oceano Atlântico e a lagoa doa Patos, que poderiam ser trabalhados no turismo cultural.

Considerações finais

Foi visto que a festa religiosa pode proporcionar conhecimento complexo da cultura local relacionado ao lugar, às tradições e à memória. É necessário que esses eventos, religiosos ou não, sejam compreendidos de maneira a contribuir para a preservação dos bens imateriais. Objetivamos, neste trabalho, descrever a Festa de Nossa Senhora de Navegantes de São José do Norte, dando ênfase a alguns de seus elementos simbólicos (ao rito, aos símbolos, aos ornamentos, às indumentárias, aos cânticos) e refletir sobre a festa na perspectiva de

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um Patrimônio Imaterial luso-brasileiro, uma herança cultural de antepassados portugueses, que remete a tradições mediterrânicas mais antigas, identificando seus elementos simbólicos e significados, demonstrando similaridades com as festas em honra a Navegantes que ainda ocorrem em algumas cidades de Portugal e em Macau, China, bem como as possibilidades de turismo na valorização histórico-cultural-local.

A Festa de Navegantes de São José do Norte foi descrita, principalmente em suas ações ligadas ao rito católico, dando ênfase a alguns de seus elementos simbólicos na perspectiva de um patrimônio imaterial luso-brasileiro. É possível aferir, após ter utilizado a metodologia proposta, que a festa é uma tradição eminentemente familiar, de gerações, com diferentes motivações e impulsos, mas com fervor de agradecimento ou de súplica.

Dessa forma, pode ser considerada um exemplo onde se manifesta a memória cultural (ASSMANN, 2006), que é a memória selecionada, escolhida por seus atributos de significância, de importância, para ser perpetuada no decorrer dos anos, em uma cadeia geracional. Dessa forma, é possível compreender a presença densa de famílias inteiras e de crianças vestidas solenemente, com oferendas, atuando nos ritos da Festa de Navegantes.

Acima de tudo, é preciso compreender o processo de ocupação, de gênese dessa fé, para então compreendê-la, o que foi feito num breve estudo de imigração açoriana e principais atividades exercidas no passado. De acordo com Assmann (2006), o estudo da memória cultural contribui para interpretar, compreender e perceber o papel do passado na constituição do mundo atual.

Pode-se afirmar, portanto, que a Festa de Navegantes de São José do Norte, por seus aspectos relacionados com o lugar, tais como as técnicas de trabalho ligadas a atividades primárias, no caso agricultura e pesca, proporcionam uma intimidade com os elementos naturais e um sentimento de gratidão pela fecundidade (ou não) desses. A subsistência ligada ao solo e às águas, atividades tradicionais de São José do Norte, são dádivas, talvez por isso a devoção a Navegantes seja intensa e contínua há 205 anos. O turismo desponta como uma possibilidade de valorização moderna dessa tradição, dando ênfase à tradição milenar herdada dos açorianos, demonstrando a relação existente entre cultura, costumes e atividades tradicionais locais e a posição geográfica e a importância de

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dar condições para que essas sobrevivam ao dinamismo das mudanças em tecnologia, uso da terra, poluição das águas e outros.

A interpretação dos significados de nossa existência, a valorização de momentos e elementos são importantes, pois atribuem sentido à nossa existência, e são alguns dos aspectos que este trabalho nos leva a refletir. Afinal, as manifestações culturais não devem ser apenas contemplativas, mas algo que nos leve a pensar, como: sistema de vida, de trabalho, de tradições, de relações humanas e técnicas. É preciso pensar a cultura popular tanto como legado quanto como prospecção de futuro, continuidade, e entender por que ritualizamos determinadas ações.

É válido relembrar a situação de vulnerabilidade da cidade de São José do Norte com relação a mudanças no território, a partir de investimentos portuários no local, ocasionando possíveis impactos na configuração da vida social. A sensibilização com relação aos bens culturais seria um passo para a preservação.

1 A ocupação açoriana é hegemônica. Não

houve imigração de outra etnia no local. O estabelecimento de portugueses legítimos na península seria uma maneira

segura de ocupação, pois esses estariam a favor da Coroa portuguesa. O arquipélago dos Açores hoje é uma região

Notas

autônoma, formado por nove ilhas: São Miguel, Santa Maria (parte oriental), São Jorge, Terceira, Pico, Faial, Graciosa (parte central), Flores e Corvo (parte ocidental). (AMARAL, 1999, p. 270).

2 Lei Estadual 12.988, de 13 de junho

(20)

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(21)

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<https://www.youtube.com/watch?v=9flDbwNQ4Dw> Cascais (Portugal, 2009) <https://www.youtube.com/watch?v=KOo2ydGjA4A> Ericeira (Portugal, 2011) <https://www.youtube.com/watch?v=tUYGjxOedvM> Macau (China, 2010) <https://www.youtube.com/watch?v=FWURLvkY3gA>

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